sábado, 30 de novembro de 2019

O evangelho e a pedra lapidada (Atos 10.34-43)

Quando eu era adolescente, queria muito cantar uma música, cuja melodia e rimas eram perfeitas, mas eu não a cantava, porque a ideia que a letra transmitia muito me incomodava. Ainda que eu não fosse, à época, convertido ao cristianismo, não conseguia aceitar sua posição, especificamente numa frase que dizia: “Eu quero crer na solução dos evangelhos, obrigando os nossos moços ao poder dos nossos velhos” (música “Cordilheira”, de Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Não era assim que eu via o evangelho pois, embora ainda não tivesse me entregado totalmente a ele, eu o via pelo menos com simpatia. Como é que você vê o evangelho? Assim como uma pedra lapidada, dependendo do ângulo pelo qual você o observa, ele pode se apresentar em diversas facetas.


Pedro apresentou a Cornélio o evangelho no qual deveria crer para ser salvo, para entrar no Reino de Deus e ter a vida eterna. O discurso de Pedro destaca algumas facetas pelas quais o evangelho de Jesus Cristo pode ser percebido.


O Evangelho da paz (34-36)


Então, falou Pedro, dizendo: Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos.


Primeiramente, Pedro apresenta a Cornélio o evangelho como o anúncio da paz entre judeus e gentios, e destes com Deus. Uma relação que antes de Jesus não era possível.


Hoje, nós sonhamos com a paz entre as nações. Isto é um tema constante entre os chefes de governo no mundo. Exemplo disso foram as tentativas de se achar solução para o conflito da Síria no ano de 2017, conforme nos informou, no início de maio daquele ano, o jornal O Estado de São Paulo:


Rússia, Irã e Turquia assinaram um acordo para criar zonas de exclusão na Síria e, assim, isolar grupos terroristas no país afetado pela guerra. Moscou propõe colocar países não envolvidos diretamente no conflito para fazer parte de operações de paz e o Brasil foi mencionado como alternativa, uma vez que a missão do País no Haiti está chegando ao fim. [...] As Forças Armadas brasileiras mantêm cerca de 1.500 militares em dez diferentes missões da ONU. O maior grupo, com cerca de 850 soldados, está no Haiti. Equipes menores atuam em Chipre, Libéria, Timor Leste, Saara Ocidental, Costa do Marfim, Líbano, Colômbia, Equador e Peru. Ao longo dos últimos 70 anos, a participação do Brasil em mandatos armados das Nações Unidas mobilizou cerca de 68 mil homens e mulheres.


Rússia propõe que Brasil integre missão de paz na Síria. Reportagem de Jamil Chade, Correspondente / Genebra e Roberto Godoy, O Estado de S. Paulo 04 Maio 2017. Disponível em: http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,russia-propoe-que-brasil-integre-missao-de-paz-na-siria,70001764077 Acesso em 31 maio 2017.


A paz foi profetizada desde os tempos antigos, como uma bênção a ser trazida pelo Messias de Israel, conforme os seguintes versículos:


Eis que te nascerá um filho, que será homem sereno, porque lhe darei descanso de todos os seus inimigos em redor; portanto, Salomão será o seu nome; paz e tranquilidade darei a Israel nos seus dias. (1º Crônicas 22.9).


Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (Isaías 9.6).


Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. (Isaías 53.5)


A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o SENHOR dos Exércitos; e, neste lugar, darei a paz, diz o SENHOR dos Exércitos (Ageu 2.9).


Destruirei os carros de Efraim e os cavalos de Jerusalém, e o arco de guerra será destruído. Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar e desde o Eufrates até às extremidades da terra (Zacarias 9.10).


E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paz também aos que estavam perto (Efésios 2,17).


Vindo, porém, o Messias, foi rejeitado por Israel, e a paz não se instalou, antes foi adiada, e ainda estamos na vigência da profecia de Jesus, que diz em Mateus 10.34: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”.


Evangelho da libertação (37-39)


Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro.


Outra faceta do evangelho apresentada por Pedro é a da libertação. As opressões do diabo, especialmente as doenças e as possessões demoníacas, não prevaleciam na presença do Senhor Jesus, mas desapareciam instantaneamente. A fé no evangelho de Jesus Cristo dá aos crentes oportunidade de libertação dessas opressões. Longe do evangelho, porém, o mundo “jaz no maligno”, como ilustra o último relatório da OMS concluído em 2011 e divulgado em maio de 2015:


[...] afirma o relatório Estatísticas Mundiais de Saúde 2011 divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) hoje (13/05) [...] Doenças não-transmissíveis como as doenças cardíacas, os derrames, a diabetes e o câncer, agora compõem dois terços de todas as mortes no mundo, devido ao envelhecimento da população e à propagação de fatores de risco associados à globalização e à urbanização. O controle dos fatores de risco como o tabagismo, o sedentarismo, a má alimentação e o uso excessivo de álcool se torna mais crítico. Os números mais recentes da OMS mostram que cerca de quatro em cada dez homens e uma em cada onze mulheres estão usando tabaco e cerca de um em cada oito adultos são obesos.


Novo relatório da OMS traz informações sobre estatísticas de saúde em todo o mundo. Nações Unidas no Brasil, 13/05/2011. Disponível em: https://nacoesunidas.org/novo-relatorio-da-oms-traz-informacoes-sobre-estatisticas-de-saude-em-todo-o-mundo/  Acesso em: 31 maio 2017.


A cura física trazida por Jesus era por graça e misericórdia, mas limitada àqueles que nele criam, e com a finalidade maior de mostrar que ele realmente falava sério, ao afirmar que era o filho de Deus que veio salvar o mundo. Lucas 6.19 diz que “[...] todos da multidão procuravam tocá-lo, porque dele saía poder; e curava todos”.


Mesmo assim a maioria não creu na sua pregação para que pudessem receber a libertação completa oferecida por Deus, como demonstram os versículos abaixo:


E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles (Mateus 13.58).


E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível (Mateus 17.20).


Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados (Mateus 13.15).


Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com o coração, e se convertam, e sejam por mim curados (João 12.40).


Os apóstolos, que deram continuidade à obra de Jesus (pelo menos a uma parte dela), também receberam poder para curar, para libertar os oprimidos do diabo. Mas, no final do livro de Atos, após todas as intensas atividades missionárias dos apóstolos, nós lemos, como se fosse numa sentença judicial, as mesmas palavras proféticas proferidas por Paulo, dirigida aos judeus incrédulos:


Porquanto o coração deste povo se tornou endurecido; com os ouvidos ouviram tardiamente e fecharam os olhos, para que jamais vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e se convertam, e por mim sejam curados (Atos 28.27).


Ainda hoje o evangelho é apresentado pela faceta da libertação, e ainda hoje é rara a fé genuína, que poderia abrir o canal pelo qual costuma fluir o poder libertador.


Evangelho do perdão (40-43)


A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados.


Dentre as facetas do evangelho apresentadas, creio que a mais importante é a faceta do perdão. É a nossa maior bênção, pois, sendo perdoados de nossos pecados, escapamos da condenação eterna. Podemos até enfrentar guerras, em vez de paz, sofrer com as opressões do inimigo neste mundo, enquanto aguardamos a libertação, mas, crendo no evangelho de Jesus Cristo, temos a bendita esperança de que estaremos com ele no paraíso, uma vez que recebemos o perdão dos nossos pecados. Antes de ouvirmos e crermos no evangelho, estávamos perdidos, iludidos pelas mentiras de satanás.


Há algum tempo, li a respeito de um jovem alemão que se declarou iludido pelo Estado Islâmico. Seu nome é Ebrahim B., o qual


[...] havia sido recrutado pelos radicais, mas foi acusado de espionagem em agosto do ano passado e quase foi decapitado pelo grupo. Atraído para a Síria com a promessa de um carro e quatro mulheres, o jovem de 26 anos deixou seu país e trabalhou durante alguns meses para o EI, segundo informações do jornal The Independent. Quando foi acusado de ser espião, Ebrahim B. foi trancado em uma cela [...] O destino de Ebrahim B. também era a morte, mas, milagrosamente, ele escapou. O jovem recebeu ordens de levar um combatente ferido a um hospital e, no caminho, conseguiu fugir.


Ex-membro do Estado Islâmico, homem conta como escapou de ser decapitado pelo grupo. Notícias R7, 4/8/2015. Disponível em: http://noticias.r7.com/internacional/ex-membro-do-estado-islamico-homem-conta-como-escapou-de-ser-decapitado-pelo-grupo-04082015 Acesso em 31 maio 2017.


Podemos dizer que Ebrahim B., o jovem iludido e condenado pelo Estado Islâmico, recebeu o perdão quando lhe foi permitido levar um ferido ao hospital, dando ensejo à sua fuga. Sorte diferente tem aquele que não crê no evangelho, pois não escapa da morte eterna, conforme os versículos abaixo:


Todo aquele que proferir uma palavra contra o Filho do Homem, isso lhe será perdoado; mas, para o que blasfemar contra o Espírito Santo, não haverá perdão (Lucas 12:10).


[...] para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles (Marcos 4.12).


Conclusão


Para alguns, o evangelho é apenas para “obrigar os nossos moços ao poder dos nossos velhos”. E você, amado leitor, qual faceta do evangelho está contemplando neste momento? Deus te ilumine, para que possa vê-lo também como o evangelho da paz, da libertação e do perdão. É a nossa única chance de salvação.


(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://br.pinterest.com/pin/562809284680911858/ Acesso em 01 dez. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


 

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Feedback (Atos 10.21-33)

Já participei de muitos processos seletivos, em alguns deles fui aprovado, mas em outros, não. Uma prática importante que adotei, por orientação dos coachers, é pedir sempre um feedback aos recrutadores, para saber onde, sob o seu ponto de vista, eu poderia melhorar na próxima vez. Você se importa em saber como as pessoas estão te avaliando?


Não sei se Cornélio se importava, mas podemos observar, neste parágrafo de Atos 10.21-33, algo parecido com um feedback, em que ele foi avaliado sob pelo menos três pontos de vista.


Ponto de vista dos homens comuns: um homem bom (21-24)


E, descendo Pedro para junto dos homens, disse: Aqui me tendes; sou eu a quem buscais? A que viestes? Então, disseram: O centurião Cornélio, homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras. Pedro, pois, convidando-os a entrar, hospedou-os. No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles; também alguns irmãos dos que habitavam em Jope foram em sua companhia. No dia imediato, entrou em Cesaréia. Cornélio estava esperando por eles, tendo reunido seus parentes e amigos íntimos.


Os homens enviados por Cornélio precisavam convencer Pedro de que o centurião merecia uma atenção especial. Que melhor argumento, pois, do que dizer que ele tinha um bom testemunho de toda a nação judaica? Se muitos do povo consideravam que um homem era bom, é porque devia ser mesmo. Em épocas e culturas diferentes, o povo pode ter opiniões variadas de quem sejam “homens bons”. Na cidade de Porto Alegre, no século dezoito, por exemplo,


As Câmaras tinham seus cargos ocupados por indivíduos denominados homens bons. Essa designação vaga se referia aos integrantes das elites sócio-econômicas locais, que deveriam atender a uma série de requisitos. Ser maior de 25 anos, casado ou emancipado, católico e sem nenhuma “impureza de sangue”, isto é, nenhum tipo de mestiçagem racial. Era necessário que fossem homens de cabedal, o que significava, geralmente, serem proprietários de terra. Esses indivíduos de reconhecida posição social eram coletivamente chamados de homens bons, ou mais vagamente, povo.


BOXER, Charles R. O império marítimo português 1415-1825, São Paulo, Companhia das Letras, 2002. Pg. 287. Citado por COMISSOLI, Adriano, no artigo: Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808). Niterói: 2006. Disponível em: http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_arquivos/6/TDE-2008-02-13T110421Z-1282/Publico/Dissert_COMISSOLI_Adriano.pdf Acesso em 28 maio 2017.


Jesus, porém, nos ensinou a provarmos os homens pelos seus frutos, conforme a metáfora de Mateus 7.17,18: “Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons”.


Jesus dá a entender, em Mateus 25.21, que alguns homens serão considerados bons, quando o Senhor lhes disser: “[...] Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. [...]”.


Apesar disto, nós não podemos alegar merecimento nenhum diante de Deus, pois somente poderemos produzir algum bom fruto se ele, na sua graça, nos possibilitar.


Ponto de vista de Pedro: um homem impuro (25-29)


Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem. Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?


Existem, no meio evangélico, muitos jargões, mas se fôssemos bem criteriosos na definição de certos termos, quem seriam os puros, e quem seriam os impuros, de acordo com os conceitos atuais? Haveria separação segura entre o que é “secular” e o que é “espiritual”? O que seria “viver para Cristo” e “viver para o mundo”? Como distinguiríamos “coisas materiais” e “coisas espirituais”? É possível que algumas pessoas se dediquem tanto a Deus, de forma que estejam em um nível mais elevado de santidade? Jesus mesmo, com seus discípulos, foi taxado de impuro, quando os fariseus e escribas o interpelaram: “[...] Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?” Mas lhes rebateu a crítica:


[...] Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina. [...] Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem (Marcos 7.5,15, 21-23).


Paulo advertiu os Coríntios para não andarem com impuros, mas para deixar claro, se explica dizendo:


Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor (1ª Coríntios 5.9-13).


O fato é que todos somos humanos, todos somos pecadores. Não podemos nos esconder atrás de títulos como o de pastor, presbítero, diácono, pois são apenas títulos que, embora normalmente conquistados por mérito honroso, afetam apenas a vida na terra. Estamos no mesmo barco, somos sujeitos às mesmas paixões, temos todos as mesmas lutas contra a nossa natureza humana e contra o pecado. Por isso, sob o nosso ponto de vista, a salvação de Cristo pode alcançar o pior dos pecadores. Há esperança para todos, em toda parte, caso se arrependam.


Ponto de vista de Deus: um homem aceitável (30-33)


Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.


Alguns crentes, ao serem ajudados por não crentes, às vezes dizem: “e nem crente ele é...!”. Não esperavam de um incrédulo um ato de bondade. Ao mesmo tempo, esperavam que os crentes fossem mais bondosos. Condenam assim os crentes e exaltam os incrédulos que praticaram atos de bondade. Mas os atos de bondade, ou atos de justiça, embora sejam nossa obrigação, nem por isso serão aceitos. Deus deixou isso claro desde o início da revelação, como no caso das ofertas de Abel e de Caim (Gênesis 4.3-5). O Profeta Isaías (64.6) chega a tratar alguns tipos de “justiças” como verdadeiros “trapos de imundícia”.


Ainda assim, os atos de bondade não devem ser considerados exclusividade de crentes, nem se deve esperar deles que sejam sempre bondosos. Todo ato de bondade é dom de Deus, e deve ser sempre reconhecido como tal. Se veio por meio de uma pessoa que não crê na salvação por meio do Senhor Jesus Cristo, o “obrigado” passa a ter maior responsabilidade, mormente a de orar pela salvação do benfeitor, porque a salvação não vem por meio da justiça humana, mas por meio da justiça cumprida em Jesus, o Cordeiro de Deus. Oremos por todos os “aceitáveis”, para que eles reconheçam em Jesus o único e suficiente Salvador, para que seus pecados sejam cobertos pelo sangue de Jesus, e assim estejam aptos para entrar no Reino de Deus, porque, para ele, não é questão de ser considerado pelos homens como bom, ou de ser considerado por outros como impuro. O que importa é ser aceitável. Porque a impureza do homem pode ser purificada pelo sangue de Jesus.


Por outro lado, “[...] o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face (Salmos 11.7). Ezequiel escreveu longos trechos falando do reconhecimento de Deus quando o homem pratica a justiça (vide versísulos 3.20; 14.14,20; 18.5,19-22,24,26,27; 33.12-14,16,18,19). Até o apóstolo Paulo, que defendeu veementemente a salvação somente pela graça de Deus, em Cristo, independentemente das obras de justiça, não nega o valor de um homem andar em justiça, conforme destaca no início de seu grande tratado teológico (vide Romanos 2.7,10-24).


Conclusão


Se você pedisse um feedback às pessoas de sua influência, como elas iriam te classificar? Uma pessoa boa, uma pessoa impura, uma pessoa aceitável?


Mas para Deus, quem você é? Como é que Deus, que lá do alto te observa, enxerga a maneira como você tem se comportado? Não podemos nos enganar, não podemos zombar de Deus. Devemos reconhecer a Jesus como nosso único e suficiente Salvador e Senhor e, ainda que as boas obras, por si só, não possam salvar, devemos nos esforçar para ser aceitáveis àquele a quem pertence a salvação.


(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.napratica.org.br/como-pedir-feedback-e-usar/ Acesso em. 26 nov. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.