Todas as pessoas que eu conheço falam da vida como algo a ser preservado. Todos gostariam de ter uma vida longa desde que tenham saúde, é claro. A principal aliada nesta busca por uma vida longa e saudável é a medicina, que tem alcançado considerável progresso nesta missão, especialmente nos últimos séculos. Qual será o limite, afinal, para prolongar a vida humana através dos recursos da medicina? Uma matéria da revista Super Interessante[1], em 2005, conta que
O biogerontologista inglês Aubrey de Grey está convencido de que o envelhecimento é um processo biológico que pode perfeitamente vir a ser controlado, da mesma forma que a ciência já conseguiu combater muitas doenças que antes eram tidas como incuráveis. [...]. [...] Para estimular as pesquisas sobre a longevidade, De Grey criou há alguns anos a Fundação Matusalém. [...] E, aplicando-se o conhecimento adquirido com essas experiências, até 2030 já será possível aumentar a expectativa de vida do homem para algo em torno de 130 anos – quase o dobro da média mundial atual. [...] Sobre o assunto, cientistas reunidos em um painel promovido há alguns anos pela revista Scientific American não deram motivos para muito otimismo: considerando todas as conquistas iminentes, como a terapia gênica e a possibilidade de substituição de quase todos os órgãos naturais, e mesmo a hibernação humana, a expectativa de vida no planeta alcançará, quando muito, 140 anos… Em 2500!
A Bíblia acrescenta, porém, que, para ter vida longa, é preciso se submeter às leis de Deus. O ser humano sempre quis a vida para aproveitar, mas constantemente tem ignorado a presença de Deus na sua vida. Com otimismo científico poderá acreditar que viverá 130 anos, mas a Bíblia nos fala de um motivo muito maior para otimismo, pois oferece aos homens não só uma vida longa, mas a verdadeira vida eterna para aqueles que forem “dignos” dela. Este parágrafo de Atos 13.42-52 nos apresenta pelo menos quatro exigências para que alguém seja digno da vida eterna.
É preciso perseverar (42,43)
“Ao saírem eles, rogaram-lhes que, no sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas palavras. Despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, e estes, falando-lhes, os persuadiam a perseverar na graça de Deus”.
Paulo e Barnabé persuadiram os que o tinham seguido a perseverarem na graça de Deus. Sabiam que alguns creem somente por pouco tempo, e depois se desviam, como uma semente “que caiu sobre a pedra”, que, “ouvindo a palavra, a recebem com alegria”, mas “não têm raiz, creem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam” (Lucas 8.13). Estes não serão salvos, pois Jesus disse: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 10.22; 24.13). João também tinha esta consciência, pois ensinou, de modo semelhante, em 1ª João 3.6,9: “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu [...] Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”.
Mas a perseverança, por si só, não seria suficiente para se alcançar a vida eterna, pois ainda há outras exigências, como veremos a seguir.
É preciso crer (44-46)
No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios.
Paulo pregou ousadamente a palavra de Deus, mas os judeus foram rebeldes, rejeitaram a palavra, e se julgaram “indignos da vida eterna”.
Quem não crê no evangelho já está julgado (João 3.18), e a si mesmo se dá a sentença de indigno da vida eterna. Eles ouviram a palavra da salvação, mas não creram, e por isto não foram salvos. É preciso crer para ser digno da vida eterna, conforme é dito também em Romanos 10.9,10: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”; e em Efésios 2.8,9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.
John Wesley[2], dezoito dias depois de sua conversão, em 1738, pregou um sermão diante da Universidade de Oxford. Neste sermão ele rebate algumas objeções à doutrina da salvação pela fé, e num determinado ponto ele diz:
Quando nenhuma objeção ocorre, então, simplesmente nos dizem que a salvação pela fé não deveria ser pregada como primeira doutrina, ou, pelo menos, não deve ser pregada a todo o mundo. Mas o que diz o Espírito Santo? “Ninguém poderá lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Portanto, o fato que “todo aquele que nele crê será salvo” é, e deve ser, o fundamento de toda nossa pregação [...].
[....] “Está bem, mas não a todos”. A quem, então, não devemos pregar essa doutrina? Aos pobres? Não, pois eles têm um peculiar direito de ter o evangelho pregado a eles. Aos iletrados? Não. Deus revelou essas coisas aos iletrados e ignorantes desde o começo. Aos jovens? De forma alguma. Deixem que estes, de qualquer modo, venham a Cristo e não os impeçam. Aos pecadores? Aos pecadores muito menos. Ele não veio chamar justos e, sim, pecadores ao arrependimento.
Então, se vamos excluir alguns, os ricos, os letrados, os de boa fama e os homens de integridade moral. É verdade que estes, frequentemente demais, excluem a si de ouvir. Ainda assim, devemos falar as palavras de nosso Senhor, porque assim é o propósito da nossa comissão: “ide e pregai o evangelho a toda a criatura”.
Wesley se esforçou muito, dedicando a sua vida ao progresso do evangelho, pois tinha convicção de que, sem fé no verdadeiro evangelho, ninguém se tornaria digno da vida eterna. Mas ainda existem outras exigências, e veremos isto a seguir.
É preciso ser escolhido por Deus desde a eternidade (47,48)
“Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.
Alguém pode dizer: e agora? E se eu não fui escolhido por Deus? Nada do que eu faça vai mudar o que Deus determinou desde a eternidade. “Insensatos!” diria Paulo. Por acaso Deus não é eterno? Ele não é soberano? Uma coisa nós nunca vamos entender completamente, enquanto vivermos sobre a terra: o fato de que Deus não está sujeito ao nosso modo de perceber o tempo, como passado, presente e futuro.
O tempo de Deus é diferente, como costuma dizer reiteradamente o pastor de nossa igreja, em seus sermões: o nosso tempo é “cronos”, mas o tempo de Deus é “kairós”.
Deus disse a Moisés: “Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim” (Êxodo 32.33). Disse também ao anjo da igreja de Sardes: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida” (Apocalipse 3.5). No dia do fim do mundo, acontecerá que “se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida”, esse será “lançado para dentro do lago de fogo” (Apocalipse 20.15).
Ora, se Deus é eterno, se somente ele pode se chamar “Eu Sou”, o tempo decorrido desde a eternidade, quando ele escreveu em seu livro quem seriam os “eleitos”, só tem sentido para nós, humanos. Considerando que Deus não está limitado ao nosso tempo, por ser eterno, é como se ele estivesse neste momento com o livro e a caneta na mão, olhando para mim e para você. O Deus eterno, o Deus soberano, aquele que inscreve a quem quer, e risca a quem quer, está olhando para mim e para você. Supliquemos, portanto: “Senhor, escreve meu nome na tua lista, considera-me como um de seus eleitos”.
Quando falamos de Cristo para alguém, e o levamos a orar “aceitando a Cristo como seu Senhor e Salvador”, achamos que, se a pessoa orou com sinceridade e fé, Deus escreveu, naquele momento, o seu nome no livro da vida. Que nada! Estava escrito desde a eternidade, como nos afirma, por exemplo, Efésios 1.4-11:
[...] assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade.
Deus misericordioso permita que eu e você estejamos entre estes escolhidos, pois a sua vontade é soberana.
Existe ainda uma última exigência, mencionada neste parágrafo bíblico, para que alguém seja digno da vida eterna.
É preciso nascer de novo, pelo Espírito Santo (49-52)
E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. Mas os judeus instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território. E estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio. Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo.
Paulo e Barnabé foram vítimas da inveja e consequente perseguição por parte dos poderosos incrédulos, e os discípulos que creram na pregação e se converteram, certamente foram atingidos por algum tipo de discriminação e violência, mas, em vez de se lamentarem, ficaram transbordantes de alegria e do Espírito Santo. Isto é o que acontece com todo o que é nascido de novo.
Este estado de espírito pode, no entanto, ser imitado sem que o milagre do novo nascimento tenha de fato ocorrido. É possível falsificar evidências, aparentando uma perseverança na graça, uma fé piedosa, um comportamento digno de quem é eleito de Deus. Mas tudo isso pode não passar de coisas exteriores.
Janes e Jambres, tradicionalmente apontados como os magos de Faraó, que imitaram os milagres de Moisés, e que foram citados em 2ª Timóteo 3.8, são um exemplo de que grandes milagres podem ser simulados por poderes que não são do Deus verdadeiro.
Quando Nicodemos procurou Jesus, possivelmente estava vivendo uma ilusão a respeito de seu verdadeiro relacionamento com Deus, até que ouviu do Mestre: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus [...]. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3.3,6).
Para ser digno da vida eterna, é preciso nascer de novo, e assim evidenciar os frutos do Espírito, dentre os quais está a alegria (Efésios 5.22), a qual é independentemente das circunstâncias. Isto aconteceu com discípulos convertidos em Antioquia.
A alegria que vem do Espírito é um “termômetro” que mede a “temperatura” da nossa fé. Quando alguém nos prejudicar, quando alguém nos ofender, quando alguém nos deixar tristes, decepcionados, quando alguém nos perseguir, sendo nós pessoas nascidas do Espírito, lembremo-nos de que Jesus nos considera bem aventurados justamente por este motivo (Mateus 5.10,11). Então, transbordemos de alegria e do Espírito Santo!
Conclusão
Já que, como todos os seres humanos, buscamos a longevidade com saúde, além de nos valermos da medicina, lembremo-nos também de que, quando participamos da Ceia do Senhor, somos advertidos para não participar dela indignamente, sob a pena de ficarmos doentes ou até morrermos. Quando Paulo instruiu a igreja a respeito da Ceia do Senhor, ela era celebrada semanalmente, ou seja: em todos os cultos de domingo. Nós a celebramos, solenemente, uma vez por mês.
A ideia da Ceia é que nos lembremos que Jesus morreu por nós, dando seu corpo para ser crucificado, como se fosse um trigo moído num moinho, para nos dar o alimento, e por isto o seu corpo é simbolizado pelo pão; igualmente é para nos lembrarmos de que Jesus derramou o seu sangue, simbolizado pelo vinho, selando a Nova Aliança que Deus fez conosco, para nos dar a vida eterna.
Mas, embora a Ceia possa ser celebrada uma vez por mês, todo domingo, em tese, devemos nos lembrar do que ela representa. É como se, todo o domingo, no culto, celebrássemos a Ceia do Senhor. A aliança de salvação que ela representa, a lembrança da morte de nosso Senhor, deve estar presente todos os domingos. Então, ao irmos à igreja semanalmente, apropriemo-nos daquela famosa advertência de Paulo em 1ª Coríntios 11.27, para não participarmos do culto ao Senhor indignamente.
Para termos longevidade e nos mostrarmos dignos da vida eterna, compareçamos na presença do Senhor com perseverança, com uma fé piedosa, com um comportamento digno de quem é eleito de Deus, e genuinamente nascido do Espírito Santo.
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, outubro de 2020.
[1] DEMARCHI,Célia.Quem quer viver 1 000 anos? Super Interessante, 28/02/2005. Disponível em: https://super.abril.com.br/saude/quem-quer-viver-1-000-anos/ Acesso em 24 out. 2017.
[2] WESLEY, John. A Salvação pela Fé. Sermão apresentado na Universidade de Oxford, 11 de junho de 1738. Disponível em: http://www.metodista.org.br/content/interfaces/cms/userfiles/files/documentos-oficiais/SERMAO_1_A_SALVACAO_PELA_FE.pdf Acesso em 23 out. 2017.
(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.casaderepousobrilhodosol.com.br/2019/01/11/os-segredos-da-longevidade/ Acesso em 26 out. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
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