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(Leia Atos 1.12-14)
A visão de Cristo ressuscitado finalmente transformou os discípulos. Agora eles estavam prontos para obedecer, esforçando-se para andarem juntos nos caminhos preparados pelo Senhor. Este texto nos apresenta, literal e espiritualmente, um movimento ascendente dos discípulos, em direção aos propósitos celestiais.
SUBIDA PARA JERUSALÉM (Primeiro degrau: Obediência) (12)
"Então, voltaram para Jerusalém, do monte chamado Olival, que dista daquela cidade tanto como a jornada de um sábado".
Num período de tempo, dentro dos 40 dias entre a ressurreição e a assunção, os discípulos voltaram para a Galiléia. O Senhor, porém, tinha um plano para que recebessem coletivamente o derramamento do Espírito Santo na cidade de Jerusalém. Apesar de tantas provas incontestáveis, a natureza humana e as tentações tinham um peso enorme no comportamento dos discípulos, que poderiam acabar se dispersando, sem dar continuidade à obra de proclamação do evangelho. Este, com certeza, foi um dos motivos de Jesus ter aparecido a Pedro e mais seis discípulos no mar da Galiéia, conforme a narrativa de João 21.1-3, 15-17:
"Depois disto, tornou Jesus a manifestar-se aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e foi assim que ele se manifestou: estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu e mais dois dos seus discípulos. Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Disseram-lhe os outros: Também nós vamos contigo. Saíram, e entraram no barco, e, naquela noite, nada apanharam. (...) Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas".
Pedro obedeceu e, como pastor dos demais discípulos, levou-os ao encontro marcado com o Senhor no Monte das Oliveiras, uma escala em sua subida para Jerusalém. Do monte das oliveiras podiam contemplar a gloriosa cidade. Aquele monte era um lugar aprazível, um lugar de boas lembranças, pois frequentemente pousavam ali com o Mestre. Se fosse pela vontade deles, provavelmente ficariam ali mesmo, até que o Senhor voltasse nas nuvens.
Subir para Jerusalém não seria fácil. Entre outros incômodos, eles ainda corriam perigo de prisões e perseguições. Mas era preciso obedecer a Jesus.
SUBIDA PARA O CENÁCULO (Segundo degrau: Comunhão) (13)
"Quando ali entraram, subiram para o cenáculo onde se reuniam Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelote, e Judas, filho de Tiago".
Um cenáculo era um cômodo no andar de cima de uma casa, espaço comumente usado para refeições em família. Este cenáculo, em particular, devia ser bem sofisticado e espaçoso, para caber muitos discípulos. Provavelmente era parte da casa da mãe de João Marcos.
A subida para o cenáculo representava, literalmente e espiritualmente, estar em comunhão. Tantas pessoas, tão diferentes, precisavam de muito esforço para se manter em comunhão. Do pouco que sabemos dos discípulos, podemos afirmar que Pedro era impulsivo e às vezes grosseiro; João e Tiago, ambiciosos e sensacionalistas; Tomé era desconfiado. Mateus, por sua profissão rentável, devia ser acostumado a hábitos refinados. Simão Zelote, um ativista político. Estes discípulos, há muito pouco tempo atrás, estavam brigando entre si, para ver quem seria o maior. Havia também muitas mulheres, as quais, tradicionalmente, precisam de muita fé e boa vontade para “pensar concordemente”.
Aprendemos em 1João 1.7 que se “andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado”.
Precisamos seguir este exemplo e também “subir ao cenáculo”, valorizando a comunhão com os irmãos. Se devemos valorizar as reuniões com nossa família de sangue, muito mais devemos valorizar as reuniões com nossos irmãos em Cristo. Devemos orar e trabalhar para que os membros nossa família de sangue também se tornem membros de nossa família em Cristo. Se nós cremos que somente aqueles que crêem em Cristo e recebem a salvação, irão para o céu, então temos que admitir que se os membros de nossa família de sangue não vierem estar conosco nas reuniões de adoração, então existe uma grande chance de que fiquemos separados deles por toda a eternidade. Eles precisam saber que nossa fé é coisa séria, e uma das mais eficazes maneiras de mostrar isto a eles é sendo assíduos aos cultos, mesmo que isto às vezes represente deixá-los por um momento de lado.
Nossos parentes precisam entender que temos encontros marcados com Deus e os irmãos periodicamente. Lá em casa, no começo, foi mais difícil e traumático, mas agora eles já se acostumaram. Se recebemos visitas, quando chega a hora de ir à Igreja, nós os convidamos. Se não quiserem nos acompanhar, pedimos licença, dizemos para ficarem à vontade, que assim que o culto terminar, estaremos de volta para continuarmos o “bate-papo”.
SUBIDA PARA O TRONO DE DEUS (Terceiro degrau: ORAÇÃO) (14)
"Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele".
A oração era o degrau mais alto que eles podiam subir, para estar pertos do Pai. O Pai é que podia acalmar seus corações, dar consolo e segurança. Aqueles que antes não podiam ficar nem uma hora vigiando, agora oravam intensamente.
A obediência leva à comunhão, que promove a oração, que por sua vez nos motiva e capacita à obediência.
Imagino como deveriam ser as reuniões no cenáculo, naqueles dez dias que antecediam o Pentecostes. Tomavam refeições, contavam histórias, formavam-se pequenos grupos conversando animadamente pelos cantos do salão. Num daqueles dias Pedro, de repente, numa pausa, fica pensativo, e começa a se lembrar dos acontecimentos, desde os mais remotos até os mais recentes. Lembra-se que, numa noite, estando no mar da Galiéia, com alguns amigos, aproveitando a brisa suave, tomou uma decisão e disse: “vou pescar”. Então desperta para o momento presente, olha para o grupo assentado ao redor, e diz, com aquele mesmo tom resoluto: “vou orar”, ao que recebe resposta semelhante à daquele dia à beira-mar: “também nós vamos contigo” (Jo 21.3).
A oração dos discípulos tinha duas características: Unanimidade e Perseverança. Sobre a importância da unanimidade, Jesus disse que “(...) se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus” (Mateus 18.19), e sobre a perseverança, Jesus muitas vezes ensinou “sobre o dever de orar sempre e nunca esmorecer“ (Lc 18.1).
Às vezes, eu chego a especular o motivo de algumas orações coletivas não serem respondidas em nossa congregação. Será que é porque não estamos perseverando, e será que não estamos sendo unânimes, ou seja, está faltando “um voto” na urna de apuração das orações que temos apresentado a Deus? Seu voto, meu irmão, pode ser muito mais importante do que você imagina.
CONCLUSÃO
A visão do Cristo ressuscitado transformou os discípulos. Eles obedeceram, andaram juntos e perseveraram na oração, num movimento ascendente rumo aos propósitos celestiais. Quanto a nós, discípulos tardios, não tivemos o privilégio de ver o Senhor, mas podemos subir os mesmos degraus de obediência, comunhão e oração, nos tornando bem-aventurados, porque Jesus disse: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (Jo 20.29).
(*) (Foto: Arquivo Pessoal/ Rafael Defavari. Disponível em: http://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2015/07/observatorio-de-campinas-tera-evento-de-food-truck-e-astronomia.html. Acesso em: 26/09/2016)