domingo, 24 de fevereiro de 2019

O cristão de qualidade (Atos 8.14-25)

Vivemos num tempo em que as pessoas estão mais exigentes com a qualidade dos produtos. Fala-se muito em produtos naturais, orgânicos, alimentação sadia, qualidade de vida. Mas você já pensou alguma vez a respeito da qualidade de nossa devoção a Deus? Na continuação da história da conversão dos samaritanos, podemos perceber que havia essa preocupação. Eles creram no evangelho pregado por Filipe, mas para que se tornassem cristãos de qualidade, ainda faltava cumprir algumas exigências. O bom cristão precisa ser bem qualificado, e podemos dizer que há, pelo menos, quatro exigências para alguém se tornar um cristão de qualidade.


Não basta ser batizado, é preciso receber o Espírito Santo (14-17)


Ouvindo os apóstolos, que estavam em Jerusalém, que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João; os quais, descendo para lá, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo; porquanto não havia ainda descido sobre nenhum deles, mas somente haviam sido batizados em o nome do Senhor Jesus. Então, lhes impunham as mãos, e recebiam estes o Espírito Santo”.


Os apóstolos enviaram a Samaria Pedro e João, os quais oraram e impuseram as mãos para que os samaritanos recebessem o Espírito Santo, sem o que estariam incompletos. Poderiam ser batizados na água, para testemunhar a todos sua nova fé, mas o testemunho só tem valor quando expressa uma verdade, a de que o Espírito Santo veio habitar em seus corações. Foi assim que Jesus instruiu Nicodemos, um homem piedoso, ilustre entre os líderes religiosos de seu tempo, mas que não compreendia o que era nascer de novo, conforme João 3.3-5: "[...] Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus".


Em outra ocasião Jesus falou com seus discípulos, comparando-os aos ramos de uma videira, de quem precisavam receber a seiva para poder dar frutos: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (João 15.5). É através do Espírito Santo que nos unimos a Cristo, “[...] E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8.9).


Mas, por que os samaritanos não receberam o Espírito Santo no momento em que creram? Talvez porque fosse necessário que Pedro, que tinha as “chaves do reino dos céus” (Mateus 16.19), abrisse o caminho do Espírito Santo a eles, assim como abriu aos judeus no dia de Pentecostes (Atos 2.14-38) e abriria, mais tarde, aos gentios, na casa de Cornélio (Atos 10.44,45).


Não adianta ter dinheiro, é preciso comprar aquilo que não se pode pagar (18-23)


Vendo, porém, Simão que, pelo fato de imporem os apóstolos as mãos, era concedido o Espírito Santo, ofereceu-lhes dinheiro, propondo: Concedei-me também a mim este poder, para que aquele sobre quem eu impuser as mãos receba o Espírito Santo. Pedro, porém, lhe respondeu: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois julgaste adquirir, por meio dele, o dom de Deus. Não tens parte nem sorte neste ministério, porque o teu coração não é reto diante de Deus. Arrepende-te, pois, da tua maldade e roga ao Senhor; talvez te seja perdoado o intento do coração; pois vejo que estás em fel de amargura e laço de iniqüidade.


Simão ofereceu dinheiro para que lhe fosse dado o poder de conceder o Espírito Santo pela imposição das mãos. Sua concepção é estranha para nós, que conhecemos o dom de Deus. Para o mágico, porém, parecia-lhe natural. Ele devia estar acostumado com o fato de que, no mundo, o dinheiro pode comprar tudo. “O dinheiro não compra a felicidade”, dizem, “manda buscar”.


Mas o dinheiro, na verdade, corrompe. No Brasil, alguns estados chegaram a ficar em situação de calamidade, sem dinheiro para honrar seus compromissos, e até para pagar seus servidores, porque houve corrupção na gestão de suas finanças. Rebeliões estouraram em presídios, com muitos mortos, porque corruptos permitiram que entrassem armas e celulares para alguns presos privilegiados, que podiam pagar. Neste momento, o Brasil inteiro, e também outros países, estão sofrendo amargas consequências do amor do dinheiro, por parte dos governantes e de representantes que deveriam servir ao povo, mas em vez disso, agem como se fossem donos do patrimônio público, especialmente do dinheiro que entra nos seus tesouros.


Mas no reino de Deus não é assim. O dinheiro não pode comprar poder. Por isso, Pedro repreendeu Simão: “O teu dinheiro seja contigo para perdição [...]. Não tens parte nem sorte neste ministério [...] estás em fel de amargura e laço de iniquidade”.


Deus faz questão de que seus dons sejam gratuitos, conforme Isaías 55.1-3, 6,7:


Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite. Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares. Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; [...] Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.


Apelo semelhante ao de Isaías é feito em meio às palavras finais da Bíblia. Embora Jesus diga em Apocalipse 3.18: “Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas”, ele anuncia em 21.6: “[...] Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida”, e em 22.17: “O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.


Não basta uma simples oração, é preciso ter um relacionamento com Deus (24)


Respondendo, porém, Simão lhes pediu: Rogai vós por mim ao Senhor, para que nada do que dissestes sobrevenha a mim”.


Simão pede que os apóstolos orem por ele. Achava que, se ele mesmo orasse, Deus não ia ouvir. Não conhecia o Deus de Davi, que diz: “Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus” (Salmos 51.17).


É comum que as pessoas insistam para que um pastor vá orar em sua casa, porque entendem que a oração do pastor tem um poder especial. Acham que há poder em certas orações, quando proferidas por determinadas pessoas, ou quando verbalizadas de acordo com determinados modelos. Existe um site chamado “Orações Poderosas”. Lá encontramos a “Oração de Santa Sara Kali”; a “Oração para Engravidar”; as “Orações a Nossa Senhora Desatadora dos Nós”; a “Oração do Divino Pai Eterno”; a “Oração pelos Filhos”; as “Orações de Santa Luzia” (deve ser para os que têm problemas de visão); entre outras.


Disponível em: http://oracoespoderosas.info/ Acesso em 07 jan. 2017.


Nós, evangélicos, ficamos escandalizados com esse tipo de pensamento. Mas será que não existe essa atitude também entre nós? Num livro chamado “A oração de Jabez”, o escritor evangélico Bruce Wilkinson dá a impressão de que está sugerindo esse tipo de prática, conforme o trecho nas páginas 42 e 43:


Quero desafiá-lo a fazer da oração de Jabez parte integrante de seu dia a dia. Para tanto quero encoraja-lo a seguir firmemente durante os próximos 30 dias o plano aqui descrito. No final deste período, você perceberá mudanças significativas em sua vida e a oração estará prestes a se tornar um valoroso e contínuo hábito. 1) Faça a oração de Jabez todas as manhãs e registre um diário, marcando num calendário ou num quadro que você separou especificamente para este propósito; 2) Escreva a oração e cole-a em sua Bíblia, na geladeira, no espelho do banheiro ou em qualquer outro lugar que o faça se lembrar de sua nova visão; 3) Releia este livro uma vez por semana durante o próximo mês, pedindo a Deus que lhe mostre as ideias importantes que você possa ter perdido; 4) Conte a alguém que você assumiu o compromisso de um novo hábito de oração, e peça a esta pessoa que lhe cobre o seu cumprimento; 5) Comece a registrar em sua vida, especialmente os compromissos marcados por Deus e as novas oportunidades que você pode relacionar diretamente à oração de Jabez; 6) Comece a fazer a oração de Jabez por sua família, seus amigos e sua Igreja local. [...] Quando você age, está dando um passo rumo às melhores coisas que Deus tem para você. Sou uma prova viva disso.


WILKINSON, Bruce. A Oração de Jabez: Alcançando a bênção de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2004.


Essa técnica sugerida por Wilkinson é estranha aos princípios bíblicos de oração, e mostrou-se ineficaz até mesmo na vida do seu inventor. Como ele disse que era uma prova viva de que seu método funciona, vamos olhar de relance seu próprio testemunho, conforme sua editora, Mundo Cristão, e a Revista Christianity Today:


O livro o catapultou ao status de celebridade e fez história na aclamada lista de livros mais vendidos do The New York Times ao se tornar o "livro que vendeu mais rápido em todos os tempos", segundo avaliação da Publishers Weekly. Com o sucesso, no entanto, surgiram interpretações absolutamente equivocadas, ou mesmo maliciosas, sobre o conteúdo do best-seller. Entre os críticos não faltou quem o associasse à teologia da prosperidade, ou visse em seu texto um incentivo à superstição. Wilkinson foi desconstruído pela mesma literatura que o ascendeu como popstar evangélico. Após reexaminar sua vida, partiu para o continente africano. 


Disponível em: http://www.mundocristao.com.br/autor/4/Bruce-Wilkinson Acesso em 07 jan. 2017.


Wilkinson tem uma história de voltas e reviravoltas dramáticas. Quando seus livros se tornaram bestsellers, ele desistiu do ministério Walk Thru The Bible, que ele fundou. Ele decidiu mudar-se para Hollywood para fazer filmes, mas depois recuou. Mudou-se para Joanesburgo, mas ficou menos de dois anos. Ele se mudou para a Suazilândia. Permaneceu lá aproximadamente 18 meses antes de retornar a Geórgia. Wilkinson também adiou a conclusão de seu próximo livro para Multnomah Press. E no final de setembro de 2005, ele estava para lançar a "Rede de Treinamento do Doador de Sonhos" para ser aliada à Associação Americana de Conselheiros Cristãos. Mas ele "puxou o plug em todo o empreendimento", uma fonte estreitamente associada com Wilkinson disse ao CT: "Bruce estava muito quebrantado neste momento. [O Ministério Sonho para a África] tinha fisicamente, emocionalmente, espiritualmente e financeiramente se tornado um fardo pesado para Bruce."


MORGAN, Timothy C. Jabez Author Quits Africa. Christianity Today, 01/02/2006. Disponível em:http://www.christianitytoday.com/ct/2006/february/8.76.html http://www.christianitytoday.com/ct/2006/february/8.76.html Acesso em 07 jan. 2017.


Desde a infância tenho ouvido falar de orações milagrosas, mas, lendo a Bíblia, aprendi que a verdadeira oração não é como uma reza mágica, e sim um diálogo com Deus, uma conversa entre um filho e seu pai celestial. Esse relacionamento só será possível para quem tornar-se filho de Deus por meio da fé em Jesus Cristo, e, com certeza, isto não acontece simplesmente por repetir uma oração pronta.


Não adianta ter um bom nome, é preciso evangelizar (25)


Eles, porém, havendo testificado e falado a palavra do Senhor, voltaram para Jerusalém e evangelizavam muitas aldeias dos samaritanos”.


Os apóstolos, tão honrados que foram chamados de Jerusalém para orar pelos samaritanos, sem o que eles não receberiam o Espírito Santo, voltaram para casa, mas, pelo caminho, foram evangelizando. Não perderam tempo. A evangelização corria em suas veias, era esse o seu trabalho. Nós também devemos seguir esse exemplo. Um dos principais motivos de Deus não nos levar para o céu imediatamente após recebermos Jesus, é que precisamos fazer o trabalho de evangelistas. Como, porém, realizamos esse trabalho? De que maneiras evangelizamos em nosso contexto hoje em dia?


Um método clássico de evangelização é a distribuição de folhetos, os quais são uma ferramenta eficaz de propaganda. Igrejas grandes usam também técnicas modernas de divulgação como jornais, televisão, redes sociais, eventos artísticos. Mas não devemos pensar que evangelizar é apenas fazer propaganda, conforme alerta J.I. Packer:


Por mais que apresentemos o evangelho de forma clara e convincente, não temos qualquer esperança de convencer ou converter quem quer que seja. Poderíamos o prezado leitor e eu, mediante nossas palavras mais intensas, quebrar o poder que Satanás exerce sobre a vida de um homem? Não. Poderíamos proporcionar vida aos espiritualmente mortos? Não. Poderíamos nutrir a esperança de convencer os pecadores sobre a verdade do evangelho mediante as mais pacientes explicações? Não. Poderíamos esperar levar os homens a obedecerem ao evangelho através de quaisquer palavras de exortação que porventura disséssemos? Não. Nossa maneira de evangelizar não será realista enquanto não tivermos enfrentado esse fato esmagador, permitindo que ele exerça o devido impacto sobre nós. [...] Considerada como um empreendimento humano, a evangelização é uma tarefa inútil. Em princípio não pode produzir o efeito desejado. Podemos pregar, e pregar de modo claro, fluente e atrativo; podemos falar a indivíduos da maneira mais apropriada e desafiadora; podemos organizar cultos especiais, distribuir folhetos, exibir cartazes e encher a terra de publicidade - mas não há a mais remota esperança de que toda essa queima de esforços será capaz de conduzir qualquer alma a Deus. A não ser que algum outro fator interfira nessa situação, nossos próprios desempenhos, todas as atividades evangelísticas estarão condenadas de antemão ao fracasso. Esta é a verdade, nua e crua que temos de enfrentar.


PACKER, J.I. Evangelização e Soberania de Deus, p. 74-75. Citado por Hermisten Maia Pereira da Costa em Teologia da Evangelização. Palestra ministrada durante a 2ª Semana Teológica de 2007 (1 a 5 de outubro) do Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, São Paulo, Capital, no dia 1 de outubro de 2007. Disponível em: http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Teologia_da_Evangelizacao__Semana_Teologica_-_JMC_1.10.pdf Acesso em 08 jan. 2017.


É comum denominarem as propagandas de grandes igrejas como “marketing evangélico”. Quem entende o significado da palavra marketing, sabe que é um erro utilizá-la como sinônimo de propaganda, pois marketing é muito mais do que isto. Conhecidos como “Quatro P’s”, os elementos básicos de uma estratégia de marketing são Produto, Preço, Praça e Promoção. Se fôssemos aplicar isto à igreja, poderíamos fazer a seguinte relação:


  • Produto: a palavra de Deus, a adoração, a comunhão;
  • Preço: de graça (as ofertas são voluntárias);
  • Praça: Um prédio confortável, uma boa localização (no mínimo tem que ter lugar para sentar, banheiro, água para beber, proteção contra chuva ou sol).
  • Promoção: Propaganda (folhetos, etc.)

Veja que a propaganda, seja formal, seja “boca a boca”, é uma parte importante na estratégia de evangelização, mas não devemos negligenciar os demais “P’s”, e muito menos pensar que o resultado depende unicamente de nossas estratégias, porque, como diz Jonas 2.9: “[...] ao SENHOR pertence a salvação”.


Conclusão


Assim como os samaritanos, precisamos ser cristãos de qualidade. Nós não estamos aqui para agradar o mundo, mas, se obedecermos ao que diz Colossenses 3.23: “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens”, então o mundo notará.


Assim, por amor a Deus, e por amor aos eleitos, busquemos a qualidade. Isto não será possível se não nascermos de novo, recebendo o Espírito Santo; se não comprarmos do Senhor Jesus aquilo que o dinheiro não pode pagar; se não tivermos um relacionamento íntimo e intenso com Deus, e se não nos empenharmos na evangelização.


 


(*) Imagem do cabeçalho disponível em:  https://pt.depositphotos.com/20012533/stock-photo-premium-quality-gold-certificate.html Acesso em 24 fev. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


 


 

domingo, 17 de fevereiro de 2019

Por que vamos à igreja? (Atos 8.4-13)

Nós vamos à igreja toda semana, temos isto como um hábito saudável, que faz parte de nossa devoção a Deus, do qual esperamos misericórdia e graça. Não imaginamos que a igreja possa ser um lugar de perigo. Por isto, ficamos perplexos quando ouvimos sobre o atentado ocorrido em uma missa na Catedral Metropolitana de Campinas, em 11 de dezembro de 2018. A esposa de uma das vítimas,


A dona de casa Damiana Francisco Leandro Alves, 76 anos, não consegue se conformar com a sequência de fatos que resultaram na morte do marido, o aposentado Heleno Severo Alves, 84 anos, a quinta vítima da chacina da Catedral, em Campinas. "Logo cedo, ele pegou o rosário, o livro de orações e disse que ia rezar, mas perdeu o circular. Eu falei que era para não ir, que tem coisa que vem por bem, é um aviso. Falei, vai descansar, homem. Mas ele, 'não, eu tenho que ir'. Pegou outro ônibus e foi."


'Eu pedi não vá, é um aviso', diz esposa de vítima de atirador. São Paulo: Agência Estado, 12/12/2018. Disponível em: https://noticias.r7.com/sao-paulo/eu-pedi-nao-va-e-um-aviso-diz-esposa-de-vitima-de-atirador-12122018 Acesso em 17 fev. 2019.


A nossa perplexidade, porém, é atenuada no consolo das palavras do Senhor: “[...] Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11.25).


As pessoas não deixarão de buscar a Deus na igreja, mesmo que forças hajam em contráro, pois há uma força maior que os impulsiona. Quais são as suas motivações? Por que, afinal, as pessoas vão à igreja?


O texto de Atos indicado no título deste artigo dá a entender que há, pelo menos, três motivos.


Procurando alegria


“Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra. Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade”.


Em primeiro lugar, podemos dizer que as pessoas vão à igreja porque procuram alegria. É interessante notar que Filipe curou muitos coxos, paralíticos e endemoninhados. Parece que essas doenças eram muito comuns entre o povo, e eles queriam tornar-se sadios. Ao serem curados, tiveram grande alegria. A saúde e a alegria certamente caminham juntas. Por outro lado, as doenças físicas estão associadas à depressão. Um exemplo disto é uma doença que hoje em dia é chamada de artrite reumatoide. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR),


[...] a artrite reumatoide atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. E, entre todo esse pessoal, não é incomum que a depressão acabe dando as caras. Só que a tristeza profunda, além de consequência, pode ser um gatilho para essa doença autoimune que atinge as articulações. Em um estudo da Universidade de Calgary, no Canadá, pesquisadores analisaram dados de 403.932 indivíduos com depressão e de 5.339.399 sem a enfermidade, que passaram pelo sistema de saúde do Reino Unido entre 1986 e 2012. Eles concluíram, então, que 0,54% dos pacientes depressivos (2.192) desenvolveram artrite reumatoide ao longo desse tempo. Por outro lado, 0,45% do grupo sem o transtorno psiquiátrico (24.021) manifestou o problema nas juntas. Dito de outra de forma, a depressão aumentou em 38% a probabilidade de a artrite reumatoide aparecer. Mas veja só: o uso de antidepressivos minimizou esse risco, sugerindo que, de fato, há uma relação de causa e efeito. Por que a depressão pode se tornar um gatilho. Esse quadro psiquiátrico gera várias alterações no organismo. Uma é aumentar a concentração de uma substância inflamatória batizada de fator de necrose tumoral alfa, que desempenha um importante papel no desenvolvimento da artrite reumatoide.


SANTOS, Maria Tereza. Estudo aponta que depressão pode desencadear artrite reumatoide. Site Abril.com/Saúde, 22 jul. 2018. Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/estudo-aponta-que-depressao-pode-desencadear-artrite-reumatoide/ Acesso em 02 fev. 2019.


O conhecimento de que a depressão e doenças físicas estão associados é antigo. No Salmo 31.10, escrito há cerca de três mil anos atrás, nós já líamos o seguinte: “Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem”.


A depressão é um mal antigo, e tem aumentado muito nestes tempos modernos. Para não cairmos em depressão, buscamos coisas que nos deixem alegres, entusiasmados. Talvez você sofra ou já tenha sofrido do mal da depressão, como naqueles dias em que acorda e deseja não sair da cama, não conversar com ninguém, mas ficar isolado num canto, sem forças para executar o seu trabalho, deixando tudo para depois. Talvez você tenha ido em alguma igreja crendo que encontraria a cura e, quem sabe, a encontrou, saindo de lá jubilando, cantando lindas músicas de louvor. No entanto, não é apenas por alegria que buscamos. Precisamos de algo mais.


Procurando um mestre


Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Aderiam a ele porque havia muito os iludira com mágicas.


Nós também vamos à igreja porque sentimos a necessidade de seguir um mestre. Queremos alguém que nos anime a seguir firmes no caminho de Deus. Mas os mestres não sabem todas as coisas, e às vezes sabem menos do que deveriam, como é o caso de Nicodemos, de quem Jesus se admirou em João 3.10: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas”?


O escritor de Hebreus 5.12 insinua que os discípulos mais antigos deveriam se tornar mestres, e lamentava que eles tivessem necessidade de que alguém lhes ensinasse, de novo, os “princípios elementares dos oráculos de Deus”, como crianças que precisam de leite e não podem receber alimento sólido. Quem sabe eles tivessem medo do alerta de Tiago 3.1: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”. Ou então fossem, como os discípulos de Lucas 24.25, “[...] néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!


Quando escolhemos um líder, dependendo de onde queremos chegar, pensamos no mais forte, no mais inteligente, no mais sábio, ou no mais treinado. Mas devemos tomar muito cuidado nessa escolha. Os samaritanos escolheram Simão porque acreditavam que ele era o poder de Deus, mas estavam apenas se deixando iludir. Nós também corremos este risco. A Bíblia adverte continuamente sobre a existência prolífera de falsos mestres, como em Mateus 23.2-7:


Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens.


Nem sempre, porém, o problema está no mestre. Jesus, por exemplo, é o Mestre dos mestres, mas nem isso garante que os seus conselhos sejam seguidos. Veja o caso do jovem rico mencionado em Marcos 10.17-24, que tinha Jesus na mais alta estima, tanto que o chamou de Bom Mestre e que, mesmo assim, não seguiu a sua orientação, por confiar demais nas próprias riquezas.


Existe ainda, pelo menos, um terceiro motivo pelo qual as pessoas vão à igreja.


Procurando a verdade


Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres. O próprio Simão abraçou a fé; e, tendo sido batizado, acompanhava a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.


A verdade sempre prevalece, no final, porque, no fundo todos querem saber a verdade. Até mesmo Simão percebeu que Filipe não iludia o povo, e quis chegar mais perto para entender melhor o que estava acontecendo.


A missionária Sophie Muller, que trabalhou na Amazônia colombiana em meados do século vinte, conta, em seu livro, o conflito que havia no íntimo de um jovem filho de pagé, e sua busca pela verdade:


Nós nos reuníamos numa grande cabana à noite, silenciosamente esperando que o fogo diminuísse. As portas eram fechadas. Havia um cesto de alimentos ao lado do fogo. Ninguém falava, nem se movia. Finalmente tudo ficava escuro [...] O Pagé começava a cantar do lado de fora da casa [...] O espírito do morto chegava a um dos assistentes agitados. “Eu sou sua mãe”, dizia numa voz aguda em falsete. “A casa do Grande Espírito é linda, muito agradável”. Às vezes o espírito aconselhava acerca de algum problema, mas sempre pedia alimento. “Delicioso, delicioso”, dizia, enquanto comia um pedaço de carne ou uma banana”. [...] Quando não cabia mais alimento no estômago do Page a sessão terminava [...]. Este era o ambiente em que Pablo crescera, mas algo dentro dele não permitia que seguisse a profissão bem paga do seu pai. Mesmo assim, aqueles rituais atraíram sua atenção para o mundo invisível e criaram nele um forte desejo de conhecer a resposta à antiga interrogação: “Se um homem morrer, viverá outra vez?” (Muller 2003, p. 91).


MULLER, Sophie. Sua voz ecoa nas selvas. Tradução Delbert Denelsbeck. Anápolis: Transcultural Editora e Livraria, 2003.


Depois do milagre da multiplicação dos pães, Jesus pregou à multidão um duro discurso, criticando-os pelo fato de que o procuravam, não pelas coisas espirituais, mas para se fartarem do pão que podia lhes dar. Decepcionados, muitos os abandonaram, e Jesus perguntou aos doze se não queriam abandoná-lo também, ao que Simão Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.68).


Não podemos viver sem a verdade. Ainda que seja dura, ela precisa ser revelada e aceita.


Conclusão


Porque o Sr. Heleno, de Campinas, foi à igreja, apesar do apelo profético de sua esposa? Estava à procura de alegria? Estava seguindo alguém que considerava um bom líder? Ou foi à procura da verdade? Os três motivos são legítimos, e ainda outros poderiam ser enumerados. Quando vamos à igreja, porém, devemos ter como prioridade a busca da verdade. É a verdade que nos liberta. Jesus Cristo é a Verdade. Quem andar na verdade, vai ter alegria. Quem andar na verdade, escolherá bem que líder seguir, e não se deixará enganar por falsos mestres. Precisamos conhecer a Palavra de Deus, para a nossa própria edificação, e para podermos oferecer sempre a verdade às pessoas que estão à nossa volta. Deus permita que o Sr. Heleno, as outras vítimas fatais, eu e você, estejamos guardados pela fé naquele que ressuscita os mortos. Nós que, vivos, ainda temos oportunidade, atendamos ao apelo: “não deixemos de congregar-nos, [...] tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10.25).


(*) Foto do cabeçalho: Fachada da Catedral Metropolitana de Campinas. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ataque_na_Catedral_Metropolitana_de_Campinas_em_2018 Acesso em 17 fev. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.