domingo, 3 de maio de 2020

Os poderes que nos regem (Atos 4.5-14)

Neste tempo de quarentena, em que chovem opiniões e teorias de conspirações, ficamos, muitas vezes, sem saber o que é correto, ainda mais quando testemunhamos os conflitos constantes entre poderes executivos federais, estaduais e municipais, que vez ou outra acabam entrando em choque também com legislativo e judiciário.


Em nossa cidade, já foi permitido que as igrejas voltem a realizar cultos, desde que obedeçam às recomendações de distanciamento mínimo, entre outras, mas ainda assim existe muito temor com respeito à contaminação do vírus, de forma que vemos que as coisas não voltarão ao normal tão cedo.


Neste parágrafo de Atos 4.5-14, podemos perceber que também os apóstolos se veem envolvidos em um conflito entre poderes.


Primeiro vemos, nos versículos 5 a 7, o que podemos chamar de poder político, representado pelas “autoridades, os anciãos e os escribas com o sumo sacerdote Anás, Caifás, João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote”. Estes eram homens poderosos em seu tempo, e seu poder havia sido conquistado com muito esforço. Era necessário clamarem seus direitos por hereditariedade, e o reconhecimento dos poderes políticos dos dominadores romanos. Sobre estas autoridades, R David Jones[1] comenta que:


Anás era sumo-sacerdote, posição vitalícia segundo a lei mosaica (Números 35:25), mas as autoridades romanas nomearam seu genro Caifás para tomar o seu lugar no ano 14 A.D., após apenas 7 anos. Supõe-se que João era filho de Anás, e Alexandre era um homem de destaque naquele tempo, segundo o historiador Josefo. Os outros, que “eram da linhagem do sumo sacerdote”, desejando continuar em seu agrado, decerto iriam aprovar o que ele determinasse.


As autoridades políticas constituídas em nossa sociedade são, geralmente, legítimas, tanto que a Bíblia nos ensina a respeitá-las, conforme Romanos 13.1: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas”.


Por trás do poder político, porém, pode atuar o mundo espiritual, conforme nos dá a entender Efésios 2.2, quando predominam os pecados “[...]  nos quais andastes outrora, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência”.


Depois, nos versículos 8 a 12, o poder que fica em destaque é o poder divino, pois Pedro não falava com a autoridade de um político, mas sim pelo poder do Espírito Santo. A coragem e a clareza na resposta de Pedro ao sumo sacerdote e demais autoridades, lembra o que Jesus garantiu aos seus discípulos, ao falar das tribulações do fim dos tempos, em Lucas 21.15: “porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem”.


Em resposta à interpelação a respeito da cura maravilhosa daquele coxo de nascença, que antes mendigava à porta do templo, ele declarou com firmeza: “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós”. E ainda avisou: “este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.


Por último, nos versículos 13 e 14, entra em cena o poder das evidências. As autoridades, sabendo que os discípulos “eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus”. Além do mais, “vendo com eles o homem que fora curado, nada tinham que dizer em contrário”.


Homens iletrados discursando à altura de autoridades políticas, um aleijado de nascença curado diante de milhares de pessoas, eram evidências de que a mão do Jesus Ressuscitado estava agindo e, para não despertar a revolta do povo, as autoridades nada mais podiam fazer naquela hora, senão ameaçar e depois libertar os discípulos.


Os que desejam argumentar contra a verdade, sabem que têm uma dificílima missão de esconder os fatos. Foi isto o que estas mesmas autoridades tentaram fazer, quando subornaram os guardas do sepulcro para mentirem, dizendo que, enquanto adormeceram, os discípulos roubaram o corpo de Jesus (Mateus 28.11-15). A ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, até hoje, encontra quem a negue, assim como há quem negue que a terra seja redonda, mas, contra as evidências, não adiantam argumentos.


Há quem insista em argumentar com palavras bonitas, utilizando frases de efeito ou bravatas, mas Pedro podia dispensar estes artifícios. O homem que nasceu aleijado, que esmolava à porta do Templo, a estimados quarenta anos, ali estava diante dos olhos de todo o povo, e ninguém podia negar que um milagre havia sido feito, dando autoridade ao discurso dos apóstolos.


As pessoas nem sempre precisam de milagres; às vezes, bastam pequenos gestos, para se conquistar a credibilidade. Quando Tiago discute com os judeus da dispersão, a respeito da importância das obras no processo da salvação, ele faz um desafio: “mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tiago 2.18). João, falando do amor em ação, faz um apelo aos seus filhinhos: “não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1ª João 3.18).


É por isto que, consciente ou inconscientemente, as evidências estão entre os poderes que nos regem, mesmo que mil palavras eloquentes tentem desviar a nossa atenção da verdade dos fatos.


Conclusão


Há poderes que nos regem e, cedendo a estes poderes, vamos tomando decisões ao longo de nossas vidas. Pode ser o respeito aos que detêm o poder político, o temor a Deus, o medo de um vírus que, evidentemente, está rondando do lado de fora, procurando alguém para contaminar.


Quando estes poderes estão em harmonia, é mais fácil viver. Quando entram em conflito, porém, seja entre si, seja com outros poderes que regem o nosso coração, só é possível prosseguir se tomarmos uma firme posição. Foi assim com Pedro e João que, neste caso, foram obrigados a confrontar o poder político, levando as autoridades, contra a sua natureza, a se submeterem ao poder divino e ao poder das evidências.


Ditas estas coisas, tenho duas perguntas a te fazer, caro leitor: quais poderes estão regendo a tua vida? Há conflitos entre estes poderes? Provavelmente você, como eu, está seguindo, neste momento, as recomendações das autoridades em saúde, para evitar a contaminação da Covid-19. Mas eu te convido a refletir, também, sobre a necessidade de se proteger, por meio da confissão de fé e da submissão ao nome do Senhor Jesus Cristo, de um perigo infinitamente maior, cujas consequências são eternas, pois, conforme alertou o apóstolo Pedro, “não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.


Artigo elaborado por Arildo Louzano da Silveira. S.J.Rio Preto, maio de 2020.


 



[1] JONES, R David. Pedro e João Perante o Sinédrio. Site Fatos Bíblicos. Disponível em: http://www.bible-facts.info/comentarios/nt/pedroejoaoperanteosinedrio.htm?LMCL=iXdYQ9 Acesso em 19 abr. 2020.


(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://escolakids.uol.com.br/geografia/o-estado-e-os-tres-poderes.htm Acesso em 03 maio 2020.


(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280 p.


 

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