quarta-feira, 25 de abril de 2018

Pobres atenienses (Atos 17.16-21)


Atenas era um dos mais importantes centros culturais do mundo antigo. Uma cidade muito rica. Ainda hoje se pode visitar em Atenas as ruínas de construções imensas e belas como o Erectheion e o Partenon e o templo do Zeus Olímpico, que tinha 104 colunas de 17 m de altura e 2 m de diâmetro. Mas essa toda essa riqueza de Atenas não tinha nenhum valor para o apóstolo Paulo, que viu nos atenienses uma profunda pobreza espiritual. Ele ficou revoltado ao ver a situação em que os atenienses se encontravam. Seu coração não se conformava em vê-los assim. Por isso, além de pregar na sinagoga, pregava também na praça, onde a maioria se reunia, para tentar fazê-los entender que estavam num caminho que os levaria à perdição.  É possível afirmar que Paulo fez pelo menos três constatações sobre a pobre situação dos atenienses que o motivaram a pregar numa praça de Atenas.


A primeira constatação era de que os atenienses se perdiam em meio à idolatria. No versículo 16 está escrito que, “enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade”.


A idolatria reinava. Fazia parte do seu cotidiano, era normal. Os deuses gregos, os quais adoravam, não eram muito diferentes dos homens quanto aos seus sentimentos e atos pecaminosos. Na verdade, como observa o professor Roriz (2017) em uma revista educacional,


[...] a mitologia serviu para justificar atos falhos dos homens. Donos de terra e monarcas possuíam sua própria versão das antigas lendas e as impunham às pessoas de acordo com seus interesses mesquinhos. Um homem rico poderia ser infiel à esposa, pois seguia os exemplos de Zeus. Mesmo o vício pela bebida era visto como uma virtude pelos homens que acreditavam que o álcool o aproximava dos deuses. Segundo as leis dionisíacas, o homem que alcançasse um estado de euforia por meio da bebida, poderia se transformar em um herói, o primeiro estágio para conquistar a imortalidade. Por outro lado, a embriaguez também poderia ser explicada pela mitologia. De acordo com os gregos antigos, aquele que tentasse ser imortal por meio da bebida seria amaldiçoado pelos deuses, tornando-se desequilibrado e socialmente inábil.


RORIZ, João Pedro. A mitologia grega no dia a dia das crianças. Site Educação Infantil, 30/01/2017. Disponível em: http://revistaeducacaoinfantil.com.br/a-mitologia-grega-no-dia-a-dia-das-criancas/  Acesso em 22 abr. 2018.


A idolatria tem muitas definições que até evoluem com o tempo. Nós, os evangélicos, temos sérias divergências com os católicos no que diz respeito à utilização de imagens em seu culto, o que os evangélicos consideram como idolatria, mas os católicos fazem distinção entre veneração e adoração. Precisamos admitir, porém, que o catecismo da Igreja Católica tem em seu texto uma excelente definição de idolatria, e alerta sobre várias práticas idólatras que vão muito além da adoração de imagens. Vejamos alguns trechos de um comentário do Catecismo:


§2112 O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere outras divindades afora a única. A escritura lembra constantemente esta rejeição de "ídolos, ouro e prata, obras das mãos dos homens", os quais "têm boca e não falam, têm olhos e não vêem..." Esses ídolos vãos tornam as pessoas vãs: [...]


§2113 A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. [...] quer se trate de deuses ou de demônios (por exemplo, o satanismo), do poder, do prazer, da raça, dos antepassados, do Estado, do dinheiro etc.[...]


§1723 [...]a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana, por mais útil que seja, [...]


A riqueza é o grande deus atual; a ela prestam homenagem instintiva a multidão e toda a massa dos homens. [...]


§2289 Se a moral apela para o respeito à vida corporal, não faz desta um valor absoluto, insurgindo-se contra uma concepção neopagã que tende a promover o culto do corpo, a tudo sacrificar-lhe, a idolatrar a perfeição física e o êxito esportivo. [...]


§2138 A superstição é um desvio do culto que rendemos ao verdadeiro Deus. Ela se mostra particularmente na idolatria, assim como nas diferentes formas de adivinhação e de magia.


Catecismo da igreja Católica – Índice analítico – 1.5 Idolatria/Ídolo. Disponível em: http://catecismo-az.tripod.com/conteudo/a-z/h/idolatria.html  acesso em 23 abr. 2018.


A idolatria está ligada ao coração do homem. Ele busca uma entidade superior, transcendente, para aplacar seus medos, seus sofrimentos. Os evangélicos não estão isentos de idolatria, quando supervalorizam símbolos ou experiências sobrenaturais, na maioria das vezes sem fazer um exame cuidadoso para saber em que está fundamentada a sua fé. Você já se pegou pensando que a oração do pastor é mais forte, que a oração feita em determinado local é mais poderosa, que a bíblia não pode ser lida na igreja por meio de um celular? Tomemos cuidado, porque essas coisas podem sem sintomas de idolatria.


Os atenienses estavam afundados em diversos tipos de idolatria, e precisavam se converter ao Deus Desconhecido, que Paulo mais tarde apresentou como o Deus Verdadeiro, que criou os céus e a terra, e que vai julgar todos os homens de acordo com o evangelho. Que o Senhor nos dê sabedoria, e nos livre de nos entregarmos a qualquer tipo de idolatria.


A segunda constatação de Paulo era de que os atenienses se perdiam em meio à filosofia. Os vesrículos 17 e 18 prosseguem dizendo que, em vista da revolta no coração de Paulo com a idolatria dominante na cidade, ele “dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali. E alguns dos filósofos epicureus e estóicos contendiam com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer esse tagarela? E outros: Parece pregador de estranhos deuses; pois pregava a Jesus e a ressurreição”.


Segundo a Wikipédia, Epicurismo é um sistema filosófico “de cunho materialista, não havendo espaço para a imortalidade. O filósofo acreditava que o maior bem era a procura de prazeres moderados de forma a atingir um estado de tranquilidade [...]”. E os “estoicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta.”.


Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Epicurismo e em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Estoicismo>. Acesso em 23 abr. 2018.


A filosofia busca o conhecimento da verdade, mas se ela não considerar o que diz a Palavra de Deus, pode fazer com que as pessoas se percam em seus próprios pensamentos. Numa apostila de introdução à filosofia do site Administra Brasil, nós lemos o seguinte:


[...] em filosofia nenhuma verdade é definitiva, nenhuma posição é a última a ter, tiranicamente,  pregnância sobre as demais. Não, quando pensamos em filosofia, há um universo de problemas ainda não respondidos que atravessam os tempos [...].


Introdução à filosofia. Administra Brasil Cursos. P.29. Disponível  em: https://administrabrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Introduc%CC%A7a%CC%83o-a%CC%80-Filosofia.pdf  Acesso em 23 abr. 2018.


Se uma determinada linha filosófica afirma que nenhuma verdade é definitiva, ela não pode ser adotada por um cristão, pois Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida [...]” (João 14.6). Portanto existe, sim, uma verdade definitiva, e essa verdade é encarnada no próprio filho de Deus.


A história mostra que é possível ser filósofo e ao mesmo tempo cristão, como o foram, por exemplo, Agostinho e Tomás de Aquino. O cristão não deve temer o conhecimento, apenas deve entender que o conhecimento deve ter um propósito, como tudo o que ele faz na vida, e que deve ser colocado diante do altar, como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, como um culto racional, como diz Romanos 12.1,2.


O conhecimento somente pelo conhecimento não é produtivo, pode inclusive tornar-se nocivo. Pessoas com grande conhecimento que, porém, não adotam princípios cristãos, tendem a ser muito arrogantes. A Bíblia alerta quanto a isso, e diz para evitarmos discussões inúteis. Podemos encontrar esse tipo de advertência em pelo menos quatro lugares na Bíblia:


1ª Timóteo 1.4  nem se ocupem com fábulas e genealogias sem fim, que, antes, promovem discussões do que o serviço de Deus, na fé.


1ª Timóteo 4.7  Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas caducas. Exercita-te, pessoalmente, na piedade.


2ª Timóteo 4.4  e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.


Tito 1.14  e não se ocupem com fábulas judaicas, nem com mandamentos de homens desviados da verdade.


2ª Pedro 1.16 Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas, mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade


Paulo era um homem muito culto, e estava à altura dos filósofos para poder argumentar. Pedro achava Paulo meio complicado, como podemos perceber na sua exortação de 2ª Pedro 3.15,16:


[...] e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.


Mas, se um dia Paulo foi como aqueles filósofos que amavam o conhecimento só pelo conhecimento, ele chegou um dia a uma conclusão diferente, segundo seu testemunho em Filipenses 3.7,8:


Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo


Falando ainda ao povo convertido de Corinto, uma cidade vizinha de Atenas, Paulo relembra:


Onde está o sábio? Onde, o escriba? Onde, o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria do mundo? Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação. Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios;  mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.  Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.  Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus. Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.


(1ª Coríntios 1.20-31)


Mas não se deve pensar que o cristão tem que ser simplório, que deve evitar a filosofia, como se a busca do conhecimento fosse pecado, como se fosse comer do fruto proibido. Pelo contrário, a falta de uma análise profunda de nossa maneira de agir é que tem produzido grandes pecados. Em 1961, a filósofa Hannah Arendt participou do julgamento do nazista Adolf Eichmann, um burocrata que autorizava e controlava a deportação dos judeus para os campos de extermínio. Em sua fala durante o julgamento, Hanna adverte que uma pessoa comum como, que tem esposa e filhos, que cumpre fielmente sua rotina da trabalho com qualquer cidadão, é capaz de fazer atrocidades se não parar para pensar profundamente no que está fazendo:


[...] a atividade do pensamento é um guia constante para nossas ações e condutas. Pensar, dirá Arendt, não é simplesmente uma faculdade entre outras. Mas, pelo pensamento, somos capazes de compreender a necessidade de ponderação e constante vigilância sobre nossas atividades. Nesse sentido, a barbárie produzida pelo aparato burocrático de Hitler tem estreita vinculação à uma incapacidade de pensamento; experiência do isolamento e da fria distância do espaço comum,os homens que não pensam seriamente sobre sua realidade e sobre as potencialidades de suas ações podem mandar milhares de pessoas à morte com a mesma simplicidade que um funcionário “ executa ordens”.


Introdução à filosofia. Administra Brasil Cursos. P.33. Disponível  em: https://administrabrasil.com.br/wp-content/uploads/2018/01/Introduc%CC%A7a%CC%83o-a%CC%80-Filosofia.pdf  Acesso em 23 abr. 2018.


Será que nós, os cristãos, também podemos ser assim? Sem pensar profundamente no que estamos dizendo ou fazendo, será que podemos ser instrumentos do diabo para afastar pessoas da igreja ou até mesmo da fé? Eu temo que sim, que a falta de se pensar profundamente em nossos atos e palavras pode nos tornar instrumentos do diabo, achando que estamos servindo a Deus.


Por outro lado, os cristãos também podem ser excessivamente racionais e intelectuais a ponto de perderem a sensibilidade do amor cristão. Esta falta de equilíbrio entre o saber e o não saber é um problema tão grande que todos devem estar em constante vigilância diante da advertência de Jesus em Marcos 9.42: “E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar”.


Os atenienses amavam o conhecimento, e isso não era ruim, porque as escolas de filosofia os faziam questionar a ética, a moral, e até mesmo a questão da idolatria. Mas estavam profundamente perdidos em meio à sua filosofia, e estava na hora de darem espaço para o sublime conhecimento do Deus Verdadeiro.


A terceira constatação de Paulo era de que os atenienses se perdiam em meio à sua ociosidade. Lemos nos versículos 19 a 21 que “Então, tomando-o consigo, o levaram ao Areópago, dizendo: Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas? 20  Posto que nos trazes aos ouvidos coisas estranhas, queremos saber o que vem a ser isso. 21  Pois todos os de Atenas e os estrangeiros residentes de outra coisa não cuidavam senão dizer ou ouvir as últimas novidades”.


A arqueologia nos revela uma curiosidade sobre o contraste entre os grandes monumentos e as moradias dos gregos, em geral. No livro de Brandini e Lorenzetti (2017) chamado “A casa fala”, as autoras nos contam que os gregos:


[...] pouco valorizavam o luxo e a ostentação. Eram incapazes de considerar essas coisas como as mais importantes. Almejavam viver de maneira interessante e satisfatória, sem passar os dias trabalhando arduamente para obter mais conforto para a família, nem tinham interesse em acumular riquezas. Desejavam mesmo ter mais tempo livre para a política, as conversas nos mercados, as atividades intelectuais e artísticas. Essa forma de viver sem dúvida influenciou na arquitetura das cidades que valorizavam muito os espaços públicos, templos, mercados, teatros, banhos públicos, ginásios, estádios. Os espaços privados, como as residências, eram menos privilegiados, contando com espaços menores e muito simples. Comparadas com as de hoje, as casas eram pequenas e sem conforto.


BRANDINI, Maria do Carmo; LORENZETTI, Yara. A casa fala: Uma relação de vida e amor. São Paulo: Scortecci, 2017.


Embora se possa argumentar que o conforto material não é tão importante quanto o enriquecimento espiritual, a Bíblia não nos incentiva a negligenciarmos o trabalho em prol, por exemplo, da melhoria de nossas moradias. Pelo contrário, Eclesiastes 10.18 critica uma atitude de relaxamento para com a nossa moradia, dizendo que “pela muita preguiça desaba o teto, e pela frouxidão das mãos goteja a casa”. Se as casas dos gregos estavam enfraquecidas e tinham pouco conforto, eles bem que podiam dedicar mais tempo para fazê-las melhor habitáveis, pensando nas mulheres e crianças que ficavam em casa, enquanto eles só se ocupavam de dizer e ouvir as últimas novidades.


Hoje também é muito fácil passarmos o dia inteiro nas redes sociais, vendo e compartilhando as últimas novidades, perdendo um tempo precioso que deveria ser dedicado à produtividade. O tédio leva as pessoas de hoje a se tornarem viciados em internet. Se você não tiver um propósito pelo qual se dedicar, cairá mais facilmente nessas armadilhas do diabo. Devemos procurar ser úteis. Os poucos atenienses que se converteram com a pregação de Paulo certamente mudaram de vida. É bem provável que não ficavam mais apenas cuidando de dizer ou ouvir as últimas novidades, e quem sabe, até, dedicaram um tempinho para tornarem suas moradias mais confortáveis para suas esposas e filhos, porque a vida de um cristão tem que ser diferente, pelo fato de ele ter um propósito maior para buscar.


Quando falamos do propósito maior do cristão, não queremos dizer necessariamente evangelizar ou ser um missionário. Se o cristão cumpre bem o seu papel como cidadão, se ele é trabalhador e tem uma vida respeitável, também faz isso para Cristo. É uma parte importantíssima do seu propósito maior como cristão. Veja por exemplo a instrução que Paulo dá a Timóteo a respeito da assistência social às viúvas da igreja em 1ª Timóteo 5.11-15:


Mas rejeita viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se, tornando-se condenáveis por anularem o seu primeiro compromisso. Além do mais, aprendem também a viver ociosas, andando de casa em casa; e não somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o que não devem. Quero, portanto, que as viúvas mais novas se casem, criem filhos, sejam boas donas de casa e não dêem ao adversário ocasião favorável de maledicência. Pois, com efeito, já algumas se desviaram, seguindo a Satanás.


E não pensem que essa instrução vale apenas para as mulheres. Em 2ª Tessalinicenses 3.10,11 Paulo ordena: “se alguém não quer trabalhar, também não coma”. Porque tinha ouvido que alguns dentre eles estavam andando “desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs”. E em Colossenses 3.22-24 ele exorta:


Servos, obedecei em tudo ao vosso senhor segundo a carne, não servindo apenas sob vigilância, visando tão-somente agradar homens, mas em singeleza de coração, temendo ao Senhor. Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo”.


Mas os atenienses não tinham esse conhecimento, estavam perdidos em meio à ociosidade, e caminhavam para a morte eterna, sem Cristo.


Conclusão


Atenas era uma cidade muito rica, e tinha um valioso patrimônio cultural, mas ainda assim era pobre no sentido espiritual, porque ignorava o conhecimento de Cristo.  As constatações que Paulo fez sobre a pobre situação dos atenienses, que o motivaram a pregar numa praça de Atenas, era de que eles se perdiam em meio à idolatria, à filosofia, e à ociosidade. Tomemos cuidado para não seguirmos o exemplo dos pobres atenienses. Fujamos de toda forma de idolatria, sejamos equilibrados quanto à nossa filosofia, como diz 2ª Coríntios 10.5: “[...] levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo”, e não fiquemos ociosos, mas sejamos “sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1ª Coríntios 15.58).


 


Foto do Partenon – disponível em:  https://www.oversodoinverso.com.br/o-partenon-de-atenas-um-monumento-epico-e-o-misterio-das-medidas/   Acesso em 25 abr. 2018

sábado, 14 de abril de 2018

Uma igreja em expansão (Atos 6.1-7)


Nossa igreja é pequena. Como desejamos vê-la, um dia, como uma grande igreja, cheia de fiéis! A igreja do Novo Testamento, da qual lemos nesse parágrafo de Atos, era uma comunidade em pleno crescimento. Os problemas que iam surgindo eram tratados com muita seriedade e oração. À medida que aumentavam as pessoas, multiplicava-se também o trabalho e as dissensões, exigindo cada vez mais a intervenção sábia de seus líderes. Podemos notar neste texto a evidência de que uma igreja em expansão precisa se encarregar de prover ao seu povo alguns tipos de serviço, cujos comentários veremos a seguir.


Um dos principais serviços do qual uma igreja em expansão precisa se encarregar é Assistência Social.  Percebemos essa ideia implícita nos versículos 1 e 2, onde lemos que,


[...] naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas.


O que nós chamamos hoje de assistência social, serviço cuja responsabilidade atribuímos principalmente ao governo, era um serviço natural entre os cristãos. Era o amor em prática.


O apóstolo João faz um questionamento e uma exortação, em sua primeira carta geral, onde argumenta: “aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (Primeira João 3.17,18).


Jesus ensinou a prática da teoria do amor a um esclarecido intérprete da lei que lhe perguntou a respeito das exigências divinas para se obter a vida eterna. Sua resposta veio através de uma pequena e didática história que está registrada em Lucas 10.33-35, onde uma vítima de um violento assalto se encontrava ferido, caído na beira de uma movimentada estrada:


Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar.


O serviço de assistência social na igreja tornou-se mais organizado no decorrer do tempo, quando passou a regulamentar algumas peculiaridades, conforme podemos notar nas instruções de Paulo a Timóteo sobre algumas regras a serem seguidas (Primeira Timóteo 5.3-5):


Honra as viúvas verdadeiramente viúvas. Mas, se alguma viúva tem filhos ou netos, que estes aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria casa e a recompensar a seus progenitores; pois isto é aceitável diante de Deus. Aquela, porém, que é verdadeiramente viúva e não tem amparo espera em Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia;


Outro tipo importante de serviço do qual uma igreja em expansão precisa se encarregar é o Ensino. Vejam como os apóstolos enfatizam isto nos versículos 3 a 6, onde sugerem a eleição de sete homens para se encarregarem da organização da assistência social enquanto eles, os apóstolos, se consagrariam à oração e ao ministério da palavra. Esse parecer agradou a toda a comunidade, e então


[...] elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia.  Apresentaram-nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos.


Com isso vemos que Pedro e os demais apóstolos perceberam a necessidade de delegar algumas tarefas para que tivessem tempo suficiente de consagração à oração e ao ministério da palavra. Com sabedoria, elegerem diáconos para se encarregarem dos outros serviços, os mais elementares. Notem porém que, apesar de terem sob seu encargo os serviços mais básicos, os diáconos deveriam ter boa reputação, ser cheios do Espírito Santo e de sabedoria. Por que? Porque, como líderes na igreja, eles também tinham a responsabilidade de ensinar e dar bons exemplos.


Paulo, o apóstolo dos gentios, pioneiro e grande responsável pela expansão inicial da Igreja para o ocidente, desejava que seus filhos na fé se dedicassem em aprender os princípios e os mistérios da palavra de Deus. Em dois momentos, pelo menos, nas suas cartas, ele declarou: “Não quero que sejais ignorantes” (Primeira Coríntios 12.1 e Primeira Tessalonicenses 4.13). Parece que, infelizmente, em nosso tempo, essa preocupação com o ensino tem sido diminuída consideravelmente. Uma estimativa da Faculdade Teológica Sul Americana aponta que,


Durante o último século, o número de cristãos evangélicos cresceu de forma explosiva em todo o mundo. Estima-se que 75% deles vivem na África, Ásia ou na América do Sul e, embora seja impossível saber com certeza, estima-se que existam cerca de 2,2 milhões de igrejas evangélicas em todo o mundo. No entanto, 85% deles são liderados por pastores com pouco ou nenhuma formação teológica. Estima-se que menos de 10% dos pastores tem um bacharelado em Teologia.


BARRO, Jorge H.  Faculdade Teológica Sul Americana. Disponível em: http://www.ftsa.edu.br/site/index.php/publicacoes-da-ftsa/professores-em-foco/530-estudo-diz-que-85-das-igrejas-evangelicas-sao-lideradas-por-pastores-sem-preparacao-teologica Acesso em 04 set. 2016.


Se as igrejas negligenciarem o ensino da palavra, cairão na situação em que se encontrava o povo de Israel, no tempo de Oséias, que profetiza em seu livro (4.1-6):


Ouvi a palavra do SENHOR, vós, filhos de Israel, porque o SENHOR tem uma contenda com os habitantes da terra, porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios.  Por isso, a terra está de luto, e todo o que mora nela desfalece, com os animais do campo e com as aves do céu; e até os peixes do mar perecem.  Todavia, ninguém contenda, ninguém repreenda; porque o teu povo é como os sacerdotes aos quais acusa. Por isso, tropeçarás de dia, e o profeta contigo tropeçará de noite; e destruirei a tua mãe. O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.


Um terceiro tipo de serviço do qual uma igreja em expansão não pode, de maneira nenhuma, se esquecer, é a Evangelização. Lemos no versículo 7 que, na igreja, “crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé”.


A palavra grega que foi traduzida como obedeciam (a fé) neste texto, foi traduzida, em outros lugares, como atender. A idéia é de um criado que vai atender à porta, como por exemplo em Atos 12.13, quando a criada Rode vai atender a Pedro que batia no portão, depois de ter sido solto pelo anjo. Quando, pois, este texto diz que muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé, nós podemos imaginar que eles atenderam à voz que lhes chamava à fé, e “abriram a porta” do seu coração para receber Jesus. Eles foram, portanto, evangelizados. A mensagem do evangelho, de alguma maneira, chegou às suas portas e eles a atenderam. É assim que a Igreja crescia e continua crescendo, através do serviço da evangelização.


Quando falamos em crescimento da Igreja, não nos referimos, necessariamente, a uma determinada igreja local. Há um pastor em nossa igreja que quase diariamente visita um cemitério local e encontra pessoas para quem fala de Cristo, e nos tem dado testemunho de que um grande número dessas pessoas tem orado com ele recebendo Jesus como seu Senhor e Salvador. Ouvimos dele também um relato de que, recentemente, centenas de crianças ouviram o evangelho e não foram poucas que aceitaram a Cristo pelo ministério de seu genro e de sua filha, realizado em escolas da cidade de Araçatuba. É comum ouvirmos histórias de irmãos que se converteram por causa da observação da vida devota de um crente fiel. Quantos já passaram por esta igreja e não estão mais aqui, mas foram influenciados em sua vida cristã pelos ensinamentos aqui adquiridos? Embora essas ações não tenham resultado necessariamente no crescimento da igreja local, elas contribuem efetivamente para o crescimento da igreja de Cristo, como um todo.


Existem muitos métodos utilizados para evangelização. Num manual usado pelas igrejas Assembleia de Deus, lemos o seguinte:


Os evangelistas devem aproveitar as oportunidades para pregar o Evangelho, fazendo-se presentes nos locais onde se aglomeram as pessoas nas cidades (praças públicas, mercados etc.) – as “pregações ao ar livre”, os “cultos ao ar livre”. (...) Além da busca de aglomerações de pessoas, de locais estratégicos das cidades, é mister, também, irmos aos locais que se encontram marginalizados, às “periferias que precisam da luz do Evangelho.


Manual de Evangelização. Disponível em: http://portalebd.org.br/attachments/article/1554/3T2016_L5_slidescaramurubruto.pdf  Acesso em 02 set. 2016.


Um trecho do documento produzido durante o Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne, Suíça, de 16 a 25 de julho de 1974, diz que:


Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e crêem. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo a negarem a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo. *Documento produzido durante o Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne, Suíça, de 16 a 25 de julho de 1974, com a presença de 2.700 participantes, representando mais de 150 países.


GONÇALVES, Marcelo Aleixo. Evangelização e questões urbanas. Centro universitário de Maringá - Cesumar. Disponível em: http://www.ead.cesumar.br/moodle2009/lib/ead/arquivosApostilas/760.pdf Acesso em 02 set. 2016.


Qual método será que a igreja utilizou para evangelizar os sacerdotes citados neste texto bíblico? Não sabemos, mas o fato é que, de algum modo, o evangelho lhes bateu à porta, e eles atenderam. A evangelização era tanto uma causa como uma conseqüência do crescimento da igreja.


Conclusão


Como vimos, a igreja nascente estava se expandindo. A igreja continua crescendo até hoje, e crescerá até a volta de Jesus. Como igreja local, nós também devemos procurar o crescimento e nos preparar para atendermos todas as necessidades da comunidade, nos dedicando desde já aos serviços de Assistência Social, de Ensino e de Evangelização.

Foto do cabeçalho disponível em: http://comunhao.com.br/morre-billy-graham/  Acesso em 15 abr. 2018


 

domingo, 8 de abril de 2018

Respeito e dignidade (Atos 5.34-42)


Os apóstolos estavam prestes a serem mortos pelos judeus, que não viam outro meio de fazê-los parar de anunciar a Cristo ressuscitado como o Messias prometido. Mas Deus, surpeendentemente, suscitou-lhes um defensor dentre os seus próprios inimigos, um respeitado mestre da lei, chamado Gamaliel. Este deu conselho aos seus pares para que refletissem, deixando os apóstolos seguirem para ver no que ia dar.


Será que Gamaliel convenceu-se de que tinham matado Jesus injustamente, e quis conter os judeus para que não cometessem o mesmo erro novamente? Afinal, eram honrados anciãos da nação de Israel, e tinham que agir de acordo com a sua dignidade. O discurso de Gamaliel e a narrativa deste episódio nos faz pensar em pelo menos três caminhos que as pessoas seguem para adquirir respeito e dignidade.


Um dos caminhos escolhidos pelas pessoas é a instrução. Os versículos 34  e 35 dizem que um fariseu chamado Gamaliel, mestre da lei, acatado por todo o povo, levantou-se no Sinédrio, “mandou retirar os homens, por um pouco, e lhes disse: Israelitas, atentai bem no que ides fazer a estes homens”.


Gamaliel, ao que parece, foi um homem bem decidido. Escolheu um caminho e o perseguiu com excelência. Chegou a um ponto em que era considerado digno de muita honra, tendo se tornado um mestre da lei. O povo todo o reconhecia e o acatava. Com certeza não foi fácil para Gamaliel conquistar essa posição. Para ser um doutor é preciso “ralar” muito. Quem atinge esse grau, como Gamaliel atingiu, merece ser chamado de doutor.


Há um grande perigo, porém, quando conquistamos títulos, porque temos a tendência de valorizar um título mais do que o bom senso exige. Um bom doutor precisa ter humildade como parte de suas virtudes. Esta questão é bastante explorada na cultura popular. Veja, por exemplo, um trecho da música chamada “A Enxada e a Caneta” (Teddy Vieira - Capitão Barduíno):


[...] A enxada respondeu: De fato, eu vivo no chão, pra poder dar o que comer e vestir o seu patrão. Eu vim no mundo primeiro, quase no tempo de Adão. Se não fosse o meu sustento, ninguém tinha instrução. Vai-te, caneta orgulhosa, vergonha da geração. A tua alta nobreza não passa de pretensão. Você diz que escreve tudo, tem uma coisa que não. É a palavra bonita que se chama educação


MARIGLIANI, Pedro Astenori, AZEVEDO, Teddy Vieira. A enxada e a caneta. Disponível em http://www.beakauffmann.com/mpb_a/a-enxada-e-a-caneta.html Acesso em 08 abr. 2018.


Outro caminho que, infelizmente, é muito usado para se adquirir respeito e dignidade é a usurpação. Gamaliel continua falando nos versículos 36 a 39 que, antes daqueles dias,


[...] se levantou Teudas, insinuando ser ele alguma coisa, ao qual se agregaram cerca de quatrocentos homens; mas ele foi morto, e todos quantos lhe prestavam obediência se dispersaram e deram em nada. Depois desse, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e levou muitos consigo; também este pereceu, e todos quantos lhe obedeciam foram dispersos. Agora, vos digo: dai de mão a estes homens, deixai-os; porque, se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de Deus, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra Deus. E concordaram com ele.


Gamaliel mencionou, nessa fala, duas personagens históricas, as quais se encaixam bem na categoria de usurpadores. Eles não eram o que diziam ser, mas tinham muito poder de persuasão e atraíram multidões atrás de si. Uma dessas personagens era um homem chamado Teudas, do qual lemos, na Wikipédia, que:


Seu nome, se for composto em grego, pode significar "presente de Deus", apesar de outros estudiosos acreditarem que sua etimologia seja semítica e poderia significar "flui com a água". Provavelmente, atuou como um pregador messiânico (muito recorrente na Judeia do século I) que se propunha a liderar massas judaicas, para fins de renovação religiosa e social. Proclamando-se um profeta mandado por Deus para socorrer o povo judeu que sofria sob o "status quo" vigente  (inclusive a dominação romana), ele recorreu à tradição do herói nacional, Moisés, assegurando ser capaz de "abrir as águas" do rio Jordão.


Disponível em  https://pt.wikipedia.org/wiki/Teudas Acesso em 08 abr. 2018>. Acesso em 08 abr. 2018.


Existe, entretanto, um terceiro caminho, o qual foi escolhido pelos discípulos, para adquirir respeito e dignidade, que foi o caminho da resignação. Lemos nos versículos 40 a 42 que,


Chamando os apóstolos, açoitaram-nos e, ordenando-lhes que não falassem em o nome de Jesus, os soltaram. E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo.


Os discípulos foram açoitados por falar no nome de Jesus, mas não ficaram revoltados, antes eles se regozijaram por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. Resignaram-se à vontade de Deus, que é boa, agradável e perfeita. Se eles tinham que sofrer, sofreriam com alegria, porque assim poderiam retribuir um pouco do que Jesus fez pela salvação de homens pecadores.


A resignação dá dignidade porque mostra a nossa fé em Deus. Mesmo que o mundo não reconheça, seremos reconhecidos no céu. Segundo Hebreus 11.38, o mundo é que não é digno daqueles que crêem a ponto de se resignarem ao sofrimento, sabendo que, se ele nos afligir, é porque isto faz parte dos planos de Deus para nossas vidas.


Leiamos o texto (Hb 11.36-38):


[...] outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, pelos montes, pelas covas, pelos antros da terra.


Paulo dá voz aos sentimentos dos apóstolos, que se resignaram diante de tantas aflições, para poderem cumprir sua nobre missão de evangelizar a todos quantos fosse possível. Em Primeira Coríntios 4.9-13 ele diz:


Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.


Paulo reivindica algumas vezes sua dignidade, adquirida em meio à sua resignação para com a vontade de Deus. Uma passagem em que ele faz isso de forma notável é Gálatas 6.12,14 e 17, quando desabafa:


Todos os que querem ostentar-se na carne, esses vos constrangem a vos circuncidardes, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. [...] Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo. [...] Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus. 


Concluindo, eu digo que podemos conquistar respeito e dignidade, dependendo de nossas escolhas. A instrução acadêmica é um meio legítimo, desde que não seja vista como uma finalidade em si, mas apenas um meio de servir melhor no Reino de Deus. Alguns vão por caminhos tortuosos, gabando-se de coisas que supostamente realizaram, usurpando posições que não merecem, tornando-se, não raro, extremamente populares e conquistando multidões de seguidores iludidos. Mas a melhor e mais nobre maneira de se conquistar dignidade é se resignando à vontade de Deus, ainda que isto represente muito sofrimento, e que o mundo não entenda e não nos considere dignos de respeito, porque, o que mais importa é o reconhecimento do Deus eterno.


Já aconteceu, alguma vez, de você passar por algum sofrimento injustamente? Quando isso acontecer, entregue essa situação como oferta diante do trono de Deus, e considere-se digno por ter a oportunidade de sofrer afrontas em nome de Cristo.


Foto do cabeçalho disponível em https://www.igrejaacores.pt/responsavel-diocesano-pela-pastoral-da-saude-defende-conforto-e-respeito-pela-dignidade-humana-no-fim-da-vida/  Acesso em 08 abr. 2018.