quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Aliança Premiada (Atos 2.37-41)
Outro dia fomos buscar minha cunhada e meu sobrinho na rodoviária. Eles vieram a Rio Preto para comprar um automóvel. Concluído o negócio, receberam do vendedor, como brinde, cupons para concorrerem a carros novos, e nos deram alguns. É bom receber brindes. Às vezes eles nos incentivam a fechar negócios. Neste parágrafo de Atos, vamos perceber que Deus nos dá não apenas brindes, mas verdadeiros “prêmios” que nos incentivam a “assinar o contrato” da sua aliança.
As pessoas presentes à festa do Pentecostes entenderam a pregação evangelizadora de Pedro, o seu coração ficou compungido, tanto que perguntaram o que deviam fazer para reparar seu pecado. A resposta do apóstolo revelou que Deus propõe aos homens um acordo, uma aliança. Essa aliança seria formalizada por meio do arrependimento e do batismo em nome de Jesus Cristo. Deus ainda ofereceu prêmios para quem aceitasse fazer parte dessa aliança.
Primeiro Prêmio: A remissão dos pecados (37,38)
“Ouvindo eles estas coisas, compungiu-se-lhes o coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, irmãos? Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados (...)”
Pedro anunciou aos compungidos de coração que, aceitando fazer uma aliança com Deus, receberiam também a remissão dos seus pecados. Para entendermos bem o que isso significa, vamos comparar duas palavras homófonas: remição e remissão. O site do Projeto JurisWay nos ensina o seguinte:
“‘Remição’ (com ç), significa ‘resgate, reaquisição, libertação, quitação’. Ex.: O direito de remição é transferível e cabe, primeiramente, ao próprio devedor. ‘Remissão’ (com ss), significa ‘indulto, perdão, referência, envio’. Ex.: ‘Concedei-nos a remissão de nossos pecadores...’.”
(http://www.jurisway.org.br/v2/pergunta.asp?idmodelo=5622 – Acesso em 20/03/2016)
Num material de estudo do Centro Universitário Unisalesiano, encontramos um comentário sobre o código 385 do Código Civil brasileiro:
“REMISSÃO DE DÍVIDAS ‘- Conceito de remissão: é o perdão da dívida. Consiste na liberalidade do credor em dispensar o devedor do cumprimento da obrigação, renunciando o seu direito ao crédito. Traz como conseqüência a exoneração (liberação) do devedor do cumprimento da prestação por ele assumida (art. 385, CC).’ ‘Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro’.”
(http://www.unisalesiano.edu.br/salaEstudo/materiais/p293184d7504/material4.pdf – Acesso em: 20/03/2016)
Agora que entendemos esses conceitos, podemos entender que o homem não podia remir (pagar) seus pecados, por isso Deus ofereceu-se para remitir (perdoar), como também já dizia o Salmo 49.7,8: “Ao irmão, verdadeiramente, ninguém o pode remir, nem pagar por ele a Deus o seu resgate (Pois a redenção da alma deles é caríssima, e cessará a tentativa para sempre.)”
Quer fazer uma aliança com Deus? Leve como “prêmio” a remissão dos seus pecados, e não fique mais ansioso quanto à sua remição.
Segundo Prêmio: O dom do Espírito Santo (38,39)
“(…) e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar.”
Temos a presença constante de Deus conosco. Por isso podemos dizer: Vai com Deus! Enquanto o outro responde: Fica com Deus! Então um vai com Ele e outro fica com Ele. A presença de Deus conosco é como o ar que respiramos. O Espírito de Deus está conosco, habitando nos verdadeiros crentes, e muitas vezes não percebemos, porque é como o ar que respiramos, mas se nos fosse tirado, ficaríamos apavorados. Segundo os médicos Roberto Kalil (cardiologista) e Rafael Stelmach (pneumologista, em entrevista à seção “Bem Estar” do portal G1 (Globo),
“Nos pulmões cabem 4 a 6 litros de ar, dependendo do tamanho da pessoa e do sexo. A cada vez que alguém respira, 0,5 litro de ar é renovado. Como a frequência normal é de 12 a 20 respirações por minuto, respira-se pelo menos 360 litros de ar em uma hora; 8.640 por dia e 3.153.600 em um ano”
(Bem Estar – PORTAL G1 05/04/2011 10h30 - Atualizado em 25/04/2012 16h32 – Disponível em: http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2011/04/tres-em-cada-dez-brasileiros-sentem-falta-de-ar-com-frequencia-diz-medico.html – acesso em 20/03/2016)
Aquele que aceita fazer uma aliança com Deus recebe como “Prêmio”, além da remissão de seus pecados, o dom do Espírito Santo. Recebe fôlego, vida espiritual em abundância, muito mais preciosa do que os três milhões de litros que recebemos por ano.
Terceiro Prêmio: Uma vida abençoada (ajuste de percurso) (40,41)
“Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. Então, os que lhe aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas.”
Uma coisa perversa dá a ideia de uma coisa deformada, curva em vez de reta. A vida perversa é de muito sofrimento, e o Senhor nos oferece oportunidade de acertar nossos caminhos para uma vida abençoada, como a vida do homem bem-aventurado descrita no salmo número um:
“Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido. Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa”(Salmo 1.1-4).
Quando lemos os jornais ou assistimos aos noticiários, é inevitável que fiquemos chocados com tanta violência, com tanta criminalidade que domina este mundo. Numa linguagem popular, costuma-se dizer que tudo isso acontece por que “falta Deus no coração das pessoas”. Existem também tentativas mais acadêmicas de se explicar esse fenômeno, como na monografia de Tânia Braga de Paula, apresentada no curso de Direito da UNORP em 2013, o qual diz o seguinte:
“Dentre outros fatores externos que influenciam na criminalidade, o mais importante, é sem duvida nenhuma o fator econômico. Não existem somente esses fatores externos, existem também fatores internos que estão no íntimo do ser humano e que são fatores que influenciam também na criminalidade como, por exemplo, uma infância abandonada, pais separados, crianças órfãs, lares desfeitos e que afetam o subjetivismo do ser humano”
(Criminologia: Estudo das escolas sociológicas do crime e da prática de infrações penais. Unorp, São José do Rio Preto, 2013 – pag. 30 – disponível em: https://www.anadep.org.br/wtksite/cms/conteudo/19308/Monografia.pdf - Acesso em 20/03/2016)
Quem faz uma aliança com Deus recebe como “prêmio”, além da remissão dos pecados e do dom do Espírito Santo, uma vida abençoada, reta, e não perversa. Tendo o alívio de saber que é perdoado de seus pecados e contando com a presença constante de Deus em seu Espírito, o “homem bem-aventurado” tem poder para ajustar o percurso de sua vida, de maneira que “os fatores internos” que estão no seu íntimo não vão influenciá-lo a uma vida criminosa, mas a uma vida que glorifica a Deus e abençoa os seus semelhantes. Ele não vai abandonar as suas crianças, não vai desfazer o seu lar, e vai afetar positivamente o “subjetivismo do ser humano” que dele depende. Em outras palavras: terá Deus no seu coração.
Conclusão
Façamos uma aliança com Deus por meio do arrependimento de nossos pecados e do batismo em nome de seu Filho Jesus Cristo. Precisamos de Deus em nossas vidas, ele é o nosso Criador e somente ele sabe o que é melhor para nós. Recebamos como prêmios a remissão dos pecados, o dom do Espírito Santo, e uma vida abençoada já neste mundo. No porvir, a vida eterna.
sábado, 11 de fevereiro de 2017
As Promessas de Deus (Atos 2.14-36)
Nós vivemos numa época em que as notícias são instantâneas. Os acontecimentos mais importantes são divulgados instantaneamente em todo o mundo, e logo todos ficam sabendo. Eu gosto de acompanhar as notícias pela TV e pela Internet. Fico às vezes muito ávido, procurando notícias a toda hora, como se eu quisesse que noticiassem logo aquilo que eu gostaria que acontecesse. Que a justiça seja feita, que os malfeitores sejam punidos, que um mundo melhor esteja despontando no horizonte. Notícias importantes e urgentes costumam ser inseridas abruptamente, interrompendo-se a programação com uma música de grande impacto. Neste parágrafo do livro de Atos, Pedro “interrompe a programação” da festa do Pentecostes para fazer um anúncio à multidão presente em Jerusalém. Ele anuncia uma boa notícia, que era de interesse universal, que afetaria o mundo até ao final dos tempos. Tratava-se do anúncio do cumprimento de preciosíssimas promessas de Deus.
Primeira promessa: o derramamento do Espírito (14-21)
Pedro se levantou e começou a advertir os judeus, junto com todos os habitantes de Jerusalém ali presentes, que aqueles homens não estavam embriagados, mas o que ocorria era o cumprimento da profecia do profeta Joel:
“E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.
Ao mundo, que parecia totalmente perdido, sem solução, Deus enviou o seu Espírito para produzir seus frutos restauradores (Gálatas 5.22). Alguém poderia imaginar o mundo sem a presença do Espírito Santo? Fica difícil para nós, que estamos tão acostumados. Mas podemos comparar a ausência do Espírito Santo com a ausência de ar para respirar. Ninguém sobreviveria. Antes do Pentecostes já havia a atuação do Espírito Santo, mas não de forma tão intensa e perene.
A presença do Espírito Santo é manifesta na presença de cristãos, do evangelho, da Igreja. Alguns já se aventuraram, e tentaram banir a Igreja e, conseqüentemente, preceitos bíblicos da sociedade. São obviamente tentativas fracassadas. Everton Fernando Alves, em um artigo publicado no site “Criacionismo”, citando Zerubavel, afirma que:
“[...] A França (1793-1805) mudou a semana de sete dias para uma semana de dez dias, e a União Soviética (1929-1940) a mudou para uma semana de cinco dias, ambos os países acreditando que os sete dias fossem mera influência religiosa. A experiência da mudança terminou em fracasso completo em ambos os países, e a semana voltou ao seu modelo original”.
(Alves, Everton Fernando. O design inteligente e o ciclo semanal de sete dias. Disponível em: http://www.criacionismo.com.br/2015/04/o-design-inteligente-e-o-ciclo-semanal.html Acesso em: 02/02/2017. citando Zerubavel E. The Seven Day Circle. Chicago: Univ. of Chicago Press, 1985)
Na introdução de seu livro “A idade média”, Hilário Franco Júnior destaca que a Igreja foi muito criticada com o surgimento do iluminismo:
"Denis Diderot (1713-1784) afirmava que 'sem religião seríamos um pouco mais felizes', Para o marquês de Condorcet (1743-1794), a humanidade sempre marchou em direção ao progresso, com exceção do período no qual predominou o cristianismo, isto é, a Idade Média. Para Voltaire (1694-1778), os papas eram símbolos do fanatismo e do atraso daquela fase histórica, por isso afirmava, irônico, que 'é uma prova da divindade de seus caracteres terem subsistido a tantos crimes'".
(Franco Júnior, Hilário. A Idade média: Nascimento do ocidente. 2ª edição Revista e Ampliada. São Paulo: Brasiliense, 2001. Pag. 10)
Essas críticas, com certeza, estavam direcionadas à igreja oficial, de maneira generalizada. De um certo ponto de vista, poderíamos até concordar com Voltaire, quando afirmava de forma irônica que a subsistência da Igreja em meio a tantos crimes é uma prova de que Deus estava agindo. Estava de fato agindo, mas não nos falsos cristãos, e sim nos verdadeiros, os quais se tornaram templos do Espírito Santo, fazendo o bem e preservando o mundo segundo os propósitos de Deus.
O derramamento do Espírito possibilitou que pessoas simples, e não somente os reis, sacerdotes e profetas, fossem instrumentos de Deus para fazer a sua obra. Chamaríamos isto, em nossa linguagem moderna, de “democratização da religião”. Homens de Deus, através da história, resistiram à elitização da religião, e mesmo que pagassem caro pela “rebeldia”, foram usados por Deus para manterem viva a chama da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3).
Um dia, cremos os dispensacionalistas, a Igreja será arrebatada e este mundo terá a amarga experiência de um mundo sem a presença (intensa e perene) do Espírito de Deus. Será como sufocar pela falta de oxigênio (espiritual).
Segunda promessa: A ressurreição dos mortos (22-32)
Pedro continua seu discurso dizendo que Jesus, o Nazareno, por intermédio de quem Deus realizou muitos milagres, prodígios e sinais, foi morto pelos judeus, que o crucificaram por mãos de iníquos. Porém, Deus o ressuscitou, “rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela”. Neste ponto de sua pregação, cita Davi no salmo 16:
“Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado. Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne repousará em esperança, porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença”.
Pedro faz a devida aplicação do texto citado, afirmando que o salmista não estava se referindo a si mesmo, mas à ressurreição de Cristo, “que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção”. Declara então, abertamente, que “este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas”.
A morte sempre foi o grande problema do homem. Costuma-se dizer, quando se quer enfatizar habilidades em resolver problemas: “só não damos jeito para a morte”. De fato, a morte não tem jeito para o homem, mas Deus resolveu o problema, e deixou isso evidente quando ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Desde então, todos os que morrem em Cristo têm esperança. Seus familiares e amigos não precisam se entristecer em demasia. Em cada funeral de um crente, ainda neste terceiro milênio, essa esperança é reafirmada, e é por isso que a vida continua.
Mas se Deus não tivesse cumprido a sua promessa, cumprimento que se inicia com a ressurreição de Jesus, onde estaria a nossa esperança? Qual a motivação de vivermos e realizarmos grandes ou pequenas obras? Nossa motivação seria focalizada meramente no tempo presente, como quem diz: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Coríntios 15.32). Philip Yancey, em seu livro “O Jesus que eu Nunca Conheci”, faz a seguinte observação a respeito da ressurreição:
“Cheguei à conclusão de que há duas maneiras de olhar para a história humana. Uma é focalizando as guerras e a violência, a esqualidez, a dor, a tragédia e a morte. Dessa perspectiva, a Páscoa parece uma exceção de conto de fadas, uma contradição atordoante em nome de Deus. [...] Há outro jeito de olhar para o mundo. Se tomo a Páscoa como ponto de partida, o único fato incontestável acerca de como Deus trata aqueles a quem ama, então a história humana se transforma na contradição e a Páscoa é uma pré-estréia da realidade final. A esperança então flui como lava por baixo da crosta da vida cotidiana. Isso, talvez, descreva a mudança na perspectiva dos discípulos quando estavam sentados nos quartos trancados discutindo os incompreensíveis acontecimentos do Domingo de Páscoa. Num sentido nada havia mudado: Roma ainda ocupava a Palestina, as autoridades religiosas ainda ofereciam um prêmio por suas cabeças, a morte e o mal ainda reinavam do lado de fora. Entretanto, gradualmente, o choque do reconhecimento deu lugar a uma longa e lenta contracorrente de alegria. Se Deus podia fazer isso...”
(Yancey, Philip. O Jesus Que Eu Nunca Conheci. Tradução: Yolanda M. Krievin. Editora Vida, 2002. Pag. 178).
A Igreja subsiste e os crentes continuam sendo o sal da terra e a luz do mundo, porque Deus cumpriu a sua promessa de ressurreição, sinalizando que cumprirá cabalmente todas as suas promessas, inclusive a vitória sobre a morte, o último inimigo a ser destruído (1Coríntios 15.26).
Terceira promessa: O estabelecimento do reino (33-36)
“Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”.
Cristo reina, mesmo que todas as forças do mundo pareçam se mostrar desfavoráveis. Seu reino, entretanto, não está totalmente firmado, uma vez que ainda há rebeldes a serem convertidos ou neutralizados. Quando todo joelho se dobrar a Jesus, então é que ele reinará de direito e de fato. Romanos 14.11 diz: “Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus”. Sobre esse assunto, conhecido como a tensão entre o “já” e o “ainda não”, escrevem muitos teólogos e, dentre eles, John Stott:
"Que Jesus considerava e descreveu o reino como um fenômeno presente, disso não há dúvida. Ele ensinou que o tempo do cumprimento havia chegado; [8] que agora o 'valente' estava amarrado e desarmado, facilitando que lhe saqueassem os bens, como era evidente a partir de seus exorcismos; [9] que o reino já estava ou 'dentro' ou 'entre' as pessoas; [10] que agora se podia 'entrar' nele ou 'recebê-lo'; [11] e que, desde o tempo de João Batista, seu precursor, que havia anunciado sua chegada iminente, o reino de Deus vinha sendo 'tomado por esforço' e que 'aqueles que se esforçam' se haviam 'apoderado dele'.[12] Na perspectiva de Jesus, porém, o reino era também uma expectativa futura. Ele só seria aperfeiçoado no último dia. Assim ele olhava em direção ao fim, e ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo. Eles deviam orar 'Venha o teu reino' [13] e 'buscá-lo primeiro', [14] dando prioridade a sua expansão. Às vezes ele se referia ao estado final de seus seguidores em termos de 'entrar' no reino [15] ou 'recebê-lo'. [16] Suas parábolas, principalmente as rurais (p. ex. a parábola da semente que crescia secretamente, a do grão de mostarda, a do trigo e do joio), [17] conciliam os processos de plantar, crescer e colher. Como semente, o reino já tinha sido plantado no mundo; agora, através da invisível atividade divina, ele iria crescer até o fim. [...]
A essência do período intermediário entre o 'já' e o 'ainda não', entre o reino que veio e o reino que virá, é a presença do Espírito Santo no povo de Deus. Por um lado, a dádiva do Espírito é a bênção que distingue o reino de Deus e é, portanto, o principal sinal de que a nova era se aproxima. [43] Por outro lado, já que o fato de o Espírito habitar em nós é apenas o princípio da nossa herança no reino, ele é também a garantia de que um dia o resto haverá de ser nosso. O Novo Testamento usa três metáforas para ilustrar isso. O Espírito Santo é 'as primícias', garantindo assim que virá a plena colheita; [44] ele é o 'penhor', ou a primeira parcela do pagamento, garantindo com isso que haverá o pagamento completo; [45] e é o antegosto, garantia de que o banquete completo será desfrutado um dia. [46] Assim, o Espírito Santo é 'tanto o cumprimento da promessa como a promessa do cumprimento: ele é a garantia de que o novo mundo de Deus já começou, e também um sinal de que esse novo mundo ainda há de vir'." [47]
[8] P. ex Mc 1.14; Mt 13.16-17 [9] Mt 12.28-29; cf. Lc 10.17-18 [10] Lc 17.20-21 [11] P. ex. Mc 10.15 [12] Mt 11.12; Lc 16.16 [13] Mt 6.10[14] Mt 6.33 [15] Mc 9.47; cf. Mt 8.11 [16] Mt 25.34 [17] Mc 4.26-29; Mt 13.31-32, 24-29,36-42 [...] [43] P. ex. Is 32.15; 44.3; Ez 39.29; Jo 2.28; Mc 1.8; Hb 6.4-5 [44] Rm 8.23 [45] 2 Co 5.5; Ef 1.14 [46] Hb 6.4-5 [47] Johannes Blauw, The Missionary Nature of the Church (1962; Eerdmans,1974).
(Stott, John R. W. - O "Já" e o " Ainda Não". Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/51557203/O-Ja-e-o-Ainda-Nao-John-Stott acesso em: 08/02/2017)
Conclusão:
Deus cumpre suas promessas, mas isso não acontece no tempo e do jeito que nós queremos. Assim como ele cumpriu suas promessas do derramamento do Espírito, da ressurreição dos mortos e do estabelecimento do reino, também cumprirá a promessa do juízo vindouro. Só escaparão aqueles que invocarem o nome do Senhor.
Este e outros artigos deste Blog fazem parte do livro "Por que estais olhando para as alturas?", disponível no link abaixo:
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