(Leia Mc 16.1-8)
A ansiedade não é boa para nós. Ela nos tira prazeres, nos tira a paz, nos paralisa. As mulheres que seguiam Jesus deviam estar muito ansiosas por causa da violência, da tragédia que presenciaram. A ansiedade tomou, no coração daquelas mulheres, o lugar reservado à fé. Podemos observar que o Senhor queria remover-lhes a ansiedade, conduzindo-as de volta à fé. Para ajudá-las em sua fraqueza, o Senhor lhes concedeu pelo menos três benefícios.
I - REMOVEU-LHES A PEDRA (1-4)
“Passado o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem embalsamá-lo. E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo. Diziam umas às outras: Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo? E, olhando, viram que a pedra já estava removida; pois era muito grande”.
Quem sabe a ansiedade das mulheres com relação à pedra era semelhante à dos israelitas diante do Mar Vermelho, antes de Deus abrir para o povo passar. Gosto de uma música que cantamos, que diz: “Se diante de mim não se abrir o mar, Deus vai me fazer andar por sobre as águas.”
Às vezes nós ficamos ansiosos diante de um grande obstáculo, e quando Deus nos “remove as pedras”, esquecemo-nos de dar graças. Somos, muitas vezes, como Jacó, que estava tão acostumado a sofrer, que custou aceitar o fato de que Deus lhe reservara uma grande bênção, ao revelar-lhe que José, seu filho predileto, não só estava vivo, como era muito rico e poderoso, a ponto de se tornar o salvador de sua família (Gn 45.26).
Nossa ansiedade, às vezes, nos dificulta crer que a “pedra” foi removida, e nos coloca em situações como a que li, num folheto evangelístico:
[Certo navio procedia do Oriente e singrava nas proximidades do litoral da América do Sul. A viagem fora longa. O suprimento de água fora insuficiente e, aquela altura, acabou-se. Ali estavam, em pleno oceano, sem água potável, com a terrível ameaça de morrer de sede. Felizmente, um navio de bandeira brasileira aproximou-se o bastante para que o barco em dificuldade pedisse por sinais: “Por favor, cedam-nos um pouco de água potável”. A resposta do navio brasileiro foi imediata: “Desçam os baldes onde estão”. O aflito capitão pensou em tratar-se de uma ordem descabida e repetiu o pedido. E, de novo, o sinal com as mesmas palavras: “Desçam os baldes onde estão”. Obedecendo ao sinal, um balde então foi baixado e mergulhou no oceano. Içado para bordo, o capitão tocou com eles a língua e constatou que a água era doce. O que não sabia é que estavam no centro da larga corrente de água doce, que a força das águas do rio Amazonas empurra para o Atlântico]. (1)
O Senhor não queria que as mulheres ficassem ansiosas, e por isso lhes concedeu o benefício de remover a pedra do sepulcro.
II - MOSTROU-LHES EVIDÊNCIAS (5,6)
“Entrando no túmulo, viram um jovem assentado ao lado direito, vestido de branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas. Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto”.
O anjo foi muito gentil com as mulheres, recebeu-as como um verdadeiro anfitrião, querendo tranquiliza-las, mostrando-lhes o lugar onde Jesus havia sido posto, explicando que ele ressuscitara.
A Bíblia nos ensina a atentarmos para as evidências, como as que o anjo mostrou às mulheres. “Não desprezeis profecias”, diz 1Ts 5.20. Evidências da ressurreição estão espalhadas nos textos bíblicos e na história secular.
Um dos argumentos mais fortes em defesa da autenticidade e veracidade dos textos bíblicos, o que nos deixa também seguros quanto à narrativa da ressurreição, é a história e o futuro de Israel, que voltou a possuir uma parte do seu território, e foi reconhecido novamente como nação, depois de quase dois mil anos.
Os judeus foram perseguidos tantas vezes, e quase destruídos, mas Deus lhes tem preservado. No livro de Ester, foi relatado que o povo judeu escapou de um genocídio, pela provisão de Deus e a intervenção da rainha e de seu tio Mordecai. Em 70 d.C. houve outra tentativa de extinguir a população judaica, mas um remanescente escapou, fugindo no momento em que o exército romano fez uma pausa no cerco de Jerusalém. Lemos na Wikipedia que, “dos nove milhões de judeus que residiam na Europa antes do Holocausto, cerca de dois terços foram mortos; mais de um milhão de crianças, dois milhões de mulheres e três milhões de homens judeus morreram durante o período” (2). O que ameaça Israel hoje em dia é a “guerra santa” islâmica. Mas nós lemos em Romanos 11.25-29 que há pelo menos uma profecia pendente de cumprimento para esse povo, pelo que ele deve, ainda, ser preservado: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este mistério (para que não sejais presumidos em vós mesmos): que veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios. E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: Virá de Sião o Libertador e ele apartará de Jacó as impiedades. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa; quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas; porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”.
Quanto à história de Jesus como um todo, o mundo reconhece a sua existência, ainda que, para a maioria ele foi apenas um grande homem. Recorrendo de novo à Wikipédia, lemos que:
["Numa revisão em 2011 do estado da arte da investigação contemporânea, Bart Ehrman escreveu: "Com certeza existiu, já que praticamente qualquer investigador clássico competente concorda, seja ou não cristão". Richard A. Burridge afirma: "Há aqueles que argumentam que Jesus é produto da imaginação da Igreja e que nunca houve qualquer Jesus. Devo dizer que não conheço nenhum académico de renome que ainda afirme isso". Robert M. Price não acredita que Jesus tenha existido, mas reconhece que o seu ponto de vista é contrário à maioria dos académicos. James D.G. Dunn chama às teorias da inexistência de Jesus "uma tese completamente morta". Michael Grant (um classicista) escreveu em 1977: "em anos recentes, nenhum acadêmico sério se aventurou a postular a não historicidade de Jesus, e os poucos que o fazem não tiveram qualquer capacidade de contrariar as evidências no sentido contrário, muito mais abundantes e fortes. Robert E. Van Voorst declara que os acadêmicos bíblicos e historiadores clássicos encaram as teorias da inexistência de Jesus como completamente refutadas.
O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé, e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus."] (3)
Ao ouvirem os argumentos do anjo, as mulheres pareciam desligadas da realidade, e não devem ter prestado muita atenção nas palavras que lhes foram dirigidas.
Quando estamos ansiosos, não conseguimos nos concentrar. Nosso tempo de oração não “rende”, nossa leitura bíblica não atinge o coração. Nestes momentos precisamos nos esforçar para manter a calma ou, como diriam os técnicos de futebol e os líderes empresariais, “manter o foco”. Devemos nos lembrar das evidentes intervenções milagrosas de Deus em nossas vidas, lembrar-nos de que ele nunca nos desamparou. Nossa atitude mais comum, porém, com relação às evidências pessoais da presença de Jesus conosco, é bem ilustrada no Poema “Pegadas na areia”:
[Sonhei que estava caminhando na praia juntamente com Deus. E revi, espelhado no céu, todos os dias da minha vida. E em cada dia vivido, apareciam na areia, duas pegadas : as minhas e as dele. No entanto, de quando em quando, vi que havia apenas as minhas pegadas, e isso precisamente nos dias mais difíceis da minha vida. Então perguntei a Deus: "Senhor, eu quis seguir-te, e tu prometeste ficar sempre comigo. Porque deixaste-me sozinho, logo nos momentos mais difíceis?” Ao que ele respondeu: "Meu filho, eu te amo e nunca te abandonei. Os dias em que viste só um par de pegadas na areia são precisamente aqueles em que eu te levei nos meus braços”.] (4)
As evidências indicadas pelo anjo foram, para as mulheres, um benefício para combater a ansiedade.
III - DEU-LHES INSTRUÇÃO (7,8)
“Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; lá o vereis, como ele vos disse. E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e de assombro; e, de medo, nada disseram a ninguém”.
As mulheres receberam instruções específicas do anjo, de forma que não havia mais motivo para ansiedade, bastando que se concentrassem, simplesmente, em seguir as referidas instruções.
Entre as maiores riquezas que podemos almejar, está a instrução, o conhecimento. Ao nos instruir sobre a maneira como devemos conduzir a nossa vida, a Bíblia mostra que entende o nosso modo de pensar. Vivemos ansiosos procurando meios de sermos supridos de coisas materiais, mas o Senhor quer que deixemos de lado essa ansiedade, e busquemos primeiro o seu reino e a sua justiça. Porque tudo o que necessitarmos, ele suprirá, conforme promete em Mateus 6.25-33:
[Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes? Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura, não valeis vós muito mais do que as aves? Qual de vós, por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso da sua vida? E por que andais ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros, homens de pequena fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Ou: Com que nos vestiremos? Porque os gentios é que procuram todas estas coisas; pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas; buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas].
Salmos 119.105 diz que a Palavra de Deus é lâmpada para os nossos pés, e luz para os nossos caminhos. Em 2Pedro 1.19 lemos que a palavra profética é “como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração”. Oséias (4.6) aponta o motivo para o povo de Deus estar sendo destruído. É que lhe faltava o conhecimento.
Assim como as mulheres, recebemos, também, junto com os tessalonicenses (1Ts 5.16-25) instruções bem específicas para vencer a ansiedade:
[Regozijai-vos sempre. Orai sem cessar. Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. Não apagueis o Espírito. Não desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que é bom; abstende-vos de toda forma de mal. O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é o que vos chama, o qual também o fará. Irmãos, orai por nós].
CONCLUSÃO
Não podemos ficar paralisados. Em vez disso, devemos “preparar nossos aromas” esperando que o Senhor nos remova as pedras, as quais são muito grandes para nós. Observemos as evidências (não desprezemos profecias), para que tenhamos confiança. Façamos o nosso trabalho, principalmente no que se refere a falar do evangelho, para que o maior número possível de pessoas possa encontrar-se com Jesus.
Referências:
(1) (Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4273841 - Acesso em: 07-02-2016)
(2) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Holocausto - Acesso em: 07-02-2016);
(3) (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus acesso em: 08-08-2015)
(4) (Mary Stevenson. 1936. Disponível em: http://www.lindasmensagenseoracoes.com.br/2010/08/poema-pegadas-na-areia.html acesso em: 06/02/2016. Ou Margaret Fishback Powers. 1964. Disponível em: http://www.wook.pt/ficha/pegadas-na-areia/a/id/1553625 acesso em: 06/02/2016)
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