quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Conspiração


(Leia Mc 14.53-65)

Conspiraram contra Jesus, o Rei, antes mesmo que o seu reino, segundo o conceito dos homens, fosse firmado. Mas o que parecia derrota foi vitória de Jesus, e o que parecia vitória foi derrota para Satanás. Comparando este texto com outras partes das Escrituras, podemos ter a certeza de que Jesus, embora parecesse derrotado, é, na verdade, vitorioso.

1 - Os dominadores serão dominados (53,54)

“53 E levaram Jesus ao sumo sacerdote, e reuniram-se todos os principais sacerdotes, os anciãos e os escribas. 54 Pedro seguira-o de longe até ao interior do pátio do sumo sacerdote e estava assentado entre os serventuários, aquentando-se ao fogo.”

Quando Pedro assentou-se junto aos serventuários, aquecendo-se ao fogo, sentia-se ameaçado, envergonhado, com medo de que fosse descoberto, pois todos ali estavam conspirando contra Jesus, e pareciam dominar toda a situação. Hoje, quando nos “aquecemos ao fogo”, assentados com incrédulos, somos (ou pelo menos deveríamos ser) confiantes, e até podemos dominar o assunto do ambiente, pois trazemos uma mensagem de vitória para aqueles que têm sido derrotados, em seu desvio dos caminhos do Senhor.

Podemos dar graças a Deus por esta vitória, com as palavras de 2Co 2.14,15: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento. Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem.”

2 - Os escarnecedores serão escarnecidos (55-61)

“55 E os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho contra Jesus para o condenar à morte e não achavam. 56 Pois muitos testemunhavam falsamente contra Jesus, mas os depoimentos não eram coerentes. 57 E, levantando-se alguns, testificavam falsamente, dizendo: 58 Nós o ouvimos declarar: Eu destruirei este santuário edificado por mãos humanas e, em três dias, construirei outro, não por mãos humanas. 59 Nem assim o testemunho deles era coerente. 60 Levantando-se o sumo sacerdote, no meio, perguntou a Jesus: Nada respondes ao que estes depõem contra ti? 61 Ele, porém, guardou silêncio e nada respondeu. (...) “

As falsas testemunhas escarneceram, distorceram as palavras de Jesus, e inventaram coisas que ele não disse. Mas o que ele disse em Jo 2.19, sobre reedificar o templo destruído, cumpriu-se. Jesus venceu literalmente seu desafio ao “reedificar” seu próprio corpo, um verdadeiro santuário do Espírito Santo. O povo ficou ciente disto em Atos 2.23,24: “(...) sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos; ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse ele retido por ela”.

A Igreja, que também é um templo para a habitação de Deus, tem sido edificada, conforme o cumprimento de Mateus 16.18: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Reconhecendo isto, mais tarde, o próprio apóstolo que, naquela noite, estava se sentindo diminuído, com medo, pressionado pelos escarnecedores, escreveu em 1Pedro 2.5: “também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”.

3 - Os incrédulos serão confrontados com a verdade (61-64)

“(...) Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? 62 Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu. 63 Então, o sumo sacerdote rasgou as suas vestes e disse: Que mais necessidade temos de testemunhas? 64 Ouvistes a blasfêmia; (...)”

Jesus foi condenado por assumir quem ele realmente era. Se estivesse mentindo, os seus inimigos teriam razão; mas ele falava a verdade. Eles não criam e não estavam dispostos a crer em Jesus. Para eles, estava fora de cogitação aceitar Jesus como o Messias, conforme João 10.33: “(...) Não é por obra boa que te apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”; e Lucas 22.67: “(...) Jesus lhes respondeu: Se vo-lo disser, não o acreditareis”.

Até mesmo João Batista parece ter hesitado em sua fé, ao mandar perguntar: “És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro?” (Mateus 11.3). Mas ele não precisou esperar muito para ver com seus próprios olhos, quando Jesus assumiu, no céu, o seu trono, onde ainda está, conforme nos informa Colossenses 3.1: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus”.

4 - Os julgadores serão julgados (64,65)

“(...) que vos parece? E todos o julgaram réu de morte. 65 Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas.”

Jesus, não podia ser condenado, pois ele, como juiz, condenará os que conspiraram contra ele. Depois de ressuscitado, advertiu com autoridade a todos, em Marcos 16.16: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. Já havia dito, também, em Mateus 12.41,42: “Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas. A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão”.

Aplicava-se perfeitamente aos seus opositores a advertência jurídica de Mateus 5.22: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo”.

Todos têm que respeitar Jesus como juiz. Constantemente, nas Igrejas, por todos estes séculos, até que ele venha, um solene aviso é repetido na celebração da Ceia do Senhor, conforme 1Coríntios 11.27: “Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor”.


A conspiração sobre a qual lemos neste texto foi profetizada em Salmos 2.1-4: “Por que se enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o SENHOR e contra o seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas. Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles”. Embora parecesse a Pedro, e às demais testemunhas, que Jesus havia sido derrotado, ele é, na verdade, vitorioso, pois os que pareciam dominadores serão dominados; os escarnecedores serão escarnecidos, vendo que Jesus cumpre o que diz; os incrédulos serão confrontados com a verdade, no seu devido tempo; e os julgadores serão julgados.

Apêndice:

Alguns sofrimentos, pelos quais passam os filhos de Deus, são um pouco da experiência do que Jesus sofreu, conforme o exemplo dos versículos abaixo:

1 Coríntios 4.11 “Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa”.
2 Coríntios 12.7 “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte”.
1 Pedro 2.20 “Pois que glória há, se, pecando e sendo esbofeteados por isso, o suportais com paciência? Se, entretanto, quando praticais o bem, sois igualmente afligidos e o suportais com paciência, isto é grato a Deus”.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Você ama Jesus?


(Leia Mc 14.43-52)

A senha que Judas combinou com as autoridades, para identificar Jesus, era um beijo. A palavra original, que foi traduzida por beijar, significa amor. Beijar é demonstrar amor. Assim entendemos que Judas disse: “Aquele a quem eu (simular) tratar com amor, a esse prendei”. Outras pessoas nesta história também demonstraram seu amor por Jesus. Que tipo de amor era esse?

I - AMOR FALSO (43-46)

“43 E logo, falava ele ainda, quando chegou Judas, um dos doze, e com ele, vinda da parte dos principais sacerdotes, escribas e anciãos, uma turba com espadas e porretes. 44 Ora, o traidor tinha-lhes dado esta senha: Aquele a quem eu beijar, é esse; prendei-o e levai-o com segurança. 45 E, logo que chegou, aproximando-se, disse-lhe: Mestre! E o beijou. 46 Então, lhe deitaram as mãos e o prenderam.”

A Bíblia fala de homens cujo comportamento tem sido semelhante ao de Judas. Isaías (28.15) resume o seu pensamento: “(...) Fizemos aliança com a morte e com o além fizemos acordo; quando passar o dilúvio do açoite, não chegará a nós, porque, por nosso refúgio, temos a mentira e debaixo da falsidade nos temos escondido”. Salmos 12.2,4 acrescenta: “falam com falsidade uns aos outros, falam com lábios bajuladores e coração fingido (...); com a língua prevaleceremos, os lábios são nossos; quem é senhor sobre nós?”

Muitos acham, também, hoje em dia, que são senhores de si mesmos, que podem viver escondidos, debaixo da falsidade, que escaparão do “dilúvio do açoite”, porque têm sido, até agora, bem sucedidos nos seus caminhos. Mas isto não passa de uma ilusão, e quando acordarem do seu sonho terão que enfrentar uma horrível realidade, como sabemos que Judas enfrentou, e não suportou.

Um amor falso por Jesus poderá nos levar até certo ponto de nossas vidas, até por aprazíveis caminhos, mas que terminam abruptamente num abismo infernal.

II - AMOR EQUIVOCADO (47)

“47 Nisto, um dos circunstantes, sacando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e cortou-lhe a orelha.”

Lucas conta que os discípulos perguntaram antes: Feriremos à espada? Mas pelo jeito, Pedro nem esperou a resposta. Às vezes agimos como Pedro, e vamos fazendo as coisas sem esperar a instrução do Senhor. Decidimos por nós mesmos o que é preciso fazer, e fazemos. Mas devemos nos perguntar se é isto mesmo que o Senhor quer de nós. Pedro estava pronto para morrer por Jesus, mas Jesus queria mais do que isso; queria que ele primeiro vivesse, que suportasse a tentação de negá-lo diante dos servos do sacerdote; queria que ele, depois de convertido, apascentasse as suas ovelhas. Estamos dispostos, muitas vezes, a abandonar tudo e seguir Jesus, mas não estamos dispostos a abraçar as responsabilidades que pesam sobre nós.

A vontade do Senhor para Pedro era que ele estivesse preparado, não com o porte de uma espada qualquer, mas com o porte de um equipamento de guerra completo, conforme orienta Ef 6.10-18: “Quanto ao mais, sede fortalecidos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis. Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz; embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos”

Oséias (6.6) também ensina que não podemos presumir a vontade de Deus, e irmos adiante por puro impulso, mas conhecer bem a sua vontade, em primeiro lugar, pois ele diz: “(...) misericórdia quero, e não sacrifício, e o conhecimento de Deus, mais do que holocausto”.

III - AMOR FORÇADO (48,49)

“48 Disse-lhes Jesus: Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? 49 Todos os dias eu estava convosco no templo, ensinando, e não me prendestes; contudo, é para que se cumpram as Escrituras.”

Os que fizeram alvoroço para prender Jesus deveriam ficar envergonhados, pois estavam sempre com ele no templo, ouviram seus ensinamentos, e não se manifestaram contra. Às vezes o amor que temos por Jesus é apenas uma tolerância. Aceitamos a sua presença em nossa vida somente para não contrariar os nossos familiares. Se tivéssemos oportunidade, porém, nos libertaríamos desses laços, desse fardo pesado que somos obrigados a carregar. Nas igrejas há muitas pessoas assim. Acontece que o pai de família se converte, e a esposa e os filhos são obrigados a acompanhá-los. Acontece que uma família é tradicionalmente cristã, e por isso os seus membros não devem quebrar a tradição. Acontece que um jovem quer ganhar uma namorada, e por isso sabe que deve se portar como um verdadeiro cristão, como ela e os pais dela apreciam. Para estes que se dizem cristãos, sem contudo amarem sinceramente Jesus, ele pergunta: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6.46).

A multidão que ouvia, aparentemente com prazer, os discursos de Jesus, no templo, quando tiveram que decidir, compararam Jesus com um salteador, e escolheram o salteador Barrabás para que fosse libertado (Jo 18.40).

IV - AMOR FRÁGIL (50-52)

“50 Então, deixando-o, todos fugiram. 51 Seguia-o um jovem, coberto unicamente com um lençol, e lançaram-lhe a mão. 52 Mas ele, largando o lençol, fugiu desnudo.”

Todos abandonaram Jesus. Ficaram atordoados, amedrontados, desorientados. Até mesmo aquele jovem destemido, resoluto, que provavelmente pulou do seu leito às pressas e foi avisar Jesus que os soldados estavam à sua procura, que testemunhou sua prisão e o estava seguindo cautelosamente, foi descoberto e fugiu humilhado. O amor dos discípulos ainda não estava amadurecido. Era muito frágil. Era o máximo que podiam fazer com seus recursos humanos. Precisavam receber o Espírito Santo, para que o seu amor fosse aperfeiçoado. Jesus já advertira Nicodemos, no começo do seu ministério: “importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7).

Deus se queixa do amor dos filhos de Israel, em Oséias 6.4: “Que te farei, ó Efraim? Que te farei, ó Judá? Porque o vosso amor é como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada, que cedo passa.”

Será que o nosso amor por Jesus é assim também? Como a nuvem da manhã e como o orvalho da madrugada? Que se enfraquece e por fim acaba, diante das tribulações da vida? Pior do que isto, será possível que nosso amor seja falso, forçado, ou equivocado? Precisamos do Espírito Santo para nos transformar, operando em nós o novo nascimento, e conduzindo o “barco” de nossa vida nesses mares turbulentos. Só o próprio Deus pode nos ensinar e nos capacitar a amar o nosso Senhor e Salvador até as últimas consequências.

Apêndice:

“O dia mais escuro, o poder das trevas”.


Jesus permite que o aflijam com a espada, com o falso amor, e com o abandono, sabendo que era necessário assim acontecer, para que se cumprissem as escrituras. Ele era o único, nesta história, que estava na luz, que naquele momento confiava nas palavras de Deus. Os demais, imaginavam coisas vãs, preparavam-se para nada. Eram desnecessárias as espadas e os porretes dos guardas. Era perverso o planejamento de Judas, que traiu Jesus fingindo perfeitamente amá-lo; era inconveniente a espada de Pedro. Jesus sabia discernir o tempo; sabia que ressuscitaria depois de tudo ser consumado; sabia que depois de tudo ele seria amado de verdade; que seus discípulos o seguiriam até à morte, e que viria com poder e grande glória, com sua espada, para eliminar os exércitos rebeldes. Apocalipse 19.11-16 profetiza: “Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES.”

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A oração de Jesus


(Leia Mc 14.32-42)

Estava tudo escuro. Não só porque era noite, mas porque trevas espirituais caíram sobre a humanidade. Seu alvo, o Filho de Deus, o Salvador. Naquela noite aconteceu o que parecia impossível: Jesus ficou deprimido, tomado de pavor e de angústia, profundamente triste, até à morte. Mas ele sabia que a oração era o melhor remédio. Observando a depressão e a reação do Mestre, aprendemos pelo menos sete lições a respeito da oração.

1) PRECISAMOS DE UM LUGAR PARA ORAR (32)

“Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; (...)”

Precisamos de sossego e concentração para falar com Deus. Às vezes não é possível termos acesso a um jardim isolado, ou mesmo a um quarto exclusivo em casa. Mas, com criatividade, podemos sempre achar um jeito. Há pessoas, por exemplo, que oram enquanto caminham pelas ruas do bairro. Certa vez ouvi a história de uma mulher que era tão pobre que sua casa tinha somente um cômodo, no qual vivia com sua família. Quando conseguia fazer uma pausa em suas atividades domésticas, sentava-se numa cadeira, colocava o avental sobre a cabeça, cobrindo o rosto, e assim orava em silêncio, no seu “cantinho de oração”.

2) PRECISAMOS COMPARTILHAR, PEDIR ORAÇÃO (32-34)

“ (...) ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar. E, levando consigo a Pedro, Tiago e João, começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai”

É costume, em nossa Igreja, termos um tempo do culto dedicado a compartilhamentos, também chamado “tempo de testemunhos”. Neste período do culto abre-se a palavra para quem quiser pedir oração, falar resumidamente sobre o que Deus tem feito em sua vida, ou sobre algum trecho das escrituras que lhe chamou a atenção. Estes compartilhamentos são muito proveitosos para nos conhecermos melhor, e assim podermos orar uns pelos outros com mais sabedoria.

3) PRECISAMOS PEDIR COM CORAGEM O QUE ESTÁ EM NOSSO CORAÇÃO (35,36)

“E, adiantando-se um pouco, prostrou-se em terra; e orava para que, se possível, lhe fosse poupada aquela hora. E dizia: Aba, Pai, tudo te é possível; passa de mim este cálice;(...)”

Jesus devia saber que sua oração não podia ser respondida. Como o Pai poderia livrá-lo desse “cálice” e deixar perecer toda a humanidade no inferno? Mas, mesmo assim, Jesus pediu. Falou o que estava no seu coração. Seu desejo era livrar-se daquela hora. Tiago, em certa altura de sua carta, critica os seus interlocutores: “Nada tendes, porque não pedis” (Tg 4.2). Às vezes nós nos enquadramos neste comportamento, e achamos que Deus nunca nos concederia o que está em nosso coração, e por isto deixamos de pedir. Devemos nos lembrar de quem é o nosso Deus: Onisciente, Onipresente, Onipotente.

4) PRECISAMOS CONFIAR NA VONTADE DE DEUS (36)

“(...) contudo, não seja o que eu quero, e sim o que tu queres.”

A vontade de Deus é “boa, agradável e perfeita” (Rm 12.2), e ainda que não possamos compreender, “todas as coisas cooperam para o bem” daqueles que o amam, e que são “chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). É melhor, então, deixarmos que ele faça por nós a melhor escolha. Gosto de pensar que Deus sempre responde as nossas orações. Às vezes responde “sim”; às vezes responde “não”; às vezes, responde “espere”.

5) UMA HORA DE ORAÇÃO É RAZOÁVEL (37)

“Voltando, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Simão, tu dormes? Não pudeste vigiar nem uma hora?”

A repreensão de Jesus a Pedro nos dá uma dica. Uma hora é um tempo razoável de oração. Com isto não quero insinuar que devemos separar diariamente 60 minutos para o tempo de devoção. Jesus nem tinha relógio. A palavra grega traduzida para hora, neste texto, é “hora” (!?), a mesma “hora” da qual Jesus queria ser poupado (v. 35), a mesma “hora” que chegou para o “Filho do Homem” (v. 41). Podemos definir “uma hora” como uma subdivisão do dia, um tempo razoável que devemos dedicar à oração, proporcional ao nosso tempo de atividade diária. Sejamos generosos, e não mesquinhos, quanto ao tempo que dedicamos a Deus em oração. Afinal, nós somos os maiores interessados.

6) ORAÇÃO DISCIPLINA A CARNE (38)

“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.”

Eis um motivo que, mesmo sozinho, é um poderoso argumento para não descuidarmos do tempo de oração: “a carne é fraca”. Com oração já é difícil. Imagina nos aventurarmos a vencer as tentações sem o recurso da oração. É loucura! Não sejamos insensatos, não brinquemos com as tentações, pois a Bíblia nos adverte: “horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb 10.31).

7) A ORAÇÃO NOS TORNA DECIDIDOS (39-42)

“Retirando-se de novo, orou repetindo as mesmas palavras. Voltando, achou-os outra vez dormindo, porque os seus olhos estavam pesados; e não sabiam o que lhe responder. E veio pela terceira vez e disse-lhes: Ainda dormis e repousais! Basta! Chegou a hora; o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima.”

A depressão passou. O remédio fez efeito. Jesus já não estava mais angustiado. Você já teve esta sensação? Já aconteceu de você cair de joelhos em prantos, derramando suas súplicas diante do trono de Deus, e levantar-se, no final, com o sentimento de que suas orações foram respondidas? Isto é normal! É assim que funciona. A oração é um exercício que nos reconduz à sobriedade. Não é um monólogo, mas um diálogo, às vezes até sem palavras. Ana, mãe de Samuel, experimentou o poder da oração e fé. Quando teve certeza de que sua oração foi respondida, seguiu o seu caminho, “e o seu semblante já não era triste” (1 Sm 1.18). Quando Josué, derrotado, buscou a Deus, obteve uma vigorosa resposta: “Levanta-te! Por que estás prostrado assim sobre o rosto?” Era hora de agir.

Que o Senhor nos ajude. Não sabemos orar como convém. Oremos, pois, para aprender.