Antes da Semana Santa existe o tradicional Domingo de Ramos, onde se comemora a
entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Naquele dia histórico o povo tinha a
impressão de que o Messias, o prometido de Deus finalmente chegara para
libertá-los da escravidão e estabelecer o reino de Deus. O que eles não tinham
entendido, porém, era que o reino de Jesus não era deste mundo. Os irmãos João e Tiago se adiantaram e pediram a
Jesus para se assentarem ao seu lado no trono, e todos os discípulos mais
próximos já discutiam entre si sobre quem
deles era o maior, para possivelmente assumir o ministério mais nobre no
reino que estava para se instalar.
É natural para nós que busquemos uma posição nobre na sociedade. É por isso que nos esforçamos tanto no
trabalho e nos estudos, prestamos concursos,
procuramos fazer boas amizades,
especialmente com pessoas de grande influência. A nossa igreja está muito bem
localizada num bairro nobre de
Rio Preto, cercada de pessoas ricas e inteligentes, a maioria dessas pessoas
lutou muito para conquistar e manter sua posição social. Em frente há uma faculdade, com milhares de estudantes
que empenham grande esforço para aprenderem e assim crescerem na vida.
No texto em destaque podemos notar que Paulo encontrou
muitas pessoas distintas, de alta posição, pessoas nobres, no seu ministério na
Europa. A nobreza das pessoas nem sempre estava relacionada com sua posição
social, mas sim com as suas atitudes. Vejamos as atitudes nobres que foram
manifestadas pelas pessoas nessa fase da segunda viagem missionária de Paulo,
enquanto passava por Tessalônica e Bereia.
Primeira atitude nobre: deixar-se persuadir pela exposição
da verdade (1-4)
Tendo passado por Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga de judeus. Paulo, segundo o seu costume, foi procurá-los e, por três sábados, arrazoou com eles acerca das Escrituras, expondo e demonstrando ter sido necessário que o Cristo padecesse e ressurgisse dentre os mortos; e este, dizia ele, é o Cristo, Jesus, que eu vos anuncio. Alguns deles foram persuadidos e unidos a Paulo e Silas, bem como numerosa multidão de gregos piedosos e muitas distintas mulheres.
Paulo tinha uma estratégia bem definida para evangelizar.
Ele procurava pessoas que estavam buscando
o conhecimento de Deus, especialmente entre o povo judeu. Por isso eles
tinham o costume de pregar, em primeiro lugar, numa sinagoga, nas cidades onde
houvesse uma. Sua mensagem era persuasiva. Ele argumentava com muita eloquência,
expondo as Escrituras, apontando para as profecias sobre o Cristo, que haviam sido
cumpridas em Jesus. As sinagogas costumavam reunir muitas pessoas nobres, piedosas, que estavam ali buscando a
verdade das Escrituras Sagradas, que sabiam que a vida não era só ganhar dinheiro, ter uma posição social
privilegiada, mas que era necessário conhecer melhor o Criador, para adorá-lo
em Espírito e em verdade.
Essa atitude nobre
das pessoas piedosas de Tessalônica os levou a se deixarem persuadir
pela pregação de Paulo, porque foram humildes
o suficiente para reconhecerem que a
exposição das Escrituras estava correta, que de fato Jesus só podia ser
o Cristo, em quem se cumpriram as profecias, que diziam inclusive que ele iria
padecer e ressuscitar dentre os mortos.
Será que nós somos nobres o suficiente para nos deixarmos
persuadir pela exposição precisa e
clara das Escrituras? Aceitaremos fazer mudanças em nossos pressupostos
quando confrontados e colocados em xeque com a verdade da Palavra de Deus?
Somente o Espírito Santo pode nos convencer do pecado, da justiça e do juízo,
porque somos duros de coração. Que Deus nos dê a graça de nos deixarmos
persuadir pela verdade das Escrituras, e assim ajustarmos nossos caminhos,
abandonarmos nossos pecados, e seguirmos a Jesus, pelo caminho que ele nos tem
proposto.
Werner Keller[1]
fala na introdução de seu livro “E a Bíblia Tinha Razão”, que
Durante a coleta e o estudo do material, que de modo algum pretendo seja completo, ocorreu-me a ideia de que era tempo de os leitores da Bíblia e seus opositores, os crentes e os incrédulos participarem das emocionantes descobertas realizadas pela sóbria ciência de múltiplas disciplinas. Diante da enorme quantidade de resultados de pesquisas autênticos e seguros, convenci-me, apesar da opinião da crítica cética, de que desde o século do Iluminismo até nossos dias tentava diminuir o valor documentário da Bíblia, de que a Bíblia tinha razão!
Segunda atitude nobre: respeitar direitos (5-9)
Os judeus, porém, movidos de inveja, trazendo consigo alguns homens maus dentre a malandragem, ajuntando a turba, alvoroçaram a cidade e, assaltando a casa de Jasom, procuravam trazê-los para o meio do povo. Porém, não os encontrando, arrastaram Jasom e alguns irmãos perante as autoridades, clamando: Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui, os quais Jasom hospedou. Todos estes procedem contra os decretos de César, afirmando ser Jesus outro rei. Tanto a multidão como as autoridades ficaram agitadas ao ouvirem estas palavras; contudo, soltaram Jasom e os mais, após terem recebido deles a fiança estipulada.
Os judeus que não
foram nobres o bastante para se deixarem persuadir pela pregação de
Paulo, se sentiram ameaçados em suas posições, e sabiam exatamente o que tinham
que fazer para se defenderem. Não mediam esforços para reunir agitadores, que geralmente se encontravam
entre os desocupados nos mercados, ávidos por abraçarem qualquer causa
na qual pudessem tirar alguma vantagem. Eles reuniram uma multidão em protesto
contra os missionários e chegaram a invadir
a casa de Jasom, que os hospedava, e não encontrando Paulo e Silas,
arrastaram Jason e alguns irmãos perante as autoridades, fazendo graves e falsas acusações.
Diferentemente do que aconteceu em Filipos, porém, as autoridades de Tessalônica foram nobres o suficiente para não se deixarem levar pela agitação. Jasom e os outros irmãos
tinham o direito de se defenderem das graves acusações que lhes faziam. Devia
ser seguido um processo legal
antes de condenar ou absolver os cidadãos. A razão não é de quem grita mais alto, mas de quem fala a verdade. Por isso eles fizeram
o que era direito. Estipularam uma fiança e libertaram os acusados até que em
ocasião oportuna pudessem também apresentar suas alegações em sua defesa.
Os casos de
julgamentos de corrupção que aconteceram numa história recente em nosso
país às vezes nos deixaram impacientes.
Quantos estavam impunes! Chegávamos a vibrar
de alegria quando um corrupto poderoso ia para a cadeia, e ficávamos revoltados quando eles recebiam um Habeas
Corpus e se livravam, pelo menos temporariamente, da prisão. Mas a lei tem
que ser cumprida, e ela prevê direitos que devem ser respeitados.
Às vezes nós queremos fazer como os agitadores, e ganhar as demandas no grito, até mesmo
nas pequenas coisas entre colegas de trabalho, entre os familiares, e até na
igreja. Mas não é assim que deve ser. Precisamos respeitar os direitos de cada um e, mesmo quando não concordamos,
ou que tenhamos que sair perdendo,
o que é direito deve prevalecer.
Terceira atitude nobre: examinar as Escrituras (10-12)
E logo, durante a noite, os irmãos enviaram Paulo e Silas para Beréia; ali chegados, dirigiram-se à sinagoga dos judeus. Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens.
Os bereanos se tornaram famosos no mundo inteiro, em todas as épocas, por causa dessa atitude nobre de examinar as
Escrituras, conferindo a pregação de Paulo com o que diz a Bíblia. Com isso,
muitas mulheres gregas, de alta posição, e não poucos homens, vieram a crer que Jesus Cristo é o Filho de
Deus, a quem deviam se entregar para serem salvos.
O pastor de nossa
igreja costuma propor planos de leitura da Bíblia no começo de cada ano,
para doze, seis ou três meses. Qual desses você escolheria? Eu não costumo adotar
nenhum desses, pois normalmente já estou cumprindo outro programa, que não
coincide com a data comemorativa do ano novo. Uma das primeiras resoluções que adotei quando me converti foi a de que
era minha obrigação ler a Bíblia todos os dias, nem que fosse um versículo
apenas. Confesso que poderia ter lido a Bíblia toda num número maior de vezes.
Em mais de trinta e cinco anos de
conversão, se eu lesse pelo menos uma vez por ano, teria lido a Bíblia 35
vezes. Mas eu tenho me esforçado. Tenho a consciência de que a leitura da
Palavra de Deus deve ser constante e
regular, assim como é a nossa alimentação física.
Essa atitude de
nobreza, de examinar as Escrituras, deve ser incentivada em todas as igrejas, onde se prega a Palavra de Deus.
Todos devem trazer suas Bíblias nos cultos e acompanharem em tempo real o que o pregador está dizendo,
comparando o texto, para ver se, de fato, as coisas são assim. Mais do
que isso, devemos nos antecipar, lendo as Escrituras em casa, diariamente, com um plano de leitura regular, para que
estejamos sempre preparados para
responder às situações do dia a dia, às pessoas que nos perguntam sobre
a nossa fé, ou às pessoas que querem nos convencer de seus pontos de vista.
Quarta atitude nobre: enfrentar as perseguições por amor
do evangelho (13-15)
Mas, logo que os judeus de Tessalônica souberam que a palavra de Deus era anunciada por Paulo também em Beréia, foram lá excitar e perturbar o povo. Então, os irmãos promoveram, sem detença, a partida de Paulo para os lados do mar. Porém Silas e Timóteo continuaram ali. Os responsáveis por Paulo levaram-no até Atenas e regressaram trazendo ordem a Silas e Timóteo para que, o mais depressa possível, fossem ter com ele.
Os judeus incrédulos não davam sossego. Foram atrás dos
missionários em Bereia e começaram novamente a agitar o povo. Estava se formando
o quadro do que já havia acontecido em Filipos, e iam acabar convencendo, no grito, as autoridades a
açoitarem os pregadores e os lançarem na prisão, ou coisa pior. Então, acharam prudente afastar Paulo da tensão,
enviando-o para os lados do mar. Silas e Timóteo, embora também estivessem sob ameaça, eram menos visados do que
Paulo, por isso tiveram a atitude nobre
de se arriscar, ficando um pouco mais, para instruírem mais os novos
convertidos de Bereia, no lugar de Paulo que, por prudência, saíra de cena
temporariamente.
Será que nós temos sido nobres o suficiente para nos expormos diante de todos, por amor de
Cristo? Evangelizar envolve exposição,
e quando estamos expostos diante dos outros, nossas fraquezas são postas à prova. O evangelho apela às pessoas para
que se arrependam de seus pecados, e os pecadores
não gostam de ser confrontados. A tendência é que reajam defensivamente, e não é raro que explorem nossas fraquezas ou nos
ataquem com calúnias. Por isso,
servir a Deus evangelizando e ensinando os preceitos das Escrituras é uma
atitude tanto nobre quanto arriscada.
É óbvio que devemos andar o mais limpos
possível dos pecados, porque a primeira coisa que os adversários vão
tentar fazer é apontar nossos erros.
Em Atos 19.13-17 vemos que os filhos de Ceva cometeram grande
erro:
E alguns judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. Os que faziam isto eram sete filhos de um judeu chamado Ceva, sumo sacerdote. Mas o espírito maligno lhes respondeu: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? E o possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa. Chegou este fato ao conhecimento de todos, assim judeus como gregos habitantes de Éfeso; veio temor sobre todos eles, e o nome do Senhor Jesus era engrandecido.
Quando os sátrapas da Pérsia quiseram derrubar Daniel,
primeiro procuraram achar na sua lei, algo de que o acusar, mas não acharam,
por isso tiveram que criar uma lei sob medida para condená-lo: impedir a oração
ao Deus verdadeiro. Quando prenderam Jesus, multiplicaram as falsas
testemunhas, pois somente acusações falsas poderiam apresentar contra o
perfeito Filho do Homem.
Conclusão
É natural que os discípulos de Jesus, depois da entrada
triunfal, desejassem ocupar posições nobres no Reino, e que nós estejamos
batalhando para conquistar bons lugares na sociedade. É natural que as pessoas dos
bairros nobres como é o de nossa igreja gozem dos benefícios de sua nobreza, e
que a faculdade, nossa vizinha de frente, promova a busca por status.
Mas se nós quisermos ser considerados nobres, de fato, no Reino de Deus,
precisamos aprender a ter atitudes como estas quatro que foram manifestadas
pelas pessoas neste texto bíblico:
1 - deixar-se persuadir pela exposição da verdade (1-4)
2 - respeitar direitos (5-9)
3 - examinar as Escrituras (10-12)
4 - enfrentar as perseguições por amor do evangelho (13-15)
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José
do Rio Preto, janeiro de 2022.
(*) Foto do cabeçalho disponível em: http://blogdopastorvaldemir.blogspot.com/2017/07/a-nobreza-da-igreja-bereana.html
Acesso em 07 jan. 2022.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de
Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do
Brasil, 2012. 1280p.
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