domingo, 29 de março de 2020

E agora, pastores? (Atos 11.1-18)

Esta primeira semana de quarentena me pareceu como se fosse um mês, pois a ansiedade é muito grande para que as coisas possam voltar, logo, ao normal. Tenho procurado me manter em atividade, evitando o tédio. Com as igrejas impedidas ou limitadas na realização de cultos, o que pode fazer o pastor para não deixar suas ovelhas desamparadas?


Muitas são, pelas características de seu ofício, as funções que podem ser exercidas pelo pastor. Ele pode assumir a função de um conselheiro, de um amigo, de um irmão, de um pai. Já vi pastores assumindo funções as mais diversas, como a de médico, advogado, professor, mecânico, pedreiro, até mesmo de motorista de táxi. Mas uma das funções mais importantes do pastor é ser ministro da Palavra de Deus. Em Atos 11.1-18 podemos aprender um pouco mais sobre este assunto.


O pastor que assume a função de ministro da Palavra de Deus deve ser muito cuidadoso, pois a Palavra de Deus tem um valor inestimável. Podemos destacar neste texto pelo menos cinco cuidados que o pastor deve ter com relação à Palavra de Deus.


Primeiro cuidado: A Palavra de Deus deve ser exposta (1-4)


Chegou ao conhecimento dos apóstolos e dos irmãos que estavam na Judeia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. Quando Pedro subiu a Jerusalém, os que eram da circuncisão o arguiram, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles. Então, Pedro passou a fazer-lhes uma exposição por ordem, dizendo: [...]


Pedro foi questionado a respeito de seus procedimentos, e precisava expor suas razões. Era importante que a exposição fosse esclarecedora. Pedro justificou seu procedimento baseando-se na Palavra de Deus que, naquele momento, estava sendo preparada para ser escrita, antes de chegar ao ponto no qual nós a temos hoje. O pastor precisa aprender a expor com todo o cuidado a Palavra de Deus, porque é somente com base em seus princípios que podemos justificar nosso modo de viver. Com base na Palavra de Deus podemos dizer, com autoridade espiritual: “faça isto e não faça aquilo”.


Há muitas tradições na igreja, há muitos princípios óbvios que podemos e devemos proclamar no púlpito, mas isso deve ser feito com o cuidado de se provar que é isso mesmo a vontade de Deus. E qual é a melhor maneira de conhecermos a vontade de Deus, senão pela exposição de sua palavra revelada e escrita na Bíblia? Por isso o pastor deve ter o cuidado de expor cuidadosamente, zelosamente, a inestimável Palavra de Deus.


Em meados de 2004 eu tive um grande conflito dentro de mim, pois meu filho adolescente veio nos pedir (e o tom do pedido era meio desafiador) para que o deixasse ir ao cinema. Ora, ele sabia que em nossa igreja isso não era permitido. Desde que ele nasceu nós éramos membros daquela igreja, e ele cresceu recebendo orientação de evitar práticas que julgávamos nocivas à fé, entre elas a de ir ao cinema. Como ele ousava me fazer este pedido?


Acontece que ele tinha um “trunfo”: o filme ao qual ele queria assistir era “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson. Aquele filme mexeu com as estruturas de muitas igrejas tradicionais, e se transformou em grande polêmica, alguns achando que ele era, senão profano, exagerado nos detalhes dos sofrimentos físicos suportados por nosso Senhor, na Via Dolorosa. Outros, porém, defendiam o filme como um poderoso instrumento de evangelização, justamente por ser tão realista.


Não adiantou eu argumentar que logo, logo, o filme estaria disponível em VHS, e então poderíamos assistir aquele filme até mesmo em um dos cultos em nossa própria igreja. Ele não suportaria esperar longos três meses, enquanto todos os seus colegas, inclusive cristãos de igrejas mais moderadas, estavam assistindo e comentando nas rodas de conversa. O pior era que eu não tinha nenhum argumento bíblico de última hora botar uma pedra em cima da discussão.


O que fazer? A sabedoria de Provérbios (11.14 e 24.6) me mostrou que era hora de buscar muitos conselhos. Pedi a meu filho um prazo e, buscando conselho com muitos anciãos, decidimos que, dessa vez, abriríamos uma exceção.


Nestes últimos dezesseis anos muita coisa mudou em nossa igreja, e a proibição de ir ao cinema hoje já não faz nenhum sentido. A Palavra de Deus mudou de lá para cá? É claro que não, o que mudou foram os costumes, e a nossa igreja continua acreditando que “todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1ª Coríntios 6.12).


O mesmo princípio, exposto pelos pastores com base na Palavra de Deus, até àquele tempo nos proibia, depois flexibilizava, e hoje nos torna praticamente indiferentes à prática de ir ao cinema. Por isto é tão importante que o pastor exponha por completo a Palavra de Deus escrita, contextualizando e propondo aplicações aos princípios nela aprendidos. Nada mais, nada menos.


Segundo cuidado: A Palavra de Deus deve ser aplicada (5-12)


Eu estava na cidade de Jope orando e, num êxtase, tive uma visão em que observei descer um objeto como se fosse um grande lençol baixado do céu pelas quatro pontas e vindo até perto de mim. E, fitando para dentro dele os olhos, vi quadrúpedes da terra, feras, répteis e aves do céu. Ouvi também uma voz que me dizia: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Ao que eu respondi: de modo nenhum, Senhor; porque jamais entrou em minha boca qualquer coisa comum ou imunda. Segunda vez, falou a voz do céu: Ao que Deus purificou não consideres comum. Isto sucedeu por três vezes, e, de novo, tudo se recolheu para o céu. E eis que, na mesma hora, pararam junto da casa em que estávamos três homens enviados de Cesareia para se encontrarem comigo. Então, o Espírito me disse que eu fosse com eles, sem hesitar. Foram comigo também estes seis irmãos; e entramos na casa daquele homem.


Pedro explicou aos irmãos, que o questionavam, que se reunira com gentios por causa de uma ordem expressa de Deus, vinda diretamente do céu, acompanhada de uma impressionante visão. No princípio, Pedro pode não ter entendido o propósito de Deus, mas ao chegarem os três homens que Cornélio lhe enviara, o Espírito Santo lhe disse para ir com eles, e então começou a ligar uma coisa com a outra.


Acredito que os irmãos, que me leem agora, podem contar mais de uma ocasião em que Deus tenha lhe falado ao coração, seja no momento da oração silenciosa, seja através do conselho de outros irmãos, ou de acontecimentos inesperados.


Deus falou a Pedro de uma forma sobrenatural, mas, na maioria das vezes, Deus nos fala através de sua palavra escrita (o que não deixa de ser também sobrenatural). O pastor deve estar atento à voz de Deus, que lhe fala ao coração sobre como aplicar os princípios bíblicos revelados em seus estudos, e então exortar a congregação a pôr em prática. Esse processo é possível somente se o pastor se dedicar à oração perseverante e vigilância constante, para ouvir a voz do Espírito Santo como Pedro foi capaz de ouvir naquela ocasião.


Parafraseando Tiago 1.22, podemos dizer: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente PREGADORES, enganando-vos a vós mesmos”.


Terceiro cuidado: A Palavra de Deus deve ser divulgada (13,14)


“E ele nos contou como vira o anjo em pé em sua casa e que lhe dissera: Envia a Jope e manda chamar Simão, por sobrenome Pedro, o qual te dirá palavras mediante as quais serás salvo, tu e toda a tua casa”.


A ordem do anjo a Cornélio ressalta a importância das palavras que seriam ditas por Pedro, a quem ele devia mandar chamar. Não eram quaisquer palavras, porque através delas é que poderiam ser salvos, tanto Cornélio quanto toda a sua casa. Palavras poderosas, palavras de salvação. O pastor é portador dessas palavras, que jamais devem ficar escondidas, pois “ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo de uma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz” (Lucas 8.16).


Nós, os crentes, encontramos muita resistência, porque vivemos num mundo onde as pessoas que mais precisam não querem ouvir as palavras da salvação. Nós podemos e queremos falar, mas encontramos pessoas difíceis de ouvir, céticas, desinteressadas. Então o pastor, como ministro da palavra de Deus, e todos nós, na qualidade de discípulos de Cristo, precisamos criar situações e aproveitar oportunidades para, em nome do amor de Cristo, nos compadecermos dos que estão na dúvida, salvá-los, arrebatando-os do fogo, como diz Judas 1.23.


Para cumprir esta missão, temos utilizado inúmeros recursos como ações sociais, músicas, filmes, artes em geral, entre outros.


Um conceito interessante no ramo de administração de empresas é o conceito de networking. No site da PUC em Porto Alegre encontramos as seguintes orientações sobre como ampliar seus contatos profissionais:


Existem várias formas de fazer networking, e muitas dependem do local e da situação em que você se encontra. Contudo, algumas dicas são válidas para que você possa construir uma rede sólida e eficaz de relacionamento. Lembre-se de que esse processo acontece aos poucos e que durante toda a vida sua rede tende a crescer!


1- Estabeleça objetivos e defina o que você está buscando;


2- Faça uma lista de pessoas que você conhece e procure mantê-la atualizada;


3- Crie e promova seu perfil em redes de relacionamento profissionais;


4- Planeje a sua abordagem e, quando estiver em contato com as pessoas, faça com que elas se interessem por você;


5- Pense em seus principais contatos e descreva quais serão seus próximos passos e não se esqueça de colocá-los em prática.


Escritório de Carreiras. PUC-RS Disponível em: http://www.carreiraspucrs.com.br/alunos/comece-seu-network/ Acesso em 10 jun. 2017.


Podemos adaptar esses princípios e utilizá-los como um método de evangelização:


1- Estabeleça objetivos e defina o que você está buscando (por exemplo: alcançar almas para Cristo);


2- Faça uma lista de pessoas que você conhece e procure mantê-la atualizada (por exemplo, uma lista de oração);


3- Crie e promova seu perfil em redes de relacionamento profissionais (nossos perfis nas redes sociais podem se tornar em redes dignas de “pescadores de homens”, como diz em Mateus 4.19);


4- Planeje a sua abordagem e, quando estiver em contato com as pessoas, faça com que elas se interessem por você (por exemplo: andar com folhetos evangelísticos, desenvolver métodos de levar a conversa para assuntos espirituais, e nos esforçarmos para sermos agradáveis, como forma genuína de ganhar pessoas e dedicá-las a Cristo).


5- Pense em seus principais contatos e descreva quais serão seus próximos passos e não se esqueça de colocá-los em prática (por exemplo:orar pelos nossos principais contatos e fazer planos para conquistá-los, pedindo a Deus que nos ajude a colocar esses planos em prática).


A igreja universal de Cristo é, com certeza, o maior empreendimento de todos os séculos, e um dos motivos do seu sucesso é que sempre contou com os melhores administradores. Um bom pastor deve buscar sempre a excelência, principalmente quando se trata da divulgação da Palavra de Deus.


Quarto cuidado: A Palavra de Deus deve ser lembrada (15,16)


“Quando, porém, comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então, me lembrei da palavra do Senhor, quando disse: João, na verdade, batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo”.


Quando a gente vai prestar um concurso público e sabe que “vai cair” direito constitucional, direito administrativo, conhecimentos específicos e conhecimentos gerais, o que a gente faz? Não existe atalho, precisamos ler, decorar, devorar os conhecimentos que, sabemos, serão exigidos nas provas, se quisermos passar numa boa classificação.


Assim é que um pastor deve se dedicar à leitura assídua das Escrituras, como um hábito diário e intenso, para que possa se lembrar das santas palavras nos momentos mais inusitados. Não deve achar que, porque já tem lido a Bíblia para preparar os sermões, está dispensado de fazer e refazer a leitura “capa-a-capa” como um programa contínuo de aprendizagem. É isto que Deus ordenou a Josué (1.8), quando ainda havia por escrito somente os livros da lei: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido”.


Se Josué vivesse nos tempos de hoje, eu tenho certeza de que a ordem seria para não cessar de falar, não apenas do livro da lei, mas também dos salmos e dos profetas, assim como dos livros do Novo Testamento.


Pedro disse aos seus pares que a lembrança das palavras de Jesus foi muito importante para que ele pudesse compreender o que estava acontecendo naquele momento, na casa do centurião Cornélio.


Enquanto escrevo este texto, estou vivendo, como quase todos em minha cidade, o confinamento exigido para evitarmos a propagação do novo Coronavírus. Esta situação está ocorrendo em todo o país e no mundo, e não tem faltado teorias de esquerda, de direita, de conspirações e de pacificações sem fim. Mas dentre essas mensagens que me chegam por Whatsapp ou pelo Facebook, algumas me chamaram mais a atenção, porque trazem a lembrança das palavras de Isaías 26.20: “Vai, pois, povo meu, entra nos teus quartos e fecha as tuas portas sobre ti; esconde-te só por um momento, até que passe a ira”.


Quinto cuidado: A Palavra de Deus deve ser aceita (17,18)


"Pois, se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus? E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida".


Os irmãos que questionavam o "pastor" Pedro, tendo ouvido e compreendido sua esclarecedora exposição, se conformaram, se apaziguaram, e glorificaram a Deus. Muitas coisas acontecem em nossas vidas, e muitas coisas observamos à nossa volta, com as quais é difícil nos conformarmos. Às vezes, parece que nos tornamos juízes de Deus, e dizemos: “isto não é justo, Senhor...!” Gostaríamos que Deus fosse mais rigoroso com irmãos faltosos, ou que fosse mais misericordioso com irmãos zelosos.


Deus nos fala através da lógica, das experiências que vivemos, mas há situações em que nossa teoria não se encaixa com a realidade. Na verdade, isto acontece porque não entendemos claramente o que Deus quer dizer. Não obstante, uma coisa é clara: Deus tem o controle de tudo, conforme constatou amargamente o atribulado Jó, ao perder todos os seus bens e todos os seus filhos: “[...] Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21). Em meio ao processo doloroso e desesperador da doença pela qual passou, e dos não menos dolorosos debates e exercícios mentais para tentar compreender a estranha vontade de Deus, antes de receber alívio, afirmou com convicção: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2).


Já as vítimas desta atual epidemia, em números de hoje, chegam a quase 31 mil mortes, dentre os quase setecentos mil infectados em todo o mundo. Imaginem a frustração dos profissionais de saúde, que lutam para salvar essas vidas, mas vêm que elas vão se escoando por entre os seus dedos. Estes profissionais precisam se preparar para a morte. Num estudo sobre a importância do estudo da morte para profissionais de enfermagem, lemos que:


Para Penna, Nova e Barbosa (1999, p.20), os conteúdos que abordam a morte no currículo de enfermagem falam de questões éticas ou causa mortis da população, mas ao aprender a morte como um fenômeno ao qual se está exposto diariamente e com o qual se deveria saber lidar, não há referências. Esse aprendizado se dá no campo de prática quando o profissional começa a perder os pacientes sob seus cuidados. Alunos e professores demonstram não ter preparo para enfrentar a morte, e o que aprenderam, ainda insuficiente, passa pela experiência de vida de cada um, pela convivência eventual com o morrer do outro. Este aprendizado é solitário e vem da necessidade individual daquele profissional que, no seu cotidiano de trabalho, convive com a morte à qual não se habitua, pois lidar com ela é doloroso; vem acompanhado de muito sofrer e mecaniza as ações.


LIMA, Jorge Luiz. A importância do estudo da morte para profissionais de enfermagem. Disponível em: http://www.professores.uff.br/jorge/morte.pdf Acesso em: 10 jun. 2017.


Fonte das estatísticas sobre o Coronavírus citadas acima: Reuters, 29 de março de 2020, 14h52, disponível em: https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,coronavirus-italia-registra-novas-756-mortes-numero-de-obitos-chega-a-10779,70003252449 Acesso em 29 mar. 2020.


Os pastores, bem como todos os crentes atuantes, são profissionais da saúde espiritual do seu rebanho.


Muitas coisas da Palavra de Deus nós não entendemos. A Bíblia deixa claro que alguns ressuscitarão para a vida eterna, mas outros para vergonha e horror eterno (Daniel 12.2), e o que divide uns e outros é a fé em Jesus Cristo. João 3.18 diz: “Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”.


Há muitos amigos e familiares queridos que ainda não creem no nome de Jesus Cristo. Como sabemos? Eles não vêm à igreja, não manifestam sua fé, declarando Jesus como Senhor de suas vidas. Mas são pessoas boas, são pessoas que amamos. Deus os mandaria para o inferno? A Palavra de Deus, categoricamente, diz que sim. Só há um meio de escapar do inferno: é crer em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador. Eles precisam aceitar. Nós também precisamos aceitar, e orar por eles, e criar oportunidades para que eles sejam aproximados de nosso Senhor, para também nele crerem.


Conclusão


Quando Pedro foi designado por Jesus como pastor, este perguntou-lhe: “Simão, filho de João, tu me amas?” e depois da resposta positiva, acrescentou: “Apascenta as minhas ovelhas” (João 21.17).


Assim como Pedro, um pastor dedicado, que apascentava as ovelhas porque amava Jesus, muitos de nós somos, de certa forma, pastores, mesmo se não tivermos tal título de reconhecimento. Nós temos sob nossa responsabilidade pessoas que precisam ser apascentadas. Falo dos pais de família, das mães, dos tios e das tias, dos jovens que, como diz 1ª Timóteo 3.1, aspiram a excelente obra do episcopado.


Nossas igrejas não têm o costume de ordenar mulheres como pastoras, mas há muitas missionárias mulheres que atuam em diversos campos como verdadeiras líderes espirituais, seguindo o exemplo de Débora, Lídia, Dorcas, Priscila, e tantas outras.


Deus permita que os pastores de todas as igrejas, e os que aspiram ao episcopado, e os que exercem funções de pastores, mesmo sem terem tal título, valorizem a Palavra de Deus, tendo o cuidado de expor, aplicar, divulgar, lembrar e aceitar o que Deus nos comunica através de sua Palavra.


Falo estas palavras, não com a pretensão de ensinar os pastores que me leem, porque certamente estão cientes de seu papel e o têm desempenhado com todas as forças que nosso Senhor lhes supre, mas falo para animá-los, relembrando o seu valor diante de Deus e dos homens.


Falo na presença de toda a igreja, pois assim podemos entender melhor a responsabilidade e a preocupação que pesa sobre o pastor, para podermos lhes ser gratos, porque a Bíblia diz: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros” (Hebreus 13.17).


Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, março de 2020.


(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.acn.org.br/uma-igreja-fechada-em-si-mesma-trai-sua-propria-identidade/ Acesso em. 29 mar. 2020.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

Este e outros artigos deste Blog fazem parte do livro "A Igreja em Expansão (Atos 6 a 14)", disponível em um dos links abaixo:

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domingo, 22 de março de 2020

O Espírito não está de quarentena (Atos 10.44-48)

Eles estavam fazendo algo proibido. Segundo a lei de sua nação, não deveriam estar reunidos em casa de Cornélio. Era uma aglomeração que, por motivos religiosos (ou até sanitários) não deveria estar acontecendo. Porém, diante da ordem recebida do próprio Deus, por meio de visão, ali estavam, judeus e gentios, e algo espantoso estava para acontecer, pela primeira vez na história.


Em tempos de quarentena como a que estamos vivendo no estado de São Paulo, neste mês de março de 2020, isto é muito significativo. Até as igrejas cancelaram os cultos, e nunca se incentivou tanto o isolamento social como agora. O “Coronavírus”, no entanto, está solto nas ruas, um inimigo mortal e invisível, que pode contaminar até o ar que respiramos.


O contexto de Atos 10.44-48 mostra o Espírito soprando através de verdadeiros canais abertos pelo o fervor e obediência de um grupo de irmãos liderados pelo apóstolo Pedro. O Espírito Santo “contagia”, de repente, os que participavam da reunião na casa de Cornélio. Desde esse tempo é reconhecido, então, que entre nós, os gentios, este mesmo Espírito tem estado presente, não para fazer adoecer ou para matar, mas para dar vida, e para convencer o mundo de que o pecado exige juízo, segundo a justiça de Deus.


Como instrumento para a propagação de seu Espírito Santo, ele tem se utilizado de homens como Pedro e os demais discípulos que, com atitudes certas, garantem a sua fluidez.


Evangelização (44)


"Ainda Pedro falava estas coisas quando caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra".


A primeira atitude que notamos nos discípulos é a disposição para a Evangelização. Pedro obedeceu à ordem de Deus e foi à casa de Cornélio para evangelizá-lo. Se ficasse inerte, e não buscasse oportunidades de evangelizar, estaria colocando obstáculos ao Espírito Santo, porque para recebê-lo, as pessoas precisam ouvir a Palavra. Foi isto o que Paulo deu a entender, falando aos Gálatas (3.2): “Quero apenas saber isto de vós: recebestes o Espírito pelas obras da lei ou pela pregação da fé?” e aos Romanos (10.14): “Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Nós, cristãos entre os gentios, também não podemos ficar inertes, para não bloquearmos o Espírito Santo, mas precisamos pregar a Palavra.


Mas que palavra? Quando examinamos a Bíblia, vemos que a pregação, tanto de João Batista quanto a de Jesus eram resumidas nas seguintes palavras:


Mateus 3.2  Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.


Mateus 4.17  Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.


Marcos 1.15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.


Pedro seguiu o mesmo exemplo, em suas primeiras pregações:


Atos 2.38 Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.


Atos 3.19  Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados,


Já na pregação que fez a Cornélio e seus familiares, seguiu um padrão diferente:


Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos. Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galileia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele; e nós somos testemunhas de tudo o que ele fez na terra dos judeus e em Jerusalém; ao qual também tiraram a vida, pendurando-o no madeiro. A este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto, não a todo o povo, mas às testemunhas que foram anteriormente escolhidas por Deus, isto é, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que ressurgiu dentre os mortos; e nos mandou pregar ao povo e testificar que ele é quem foi constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos. Dele todos os profetas dão testemunho de que, por meio de seu nome, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados (Atos 10.36-43).


Encontraremos outros modelos de pregação no Novo Testamento, como, por exemplo, o célebre discurso de Paulo aos atenienses (Atos 17.16-19).


Podemos deduzir, dos exemplos encontrados na Bíblia, que a essência da pregação é bem simples: Jesus Cristo é Senhor e Salvador, que foi morto por nossos pecados e ressuscitou. Devemos crer nele e nos arrepender de nossos pecados. A forma e demais componentes da pregação, porém, devem ser adaptados com criatividade para alcançar as pessoas. Que o Espírito Santo nos dê sabedoria. Vivemos num meio em que as pessoas conhecem bem o cristianismo, mas precisam se converter de verdade. Não querem ouvir o evangelho, são como doentes que não admitem sua doença. Mas não podemos desistir de evangelizar. Com sabedoria e criatividade, precisamos achar caminhos para comunicar sempre o evangelho, até que alguns se convertam, e também recebam o Espírito Santo.


Inclusão (45,46)


"E os fiéis que eram da circuncisão, que vieram com Pedro, admiraram-se, porque também sobre os gentios foi derramado o dom do Espírito Santo; pois os ouviam falando em línguas e engrandecendo a Deus".


A segunda atitude necessária a Pedro e aos demais discípulos é o que costumamos chamar, hoje, de Inclusão. Eles não esperavam que os gentios, a quem antes consideravam impuros e inferiores aos judeus, pudessem receber o Espírito Santo, mas tiveram que aprender, na prática, que Deus salva a quem quer, não apenas aqueles que nós achamos que são dignos de salvação.


Faço parte de uma igreja local que tem o nome de Igreja Bíblica. Ora, se acreditamos que nossa igreja é bíblica, e escolhemos esse nome, não é porque queremos nos distinguir de outras igrejas que não são bíblicas? Acreditamos que há igrejas que não são bíblicas? Acreditamos. Mas, será que o Espírito Santo foi derramado também sobre essas igrejas, a respeito das quais afirmamos que não são bíblicas? Sim. Deus derrama seu Espírito sobre quem ele quiser derramar. Foi isso o que disse Jesus:


O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. [...] Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer (João 3.8; 5:21).


Paulo também nos faz lembrar que, já no Antigo Testamento (Êxodo 33.19), Deus fazia questão de deixar isto bem claro:


Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão. Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia. [...] Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.(Romanos 9.15,16,18)


Quando estivermos no céu, provavelmente ficaremos surpresos com algumas pessoas que lá estarão. É como começar a frequentar uma igreja e, surpreendentemente, encontrar alguém que já foi um “desafeto”, ou que, por sua fama, era a última pessoa que esperavávamos encontrar num lugar como este.


Assisti a um vídeo de um culto numa igreja em Moçambique, onde vi pessoas bem diferentes de nós, de forma que eu não me sentiria bem no meio deles, mas a pergunta que nós devemos fazer é: o Espírito Santo também desceu no meio deles? Sim, é possível. Por isso, quando as pessoas são diferentes de nós, não significa necessariamente que são inferiores ou superiores, e Deus pode incluí-las entre os que recebem o Espírito Santo.


(O vídeo da igreja de Moçambique está disponível em: https://youtu.be/6VXhJTyGXtc Acesso em: 22 mar. 2020)


Comunhão (46-48)


"Então, perguntou Pedro: Porventura, pode alguém recusar a água, para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo? E ordenou que fossem batizados em nome de Jesus Cristo. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias".


A terceira atitude, notada neste texto bíblico, que garante a fluidez do Espírito, é a prática da Comunhão. O Espírito Santo une todos os crentes em um só corpo, pelo batismo, conforme 1 Coríntios 12.13 e Efésios 4.4:


Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito. [...] há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação;


Deus quer que todos nós vivamos unidos, conforme Filipenses 1.27:


Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica;


Isso significa que nós devemos estar unidos a todos os crentes, mesmo os que são de outras correntes teológicas? Vejamos a opinião de um autor neopentecostal que escreveu o seguinte:


O Espírito Santo foi enviado prioritariamente à Igreja, que é a única agência do reino de Deus neste mundo. Ele não se dispõe a uso individual, nem é propriedade deste ou daquele grupo. [...] Todas as ações do Espírito visam a edificar, consolar, guiar e fortalecer a ação dos cristãos no sentido de constituírem a Igreja, que é o verdadeiro corpo do Senhor Jesus Cristo, do qual fazemos parte na condição de membros.


MACEDO, Bispo. O Espírito Santo. São Paulo: Universal Produções, 1998.


Sua teologia, pelo menos quanto ao trecho citado, coincide com a nossa. Isso pode nos levar a perguntas como: Será que o Espírito Santo cai, de fato, sobre os irmãos pentecostais? Será que o Espírito Santo cai, de fato, sobre os irmãos Carismáticos Católicos? Será que ele está presente nas igrejas super tradicionais e com liturgias muito rígidas como as católicas romanas, as ortodoxas, as anglicanas, as luteranas? Será que as denominações, as quais chamamos de seitas, têm membros que nasceram de novo pelo Espírito Santo?


Uma irmã compartilhou, aqui nesta igreja, há alguns anos, como foi abençoada por uma outra irmã, membro da igreja Universal, que lhe telefonou para falar de um outro assunto, mas percebeu por sua voz que precisava de oração e de uma palavra de consolo. E foi assim que essa irmã neopentecostal, tendo sido usada por Deus, consolou nossa distinta irmã da Igreja Bíblica. A pergunta que devemos nos fazer é: Será que o Espírito Santo nos uniu também a essa irmã neopentecostal e a muitos outros que frequentam igrejas dessa mesma corrente teológica?


Estamos, de certa forma, impedidos de nos reunir com irmãos de outras igrejas para o culto, por causa de nossas divergências. Mas até que ponto podemos deixar de aplicar o princípio bíblico de estarmos “firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica” (Filipenses 1.27)? Deus nos dê sabedoria.


Conclusão


Em tempos de quarentena, em que até as igrejas cancelaram os cultos, e o “Coronavírus” está solto nas ruas, um inimigo mortal e invisível, vamos nos lembrar de que o Espírito de Deus ainda está livre, e pode fluir através de nós, ainda que, no momento, estejamos isolados socialmente. Isto vai depender de nossas atitudes.


O apóstolo Paulo faz um apelo em 1ª Tessalonicenses 5.19: “Não apagueis o Espírito”. Sejamos cuidadosos como o grande mestre fariseu, que, num relance de sobriedade, alertou seus colegas para que não fossem “porventura, achados lutando contra Deus” (Atos 5.39). Não criemos resistência ao derramamento do Espírito Santo por causa de inércia em lugar da evangelização, preconceito em lugar da inclusão, ou sectarismo em lugar da comunhão.


 


(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://conexaoplaneta.com.br/blog/tag/quarentena/ Acesso em. 22 mar.2020.


(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.