O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. [...] Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim.
O povo de Deus tem evangelizado, desde antes dos apóstolos, e ainda em nossos dias, aguardando a volta de Cristo. Os primeiros evangelistas tiveram grande sucesso no seu trabalho evangelístico e, analisando este parágrafo de Atos 14.1-7, podemos apontar pelo menos três fatores que contribuíram para o seu sucesso na evangelização.
Sabedoria (1,2)
“Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos”.
O primeiro fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a sabedoria com que falavam, o que tornava a mensagem eficiente. Lemos no versículo primeiro que eles falaram “de tal modo” que veio a crer grande multidão.
Quando eu fazia o curso de evangelização pessoal do IBE (Instituto Bíblico de Evangelização), fiquei impressionado com o testemunho do professor, quando compartilhou que havia falado de Cristo para um homem no ônibus, e que no começo estava difícil, pois teve que ficar “puxando assunto” de forma variada, até encontrar um tema que o homem gostava e, por meio desse tema, introduzir o assunto da necessidade de salvação em Cristo. Noutra ocasião, na mesma viagem, estava conversando com alguém que acabara de conhecer numa padaria e, antes de tomar o café da manhã, pediu licença e fez uma pausa para orar silenciosamente, agradecendo a Deus pela refeição. Isto também foi uma porta de entrada para evangelizar, pois o interlocutor ficou curioso com a atitude do professor e perguntou se ele era crente, seguindo-se uma boa e frutífera conversa sobre assuntos bíblicos.
Aprendi, também, na Faculdade Teológica ABECAR, a importância de se valer das técnicas de oratória para apresentar os sermões nas igrejas. Desde então eu procuro usar tudo o que aprendi. Nem sempre, porém, a sabedoria acadêmica é a mais eficiente. Veja o caso do grande pregador Spurgeon, que se converteu numa igreja metodista, num culto que assistiu por acaso, apenas porque estava fugindo da nevasca do lado de fora. Li na Wikipédia[2] que, naquele dia,
[...] sem pregador para ministrar a Palavra, um simples ministro intinerante chamado Robert Eaglen, em missão pela região de Colchester entre 1850-1851 [1], nesse dia, subiu ao púlpito, mesmo sem grande habilidade de orador, e repetiu nervosa e constantemente o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Depois de certo tempo, apelou aos presentes que olhassem para Jesus Cristo. Spurgeon olhou para Jesus com fé e arrependimento, tendo Ele como seu Salvador e substituto, e foi salvo.
Surpreendentemente, o grande Spurgeon que, com seu imenso esforço, talento e sabedoria para pregar, veio a ser conhecido como o príncipe dos pregadores, fora salvo porque ouvira uma pregação de um homem que não tinha nenhuma habilidade, em seu simples apelo evangelístico, mas movido pela sabedoria infinita de Deus.
Firmeza (3)
“Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios”.
O segundo fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a firmeza ou, como diz a tradução do versículo três, a ousadia com que falavam, demonstrando coragem e poder.
Quando eu trabalhava num grande banco, me sentia com muito “poder de fogo” para fazer os meus colegas e, muitas vezes, os meus chefes, se lembrarem de que não podiam deixar de cumprir certas regras. Eu tinha este poder por causa de meu preparo, com um vasto conhecimento dos normativos divulgados pela empresa. Todos tinham acesso a esses normativos, mas poucos liam, pelo que se sentiam inseguros, temendo infringir alguma regra importante nos contratos vultosos de financiamento. Mas quando me ouviam falar com firmeza sobre o que estava escrito nas regras oficiais, ficavam mais tranquilos, pois reconheciam o meu domínio sobre o assunto. Semelhantemente, aos 21 anos, pouco antes de me converter, tomei uma decisão: conhecer bastante a Bíblia para poder aconselhar melhor as pessoas que me falavam de seus diversos problemas, e assim poder dar a minha opinião com firmeza.
O texto bíblico diz que, enquanto Paulo falava sobre o Senhor, este mesmo confirmara a palavra da pregação através de sinais e prodígios. Isto porque a pregação, para ter valor, precisa ser confirmada pelo Senhor, senão, serão somente palavras vazias. Hoje não temos visto muitos milagres, mas, mesmo assim, a palavra que se prega, especialmente nos púlpitos, precisa ser de tal forma fiel à mensagem do Senhor, que ele a confirmará. Quantas vezes falamos, no calor da pregação, que determinadas práticas são pecado, e quem as está praticando serão castigadas, mas o castigo não vem. Quantas vezes insistimos que, se alguém não deixa de fazer devocional, se ora e lê a Bíblia regularmente, encontrará poder para vencer o pecado, e sua vida será abençoada, mas isso aparentemente não acontece. Não podemos dizer que o Senhor vai dar o que ele não prometeu. Não podemos ameaçar com ameaças que não vêm do Senhor.
Os apóstolos tinham o poder de prodígios e milagres. Mas nós, os pregadores da atualidade, temos recursos que nos permitem o privilégio de estudar exaustivamente as Escrituras, para que possamos falar com firmeza. O nosso “poder de fogo” consiste em estarmos munidos da Palavra de Deus.
Boa vontade (4-7)
“Mas dividiu-se o povo da cidade: uns eram pelos judeus; outros, pelos apóstolos. E, como surgisse um tumulto dos gentios e judeus, associados com as suas autoridades, para os ultrajar e apedrejar, sabendo-o eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia e circunvizinhança, onde anunciaram o evangelho”.
O terceiro fator que contribuiu para o sucesso da pregação evangelística dos apóstolos foi a sua boa vontade, que os levava a falar em qualquer oportunidade. Eles tiveram que fugir de Icônio para outras cidades, evitando serem apedrejados, e ali já chegaram anunciando o evangelho.
Quando a amada missionária, carinhosamente conhecida em nossa igreja com “tia Ginny”, ficou gravemente doente, ela e o Pastor Alden, seu marido, oraram para que esta situação, embora muito triste e desesperadora para alguns, se tornasse uma oportunidade para ganhar pessoas para Cristo. Hoje, muitas pessoas ouvem o evangelho através da pregação fiel do Pastor Alden, em suas frequentes visitas ao túmulo da amada esposa, ou no caminho do cemitério que se tornou, desde então, o seu principal campo missionário, por causa de sua boa vontade em evangelizar em qualquer oportunidade que se apresente, nos funerais, entre os funcionários, entre aqueles que, como ele, vão visitar os túmulos de seus queridos que deixaram saudades.
Um dia, quando eu era um jovem carteiro, cheio de boa vontade para falar o evangelho, estava andando muito rápido, quase correndo, para entregar as correspondências. Meus olhos estavam baixos, pois enquanto andava eu lia os endereços das cartas. Havia um carro parado em frente a uma loja de ferramentas, com barras de ferro amarradas em cima, no bagageiro. Sem perceber o perigo, me aproximei a toda velocidade, batendo com a boca numa daquelas barras, fazendo um corte profundo nos lábios. Um funcionário da loja me levou para o hospital, onde deram três pontos. Enquanto aguardava o curativo, sentado na maca, havia um médico próximo, me lembrei do testemunho do professor de evangelização pessoal, e eu vi que era uma oportunidade para falar de Cristo. Comecei a conversa dizendo: “eu acho que Deus teve um propósito para que isso acontecesse comigo (...)”. Ao que o médico respondeu: “Eu também acho. Acho que o propósito dele era te ensinar a não andar correndo na rua de cabeça baixa”. Minha vontade de falar de Cristo para ele terminou ali. Mas hoje eu entendo que poderia ter entrado na brincadeira, e ainda falar-lhe de Cristo.
Conclusão
Assim como os apóstolos tiveram grande sucesso na evangelização, nós também podemos ser bem sucedidos, pedindo a Deus e nos esforçando para que estes três fatores que contribuíram para o sucesso da pregação evangelística estejam presentes também em nós. Peçamos a Deus e busquemos:
- Sabedoria para falar de maneira eficiente;
- Firmeza no falar, respaldados pelo conhecimento profundo das Escrituras;
- Boa vontade para falar enquanto há oportunidades.
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, novembro de 2020.
(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://enfoquebiblico.com.br/como-pregar-pela-primeira-vez/ Acesso em. 10 nov. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
[1] Pacto de Lausanne, Suíça, 1974. Pontos 10 e 15. Disponível em: https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausanne-pt-br/pacto-de-lausanne Acesso em 28 out. 2017.
[2] Charles Spurgeon. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon Acesso em 28 out. 2017. O artigo cita como fontes as obras: Biografia de Carlos H. Spurgeon, por Alfredo S. Rodríguez y García, Cuba, 1930; Charles Haddon Spurgeon, A Biography, by W.Y.Fullerton. Charles Spurgeon (em inglês) no Find a Grave.
Estimado pastor, muito boa a crônica sobre missões e evangelismo. Ontem mesmo consegui com a graça de Deus levar a Cristo a un senhor que estava no pequeno restaurante onde almocei. Glória a Deus pelo que o pastor escreve. Um abraço na distância. Saludos y bendiciones desde Valparaíso - Chile
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