Já participei de muitos processos seletivos, em alguns deles fui aprovado, mas em outros, não. Uma prática importante que adotei, por orientação dos coachers, é pedir sempre um feedback aos recrutadores, para saber onde, sob o seu ponto de vista, eu poderia melhorar na próxima vez. Você se importa em saber como as pessoas estão te avaliando?
Não sei se Cornélio se importava, mas podemos observar, neste parágrafo de Atos 10.21-33, algo parecido com um feedback, em que ele foi avaliado sob pelo menos três pontos de vista.
Ponto de vista dos homens comuns: um homem bom (21-24)
E, descendo Pedro para junto dos homens, disse: Aqui me tendes; sou eu a quem buscais? A que viestes? Então, disseram: O centurião Cornélio, homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica, foi instruído por um santo anjo para chamar-te a sua casa e ouvir as tuas palavras. Pedro, pois, convidando-os a entrar, hospedou-os. No dia seguinte, levantou-se e partiu com eles; também alguns irmãos dos que habitavam em Jope foram em sua companhia. No dia imediato, entrou em Cesaréia. Cornélio estava esperando por eles, tendo reunido seus parentes e amigos íntimos.
Os homens enviados por Cornélio precisavam convencer Pedro de que o centurião merecia uma atenção especial. Que melhor argumento, pois, do que dizer que ele tinha um bom testemunho de toda a nação judaica? Se muitos do povo consideravam que um homem era bom, é porque devia ser mesmo. Em épocas e culturas diferentes, o povo pode ter opiniões variadas de quem sejam “homens bons”. Na cidade de Porto Alegre, no século dezoito, por exemplo,
As Câmaras tinham seus cargos ocupados por indivíduos denominados homens bons. Essa designação vaga se referia aos integrantes das elites sócio-econômicas locais, que deveriam atender a uma série de requisitos. Ser maior de 25 anos, casado ou emancipado, católico e sem nenhuma “impureza de sangue”, isto é, nenhum tipo de mestiçagem racial. Era necessário que fossem homens de cabedal, o que significava, geralmente, serem proprietários de terra. Esses indivíduos de reconhecida posição social eram coletivamente chamados de homens bons, ou mais vagamente, povo.
BOXER, Charles R. O império marítimo português 1415-1825, São Paulo, Companhia das Letras, 2002. Pg. 287. Citado por COMISSOLI, Adriano, no artigo: Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808). Niterói: 2006. Disponível em: http://www.bdtd.ndc.uff.br/tde_arquivos/6/TDE-2008-02-13T110421Z-1282/Publico/Dissert_COMISSOLI_Adriano.pdf Acesso em 28 maio 2017.
Jesus, porém, nos ensinou a provarmos os homens pelos seus frutos, conforme a metáfora de Mateus 7.17,18: “Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons”.
Jesus dá a entender, em Mateus 25.21, que alguns homens serão considerados bons, quando o Senhor lhes disser: “[...] Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. [...]”.
Apesar disto, nós não podemos alegar merecimento nenhum diante de Deus, pois somente poderemos produzir algum bom fruto se ele, na sua graça, nos possibilitar.
Ponto de vista de Pedro: um homem impuro (25-29)
Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou. Mas Pedro o levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem. Falando com ele, entrou, encontrando muitos reunidos ali, a quem se dirigiu, dizendo: Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar. Pergunto, pois: por que razão me mandastes chamar?
Existem, no meio evangélico, muitos jargões, mas se fôssemos bem criteriosos na definição de certos termos, quem seriam os puros, e quem seriam os impuros, de acordo com os conceitos atuais? Haveria separação segura entre o que é “secular” e o que é “espiritual”? O que seria “viver para Cristo” e “viver para o mundo”? Como distinguiríamos “coisas materiais” e “coisas espirituais”? É possível que algumas pessoas se dediquem tanto a Deus, de forma que estejam em um nível mais elevado de santidade? Jesus mesmo, com seus discípulos, foi taxado de impuro, quando os fariseus e escribas o interpelaram: “[...] Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?” Mas lhes rebateu a crítica:
[...] Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina. [...] Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem (Marcos 7.5,15, 21-23).
Paulo advertiu os Coríntios para não andarem com impuros, mas para deixar claro, se explica dizendo:
Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor (1ª Coríntios 5.9-13).
O fato é que todos somos humanos, todos somos pecadores. Não podemos nos esconder atrás de títulos como o de pastor, presbítero, diácono, pois são apenas títulos que, embora normalmente conquistados por mérito honroso, afetam apenas a vida na terra. Estamos no mesmo barco, somos sujeitos às mesmas paixões, temos todos as mesmas lutas contra a nossa natureza humana e contra o pecado. Por isso, sob o nosso ponto de vista, a salvação de Cristo pode alcançar o pior dos pecadores. Há esperança para todos, em toda parte, caso se arrependam.
Ponto de vista de Deus: um homem aceitável (30-33)
Respondeu-lhe Cornélio: Faz, hoje, quatro dias que, por volta desta hora, estava eu observando em minha casa a hora nona de oração, e eis que se apresentou diante de mim um varão de vestes resplandecentes e disse: Cornélio, a tua oração foi ouvida, e as tuas esmolas, lembradas na presença de Deus. Manda, pois, alguém a Jope a chamar Simão, por sobrenome Pedro; acha-se este hospedado em casa de Simão, curtidor, à beira-mar. Portanto, sem demora, mandei chamar-te, e fizeste bem em vir. Agora, pois, estamos todos aqui, na presença de Deus, prontos para ouvir tudo o que te foi ordenado da parte do Senhor.
Alguns crentes, ao serem ajudados por não crentes, às vezes dizem: “e nem crente ele é...!”. Não esperavam de um incrédulo um ato de bondade. Ao mesmo tempo, esperavam que os crentes fossem mais bondosos. Condenam assim os crentes e exaltam os incrédulos que praticaram atos de bondade. Mas os atos de bondade, ou atos de justiça, embora sejam nossa obrigação, nem por isso serão aceitos. Deus deixou isso claro desde o início da revelação, como no caso das ofertas de Abel e de Caim (Gênesis 4.3-5). O Profeta Isaías (64.6) chega a tratar alguns tipos de “justiças” como verdadeiros “trapos de imundícia”.
Ainda assim, os atos de bondade não devem ser considerados exclusividade de crentes, nem se deve esperar deles que sejam sempre bondosos. Todo ato de bondade é dom de Deus, e deve ser sempre reconhecido como tal. Se veio por meio de uma pessoa que não crê na salvação por meio do Senhor Jesus Cristo, o “obrigado” passa a ter maior responsabilidade, mormente a de orar pela salvação do benfeitor, porque a salvação não vem por meio da justiça humana, mas por meio da justiça cumprida em Jesus, o Cordeiro de Deus. Oremos por todos os “aceitáveis”, para que eles reconheçam em Jesus o único e suficiente Salvador, para que seus pecados sejam cobertos pelo sangue de Jesus, e assim estejam aptos para entrar no Reino de Deus, porque, para ele, não é questão de ser considerado pelos homens como bom, ou de ser considerado por outros como impuro. O que importa é ser aceitável. Porque a impureza do homem pode ser purificada pelo sangue de Jesus.
Por outro lado, “[...] o SENHOR é justo, ele ama a justiça; os retos lhe contemplarão a face (Salmos 11.7). Ezequiel escreveu longos trechos falando do reconhecimento de Deus quando o homem pratica a justiça (vide versísulos 3.20; 14.14,20; 18.5,19-22,24,26,27; 33.12-14,16,18,19). Até o apóstolo Paulo, que defendeu veementemente a salvação somente pela graça de Deus, em Cristo, independentemente das obras de justiça, não nega o valor de um homem andar em justiça, conforme destaca no início de seu grande tratado teológico (vide Romanos 2.7,10-24).
Conclusão
Se você pedisse um feedback às pessoas de sua influência, como elas iriam te classificar? Uma pessoa boa, uma pessoa impura, uma pessoa aceitável?
Mas para Deus, quem você é? Como é que Deus, que lá do alto te observa, enxerga a maneira como você tem se comportado? Não podemos nos enganar, não podemos zombar de Deus. Devemos reconhecer a Jesus como nosso único e suficiente Salvador e Senhor e, ainda que as boas obras, por si só, não possam salvar, devemos nos esforçar para ser aceitáveis àquele a quem pertence a salvação.
(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.napratica.org.br/como-pedir-feedback-e-usar/ Acesso em. 26 nov. 2019.
(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
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