Recebi uma mensagem de um amigo, em 2017, perguntando minha opinião sobre um artigo[1], o qual dizia que o mundo ia acabar dia 23 de setembro. Como a minha formação escatológica é pré-milenista, não precisava nem ler o artigo para respondê-lo, bastou eu dar-lhe minha resposta padrão: a de que, no mínimo, o mundo iria durar até 3017 (ou 3024, se contarmos a grande tribulação), pois Jesus ainda não voltara para estabelecer o seu reino milenar literal.
As profecias chamam a atenção, empolgam multidões. Quem não gosta de presenciar acontecimentos extraordinários? Ao apresentar o evangelho aos judeus e prosélitos de Antioquia da Psídia, Paulo os faz relembrar três importantes profecias.
A Profecia da cruz (27-29)
[..] Pois os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se leem todos os sábados, quando o condenaram, cumpriram as profecias; e, embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo.
O renomado pastor Paul Washer, num sermão intitulado “A Cruz de Cristo”[2], enfatiza que a morte de Cristo não foi simplesmente a morte de um mártir, pois “Ele foi abandonado por Deus e moído debaixo da ira Dele em seu lugar”. Ele foi desamparado por Deus, conforme Marcos 15.34, onde o Senhor Jesus cita o Salmo 22, que diz nos versos 1 a 6:
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos. Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo (Salmo 22.1-6).
O sermão do pastor continua dizendo:
Jesus clama, perguntando ao Pai por que o desamparara. Esse desamparo não é simbólico nem poético. É real! [...] Nunca houve um só momento na história em que o povo pactual de Deus houvesse visto um homem justo clamando a Deus sem ser resgatado. No entanto, o Messias sem mancha dependura-se do madeiro completamente desamparado. [...] Ele tinha se convertido em um verme, e já não era homem. Por que o Messias utilizaria tal linguagem pejorativa consigo mesmo? [...] o Senhor tinha feito que toda nossa iniquidade caísse sobre Ele, e como um verme, Ele foi desamparado e moído em nosso lugar.
O pastor lembra que, semelhantemente, em outras passagens, metáforas comparam o Santo Filho de Deus a uma serpente levantada no deserto (Números 21.8). “O homem morre do veneno de seu próprio pecado”, mas “Deus colocou a causa de nossa morte sobre Seu próprio Filho ao levantá-lo alto sobre a cruz”. Outra metáfora o compara ao “cordeiro expiatório que carregava o pecado e que era deixado a ir morrer sozinho no deserto”, o famoso bode expiatório, mencionado em Levítico 16.21.
O sermão ainda continua:
Não é assombroso que um verme, uma serpente venenosa, e um cordeiro sejam postos como tipos de Cristo? [...] Seria blasfemo se não viesse dos santos do Antigo Testamento ― inspirados pelo Espírito Santo (2ª Pedro 1.21). [...] Temos escutado essas verdades antes, porém, as consideramos o suficiente para sermos quebrantados? Na cruz, Ele que é declarado ― santo, santo, santo pelo coro dos serafins, se fez pecado. [...] Ele morreu sob a ira de Deus. [...] Imaginem duas pedras de moinho, uma girando acima da outra. Imaginem que entre as pedras existe um grão de trigo que é esmagado pelo grande peso. Primeiro, é moído até ser irreconhecível, e depois suas partes internas são espalhadas e moídas ao pó. Não há esperança de removê-lo ou reconstruí-lo. Tudo se perdeu e está irreparável. De igual maneira, ao SENHOR agradou moê-lo (Isaías 53:10). [...] não é que Deus se tenha agradado ou encontrado prazer no sofrimento de Seu amado Filho, mas por sua morte, a vontade de Deus se cumpriu. Nenhum outro meio tinha poder de remover o pecado, satisfazer a justiça, e apaziguar a ira de Deus contrária a nós.
Washer lembra da linda história do quase sacrifício de Isaque, no monte Moriá (Deus proverá). O acontecimento do Antigo Testamento prefigurava o que ia acontecer com Cristo. Mas,
Diferente de Isaque, não havia carneiro que morresse em Seu lugar. Ele era o cordeiro que morreria pelos pecados do mundo. Ele é a provisão de Deus para a redenção de Seu povo. [...] É uma injustiça ao Calvário que a verdadeira dor da cruz frequentemente é passada por alto por um tema romântico e menos poderoso. Frequentemente é pregado que o Pai olhou desde o céu e testemunhou o sofrimento que era acumulado sobre Seu Filho por mãos humanas, [...] o crente é salvo não só porque Cristo pagou pelo que fizeram os homens a Cristo na cruz, mas pelo que Deus fez a Ele. Ele o moeu sob toda a força de Sua ira contra nós.
O apóstolo Paulo, falando na sinagoga de Antioquia, os faz lembrar desta importante profecia da Cruz, a qual eles deviam conhecer. Mas, mesmo sem conhecê-la, ou talvez por isso mesmo, eles a cumpriram. Jesus fala na presença do próprio traidor, em Marcos 14.21: “Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!”
Um filósofo chamado Santayana disse, em 1905[3]: “Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Se nós não considerarmos devidamente a gravidade e a solenidade desta profecia da Cruz, podemos repetir o mesmo erro dos traidores de Jesus, conforme a advertência no livro de Hebreus 6.6, dada aos que já foram iluminados pela palavra de Deus, mas caíram, de que “é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.
Profecia da ressurreição (30-37)
Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos; e foi visto muitos dias pelos que, com ele, subiram da Galileia para Jerusalém, os quais são agora as suas testemunhas perante o povo. Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi. Por isso, também diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção. Porém aquele a quem Deus ressuscitou não viu corrupção.
Prosseguindo em seu discurso na sinagoga, Paulo os faz lembrar da profecia da ressurreição do Messias, e afirma que ela foi cumprida em Jesus, de acordo com o testemunho dos apóstolos e centenas de outros discípulos, a maioria ainda viva naquele momento.
Dizem os especialistas que a ressurreição de Cristo é o fato mais comprovado da história. Não há fato histórico que reúna mais provas de ser verdadeiro, do que a ressurreição de Cristo. Ainda assim, arqueólogos e outros cientistas continuam procurando evidências pró ou contra este fato. Uma notícia veiculada no Portal Terra[4], em fevereiro de 2012, diz que
Um grupo de arqueólogos e especialistas em assuntos religiosos apresentou em Nova York as conclusões de uma pesquisa que apresenta indícios da ressurreição de Jesus a partir de um túmulo localizado em Jerusalém há três décadas. [...] O túmulo em questão foi descoberto em 1981 durante as obras de construção de um prédio no bairro de Talpiot, situado a menos de 4 km da Cidade Antiga de Jerusalém. Um ano antes, neste mesmo lugar, foi encontrado um túmulo que muitos acreditam ser de Jesus e sua família. Ao lado do professor de Arqueologia Rami Arav, da Universidade de Nebraska, e do cineasta canadense de origem judaica Simcha Jacobovici, Tabor conseguiu uma permissão da Autoridade de Antiguidades de Israel para escavar o local entre 2009 e 2010. Em uma das ossadas encontradas, que os especialistas situam em torno do ano 60 d.C., é possível ver a imagem de um grande peixe com uma figura humana na boca, que, segundo os pesquisadores, seria uma representação que evoca a passagem bíblica do profeta Jonas. [...] O professor reconhece que suas conclusões são "controversas".
De fato, este achado arqueológico pode demonstrar que aqueles que sepultaram os corpos também criam que Jesus havia ressuscitado, assim como simbolizava o milagre de Jonas e o grande peixe, mas eu concordo com o professor, em que as conclusões são controversas e que esta evidência é muito frágil para ser tomada como prova da ressurreição de Jesus. Há provas muito mais contundentes que um bom jurista poderia usar como argumentos. Mas para mim, e creio que para todo crente em Jesus, a sua ressurreição não é uma questão de prova, mas de fé. Não é possível ser um verdadeiro crente e duvidar que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como diz Paulo em 1ª Coríntios 15.12-19:
Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
A profecia da ressurreição de Jesus foi cumprida, e agora aguardamos o cumprimento da ressurreição de todos os mortos. Uns, para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno, conforme Daniel 12.2.
Profecia da salvação (38-41)
Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste; e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés. Notai, pois, que não vos sobrevenha o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei, porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la contar.
A terceira profecia citada por Paulo é uma promessa que nos dá a certeza da salvação, conforme as palavras de João 3.36: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”.
No portal da CNBB[5], em maio de 2017, foi divulgado em parte o resultado de uma pesquisa, dizendo que,
Atualmente, o planeta possui cerca de 7 bilhões de pessoas e aproximadamente 2,18 bilhões de pessoas que dizem professar a fé cristã. Esses dados foram revelados em um relatório do instituto de pesquisa americano Pew Research Center, e mostra uma predominância entre as duas maiores tradições cristãs do planeta: catolicismo e protestantismo. De acordo com o Pew Research, as principais tradições cristãs são a católica, com 51,4% dos fiéis; os evangélicos, 36% (sendo que a maioria segue a linha pentecostal); e os ortodoxos, que somam 12,6%.
Será que esses 2,18 bilhões de pessoas cristãs, cerca de um terço da população mundial, é o número de pessoas salvas atualmente no mundo? Só Deus sabe, porque não basta dizer que crê, mas tem que crer realmente, conforme Romanos 10.9,10: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”.
Esta profecia da Salvação se cumprirá no final de tudo, de acordo com o que lemos em Apocalipse 21.10,11,27:
[...] e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. [...] Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro.
Não obstante, os que creem em Jesus já a têm como certa, como se já estivesse cumprida, seguindo o modo de falar do Mestre em João 5.24: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”.
Conclusão:
Vimos neste texto bíblico que há pelo menos três profecias, das quais, como filhos de Deus, temos a obrigação de tomar conhecimento: Profecia da Cruz, Profecia da Ressurreição, Profecia da Salvação.
O mundo não acabou em 23 de setembro de 2017, mas existem outras profecias que estão se cumprindo ou que ainda vão se cumprir, como por exemplo:
“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2ª Timóteo 4.3);
Ou esta outra:
“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3.15-17).
Oremos, pois, e nos esforcemos, para que estas profecias de afastamento de Deus, de esfriamento da fé, não se cumpram através de nós, e aguardemos firmes e atentos na esperança, porque, assim como as que se cumpriram, todas as demais profecias da Palavra de Deus se cumprirão.
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, outubro de 2020.
(*) Foto do cabeçalho: Getty Images. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41359071 Acesso em 19 out. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
[1] A profecia de Nibiru, o suposto planeta que alguns grupos dizem que levará ao fim do mundo no dia 23. BBC News, 22 setembro 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41359071 Acesso em 19 out. 2020.
[2] WASHER, Paul David. A Cruz de Cristo. Disponível em: https://files.comunidades.net/topbook/acruzdecristo.pdf Acesso em 08 out. 2017
[3] SANTAYANA, George. A Vida da Razão, volume I, ali no capítulo XII, livro publicado em 1905. Citado em: https://super.abril.com.br/blog/superblog/frase-da-semana-8220-aqueles-que-nao-conseguem-lembrar-o-passado-estao-condenados-a-repeti-lo-8221/ Acesso em 08 out. 2017.
[4] Arqueólogos apontam novos indícios sobre ressurreição de Jesus. Portal Terra – Pesquisa, 28/02/2012. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/pesquisa/arqueologos-apontam-novos-indicios-sobre-ressurreicao-de-jesus,c04a00beca2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html Acesso em 08 out. 2017.
[5] Cristãos no mundo: 2,18 bilhões de pessoas dizem professar a fé cristã segundo instituto. Portal CNBB - Ecumenismo, 19/05/2017. Disponível em: http://cnbb.net.br/cristaos-no-mundo-7-bilhoes-de-pessoa-dizem-professar-a-fe-crista-segundo-instituto-de-pesquisa-pew-research/ Acesso em 08 out. 2017.
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