terça-feira, 11 de outubro de 2011

O vendedor de ideias

Havia um vendedor de ideias; ele era extrovertido, atraente e, com muita empolgação,
exclamava:
- Venham! Venham! Temos ideias de todos os tipos e para todos os gostos. Comprem
aqui as suas e saiam satisfeitos. Garantimos qualidade e prazer.
Enquanto isso, por essas bandas, passava um garoto que, intrigado com a cena, pôs-se a
averiguar a veracidade do anúncio e com um jeito tímido foi achegando-se para perto do
vendedor e perguntou:
- Estes produtos que o senhor vende, são ideias mesmo?
- São sim, meu caro jovem! E são da melhor qualidade!
Com o forte movimento de pessoas que passavam pelo local, o jovem acabou se
afastando e pôs-se a observar por um tempo. Logo, chegou à conclusão de que as vendas iam
de vento em popa. O movimento era muito grande, clientes iam e vinham. Multidões
compravam suas porções de ideias favoritas. E, neste instante, o garoto percebeu que uns e
outros que por ali passavam não atentavam para os anúncios do vendedor. Passavam e
ignoravam o que se anunciava. Até parecia que estes possuíam o seu próprio produto, pois não
os atraía o que de mais moderno se propagava no mercado daquela cidade. Assim que o
movimento diminuiu o garoto perguntou ao vendedor:
- Por que estas pessoas vêm em multidões e levam altas quantidades deste produto?
- Pobre jovem! Ainda não entende de negócios. O que se passa é que ideias estão em
falta no mercado. Hoje em dia, é difícil se tornar um vendedor autorizado e, muito mais
difícil, ter ideias próprias. Por isso, quando eles veem um vendedor autorizado do produto não
resistem e logo levam grandes quantidades para si próprios e também para os parentes e
amigos. Este negócio é muito lucrativo! Não gostaria de levar uma ideia?
- De quais tipos o senhor tem?
- Todos, nós possuímos a maior variedade das redondezas. Temos em lotes ou em
unidades, da mais atual à mais obsoleta, temos ideias de pai, mãe, filho, amigo, irmão,
namorado, vendemos ideias para qualquer profissão ou qualquer estudo científico e até
mesmo ideias religiosas. Também temos os novíssimos "personality package": social,
executivo, amigável, politicamente correto, ecologicamente correto, radical, esportivo,
amoroso, inteligente, ortodoxo entre outros... E, caso você não se agrade com o que temos,
podemos fazer um "personality package" especialmente para você! Entregamos em sua casa e
em caso de insatisfação devolvemos o dinheiro.
- Puxa! São muitos produtos!
- Diria que todos! É um mercado muito competitivo. As ideias estão muito escassas. Se
você não compra, você não é atualizado, maneiro, descolado e com certeza não conseguirá se
firmar na sociedade. Além disso, você corre o risco de sofrer um atrofiamento neural.
- Atrofiamento neural?
- Sim, é uma doença causada pela falta de ideias, alguns dos sintomas são: depressão,
solidão, desespero. E muitas vezes esta doença leva à morte. É um caso grave!
O garoto, ao ouvir estas coisas das quais ainda não tinha conhecimento, suspirou por um
instante, ficou pensativo e após alguns momentos voltou a indagar ao vendedor:
- Por que aqueles passam e o ignoram?
- Bom, meu caro jovem! É uma questão um pouco complicada. Aqueles são loucos!
Acreditam que podem sobreviver com ideias próprias, porém se esquecem que vivem
em um mundo onde quase todos compram e usam ideias. Nós, da companhia, chamamos
aqueles de loucos fracassados e, realmente, estudos mostram que pouquíssimos, quase
nenhum deles alcança algum tipo de sucesso na alta sociedade. Sabe, garoto, vender ideias é
como se fosse possível vender oxigênio. Você poderia tentar sobreviver sem comprar, mas
sofreria consequências por isso. Alguns daqueles ainda seguem um tipo de filosofia
empregada por um homem dito o único que ressuscitou. Mas isto é outra história. O
importante é que sem estas ideias dificilmente você será alguém perante a sociedade, pois
estas são o que há de mais recente em modelos de ideias.
O jovem, mais uma vez, tomou fôlego e perguntou:
- Como foi que o senhor se tornou um vendedor autorizado?
- Eu, por muito tempo, tentei viver me garantindo que jamais iria usar ideias compradas,
porém, na época, as vendas de ideias ainda eram um tipo de negócio meio revolucionário e
pequeno. Com o tempo veio a escassez de ideias e neste período percebi que se eu quisesse
ser alguém na vida tinha que comprar. Todos os meus amigos e conhecidos já tinham os seus
pacotes de ideias compradas. Foi assim que eu usei o meu primeiro lote e senti o prazer que é
usá-las. E você? Vai levar alguma ideia?
- Quanto tempo elas duram? Precisarei comprar mais?
- O tempo de duração vai depender do tipo de ideia que você comprar. Nós temos tanto
as ideias de curto prazo quanto as de longo prazo. As ideias de longo prazo são mais caras,
porém, duram muito tempo e, dependendo da maneira que usá-las, nunca mais precisará
comprar outra ideia de longo prazo. Porém, as de curto prazo são mais baratas, após usar a
primeira, com toda certeza, você não conseguirá viver sem. Pois são viciantes e inexplicáveis,
te levam às nuvens. Mas ao acabarem, você terá que comprar mais. Não se preocupe com a
disponibilidade de pagamento pois o retorno é garantido. Farei o seguinte... Eu te faço uma
promoção relâmpago, te vendo duas ideias pelo preço de uma, uma de curto prazo e outra de
longo prazo. Que tal?
O garoto, ainda não muito convencido, mas incentivado pelo vendedor, retirou do bolso
toda a sua mesada que acabara de receber e, por tamanha curiosidade, comprou as ideias que
o vendedor lhe oferecera.
- Você não se arrependerá. São da melhor qualidade, garanto. Isto ou o seu dinheiro de
volta!
- Me desculpe senhor! Conversamos por tanto tempo e nem ao menos sei o seu nome e
nem para qual empresa o senhor trabalha.
- Pois não jovem, meu nome é Telévisus e trabalho para Mídias S.A.
Então, o jovem se retirou do local e enquanto andava pela cidade pensava se deveria ou
não utilizar as ideias, afinal, não se convencera totalmente dos argumentos daquele vendedor.
Sentia medo de se tornar um viciado ou qualquer coisa parecida. Sabia que ideias eram
escassas, mas não queria deixar de ter as suas próprias ideias, era um produto revolucionário,
porém o mau uso poderia causar problemas. Decidiu então levar estas ideias ao seu pai. E ao
chegar em casa, o garoto foi direto ao encontro de seu pai, uma pessoa pela qual ele tinha todo
o respeito:
- Papai, papai! Veja o que comprei!
- O que se passa filho meu?
- Comprei ideias novinhas! Últimos lançamentos no mercado.
- E o que pretendes fazer com tal coisa?
- Vim pedir a sua opinião meu pai, pois nunca vi o senhor usando tais produtos e, o
vendedor me disse que quem não as utiliza é louco e só obterá fracassos perante a sociedade!
- Bom, meu filho, estas ideias realmente são a chave de entrada para um bom status
social. É o que há de mais atual e o que todos querem ter. Porém, este sucesso é o sucesso que
a sociedade nos impõe. Com o tempo estas ideias vão te cegar e te tornar um viciado, incapaz
de ter ideias próprias. Não é bom utilizá-las.
O garoto replicou:
- É por isso que somos pobres. Nunca nos atualizamos!
- Filho meu, o status social não é tudo na vida. O que realmente importa é a felicidade e
o único modo de alcançá-la é confiar naquilo que Jesus nos disse: “Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (Jo 14.6). Ainda tem outra coisa:
Aquilo que não está na Bíblia, não vem de Deus. Portanto meu filho, estas ideais são
mundanas e é justamente por isto que eu não as utilizo. Prefiro confiar no meu SENHOR do
que vender minha mente àquelas pessoas que só querem nos usurpar. As escrituras dizem que
chegará o dia em que nos colocaremos perante Deus e seremos julgados. Todos nós seremos
julgados de acordo com nossas obras. "E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam
diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos
foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras" (Ap
20.12).
- Entendi meu pai, estas ideias são mundanas e apesar de serem o ideal social, não nos
dará os frutos eternos.
- Exatamente. Neste mundo há pessoas que compram ideias, outras que tentam viver
sem qualquer tipo de ideias, ou melhor, tentam viver com forças próprias, mas estes também
correm riscos pois a mente vazia é a oficina do diabo. Paulo escreveu: “Revesti-vos de toda a
armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo" (Ef 6.11) “e não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Rm 12.2). Não
podemos nos contentar com este século, pois isto não nos pertence. O que há para nós - filhos
de Deus - está reservado no nosso lar celestial.
O garoto, após escutar estas palavras, olhou para os seus pacotes de ideias e pensou;
pensou em tudo aquilo que as ideias lhe proporcionariam aqui na Terra e, num relance, o
garoto as jogou pelo esgoto. Afinal chegou a uma conclusão: “Que aproveita ao homem
ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mc 8.36).

(Texto de autoria de Samuel Ferreira da Silveira)

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