terça-feira, 26 de abril de 2016

Vencendo a ansiedade


(Leia Mc 16.1-8)

A ansiedade não é boa para nós. Ela nos tira prazeres, nos tira a paz, nos paralisa. As mulheres que seguiam Jesus deviam estar muito ansiosas por causa da violência, da tragédia que presenciaram. A ansiedade tomou, no coração daquelas mulheres, o lugar reservado à fé. Podemos observar que o Senhor queria remover-lhes a ansiedade, conduzindo-as de volta à fé. Para ajudá-las em sua fraqueza, o Senhor lhes concedeu pelo menos três benefícios.

I - REMOVEU-LHES A PEDRA (1-4)

“Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-lo. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo. Diziam umas às outras: Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo? E, olhando, viram que a pedra já estava removida; pois era muito grande”.

Quem sabe a ansiedade das mulheres com relação à pedra era semelhante à dos israelitas diante do Mar Vermelho, antes de Deus abrir para o povo passar. Gosto de uma música que cantamos, que diz: “Se diante de mim não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas.”

Às vezes nós ficamos ansiosos diante de um grande obstáculo, e quando Deus nos “remove as pedras”, esquecemo-nos de dar graças. Somos, muitas vezes, como Jacó, que estava tão acostumado a sofrer, que custou aceitar o fato de que Deus lhe reservara uma grande bênção, ao revelar-lhe que José, seu filho predileto, não só estava vivo, como era muito rico e poderoso, a ponto de se tornar o salvador de sua família (Gn 45.26).

Nossa ansiedade, às vezes, nos dificulta crer que a “pedra” foi removida, e nos coloca em situações como a que li, num folheto evangelístico:

[Certo navio procedia do Oriente e singrava nas proximidades do litoral da América do Sul. A viagem fora longa. O suprimento de água fora insuficiente e, aquela altura, acabou-se. Ali estavam, em pleno oceano, sem água potável, com a terrível ameaça de morrer de sede. Felizmente, um navio de bandeira brasileira aproximou-se o bastante para que o barco em dificuldade pedisse por sinais: “Por favor, cedam-nos um pouco de água potável”. A resposta do navio brasileiro foi imediata: “Desçam os baldes onde estão”. O aflito capitão pensou em tratar-se de uma ordem descabida e repetiu o pedido. E, de novo, o sinal com as mesmas palavras: “Desçam os baldes onde estão”. Obedecendo ao sinal, um balde então foi baixado e mergulhou no oceano. Içado para bordo, o capitão tocou com eles a língua e constatou que a água era doce. O que não sabia é que estavam no centro da larga corrente de água doce, que a força das águas do rio Amazonas empurra para o Atlântico]. (1)

O Senhor não queria que as mulheres ficassem ansiosas, e por isso lhes concedeu o benefício de remover a pedra do sepulcro.

II - MOSTROU-LHES EVIDÊNCIAS (5,6)

“Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido de branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas. Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto”.

O anjo foi muito gentil com as mulheres, recebeu-as como um verdadeiro anfitrião, querendo tranquiliza-las, mostrando-lhes o lugar onde Jesus havia sido posto, explicando que ele ressuscitara.

A Bíblia nos ensina a atentarmos para as evidências, como as que o anjo mostrou às mulheres. “Não desprezeis profecias”, diz 1Ts 5.20. Evidências da ressurreição estão espalhadas nos textos bíblicos e na história secular.

Um dos argumentos mais fortes em defesa da autenticidade e veracidade dos textos bíblicos, o que nos deixa também seguros quanto à narrativa da ressurreição, é a história e o futuro de Israel, que voltou a possuir uma parte do seu território, e foi reconhecido novamente como nação, depois de quase dois mil anos.

Os judeus foram perseguidos tantas vezes, e quase destruídos, mas Deus lhes tem preservado. No livro de Ester, foi relatado que o povo judeu escapou de um genocídio, pela provisão de Deus e a intervenção da rainha e de seu tio Mordecai. Em 70 d.C. houve outra tentativa de extinguir a população judaica, mas um remanescente escapou, fugindo no momento em que o exército romano fez uma pausa no cerco de Jerusalém. Lemos na Wikipedia que, “dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos; mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens judeus morreram durante o período” (2). O que ameaça Israel hoje em dia é a “guerra santa” islâmica. Mas nós lemos em Romanos 11.25-29 que há pelo menos uma profecia pendente de cumprimento para esse povo, pelo que ele deve, ainda, ser preservado: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.

Quanto à história de Jesus como um todo, o mundo reconhece a sua existência, ainda que, para a maioria ele foi apenas um grande homem. Recorrendo de novo à Wikipédia, lemos que:

["Numa revisão em 2011 do estado da arte da investigação contemporânea, Bart Ehrman escreveu: "Com certeza existiu, já que praticamente qualquer investigador clássico competente concorda, seja ou não cristão". Richard A. Burridge afirma: "Há aqueles que argumentam que Jesus é produto da imaginação da Igreja e que nunca houve qualquer Jesus. Devo dizer que não conheço nenhum académico de renome que ainda afirme isso". Robert M. Price não acredita que Jesus tenha existido, mas reconhece que o seu ponto de vista é contrário à maioria dos académicos. James D.G. Dunn chama às teorias da inexistência de Jesus "uma tese completamente morta". Michael Grant (um classicista) escreveu em 1977: "em anos recentes, nenhum acadêmico sério se aventurou a postular a não historicidade de Jesus, e os poucos que o fazem não tiveram qualquer capacidade de contrariar as evidências no sentido contrário, muito mais abundantes e fortes. Robert E. Van Voorst declara que os acadêmicos bíblicos e historiadores clássicos encaram as teorias da inexistência de Jesus como completamente refutadas.

O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé, e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus."] (3)

Ao ouvirem os argumentos do anjo, as mulheres pareciam desligadas da realidade, e não devem ter prestado muita atenção nas palavras que lhes foram dirigidas.

Quando estamos ansiosos, não conseguimos nos concentrar. Nosso tempo de oração não “rende”, nossa leitura bíblica não atinge o coração. Nestes momentos precisamos nos esforçar para manter a calma ou, como diriam os técnicos de futebol e os líderes empresariais, “manter o foco”. Devemos nos lembrar das evidentes intervenções milagrosas de Deus em nossas vidas, lembrar-nos de que ele nunca nos desamparou. Nossa atitude mais comum, porém, com relação às evidências pessoais da presença de Jesus conosco, é bem ilustrada no Poema “Pegadas na areia”:

[Sonhei que estava caminhando na praia juntamente com Deus. E revi, espelhado no céu, todos os dias da minha vida. E em cada dia vivido, apareciam na areia, duas pegadas : as minhas e as dele. No entanto, de quando em quando, vi que havia apenas as minhas pegadas, e isso precisamente nos dias mais difíceis da minha vida. Então perguntei a Deus: "Senhor, eu quis seguir-te, e tu prometeste ficar sempre comigo. Porque deixaste-me sozinho, logo nos momentos mais difíceis?” Ao que ele respondeu: "Meu filho, eu te amo e nunca te abandonei. Os dias em que viste só um par de pegadas na areia são precisamente aqueles em que eu te levei nos meus braços”.] (4)

As evidências indicadas pelo anjo foram, para as mulheres, um benefício para combater a ansiedade.

III - DEU-LHES INSTRUÇÃO (7,8)

“Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; lá o vereis, como ele vos disse. E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e de assombro; e, de medo, nada disseram a ninguém”.

As mulheres receberam instruções específicas do anjo, de forma que não havia mais motivo para ansiedade, bastando que se concentrassem, simplesmente, em seguir as referidas instruções.

Entre as maiores riquezas que podemos almejar, está a instrução, o conhecimento. Ao nos instruir sobre a maneira como devemos conduzir a nossa vida, a Bíblia mostra que entende o nosso modo de pensar. Vivemos ansiosos procurando meios de sermos supridos de coisas materiais, mas o Senhor quer que deixemos de lado essa ansiedade, e busquemos primeiro o seu reino e a sua justiça. Porque tudo o que necessitarmos, ele suprirá, conforme promete em Mateus 6.25-33:

[Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas].

Salmos 119.105 diz que a Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos caminhos. Em 2Pedro 1.19 lemos que a palavra profética é “como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração”. Oséias (4.6) aponta o motivo para o povo de Deus estar sendo destruído. É que lhe faltava o conhecimento.

Assim como as mulheres, recebemos, também, junto com os tessalonicenses (1Ts 5.16-25) instruções bem específicas para vencer a ansiedade:

[Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará. Irmãos, orai por nós].

CONCLUSÃO

Não podemos ficar paralisados. Em vez disso, devemos “preparar nossos aromas” esperando que o Senhor nos remova as pedras, as quais são muito grandes para nós. Observemos as evidências (não desprezemos profecias), para que tenhamos confiança. Façamos o nosso trabalho, principalmente no que se refere a falar do evangelho, para que o maior número possível de pessoas possa encontrar-se com Jesus.

Referências:

(1) (Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4273841 - Acesso em: 07-02-2016)
(2) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto - Acesso em: 07-02-2016);
(3) (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus acesso em: 08-08-2015)
(4) (Mary Stevenson. 1936. Disponível em: http://www.lindasmensagenseoracoes.com.br/2010/08/poema-pegadas-na-areia.html acesso em: 06/02/2016. Ou Margaret Fishback Powers. 1964. Disponível em: http://www.wook.pt/ficha/pegadas-na-areia/a/id/1553625 acesso em: 06/02/2016)

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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Adoração ou idolatria?


(Leia Mc 15.42-47)

O Breve Catecismo de Westminster, formulado por teólogos ingleses e escoceses da Assembleia de Westminster, no séc. XVII, começa com a pergunta: “Qual é o fim principal do homem?” E o texto mesmo responde: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. Referências: Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef 1.5-6; Is 60.21; 61.3”.

Mas o homem desviou-se cedo do seu propósito, tendendo à idolatria, conforme Romanos 1.25: “pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador (...)”.

Neste parágrafo do evangelho de Marcos, podemos perceber três costumes que podem sutilmente levar os homens à idolatria.

1 – Cerimonialismo (42,43)

“Ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, vindo José de Arimatéia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus”.

José era ilustre membro do sinédrio, e não podia deixar que o sábado fosse profanado. Tinha que tomar uma atitude para com o corpo de Jesus, por isso tomou coragem e foi falar com Pilatos.

O sábado era sagrado, conforme mandamento de Deus, desde a antiguidade. Mas os filhos de Israel desprezaram os mandamentos, e se deram à idolatria. Em 2Cr 36.15-17 lemos uma sentença contra o povo, uma explicação do motivo pelo qual eles estavam sendo levados cativos para Babilônia. Logo em seguida, em 2Cr 36.21, Deus informa que o cativeiro duraria “até que a terra se agradasse dos seus sábados”. Passados os setenta anos de cativeiro, o povo aprendeu que tinha que extirpar os ídolos, mas seu coração ainda não era perfeito, e a idolatria tornou-se mais sofisticada. Agradou-se dos sábados, mas com o tempo, o sábado tornou-se tão importante que, obcecados, o colocaram num patamar acima do Senhor Jesus, a ponto de ter que lembrá-los, em Mateus 12.8, de que “o Filho do Homem é senhor do sábado”.

O sistema religioso judaico era tão atraente que encantou os gálatas, aos quais Paulo admoestou: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? (...) Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.1,3).

Apesar de os ídolos tradicionais terem sido extirpados, tanto do judaísmo quanto do cristianismo, a Idolatria ainda era um problema no novo testamento, tanto que Paulo exorta os Coríntios: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1Co 10.14). E João, quase no final dos tempos bíblicos, adverte seus discípulos: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21).

O ato de José de Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, e não deixá-lo passar o sábado na cruz, foi um ato nobre e corajoso, mas ele teria que ir além, encarar o sinédrio e proclamar abertamente sua fé. A Bíblia não diz, mas provavelmente ele o fez, mostrando que sua motivação era mais do que um simples cerimonialismo.

2 – Exaltação do trabalho (44,45)

“Mas Pilatos admirou-se de que ele já tivesse morrido. E, tendo chamado o centurião, perguntou-lhe se havia muito que morrera. Após certificar-se, pela informação do comandante, cedeu o corpo a José”.

Pilatos era um governador competente. Um administrador prudente. Certificou-se de que Jesus estava mesmo morto. O Centurião certificou-se da morte do Senhor traspassando-lhe o lado com uma lança (Jo 19.34). Nenhum erro podia ser cometido.

O trabalho foi criado por Deus, é uma bênção para o homem. Ele é que gera a riqueza das nações. Nós, paulistas, nos orgulhamos de sermos um povo trabalhador. Ser trabalhador é bom, mas existe problema quando alguém passa a considerar o trabalho como sua “religião”. O homem pode cobiçar, de tal forma, a riqueza gerada pelo trabalho, ou pode amar tanto o próprio trabalho, em si mesmo, que deixa de lado a família, prejudica sua saúde, e deixa de prestar culto a Deus. Não devemos nos esquecer de que, ao criar o trabalho, Deus também criou o descanso. Num ciclo de sete dias, um deles deve ser de descanso e adoração, conforme Êxodo 20.9,10: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro”.

Tanto Pilatos quanto o centurião demonstraram que eram exímios trabalhadores, mas estavam tão cegos na realização do seu trabalho, que nem se deram conta de que estavam sendo operadores da morte do Senhor Jesus, o autor da vida (At 3.15).

Sejamos bons trabalhadores, porque isto agrada o Senhor, mas não vamos nos exceder, a ponto de transformar o trabalho, sutilmente, numa idolatria.

3 – Veneração (46,47)

“Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo. Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observaram onde ele foi posto”.

Aqui nestes versículos vemos alguns ícones da religião cristã. A cruz, o lençol que, segundo a tradição se tornou em Santo Sudário, e o túmulo, que ainda hoje é venerado, na Igreja do “Santo Sepulcro”.

O que fizeram com estes ícones do cristianismo é similar à idolatria a que foi dedicada a Neustã, e que veio à tona no texto bíblico de 2Rs 18.4. Essa serpente de bronze fora manufaturada para ser um símbolo de fé no Senhor misericordioso, que os livraria das mordeduras das serpentes (Nm 21.9), mas transformou-se num objeto de idolatria.

Existem ícones seculares, hoje em dia, que também são idolatrados veladamente. Por exemplo: o que vem à sua mente quando perguntam qual a melhor marca de aparelho celular, de carro, moto, ou roupa? Não são os ícones que têm sido consagrados pelo mercado consumidor?

Tiveram bastante cuidado com o corpo de Jesus, e isto é louvável. Mas não é só isto que Deus espera de nós. Na verdade, precisamos tomar cuidado para que nossa adoração não se transforme numa idolatria.

Tomemos cuidado com os ícones, as marcas registradas, o time preferido, o herói, a igreja, o programa de evangelização (Oanse, Esquadrão, Reformados…). Qual a utilidade de campanhas como as que dizem: “Eu sou a Universal”; “Sou católico apostólico Romano, e amo a minha Igreja”? Há perigo de incentivo à idolatria até mesmo em corinhos de Escola Dominical, como o que diz: “Saudamos nossa Bíblia (...)”. Esse livro de Deus foi feito para nos instruir, mas, contra o seu próprio ensino, pode se tornar em objeto de idolatria.

O nome de nossa Igreja é bem pretencioso: “Igreja Bíblica”. Minha primeira impressão com esse nome não foi muito favorável. Antes de me converter, achei que esta igreja era uma seita que adorava a Bíblia. Graças a Deus acabei descobrindo que, na verdade, o Pai celestial e seu filho Jesus Cristo é que são honrados aqui, tendo a Bíblia como guia de fé e prática.

A idolatria pode ser praticada até mesmo sob o pretexto de adoração do próprio Deus verdadeiro, e por isso o povo foi advertido em Dt 4.12, e 15-19: “Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma. (...) Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra. Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o SENHOR, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus”.

Examinemos nossos costumes e o nosso coração, para ver se não há em nós tendências idólatras como o cerimonialismo, a exaltação do trabalho ou veneração de coisas sagradas. Aprendamos a adorar o Deus verdadeiro, em Espírito e em verdade.