segunda-feira, 11 de abril de 2016
Adoração ou idolatria?
(Leia Mc 15.42-47)
O Breve Catecismo de Westminster, formulado por teólogos ingleses e escoceses da Assembleia de Westminster, no séc. XVII, começa com a pergunta: “Qual é o fim principal do homem?” E o texto mesmo responde: “O fim principal do homem é glorificar a Deus, e gozá-lo para sempre. Referências: Rm 11.36; 1Co 10.31; Sl 73.25-26; Is 43.7; Rm 14.7-8; Ef 1.5-6; Is 60.21; 61.3”.
Mas o homem desviou-se cedo do seu propósito, tendendo à idolatria, conforme Romanos 1.25: “pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador (...)”.
Neste parágrafo do evangelho de Marcos, podemos perceber três costumes que podem sutilmente levar os homens à idolatria.
1 – Cerimonialismo (42,43)
“Ao cair da tarde, por ser o dia da preparação, isto é, a véspera do sábado, vindo José de Arimatéia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente a Pilatos e pediu o corpo de Jesus”.
José era ilustre membro do sinédrio, e não podia deixar que o sábado fosse profanado. Tinha que tomar uma atitude para com o corpo de Jesus, por isso tomou coragem e foi falar com Pilatos.
O sábado era sagrado, conforme mandamento de Deus, desde a antiguidade. Mas os filhos de Israel desprezaram os mandamentos, e se deram à idolatria. Em 2Cr 36.15-17 lemos uma sentença contra o povo, uma explicação do motivo pelo qual eles estavam sendo levados cativos para Babilônia. Logo em seguida, em 2Cr 36.21, Deus informa que o cativeiro duraria “até que a terra se agradasse dos seus sábados”. Passados os setenta anos de cativeiro, o povo aprendeu que tinha que extirpar os ídolos, mas seu coração ainda não era perfeito, e a idolatria tornou-se mais sofisticada. Agradou-se dos sábados, mas com o tempo, o sábado tornou-se tão importante que, obcecados, o colocaram num patamar acima do Senhor Jesus, a ponto de ter que lembrá-los, em Mateus 12.8, de que “o Filho do Homem é senhor do sábado”.
O sistema religioso judaico era tão atraente que encantou os gálatas, aos quais Paulo admoestou: “Ó gálatas insensatos! Quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Jesus Cristo exposto como crucificado? (...) Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos aperfeiçoando na carne?” (Gl 3.1,3).
Apesar de os ídolos tradicionais terem sido extirpados, tanto do judaísmo quanto do cristianismo, a Idolatria ainda era um problema no novo testamento, tanto que Paulo exorta os Coríntios: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1Co 10.14). E João, quase no final dos tempos bíblicos, adverte seus discípulos: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1Jo 5.21).
O ato de José de Arimatéia, ao pedir o corpo de Jesus, e não deixá-lo passar o sábado na cruz, foi um ato nobre e corajoso, mas ele teria que ir além, encarar o sinédrio e proclamar abertamente sua fé. A Bíblia não diz, mas provavelmente ele o fez, mostrando que sua motivação era mais do que um simples cerimonialismo.
2 – Exaltação do trabalho (44,45)
“Mas Pilatos admirou-se de que ele já tivesse morrido. E, tendo chamado o centurião, perguntou-lhe se havia muito que morrera. Após certificar-se, pela informação do comandante, cedeu o corpo a José”.
Pilatos era um governador competente. Um administrador prudente. Certificou-se de que Jesus estava mesmo morto. O Centurião certificou-se da morte do Senhor traspassando-lhe o lado com uma lança (Jo 19.34). Nenhum erro podia ser cometido.
O trabalho foi criado por Deus, é uma bênção para o homem. Ele é que gera a riqueza das nações. Nós, paulistas, nos orgulhamos de sermos um povo trabalhador. Ser trabalhador é bom, mas existe problema quando alguém passa a considerar o trabalho como sua “religião”. O homem pode cobiçar, de tal forma, a riqueza gerada pelo trabalho, ou pode amar tanto o próprio trabalho, em si mesmo, que deixa de lado a família, prejudica sua saúde, e deixa de prestar culto a Deus. Não devemos nos esquecer de que, ao criar o trabalho, Deus também criou o descanso. Num ciclo de sete dias, um deles deve ser de descanso e adoração, conforme Êxodo 20.9,10: “Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro”.
Tanto Pilatos quanto o centurião demonstraram que eram exímios trabalhadores, mas estavam tão cegos na realização do seu trabalho, que nem se deram conta de que estavam sendo operadores da morte do Senhor Jesus, o autor da vida (At 3.15).
Sejamos bons trabalhadores, porque isto agrada o Senhor, mas não vamos nos exceder, a ponto de transformar o trabalho, sutilmente, numa idolatria.
3 – Veneração (46,47)
“Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo. Ora, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observaram onde ele foi posto”.
Aqui nestes versículos vemos alguns ícones da religião cristã. A cruz, o lençol que, segundo a tradição se tornou em Santo Sudário, e o túmulo, que ainda hoje é venerado, na Igreja do “Santo Sepulcro”.
O que fizeram com estes ícones do cristianismo é similar à idolatria a que foi dedicada a Neustã, e que veio à tona no texto bíblico de 2Rs 18.4. Essa serpente de bronze fora manufaturada para ser um símbolo de fé no Senhor misericordioso, que os livraria das mordeduras das serpentes (Nm 21.9), mas transformou-se num objeto de idolatria.
Existem ícones seculares, hoje em dia, que também são idolatrados veladamente. Por exemplo: o que vem à sua mente quando perguntam qual a melhor marca de aparelho celular, de carro, moto, ou roupa? Não são os ícones que têm sido consagrados pelo mercado consumidor?
Tiveram bastante cuidado com o corpo de Jesus, e isto é louvável. Mas não é só isto que Deus espera de nós. Na verdade, precisamos tomar cuidado para que nossa adoração não se transforme numa idolatria.
Tomemos cuidado com os ícones, as marcas registradas, o time preferido, o herói, a igreja, o programa de evangelização (Oanse, Esquadrão, Reformados…). Qual a utilidade de campanhas como as que dizem: “Eu sou a Universal”; “Sou católico apostólico Romano, e amo a minha Igreja”? Há perigo de incentivo à idolatria até mesmo em corinhos de Escola Dominical, como o que diz: “Saudamos nossa Bíblia (...)”. Esse livro de Deus foi feito para nos instruir, mas, contra o seu próprio ensino, pode se tornar em objeto de idolatria.
O nome de nossa Igreja é bem pretencioso: “Igreja Bíblica”. Minha primeira impressão com esse nome não foi muito favorável. Antes de me converter, achei que esta igreja era uma seita que adorava a Bíblia. Graças a Deus acabei descobrindo que, na verdade, o Pai celestial e seu filho Jesus Cristo é que são honrados aqui, tendo a Bíblia como guia de fé e prática.
A idolatria pode ser praticada até mesmo sob o pretexto de adoração do próprio Deus verdadeiro, e por isso o povo foi advertido em Dt 4.12, e 15-19: “Então, o SENHOR vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes aparência nenhuma. (...) Guardai, pois, cuidadosamente, a vossa alma, pois aparência nenhuma vistes no dia em que o SENHOR, vosso Deus, vos falou em Horebe, no meio do fogo; para que não vos corrompais e vos façais alguma imagem esculpida na forma de ídolo, semelhança de homem ou de mulher, semelhança de algum animal que há na terra, semelhança de algum volátil que voa pelos céus, semelhança de algum animal que rasteja sobre a terra, semelhança de algum peixe que há nas águas debaixo da terra. Guarda-te não levantes os olhos para os céus e, vendo o sol, a lua e as estrelas, a saber, todo o exército dos céus, sejas seduzido a inclinar-te perante eles e dês culto àqueles, coisas que o SENHOR, teu Deus, repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus”.
Examinemos nossos costumes e o nosso coração, para ver se não há em nós tendências idólatras como o cerimonialismo, a exaltação do trabalho ou veneração de coisas sagradas. Aprendamos a adorar o Deus verdadeiro, em Espírito e em verdade.
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