sábado, 11 de fevereiro de 2017

As Promessas de Deus (Atos 2.14-36)


Nós vivemos numa época em que as notícias são instantâneas. Os acontecimentos mais importantes são divulgados instantaneamente em todo o mundo, e logo todos ficam sabendo. Eu gosto de acompanhar as notícias pela TV e pela Internet. Fico às vezes muito ávido, procurando notícias a toda hora, como se eu quisesse que noticiassem logo aquilo que eu gostaria que acontecesse. Que a justiça seja feita, que os malfeitores sejam punidos, que um mundo melhor esteja despontando no horizonte. Notícias importantes e urgentes costumam ser inseridas abruptamente, interrompendo-se a programação com uma música de grande impacto. Neste parágrafo do livro de Atos, Pedro “interrompe a programação” da festa do Pentecostes para fazer um anúncio à multidão presente em Jerusalém. Ele anuncia uma boa notícia, que era de interesse universal, que afetaria o mundo até ao final dos tempos. Tratava-se do anúncio do cumprimento de preciosíssimas promessas de Deus.

Primeira promessa: o derramamento do Espírito (14-21)

Pedro se levantou e começou a advertir os judeus, junto com todos os habitantes de Jerusalém ali presentes, que aqueles homens não estavam embriagados, mas o que ocorria era o cumprimento da profecia do profeta Joel:

“E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso Dia do Senhor. E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

Ao mundo, que parecia totalmente perdido, sem solução, Deus enviou o seu Espírito para produzir seus frutos restauradores (Gálatas 5.22). Alguém poderia imaginar o mundo sem a presença do Espírito Santo? Fica difícil para nós, que estamos tão acostumados. Mas podemos comparar a ausência do Espírito Santo com a ausência de ar para respirar. Ninguém sobreviveria. Antes do Pentecostes já havia a atuação do Espírito Santo, mas não de forma tão intensa e perene.

A presença do Espírito Santo é manifesta na presença de cristãos, do evangelho, da Igreja. Alguns já se aventuraram, e tentaram banir a Igreja e, conseqüentemente, preceitos bíblicos da sociedade. São obviamente tentativas fracassadas. Everton Fernando Alves, em um artigo publicado no site “Criacionismo”, citando Zerubavel, afirma que:

“[...] A França (1793-1805) mudou a semana de sete dias para uma semana de dez dias, e a União Soviética (1929-1940) a mudou para uma semana de cinco dias, ambos os países acreditando que os sete dias fossem mera influência religiosa. A experiência da mudança terminou em fracasso completo em ambos os países, e a semana voltou ao seu modelo original”.

(Alves, Everton Fernando. O design inteligente e o ciclo semanal de sete dias. Disponível em: http://www.criacionismo.com.br/2015/04/o-design-inteligente-e-o-ciclo-semanal.html Acesso em: 02/02/2017. citando Zerubavel E. The Seven Day Circle. Chicago: Univ. of Chicago Press, 1985)

Na introdução de seu livro “A idade média”, Hilário Franco Júnior destaca que a Igreja foi muito criticada com o surgimento do iluminismo:

"Denis Diderot (1713-1784) afirmava que 'sem religião seríamos um pouco mais felizes', Para o marquês de Condorcet (1743-1794), a humanidade sempre marchou em direção ao progresso, com exceção do período no qual predominou o cristianismo, isto é, a Idade Média. Para Voltaire (1694-1778), os papas eram símbolos do fanatismo e do atraso daquela fase histórica, por isso afirmava, irônico, que 'é uma prova da divindade de seus caracteres terem subsistido a tantos crimes'".

(Franco Júnior, Hilário. A Idade média: Nascimento do ocidente. 2ª edição Revista e Ampliada. São Paulo: Brasiliense, 2001. Pag. 10)

Essas críticas, com certeza, estavam direcionadas à igreja oficial, de maneira generalizada. De um certo ponto de vista, poderíamos até concordar com Voltaire, quando afirmava de forma irônica que a subsistência da Igreja em meio a tantos crimes é uma prova de que Deus estava agindo. Estava de fato agindo, mas não nos falsos cristãos, e sim nos verdadeiros, os quais se tornaram templos do Espírito Santo, fazendo o bem e preservando o mundo segundo os propósitos de Deus.

O derramamento do Espírito possibilitou que pessoas simples, e não somente os reis, sacerdotes e profetas, fossem instrumentos de Deus para fazer a sua obra. Chamaríamos isto, em nossa linguagem moderna, de “democratização da religião”. Homens de Deus, através da história, resistiram à elitização da religião, e mesmo que pagassem caro pela “rebeldia”, foram usados por Deus para manterem viva a chama da “fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3).

Um dia, cremos os dispensacionalistas, a Igreja será arrebatada e este mundo terá a amarga experiência de um mundo sem a presença (intensa e perene) do Espírito de Deus. Será como sufocar pela falta de oxigênio (espiritual).

Segunda promessa: A ressurreição dos mortos (22-32)

Pedro continua seu discurso dizendo que Jesus, o Nazareno, por intermédio de quem Deus realizou muitos milagres, prodígios e sinais, foi morto pelos judeus, que o crucificaram por mãos de iníquos. Porém, Deus o ressuscitou, “rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela”. Neste ponto de sua pregação, cita Davi no salmo 16:

“Diante de mim via sempre o Senhor, porque está à minha direita, para que eu não seja abalado. Por isso, se alegrou o meu coração, e a minha língua exultou; além disto, também a minha própria carne repousará em esperança, porque não deixarás a minha alma na morte, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção. Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença”.

Pedro faz a devida aplicação do texto citado, afirmando que o salmista não estava se referindo a si mesmo, mas à ressurreição de Cristo, “que nem foi deixado na morte, nem o seu corpo experimentou corrupção”. Declara então, abertamente, que “este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas”.

A morte sempre foi o grande problema do homem. Costuma-se dizer, quando se quer enfatizar habilidades em resolver problemas: “só não damos jeito para a morte”. De fato, a morte não tem jeito para o homem, mas Deus resolveu o problema, e deixou isso evidente quando ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Desde então, todos os que morrem em Cristo têm esperança. Seus familiares e amigos não precisam se entristecer em demasia. Em cada funeral de um crente, ainda neste terceiro milênio, essa esperança é reafirmada, e é por isso que a vida continua.

Mas se Deus não tivesse cumprido a sua promessa, cumprimento que se inicia com a ressurreição de Jesus, onde estaria a nossa esperança? Qual a motivação de vivermos e realizarmos grandes ou pequenas obras? Nossa motivação seria focalizada meramente no tempo presente, como quem diz: “Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, que amanhã morreremos” (1Coríntios 15.32). Philip Yancey, em seu livro “O Jesus que eu Nunca Conheci”, faz a seguinte observação a respeito da ressurreição:

“Cheguei à conclusão de que há duas maneiras de olhar para a história humana. Uma é focalizando as guerras e a violência, a esqualidez, a dor, a tragédia e a morte. Dessa perspectiva, a Páscoa parece uma exceção de conto de fadas, uma contradição atordoante em nome de Deus. [...] Há outro jeito de olhar para o mundo. Se tomo a Páscoa como ponto de partida, o único fato incontestável acerca de como Deus trata aqueles a quem ama, então a história humana se transforma na contradição e a Páscoa é uma pré-estréia da realidade final. A esperança então flui como lava por baixo da crosta da vida cotidiana. Isso, talvez, descreva a mudança na perspectiva dos discípulos quando estavam sentados nos quartos trancados discutindo os incompreensíveis acontecimentos do Domingo de Páscoa. Num sentido nada havia mudado: Roma ainda ocupava a Palestina, as autoridades religiosas ainda ofereciam um prêmio por suas cabeças, a morte e o mal ainda reinavam do lado de fora. Entretanto, gradualmente, o choque do reconhecimento deu lugar a uma longa e lenta contracorrente de alegria. Se Deus podia fazer isso...”

(Yancey, Philip. O Jesus Que Eu Nunca Conheci. Tradução: Yolanda M. Krievin. Editora Vida, 2002. Pag. 178).

A Igreja subsiste e os crentes continuam sendo o sal da terra e a luz do mundo, porque Deus cumpriu a sua promessa de ressurreição, sinalizando que cumprirá cabalmente todas as suas promessas, inclusive a vitória sobre a morte, o último inimigo a ser destruído (1Coríntios 15.26).

Terceira promessa: O estabelecimento do reino (33-36)

“Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis. Porque Davi não subiu aos céus, mas ele mesmo declara: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos por estrado dos teus pés. Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo”.


Cristo reina, mesmo que todas as forças do mundo pareçam se mostrar desfavoráveis. Seu reino, entretanto, não está totalmente firmado, uma vez que ainda há rebeldes a serem convertidos ou neutralizados. Quando todo joelho se dobrar a Jesus, então é que ele reinará de direito e de fato. Romanos 14.11 diz: “Como está escrito: Por minha vida, diz o Senhor, diante de mim se dobrará todo joelho, e toda língua dará louvores a Deus”. Sobre esse assunto, conhecido como a tensão entre o “já” e o “ainda não”, escrevem muitos teólogos e, dentre eles, John Stott:

"Que Jesus considerava e descreveu o reino como um fenômeno presente, disso não há dúvida. Ele ensinou que o tempo do cumprimento havia chegado; [8] que agora o 'valente' estava amarrado e desarmado, facilitando que lhe saqueassem os bens, como era evidente a partir de seus exorcismos; [9] que o reino já estava ou 'dentro' ou 'entre' as pessoas; [10] que agora se podia 'entrar' nele ou 'recebê-lo'; [11] e que, desde o tempo de João Batista, seu precursor, que havia anunciado sua chegada iminente, o reino de Deus vinha sendo 'tomado por esforço' e que 'aqueles que se esforçam' se haviam 'apoderado dele'.[12] Na perspectiva de Jesus, porém, o reino era também uma expectativa futura. Ele só seria aperfeiçoado no último dia. Assim ele olhava em direção ao fim, e ensinou seus discípulos a fazerem o mesmo. Eles deviam orar 'Venha o teu reino' [13] e 'buscá-lo primeiro', [14] dando prioridade a sua expansão. Às vezes ele se referia ao estado final de seus seguidores em termos de 'entrar' no reino [15] ou 'recebê-lo'. [16] Suas parábolas, principalmente as rurais (p. ex. a parábola da semente que crescia secretamente, a do grão de mostarda, a do trigo e do joio), [17] conciliam os processos de plantar, crescer e colher. Como semente, o reino já tinha sido plantado no mundo; agora, através da invisível atividade divina, ele iria crescer até o fim. [...]

A essência do período intermediário entre o 'já' e o 'ainda não', entre o reino que veio e o reino que virá, é a presença do Espírito Santo no povo de Deus. Por um lado, a dádiva do Espírito é a bênção que distingue o reino de Deus e é, portanto, o principal sinal de que a nova era se aproxima. [43] Por outro lado, já que o fato de o Espírito habitar em nós é apenas o princípio da nossa herança no reino, ele é também a garantia de que um dia o resto haverá de ser nosso. O Novo Testamento usa três metáforas para ilustrar isso. O Espírito Santo é 'as primícias', garantindo assim que virá a plena colheita; [44] ele é o 'penhor', ou a primeira parcela do pagamento, garantindo com isso que haverá o pagamento completo; [45] e é o antegosto, garantia de que o banquete completo será desfrutado um dia. [46] Assim, o Espírito Santo é 'tanto o cumprimento da promessa como a promessa do cumprimento: ele é a garantia de que o novo mundo de Deus já começou, e também um sinal de que esse novo mundo ainda há de vir'." [47]

[8] P. ex Mc 1.14; Mt 13.16-17 [9] Mt 12.28-29; cf. Lc 10.17-18 [10] Lc 17.20-21 [11] P. ex. Mc 10.15 [12] Mt 11.12; Lc 16.16 [13] Mt 6.10[14] Mt 6.33 [15] Mc 9.47; cf. Mt 8.11 [16] Mt 25.34 [17] Mc 4.26-29; Mt 13.31-32, 24-29,36-42 [...] [43] P. ex. Is 32.15; 44.3; Ez 39.29; Jo 2.28; Mc 1.8; Hb 6.4-5 [44] Rm 8.23 [45] 2 Co 5.5; Ef 1.14 [46] Hb 6.4-5 [47] Johannes Blauw, The Missionary Nature of the Church (1962; Eerdmans,1974).

(Stott, John R. W. - O "Já" e o " Ainda Não". Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/51557203/O-Ja-e-o-Ainda-Nao-John-Stott acesso em: 08/02/2017)

Conclusão:

Deus cumpre suas promessas, mas isso não acontece no tempo e do jeito que nós queremos. Assim como ele cumpriu suas promessas do derramamento do Espírito, da ressurreição dos mortos e do estabelecimento do reino, também cumprirá a promessa do juízo vindouro. Só escaparão aqueles que invocarem o nome do Senhor.

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