quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Gratidão (Atos 14.8-18)

Na próxima quinta-feira, dia 26/11, será feriado nos EUA. Podia ser aqui também, não é? A Black Friday teria mais sentido para nós. Assisti um vídeo engraçado falando que aqui é dia de ação. De graça, só nos EUA. Seria importante que houvesse o feriado, não somente para motivar o comércio, fazer circular o dinheiro, mas principalmente para termos um dia especial para dar graças a Deus por tudo que nos tem dado.

Se prestarmos atenção veremos que muitas de nossas atitudes podem revelar gratidão ou ingratidão para com Deus. Baseando-me neste parágrafo de Atos, eu proponho uma comparação da população da cidade de Listra com a nossa própria realidade, para verificar se temos sido gratos ou ingratos para com Deus. Existem pelo menos três atitudes que podem indicar que estamos indo no sentido da ingratidão.

Andar com nossas próprias pernas (8-10)

Em Listra, costumava estar assentado certo homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar. Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava.

Notemos que o autor sagrado enfatiza o fato de que o homem era totalmente incapaz, desde o nascimento, jamais pudera andar antes. Vamos comparar esta situação com a nossa necessidade de salvação espiritual. A Bíblia diz que todos pecamos e carecemos da glória de Deus (Romanos 3.23), que “não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque” (Eclesiastes 7.20). Se alguém reconhece que esta é a sua situação espiritual, e busca o favor de Deus, assim como aquele homem aleijado se assentava no caminho, esperando alguém que o pudesse ajudar, poderá se deparar com Cristo “fixando nele os olhos” e vendo que possui fé para ser salvo, “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2.8).

Se, por outro lado, alguém não reconhece a sua incapacidade espiritual de alcançar a sua própria salvação, é bem provável que acabará como os homens “[...] egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes”, de que fala 2ª Timóteo 3.2, pois a nossa salvação depende, em primeiro lugar, de reconhecermos que não somos capazes de “andar com nossas próprias pernas” no que se refere a uma vida que agrada a Deus, e é por isso que Jesus morreu na cruz, para pagar os nossos pecados e possibilitar o nosso acesso ao Pai.

As expressões artísticas que produzimos são bem reveladoras quanto à nossa maneira de encarar a vida. Eu me lembro, com muita saudade, de um “jingle” chamado “Quero ver você não chorar” que, segundo Dalmir Reis Júnior [1], foi

[...] criado para uma campanha de Natal do finado Banco Nacional. Lula Vieira, diretor do comercial original, de 1971, chamou o amigo Edson Borges de Abrantes, vulgo Passarinho, grande parceiro de Dolores Duran, para compor a trilha sonora da propaganda. Edson adaptou uma composição originalmente feita para seu grupo, “Os Titulares do Ritmo”.  Confira a letra e acompanhe o ritmo.

Quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz; Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer você resistir e sorrir; Se você pode ser assim, tão enorme assim eu vou crer; Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor; Bom Natal, um Feliz Natal, muito amor e paz pra você; Pra você…

Músicas como esta têm feito sucesso por décadas, pois tudo parece se harmonizar perfeitamente: a mensagem de esperança que transmite, a melodia, a métrica e as rimas. Para quem viveu aquele tempo, como eu, esta música dificilmente sairá da memória. Só uma coisinha sempre me incomodou na letra, é o apelo para não se arrepender do que faz. Como poderia ser assim, se o arrependimento é justamente um dos primeiros passos para se alcançar uma vida eterna de felicidade real com o nosso Senhor Jesus Cristo? E olha que estamos falando de uma música de Natal, que comemora o nascimento daquele que veio para mudar o trágico destino que nos aguardava por causa dos nossos pecados, dos quais precisamos nos arrepender, em primeiro lugar.

Em nossos momentos tristes, e também nos mais felizes, reconheçamos que, espiritualmente falando, jamais poderíamos “andar com nossas próprias pernas”, e sejamos gratos ao Senhor que nos providenciou salvação sem considerar nossos eventuais méritos (ou a falta deles).

Andar com nosso próprio entendimento (11-13)

Quando as multidões viram o que Paulo fizera, gritaram em língua licaônica, dizendo: Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós. A Barnabé chamavam Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque era este o principal portador da palavra. O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trazendo para junto das portas touros e grinaldas, queria sacrificar juntamente com as multidões.

A mitologia tem sido estudada há milênios, por pesquisadores como Lucas Henrique[2] que, em seu artigo nos informa o seguinte:

Júpiter (do latim Iuppiter) representava o deus do dia, sendo o maior de todos os deuses. É, na verdade, o equivalente romano do deus grego Zeus. Nesta acepção, Júpiter é também referenciado como Jove (do latim Jovis). [...] Júpiter é o maior planeta do sistema solar e o quinto em ordem de afastamento do Sol [...]. O planeta tem cerca de 318 vezes a massa da Terra [...] Júpiter tem quase 12 vezes o diâmetro da Terra e, se fosse oco, caberiam em seu interior cerca de 1300 planetas do tamanho do nosso. [...] Se vivêssemos em Júpiter, nosso dia teria pouco menos de 10 horas! Em compensação, só faríamos aniversário de 12 em 12 anos, aproximadamente.

Já sobre o outro deus que foi citado no texto bíblico, a Wikipédia[3] diz que,

Na mitologia romana, Mercúrio (associado ao deus grego Hermes) é um mensageiro e deus da venda, lucro e comércio, o filho de Maia Maiestas, também conhecida como Ops, a versão romana de Reia, e Júpiter. Seu nome é relacionado à palavra latina merx ("mercadoria"; comparado a mercador, comércio). [...] Mercúrio é o deus romano encarregado de levar as mensagens de Júpiter [...] É o deus da eloquência, do comércio, dos viajantes e dos ladrões, a personificação da inteligência.

Lemos ainda no site “Sua Pesquisa”[4], sobre planeta Mercúrio, em si, que

A primeira observação deste planeta, através de telescópio, foi realizada em 1610 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei. [...] - Mercúrio é o menor planeta do Sistema Solar (40% menor do que o planeta Terra). - O diâmetro equatorial de Mercúrio é de 4.879,4 km. [...]- O período de rotação (duração do dia) de Mercúrio é de 58 dias e 15.5 horas terrestres. - Em função de sua proximidade do Sol, este planeta apresenta temperaturas altíssimas. A temperatura média na superfície de Mercúrio é de 126°C, podendo chegar na máxima de 425°C.

Com certeza, há muitas coisas interessantes que se pode conhecer a respeito da astronomia associada à mitologia. Em nossa sociedade, existem muitas celebridades que não escondem sua simpatia e até devoção pelos deuses, tanto da antiga mitologia grega e romana quanto dos atuais países orientais.

As pessoas na multidão de Listra estavam bem informadas sobre a mitologia, pois atribuíram a identidade de Júpiter a Barnabé, e a de Mercúrio a Paulo. Mercúrio era, segundo a mitologia, o principal portador da palavra e Paulo, de fato, era o mais falador. O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava bem em frente à cidade, providenciou touros e grinaldas para sacrificar aos “deuses” missionários, tudo conforme seu grande entendimento litúrgico.

Bem perto de atitudes assim estão os próprios crentes que, deixando de lado as instruções e os princípios bíblicos criam suas próprias crendices, e em geral vão caindo nas mãos de falsos mestres.

Ouvi recentemente de uma pessoa, membro de uma igreja muito boa, tradicional, que, impossibilitada de ir à igreja, resolveu assistir a uma pregação na televisão. Na hora da oração, o pregador disse que ia orar pelos doentes que estavam assistindo à transmissão. Então ela, com fé, fechou os olhos e orou junto. Ela deu testemunho de que, depois dessa oração, nunca mais teve um determinado problema de saúde que, naquele momento, pediu a Deus que a curasse. Até aí tudo certo. O problema foi que ela, em vez de atribuir a glória a Deus, atribuiu o prodígio ao pregador, e o chamou de “homem abençoado”. Eu já ouvi várias vezes esse pregador e desconfio que não é totalmente sincero, que tem se enriquecido indevidamente em nome da fé que proclama. É notório que sua igreja movimenta muitos milhões de reais todos os meses, e que ele sempre está pedindo mais dinheiro.

É assim que, caminhando com o seu próprio entendimento, a humanidade em geral vai seguindo, ignorando os princípios, os preceitos e o próprio Deus que se revelou na Bíblia. Se, ao contrário, quisermos mostrar gratidão, sigamos o conselho do Provérbio 3.5: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”.

Andar com nossos próprios recursos (14-18)

Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando:  Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos;  contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. Dizendo isto, foi ainda com dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios.

Barnabé e Paulo reagiram dramaticamente às intenções dos moradores de Listra, e apelaram para a sua consciência, lembrando que estavam ali para anunciar a necessidade deles se converterem destas coisas ao “Deus vivo, que que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles”. Nas gerações passadas, Deus “permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos” mas, em sua graça, “não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem”,  dando do céu chuvas e estações frutíferas a todos, enchendo o coração dos homens de fartura e de alegria.

Nós aceitamos, de fato, com muita alegria as bênçãos que Deus nos dá fartamente através das coisas que foram criadas, aproveitando o máximo que podemos. Existe uma “contabilidade” feita por uma organização chamada Global Footprint Network (GFN)[5], que em 2017 apontou a seguinte situação:

A demanda da população mundial por recursos da natureza extrapolou nesta quarta-feira (2) – cinco meses antes de 2017 terminar - a capacidade do planeta de se regenerar durante o período de um ano, o que torna hoje o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day). Calculada desde 2000, a data acontece mais cedo a cada ano (menos nas passagens entre 2007 e 2008 e entre 2008 e 2009). Esse fato indica que o aumento no consumo dos recursos naturais ocorre com maior velocidade que a capacidade de regeneração do planeta. No ano passado, o Dia da Sobrecarga da Terra caiu em 8 de agosto. Há 17 anos, na primeira medição oficial, o esgotamento dos recursos naturais foi registrado em 4 de outubro. O cálculo do Dia da Sobrecarga da Terra é feito pela Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa internacional que calcula a chamada “pegada ecológica” para medir os impactos do consumo humano sobre os recursos naturais.  O Dia da Sobrecarga indica que a humanidade entrou em uma espécie de 'cheque especial' dos recursos naturais, pois já utilizou o orçamento ambiental do planeta Terra para todo o ano. Atualmente, segundo os cálculos da GFN, a humanidade precisa de 1,6 planeta para atender seu consumo.

Apesar de os homens se alegrarem e até extrapolarem a utilização dos recursos dados por Deus, em geral não têm agradecido suficientemente, pois, como diz Romanos 1.21-23,

[...] tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.

Com este tipo de atitude, ignorando o Criador e exaltando as criaturas, os homens agem como se acreditassem que os recursos da natureza, da vida, da capacidade de superação de doenças e de catástrofes naturais são seus próprios recursos, e não de Deus.

Conclusão

Sejamos gratos a Deus, independentemente de termos um feriado, ou uma legítima Black Friday. A gratidão depende, sim, de reconhecermos que somos incapazes de andar como nossas próprias pernas, com nosso próprio entendimento, ou com nossos próprios recursos. Precisamos crer em Jesus para sermos salvos. Não somos tão inteligentes quanto pensamos, precisamos estudar mais a Palavra de Deus para aprendermos o que é certo e o que é errado, e quais são os caminhos de Deus para nós. Precisamos reconhecer que não somos sustentáveis sem a provisão diária e graciosa de Deus, dos recursos que ele nos dá por sua bondade, e um dia ele pode decidir não dar mais. Não somos merecedores da riqueza, da posição, da honra que recebemos. Deus nos dá para que não fiquemos sem testemunho de que ele é bom, e que deseja que nós nos arrependamos dos nossos pecados para recebermos a salvação. Sejamos gratos!

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, novembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://escolaeducacao.com.br/thanksgiving-o-que-e-traducao-historia-e-origem/ Acesso em.  19 nov. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


[1] REIS JR, Dalmir.Banco Nacional (Natal) – 1987. Site Propagandas Históricas. Disponível em: http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/06/banco-nacional-natal-1985.html Acesso em 26 nov. 2017.

[2] HENRIQUE, Lucas. Revelando Júpiter: os segredos de um gigante. Caeté, MG: UFMG/Observatório astronômico Frei Rosário, 2008. Disponível em: http://www.observatorio.ufmg.br/dicas09.htm Acesso em 23 nov. 2017.

[3] Mercúrio (mitologia). Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Merc%C3%BArio_(mitologia) Acesso em 23 nov. 2017.

[4] Planeta Mercúrio. Sua Pesquisa.com. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/astronomia/planeta_mercurio.htm Acesso em 23 nov. 2017.

[5]GITEL, Murilo. Planeta entra hoje no 'cheque especial' dos recursos naturais. Correio - Jornal online. Salvador, 02/08/2017. Disponível em: http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/planeta-entra-hoje-no-cheque-especial-dos-recursos-naturais/  Acesso em 26 nov. 2017.

 

 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Evangelização bem-sucedida (Atos 14.1-7)

Em 1974, líderes evangélicos de 150 países se reuniram num congresso em Lausanne, Suíça e, no final, assinaram um pacto[1]. Entre as declarações desse famoso pacto, estavam as seguintes:

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. [...] Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim.

O povo de Deus tem evangelizado, desde antes dos apóstolos, e ainda em nossos dias, aguardando a volta de Cristo. Os primeiros evangelistas tiveram grande sucesso no seu trabalho evangelístico e, analisando este parágrafo de Atos 14.1-7, podemos apontar pelo menos três fatores que contribuíram para o seu sucesso na evangelização.

Sabedoria (1,2)

“Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos”.

O primeiro fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a sabedoria com que falavam, o que tornava a mensagem eficiente. Lemos no versículo primeiro que eles falaram “de tal modo” que veio a crer grande multidão.

Quando eu fazia o curso de evangelização pessoal do IBE (Instituto Bíblico de Evangelização), fiquei impressionado com o testemunho do professor, quando compartilhou que havia falado de Cristo para um homem no ônibus, e que no começo estava difícil, pois teve que ficar “puxando assunto” de forma variada, até encontrar um tema que o homem gostava e, por meio desse tema, introduzir o assunto da necessidade de salvação em Cristo. Noutra ocasião, na mesma viagem, estava conversando com alguém que acabara de conhecer numa padaria e, antes de tomar o café da manhã, pediu licença e fez uma pausa para orar silenciosamente, agradecendo a Deus pela refeição. Isto também foi uma porta de entrada para evangelizar, pois o interlocutor ficou curioso com a atitude do professor e perguntou se ele era crente, seguindo-se uma boa e frutífera conversa sobre assuntos bíblicos.

Aprendi, também, na Faculdade Teológica ABECAR, a importância de se valer das técnicas de oratória para apresentar os sermões nas igrejas. Desde então eu procuro usar tudo o que aprendi. Nem sempre, porém, a sabedoria acadêmica é a mais eficiente. Veja o caso do grande pregador Spurgeon, que se converteu numa igreja metodista, num culto que assistiu por acaso, apenas porque estava fugindo da nevasca do lado de fora. Li na Wikipédia[2] que, naquele dia,

[...] sem pregador para ministrar a Palavra, um simples ministro intinerante chamado Robert Eaglen, em missão pela região de Colchester entre 1850-1851 [1], nesse dia, subiu ao púlpito, mesmo sem grande habilidade de orador, e repetiu nervosa e constantemente o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Depois de certo tempo, apelou aos presentes que olhassem para Jesus Cristo. Spurgeon olhou para Jesus com fé e arrependimento, tendo Ele como seu Salvador e substituto, e foi salvo.

Surpreendentemente, o grande Spurgeon que, com seu imenso esforço, talento e sabedoria para pregar, veio a ser conhecido como o príncipe dos pregadores, fora salvo porque ouvira uma pregação de um homem que não tinha nenhuma habilidade, em seu simples apelo evangelístico, mas movido pela sabedoria infinita de Deus.

Firmeza (3)

“Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios”.

O segundo fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a firmeza ou, como diz a tradução do versículo três, a ousadia com que falavam, demonstrando coragem e poder.

Quando eu trabalhava num grande banco, me sentia com muito “poder de fogo” para fazer os meus colegas e, muitas vezes, os meus chefes, se lembrarem de que não podiam deixar de cumprir certas regras. Eu tinha este poder por causa de meu preparo, com um vasto conhecimento dos normativos divulgados pela empresa. Todos tinham acesso a esses normativos, mas poucos liam, pelo que se sentiam inseguros, temendo infringir alguma regra importante nos contratos vultosos de financiamento. Mas quando me ouviam falar com firmeza sobre o que estava escrito nas regras oficiais, ficavam mais tranquilos, pois reconheciam o meu domínio sobre o assunto. Semelhantemente, aos 21 anos, pouco antes de me converter, tomei uma decisão: conhecer bastante a Bíblia para poder aconselhar melhor as pessoas que me falavam de seus diversos problemas, e assim poder dar a minha opinião com firmeza.

O texto bíblico diz que, enquanto Paulo falava sobre o Senhor, este mesmo confirmara a palavra da pregação através de sinais e prodígios. Isto porque a pregação, para ter valor, precisa ser confirmada pelo Senhor, senão, serão somente palavras vazias. Hoje não temos visto muitos milagres, mas, mesmo assim, a palavra que se prega, especialmente nos púlpitos, precisa ser de tal forma fiel à mensagem do Senhor, que ele a confirmará. Quantas vezes falamos, no calor da pregação, que determinadas práticas são pecado, e quem as está praticando serão castigadas, mas o castigo não vem. Quantas vezes insistimos que, se alguém não deixa de fazer devocional, se ora e lê a Bíblia regularmente, encontrará poder para vencer o pecado, e sua vida será abençoada, mas isso aparentemente não acontece. Não podemos dizer que o Senhor vai dar o que ele não prometeu. Não podemos ameaçar com ameaças que não vêm do Senhor.

Os apóstolos tinham o poder de prodígios e milagres. Mas nós, os pregadores da atualidade, temos recursos que nos permitem o privilégio de estudar exaustivamente as Escrituras, para que possamos falar com firmeza. O nosso “poder de fogo” consiste em estarmos munidos da Palavra de Deus.

Boa vontade (4-7)

“Mas dividiu-se o povo da cidade: uns eram pelos judeus; outros, pelos apóstolos. E, como surgisse um tumulto dos gentios e judeus, associados com as suas autoridades, para os ultrajar e apedrejar, sabendo-o eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia e circunvizinhança, onde anunciaram o evangelho”.

O terceiro fator que contribuiu para o sucesso da pregação evangelística dos apóstolos foi a sua boa vontade, que os levava a falar em qualquer oportunidade. Eles tiveram que fugir de Icônio para outras cidades, evitando serem apedrejados, e ali já chegaram anunciando o evangelho.

Quando a amada missionária, carinhosamente conhecida em nossa igreja com “tia Ginny”, ficou gravemente doente, ela e o Pastor Alden, seu marido, oraram para que esta situação, embora muito triste e desesperadora para alguns, se tornasse uma oportunidade para ganhar pessoas para Cristo. Hoje, muitas pessoas ouvem o evangelho através da pregação fiel do Pastor Alden, em suas frequentes visitas ao túmulo da amada esposa, ou no caminho do cemitério que se tornou, desde então, o seu principal campo missionário, por causa de sua boa vontade em evangelizar em qualquer oportunidade que se apresente, nos funerais, entre os funcionários, entre aqueles que, como ele, vão visitar os túmulos de seus queridos que deixaram saudades.

Um dia, quando eu era um jovem carteiro, cheio de boa vontade para falar o evangelho, estava andando muito rápido, quase correndo, para entregar as correspondências. Meus olhos estavam baixos, pois enquanto andava eu lia os endereços das cartas. Havia um carro parado em frente a uma loja de ferramentas, com barras de ferro amarradas em cima, no bagageiro. Sem perceber o perigo, me aproximei a toda velocidade, batendo com a boca numa daquelas barras, fazendo um corte profundo nos lábios. Um funcionário da loja me levou para o hospital, onde deram três pontos. Enquanto aguardava o curativo, sentado na maca, havia um médico próximo, me lembrei do testemunho do professor de evangelização pessoal, e eu vi que era uma oportunidade para falar de Cristo. Comecei a conversa dizendo: “eu acho que Deus teve um propósito para que isso acontecesse comigo (...)”. Ao que o médico respondeu: “Eu também acho. Acho que o propósito dele era te ensinar a não andar correndo na rua de cabeça baixa”. Minha vontade de falar de Cristo para ele terminou ali. Mas hoje eu entendo que poderia ter entrado na brincadeira, e ainda falar-lhe de Cristo.

Conclusão

Assim como os apóstolos tiveram grande sucesso na evangelização, nós também podemos ser bem sucedidos, pedindo a Deus e nos esforçando para que estes três fatores que contribuíram para o sucesso da pregação evangelística estejam presentes também em nós. Peçamos a Deus e busquemos:

  • Sabedoria para falar de maneira eficiente;
  • Firmeza no falar, respaldados pelo conhecimento profundo das Escrituras;
  • Boa vontade para falar enquanto há oportunidades.

 

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, novembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://enfoquebiblico.com.br/como-pregar-pela-primeira-vez/ Acesso em. 10 nov. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

 


[1] Pacto de Lausanne, Suíça, 1974. Pontos 10 e 15. Disponível em: https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausanne-pt-br/pacto-de-lausanne Acesso em 28 out. 2017.

[2] Charles Spurgeon. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon Acesso em 28 out. 2017. O artigo cita como fontes as obras: Biografia de Carlos H. Spurgeon, por Alfredo S. Rodríguez y García, Cuba, 1930; Charles Haddon Spurgeon, A Biography, by W.Y.Fullerton. Charles Spurgeon (em inglês) no Find a Grave.