domingo, 17 de fevereiro de 2019

Por que vamos à igreja? (Atos 8.4-13)

Nós vamos à igreja toda semana, temos isto como um hábito saudável, que faz parte de nossa devoção a Deus, do qual esperamos misericórdia e graça. Não imaginamos que a igreja possa ser um lugar de perigo. Por isto, ficamos perplexos quando ouvimos sobre o atentado ocorrido em uma missa na Catedral Metropolitana de Campinas, em 11 de dezembro de 2018. A esposa de uma das vítimas,


A dona de casa Damiana Francisco Leandro Alves, 76 anos, não consegue se conformar com a sequência de fatos que resultaram na morte do marido, o aposentado Heleno Severo Alves, 84 anos, a quinta vítima da chacina da Catedral, em Campinas. "Logo cedo, ele pegou o rosário, o livro de orações e disse que ia rezar, mas perdeu o circular. Eu falei que era para não ir, que tem coisa que vem por bem, é um aviso. Falei, vai descansar, homem. Mas ele, 'não, eu tenho que ir'. Pegou outro ônibus e foi."


'Eu pedi não vá, é um aviso', diz esposa de vítima de atirador. São Paulo: Agência Estado, 12/12/2018. Disponível em: https://noticias.r7.com/sao-paulo/eu-pedi-nao-va-e-um-aviso-diz-esposa-de-vitima-de-atirador-12122018 Acesso em 17 fev. 2019.


A nossa perplexidade, porém, é atenuada no consolo das palavras do Senhor: “[...] Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (João 11.25).


As pessoas não deixarão de buscar a Deus na igreja, mesmo que forças hajam em contráro, pois há uma força maior que os impulsiona. Quais são as suas motivações? Por que, afinal, as pessoas vão à igreja?


O texto de Atos indicado no título deste artigo dá a entender que há, pelo menos, três motivos.


Procurando alegria


“Entrementes, os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra. Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo. As multidões atendiam, unânimes, às coisas que Filipe dizia, ouvindo-as e vendo os sinais que ele operava. Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade”.


Em primeiro lugar, podemos dizer que as pessoas vão à igreja porque procuram alegria. É interessante notar que Filipe curou muitos coxos, paralíticos e endemoninhados. Parece que essas doenças eram muito comuns entre o povo, e eles queriam tornar-se sadios. Ao serem curados, tiveram grande alegria. A saúde e a alegria certamente caminham juntas. Por outro lado, as doenças físicas estão associadas à depressão. Um exemplo disto é uma doença que hoje em dia é chamada de artrite reumatoide. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR),


[...] a artrite reumatoide atinge cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. E, entre todo esse pessoal, não é incomum que a depressão acabe dando as caras. Só que a tristeza profunda, além de consequência, pode ser um gatilho para essa doença autoimune que atinge as articulações. Em um estudo da Universidade de Calgary, no Canadá, pesquisadores analisaram dados de 403.932 indivíduos com depressão e de 5.339.399 sem a enfermidade, que passaram pelo sistema de saúde do Reino Unido entre 1986 e 2012. Eles concluíram, então, que 0,54% dos pacientes depressivos (2.192) desenvolveram artrite reumatoide ao longo desse tempo. Por outro lado, 0,45% do grupo sem o transtorno psiquiátrico (24.021) manifestou o problema nas juntas. Dito de outra de forma, a depressão aumentou em 38% a probabilidade de a artrite reumatoide aparecer. Mas veja só: o uso de antidepressivos minimizou esse risco, sugerindo que, de fato, há uma relação de causa e efeito. Por que a depressão pode se tornar um gatilho. Esse quadro psiquiátrico gera várias alterações no organismo. Uma é aumentar a concentração de uma substância inflamatória batizada de fator de necrose tumoral alfa, que desempenha um importante papel no desenvolvimento da artrite reumatoide.


SANTOS, Maria Tereza. Estudo aponta que depressão pode desencadear artrite reumatoide. Site Abril.com/Saúde, 22 jul. 2018. Disponível em: https://saude.abril.com.br/medicina/estudo-aponta-que-depressao-pode-desencadear-artrite-reumatoide/ Acesso em 02 fev. 2019.


O conhecimento de que a depressão e doenças físicas estão associados é antigo. No Salmo 31.10, escrito há cerca de três mil anos atrás, nós já líamos o seguinte: “Gasta-se a minha vida na tristeza, e os meus anos, em gemidos; debilita-se a minha força, por causa da minha iniquidade, e os meus ossos se consomem”.


A depressão é um mal antigo, e tem aumentado muito nestes tempos modernos. Para não cairmos em depressão, buscamos coisas que nos deixem alegres, entusiasmados. Talvez você sofra ou já tenha sofrido do mal da depressão, como naqueles dias em que acorda e deseja não sair da cama, não conversar com ninguém, mas ficar isolado num canto, sem forças para executar o seu trabalho, deixando tudo para depois. Talvez você tenha ido em alguma igreja crendo que encontraria a cura e, quem sabe, a encontrou, saindo de lá jubilando, cantando lindas músicas de louvor. No entanto, não é apenas por alegria que buscamos. Precisamos de algo mais.


Procurando um mestre


Ora, havia certo homem, chamado Simão, que ali praticava a mágica, iludindo o povo de Samaria, insinuando ser ele grande vulto; ao qual todos davam ouvidos, do menor ao maior, dizendo: Este homem é o poder de Deus, chamado o Grande Poder. Aderiam a ele porque havia muito os iludira com mágicas.


Nós também vamos à igreja porque sentimos a necessidade de seguir um mestre. Queremos alguém que nos anime a seguir firmes no caminho de Deus. Mas os mestres não sabem todas as coisas, e às vezes sabem menos do que deveriam, como é o caso de Nicodemos, de quem Jesus se admirou em João 3.10: “Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas”?


O escritor de Hebreus 5.12 insinua que os discípulos mais antigos deveriam se tornar mestres, e lamentava que eles tivessem necessidade de que alguém lhes ensinasse, de novo, os “princípios elementares dos oráculos de Deus”, como crianças que precisam de leite e não podem receber alimento sólido. Quem sabe eles tivessem medo do alerta de Tiago 3.1: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo”. Ou então fossem, como os discípulos de Lucas 24.25, “[...] néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!


Quando escolhemos um líder, dependendo de onde queremos chegar, pensamos no mais forte, no mais inteligente, no mais sábio, ou no mais treinado. Mas devemos tomar muito cuidado nessa escolha. Os samaritanos escolheram Simão porque acreditavam que ele era o poder de Deus, mas estavam apenas se deixando iludir. Nós também corremos este risco. A Bíblia adverte continuamente sobre a existência prolífera de falsos mestres, como em Mateus 23.2-7:


Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens.


Nem sempre, porém, o problema está no mestre. Jesus, por exemplo, é o Mestre dos mestres, mas nem isso garante que os seus conselhos sejam seguidos. Veja o caso do jovem rico mencionado em Marcos 10.17-24, que tinha Jesus na mais alta estima, tanto que o chamou de Bom Mestre e que, mesmo assim, não seguiu a sua orientação, por confiar demais nas próprias riquezas.


Existe ainda, pelo menos, um terceiro motivo pelo qual as pessoas vão à igreja.


Procurando a verdade


Quando, porém, deram crédito a Filipe, que os evangelizava a respeito do reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, iam sendo batizados, assim homens como mulheres. O próprio Simão abraçou a fé; e, tendo sido batizado, acompanhava a Filipe de perto, observando extasiado os sinais e grandes milagres praticados.


A verdade sempre prevalece, no final, porque, no fundo todos querem saber a verdade. Até mesmo Simão percebeu que Filipe não iludia o povo, e quis chegar mais perto para entender melhor o que estava acontecendo.


A missionária Sophie Muller, que trabalhou na Amazônia colombiana em meados do século vinte, conta, em seu livro, o conflito que havia no íntimo de um jovem filho de pagé, e sua busca pela verdade:


Nós nos reuníamos numa grande cabana à noite, silenciosamente esperando que o fogo diminuísse. As portas eram fechadas. Havia um cesto de alimentos ao lado do fogo. Ninguém falava, nem se movia. Finalmente tudo ficava escuro [...] O Pagé começava a cantar do lado de fora da casa [...] O espírito do morto chegava a um dos assistentes agitados. “Eu sou sua mãe”, dizia numa voz aguda em falsete. “A casa do Grande Espírito é linda, muito agradável”. Às vezes o espírito aconselhava acerca de algum problema, mas sempre pedia alimento. “Delicioso, delicioso”, dizia, enquanto comia um pedaço de carne ou uma banana”. [...] Quando não cabia mais alimento no estômago do Page a sessão terminava [...]. Este era o ambiente em que Pablo crescera, mas algo dentro dele não permitia que seguisse a profissão bem paga do seu pai. Mesmo assim, aqueles rituais atraíram sua atenção para o mundo invisível e criaram nele um forte desejo de conhecer a resposta à antiga interrogação: “Se um homem morrer, viverá outra vez?” (Muller 2003, p. 91).


MULLER, Sophie. Sua voz ecoa nas selvas. Tradução Delbert Denelsbeck. Anápolis: Transcultural Editora e Livraria, 2003.


Depois do milagre da multiplicação dos pães, Jesus pregou à multidão um duro discurso, criticando-os pelo fato de que o procuravam, não pelas coisas espirituais, mas para se fartarem do pão que podia lhes dar. Decepcionados, muitos os abandonaram, e Jesus perguntou aos doze se não queriam abandoná-lo também, ao que Simão Pedro respondeu: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.68).


Não podemos viver sem a verdade. Ainda que seja dura, ela precisa ser revelada e aceita.


Conclusão


Porque o Sr. Heleno, de Campinas, foi à igreja, apesar do apelo profético de sua esposa? Estava à procura de alegria? Estava seguindo alguém que considerava um bom líder? Ou foi à procura da verdade? Os três motivos são legítimos, e ainda outros poderiam ser enumerados. Quando vamos à igreja, porém, devemos ter como prioridade a busca da verdade. É a verdade que nos liberta. Jesus Cristo é a Verdade. Quem andar na verdade, vai ter alegria. Quem andar na verdade, escolherá bem que líder seguir, e não se deixará enganar por falsos mestres. Precisamos conhecer a Palavra de Deus, para a nossa própria edificação, e para podermos oferecer sempre a verdade às pessoas que estão à nossa volta. Deus permita que o Sr. Heleno, as outras vítimas fatais, eu e você, estejamos guardados pela fé naquele que ressuscita os mortos. Nós que, vivos, ainda temos oportunidade, atendamos ao apelo: “não deixemos de congregar-nos, [...] tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hebreus 10.25).


(*) Foto do cabeçalho: Fachada da Catedral Metropolitana de Campinas. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ataque_na_Catedral_Metropolitana_de_Campinas_em_2018 Acesso em 17 fev. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

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