sexta-feira, 14 de abril de 2017

Anunciando a ressurreição (Atos 4.1-4)

Quando os deputados votavam o impeachment na Câmara em 2016, eu assisti uma boa parte dos discursos. Ouvindo os argumentos notei muitas coisas razoáveis, e muitas coisas não tão razoáveis. Havia deputados que em minha opinião foram muito sensatos, respeitando o lado oposto, embora tivessem que tomar partido e decidir de que lado estavam. Um deles fez um discurso interessante, sintetizando bem uma diferença de características entre a oposição e os governistas, dizendo que a oposição não tinha ídolos, mas eles sim, tinham (Lula e Dilma). Não sei se devo considerar bom ou ruim o fato de as pessoas na política aderirem a um líder carismático e tomarem o seu partido.

Mas por outro lado, quando o assunto é religião, é claro que nós cristãos temos um líder que é digno de adoração, Jesus Cristo, aquele que ressuscitou dentre os mortos para ser o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 17.14). Como servos dele, temos a obrigação de tomar seu partido, e anunciar a mensagem da ressurreição. Quando um cristão toma partido e anuncia corajosamente a mensagem da ressurreição, sua prática pode gerar pelo menos três resultados.


Primeiro resultado: perturbação do ambiente (1,2)


Enquanto Pedro e João ainda falavam ao povo, “sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos”.

Existe muita gente que pode ficar ressentida quando se fala a verdade, mas ela precisa ser dita. Em 2Timóteo 4.2, por exemplo, Paulo exorta um jovem pastor a pregar a palavra, insistir, “quer seja oportuno, quer não”. Seguindo esse princípio os apóstolos anunciaram ali, naquele ambiente do templo, equivalente à igreja de hoje, uma mensagem que era conflitante com o que defendiam as autoridades mais influentes. Além de ter potencial para perturbar o ambiente da própria igreja, uma mensagem sincera e baseada na palavra de Deus pode gerar perturbação também em outros ambientes, como nos exemplos a seguir:

a) Quando visitamos uma pessoa doente, em seu leito, queremos falhar-lhe sobre a importância de aceitar Jesus como Senhor e Salvador, mas os familiares às vezes não querem que os “perturbemos” com essa mensagem, que no seu ver podem abalar a sua tranquilidade;

b) No restaurante, quando vamos tomar refeições em família ou entre irmãos, costumamos fazer uma oração conjunta, em voz alta, para agradecer. Isto pode perturbar um pouco o ambiente, pois a prática não é usual;

c) Quando vamos distribuir versículos ou evangelizar de casa em casa, perturbamos o sossego das pessoas nos seus lares;

Há perturbações, porém, que não são recomendáveis, por não serem éticas ou produtivas. Há um princípio importante revelado em 1Coríntios 14.23, que diz: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?” Esse princípio mostra que devemos nos preocupar com as pessoas de fora, para que não interpretem mal nossas motivações e costumes. Não podemos usar, por exemplo, o ambiente de trabalho ou o tempo em que deveríamos estar trabalhando para evangelizar.


Segundo resultado: represálias (3)


As autoridades prenderam os apóstolos, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, sendo já tarde.

Vivemos num país que nos garante o direito de culto e de expressão, e nos consideramos felizes por isso, mas a lei não nos garante isenção de represálias, mesmo que veladas ou de baixa intensidade, por parte de pessoas que não concordam com nossa maneira de adoração e de expressão. Podemos citar alguns exemplos de represálias a que estamos sujeitos:

a) Pessoas às vezes passam na rua aqui em frente da igreja e, na hora do culto, gritam provocações;

b) Pessoas estacionam seus carros na frente da Igreja, bloqueando a entrada do estacionamento, sem respeitar os horários de culto (essa atitude pode ser apenas falta de educação, mas também pode ser entendida como uma espécie de retaliação);

c) Os rumos da sociedade moderna tendem ao liberalismo, e com liberais assumindo cada vez mais o poder, os cristãos zelosos serão cada vez mais criticados e limitados em sua liberdade de ensinar, já que ensinam a ortodoxia e o conservadorismo das Escrituras;

d) Uma irmã que, anos atrás, abandonou um bom emprego para torna-se seminarista, sofreu duras críticas, e o pastor foi acusado de subverter o futuro da moça. Essa crítica vinha até mesmo de crentes considerados fiéis;

e) Um casal de missionários que conhecemos bem foi expulso, pelo órgão do governo, da tribo Zoé a qual evangelizavam; outro casal ainda, sustentado parcialmente por nossa igreja, no começo do seu ministério, foi expulso da tribo Deni, por líderes comunitários dos próprios indígenas.

f) Numa nota da Folha de São Paulo de 10/04/2015 nós lemos que um “evangélico é acusado pelo MPF de proselitismo, por pregar a índios em Santarém (PA) [...] acusado de perturbar o ‘direito a manutenção de culturas próprias’. O Coordenador da FUNAI [...] diz que o órgão condena o proselitismo religioso porque pode haver impacto negativo para as tribos”.


(http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1614712-evangelico-e-acusado-de-proselitismo-por-pregar-para-indios.shtml)

Terceiro resultado: colheita de frutos (4)


Apesar do discurso de Pedro ter sido interrompido pela sua prisão, “muitos dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil”.

O resultado que todos queremos é que o nosso trabalho dê muitos frutos. Foi esse um dos resultados da pregação de Pedro e João. Às vezes, porém, nosso trabalho parece não frutificar. Quando isso acontece, podemos atribuir pelo menos três razões para o fruto não vingar, com respectivos versículos que as ilustram:


a) Não semear a Palavra;

"Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?" (Romanos 10.14)


b) Não regar a planta (não persistir, não demonstrar amor, não dar exemplo de vida);

“Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pedro 1.15);


“Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pedro 2.12);


“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa” (1Pedro 3.1);


“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal” (1Pe 3.14-17);


c) Não encontrar receptividade;

“Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto” (Mateus 4.3-7).


Conclusão


Deus nos conceda a graça de que cumpramos a nossa obrigação e anunciemos coerentemente, corajosamente, a mensagem da ressurreição. Fazendo isso, podemos ser tidos como meros perturbadores da ordem e até receber represálias, mas se formos fiéis e corajosos, é grande a possibilidade de colhermos bons frutos. E assim, irmãos, possamos honrar nosso “grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Tomemos partido, anunciemos a ressurreição!

domingo, 9 de abril de 2017

Voltar atrás (Atos 3.17-26)


Introdução

Esta parte da mensagem de Pedro me faz lembrar a história de José, quando seus irmãos foram lhe pedir perdão por sua traição. Ele disse que não deviam se afligir. Na verdade eles haviam agido mal, mas Deus, através disso, salvou-os, bem como toda a sua família (Gênesis 50.17,20). Na situação semelhante encontrada neste texto de Atos vemos que, diante da disposição de Deus em perdoar, o povo que estava em Jerusalém precisava se arrepender e se converter, pois era grande o seu pecado. Caso atendessem o apelo de Pedro, se arrependendo e se convertendo, levariam pelo menos quatro vantagens: o cancelamento dos seus pecados; o refrigério de presenciar a vinda de Cristo e a restauração de todas as coisas; a certeza de que não seriam banidos, mas estariam entre o povo escolhido de Deus; e a bênção prometida através da descendência de Abraão.

Primeira vantagem: o cancelamento dos seus pecados (17-19)

O que o povo fez, fez por ignorância, assim como o fizeram as autoridades então constituídas. Foi dessa forma que Deus cumpriu o que havia anunciado por meio dos profetas, dizendo que o seu Cristo havia de padecer. Por isso foi dada ao povo uma chance: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”.

Podem existir abusos quando o assunto é perdão de pecados. Foi assim no caso de Johann Tetzel, nascido em 1465 em Pirna, Alemanha, frade dominicano e pregador, o qual se tornou o grande comissário do Papa para indulgências (cartas que davam direito a perdão de pecados) na época de Lutero. Numa ilustração que chama a atenção para o absurdo que foi a prática de venda de indulgências, conta-se que,

“de acordo com Lutero, depois que Tetzel tinha recebido uma quantidade substancial de dinheiro em Leipzig, um nobre perguntou-lhe se era possível receber uma carta de indulgência para um pecado futuro. Tetzel rapidamente respondeu que sim, insistindo, no entanto, que o pagamento tinha de ser feito de uma só vez. Esse nobre o fez, recebendo logo a seguir a carta selada de Tetzel. Quando Tetzel deixou Leipzig, o nobre lhe atacou ao longo do caminho, deu-lhe uma grande surra, e o mandou de volta de mãos vazias para Leipzig, com o comentário de que esse era o pecado futuro que ele tinha em mente. O Duque George no início ficou bastante furioso por este incidente, mas quando ouviu toda a história, deixou-o ir sem castigar o nobre”.

(Fonte: LuthersSchriften, herausg. von Walch. XV, 446. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Tetzel Acesso em: 08/04/2016)

Pedro, no entanto, apresentou ao povo uma possibilidade real de cancelamento de pecados. Uma oferta irrecusável, gratuita, oferecida através do apóstolo pelo único a quem foi dado o poder de fazê-lo: O Senhor Jesus Cristo. Não era uma oferta vazia, enganosa, fraudulenta, como foi no caso de Johann Tetzel.

Segunda vantagem: ver a Cristo e os tempos de refrigério (no tempo de restauração de todas as coisas) (20,21)

Caso se arrependessem e se convertessem, viriam da presença do Senhor tempos de refrigério, Deus lhes enviaria o Cristo, o qual já estava designado, Jesus, ao qual era necessário que o céu recebesse até aos tempos da restauração de todas as coisas, conforme Deus falou por meio dos seus santos profetas desde a antiguidade.

Os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas são um desejo universal. Quem não gostaria de viver num mundo ideal, sem guerra, sem doença, sem sofrimento, sem catástrofes? Esse era o anelo do povo de Israel, e tem sido o anelo de todos os povos em toda a história. Falando sobre a expectativa popular da volta de Cristo e da consequente restauração de todas as coisas, Craig C. Hill (2004) afirma que

“(...) A Agonia do Grande Planeta Terra, best-seller de Hal Lindsey escrito na década de 1970 [...] argumentava que o mundo estava pronto para um cataclismo, literalmente ‘de proporções bíblicas’, depois do qual Cristo voltaria para reinar por mil anos. Ele calculou que essas coisas deveriam acontecer dentro de quarenta anos — uma ‘geração bíblica’ —, a partir da fundação do moderno Estado de Israel, em 1948. Isso significa que o fim do mundo deveria ter ocorrido em 1988. ‘Muitos eruditos que têm dedicado toda a vida ao estudo das profecias da Bíblia creem assim’.”


(Hill, Craig C. O Tempo de Deus. Tradução de Carlos Caldas e Jarbas Aragão. Julho 2004. Viçosa MG. Editora Ultimato. Pag. 17 Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Tempo-de-Deus-leia.pdf Acesso em: 09/04/2016)

Thomas Ice, escrevendo para a revista Chamada da Meia Noite, em fevereiro de 2014, também fala do mesmo assunto, e declara:

“Primeiro, creio que o Espírito Santo estava extremamente ativo, movendo-se sobre minha geração rebelde como Ele jamais havia feito. O Senhor usou livros como O Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual certamente fez milhões virem a Cristo por meio de sua influência. Filmes como A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite], de Russell Doughten,[1] ensinavam sobre o Arrebatamento antes da Tribulação e também foram um catalisador que levou muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta o Arrebatamento como Cristo vindo feito um ladrão na noite”.

(Thomas Ice - Disponível em: http://www.chamada.com.br/mensagens/ladrao_na_noite.html Acesso em: 09/04/2016. Filme citado no artigo: Russell S. Doughten, Jr., A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite] (1972).)

Os anos que antecederam o de 2000 foram os anos em que nossa igreja mais cresceu, pois muitos aceitaram a Cristo ou se reaproximaram da Igreja com medo de que o mundo acabasse na virada do milênio. Cristo ainda não voltou, e os que o esperam podem até ficar impacientes e perderem a fé, mas podemos dizer pela expectativa de vida nos dias atuais que a espera raramente será mais do que 100 anos (eu creio que, quando a morte vem, essa espera torna-se mais agradável para os filhos de Deus, pois já estarão na presença do Senhor, como numa “sala vip”).

Para o povo que ouvia a pregação de Pedro era vantajoso o arrependimento e a conversão, ao qual seria dado o privilégio de presenciar esse tão almejado tempo de refrigério.

Terceira vantagem: habitar no meio do povo de Deus (não ser banido desse povo) (22-24)

Moisés já dizia com verdade: “O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo”. Todos os profetas, desde Samuel, também anunciaram esses dias.

Podemos entender melhor a figura de alguém que é banido do povo quando pensamos na situação de um presidiário nos dias de hoje. No artigo intitulado “O sistema prisional brasileiro”, disponível no portal da faculdade Estácio, lemos o seguinte relato:

“[...] nada disso impede que uma infinidade de criminosos tenham seus direitos básicos jogados por terra, como no massacre do Carandiru quando a Polícia Militar em busca de retomar o Complexo durante uma rebelião, invadiu-a e executou sumariamente 103 detentos que somados a outros que aparentemente foram mortos em conflitos entre os próprios detentos somaram 111 mortos. Também conquistou repercussão nacional o caso do 42 Distrito Policial que confinou 51 detentos que planejavam uma tentativa de fuga em apenas uma cela de 1,5 x 4m sem ventilação que levou a morte de 18 destes por asfixia.”

(O sistema prisional brasileiro. Faculdade Estácio. Rio de Janeiro. 2009. Disponível em: http://portal.estacio.br/media/1597224/artigo%20sistema%20prisional%20brasileiro%20pseudonimo%20mtjr%20penal.pdf Acesso em: 09/04/2016)

Se neste mundo os que estão “banidos” da sociedade enfrentam situações desesperadoras, imaginamos o que significará ser banido para sempre do povo que Deus tem selecionado para a vida eterna. Mas os que se arrependessem e se convertessem teriam a certeza de não estar entre os banidos quando chegar o momento de Deus separar para si o seu povo.

Quarta vantagem: ser abençoado (ser livre da maldição) (25,26)

Os ouvintes de Pedro eram “filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu” com seus pais, quando disse a Abraão: “Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”. Deus ressuscitara o seu Servo e o enviara primeiramente a eles para abençoá-los, no sentido de que cada um se apartasse das suas perversidades.

Uma pessoa amaldiçoada não tem paz na vida e pode ficar enlouquecida como Lady Macbeth, personagem de William Shakespeare que, atormentada pela culpa, não conseguia livrar-se da impressão de que possuía sangue em suas mãos. Deus amaldiçoou o homem por causa do seu pecado, logo no início da criação, conforme Gênesis 3.17-19:

“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.

O pai de Noé tinha esperança de que Deus amenizaria essa maldição, por isso lhe deu esse nome, “dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gênesis 5.29). O mesmo Noé, mais tarde, porém, amaldiçoou seu neto, Canaã, “e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos” (Gênesis 9.25). Em Deuteronômio 27 e 28 Moisés determinou que o povo, do alto do monte Ebal, pronunciasse maldições para os que fossem desobedientes à Palavra de Deus. O último versículo do Antigo Testamento, em português, termina com a palavra maldição (Malaquias 4.6). Mas Deus oferecia ao povo, por meio da pregação de Pedro, a vantagem, caso se arrependessem e se convertessem, de assumirem sua participação na linhagem dos que são abençoados.

Conclusão:

Assim como o povo de Jerusalém, nós também precisamos reconhecer os nossos pecados, nos arrependermos e nos convertermos. Se reconhecermos os nossos pecados e voltarmos atrás, Deus é fiel e justo, e nos consolará com as mesmas vantagens, cancelando nossos pecados, fazendo-nos presenciar os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas, de forma que não estaremos entre os que serão banidos do seu povo, mas entre os que têm fé naquele que é a bênção das nações.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Reprovados (Atos 3.11-16)



Um milagre aconteceu. O povo estava atônito. Queria saber o significado daquilo. Fitaram Pedro e João, esperando uma explicação. Pedro aproveita que recebeu a atenção do povo e prega-lhes o evangelho, pretendendo fazer mais um milagre: a cura da cegueira espiritual. Este parágrafo de Atos contém a primeira parte de sua mensagem, na qual ele pretende abrir os olhos dos ouvintes para o fato de que eles foram avaliados e foram reprovados. Uma avaliação semelhante foi feita no tempo do profeta Daniel, quando Deus reprovou o profano rei Belsazar, de Babilônia, o qual foi medido, pesado e sentenciado à divisão do seu reino (Mene, Mene, Tequel, Parsim – Daniel 5.24-30). O povo de Jerusalém, por sua vez, foi reprovado em pelo menos três matérias:

1 – Reprovado em matéria de justiça (11-13)

O homem coxo apegou-se a Pedro e a João. Todo o povo correu atônito para perto deles, ajuntando-se no pórtico chamado de Salomão. Aproveitando a oportunidade, Pedro iniciou um discurso: “Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” Então lhes apresentou o verdadeiro responsável pelo milagre que presenciaram, o “Servo Jesus”, glorificado pelo “Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” mas traído e negado perante Pilatos, o juiz secular, que já tinha decidido não crucificá-lo, reconhecendo que era justo.

O povo, que incitou o governador-juiz a condenar Jesus e dar liberdade a Barrabás, e o próprio Pilatos, que tinha autoridade para impedir a injustiça, todos se enquadraram na reprovação proferida em Isaías 5.20-23, que diz:

“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito! Ai dos que são heróis para beber vinho e valentes para misturar bebida forte, os quais por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça!”

2 – Reprovado em matéria de gratidão (14,15)

Eles negaram o Santo e o Justo, pedindo que se lhes concedesse um homicida. Mataram o Autor da Vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sendo os apóstolos testemunhas oculares.

Salmos 19.1 diz que “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”. Os homens, porém, além de se esquecerem do benefício, ainda mataram aquele que lhes deu vida. Simão Pedro e os seus companheiros também foram tentados a virarem as costas para o autor da vida, quando Jesus proferiu um duro discurso que levou muitos discípulos, horas depois de terem sido alimentadas pelos pães e peixes, a abandonarem o discipulado. Naquela ocasião a graça do Pai livrou Pedro e os demais, do grupo dos doze, a raciocinarem: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.65-68).

O povo que ouvia o discurso de Pedro precisava reconhecer que, ao pedirem para si a liberdade de um homicida e a morte do Autor da Vida, estavam satisfazendo os desejos e seguindo os passos do diabo, que “foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade” (João 8.44), sendo por isso reprovado em matéria de gratidão.

3 – Reprovado em matéria de fé (16)

Foi pela fé no nome de Jesus que o homem coxo se fortaleceu à vista e para o reconhecimento de todos. A fé que vem por meio de Jesus deu ao homem saúde perfeita diante de todas aquelas testemunhas.

Uma vez um jovem pediu a um pastor conselhos sobre uma decisão difícil. Devia ou não batizar suas filhas gêmeas de um mês de idade, sendo que uma delas tinha um grave problema no coração? Ele temia que ela não sobrevivesse, e se angustiava, perguntando-se se deveria batizá-las para que elas fossem libertadas do “pecado original”, e assim tivessem garantida sua entrada no céu. O pastor sentiu que aquele jovem precisava exercitar a sua fé. Esclareceu que algumas igrejas faziam batismo de crianças, e que ele podia batizá-las se quisesse, porém na sua opinião o mais importante naquele momento não era o batismo. Havia uma preocupação do pastor com o jovem pai e sua esposa, para que assumissem a responsabilidade de começar a frequentar fielmente uma igreja que valorizasse o ensino da Palavra, e que aprendessem para poder ensinar suas filhas a andar no caminho do Senhor. Sugeriu que orassem para que Deus desse às crianças saúde, e que crescessem fortes e pudessem aprender os caminhos do Senhor o mais cedo possível. Não se sabe o que o pai aflito decidiu no íntimo do seu coração, mas se ele creu, e se entregou de todo o coração ao Senhor para aprender e praticar a sua vontade, certamente houve salvação naquela casa. Ele pensava na salvação por meio de um único ato de fé, o batismo, mas o pastor tentou abrir-lhe os olhos para o fato de que a fé salvadora não se limita em apenas um ato, pois revela-se plenamente por meio da perseverança em seguir os caminhos do Salvador.

Foi com o propósito de ensinar uma fé perseverante que Paulo e sua equipe voltaram às cidades envolvidas no apedrejamento do apóstolo, logo depois do ocorrido, “fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14.22).

Jesus há de “julgar o mundo com justiça” (Atos 17.31), e o Pai já estabeleceu um dia de julgamento, cuja data somente ele conhece. Nesse dia só serão salvos os que têm com Deus uma aliança, não somente por palavra, mas que pela graça de Deus passaram na prova dos que “andam nas pisadas da fé que teve Abraão” (Romanos 4.12). Ora, todo mundo conhece os pecados de Abraão. Ele foi salvo porém, apesar dos seus pecados, pela graça de Deus, e trilhou o seu caminho como um pioneiro entre os que decidem associar-se a Jesus para salvação mediante a fé. Entretanto, os que se diziam filhos do patriarca, segundo a carne, foram reprovados nessa matéria.

Conclusão

Haverá um julgamento. Não poderemos nos esquivar. Hoje temos a admoestação e a exortação da Palavra de Deus, mas no dia do Senhor, a sentença final. Em matéria de justiça, Deus espera de nós que a promovamos e a pratiquemos em todos os âmbitos de nosso alcance. Ela é “cega”, imparcial. Não pode estar contaminada por nossos interesses imediatos. Em matéria de gratidão, somos “muito obrigados” à honra e obediência para com o Autor da Vida, a quem devemos amar de todo o nosso coração. Em matéria de fé, ela deve se mostrar em nossas decisões, nas horas de crise, com toda perseverança. Os homens da história foram reprovados, mas advertidos em vida, podiam ainda corrigir sua conduta. Façamos isso, enquanto estamos no meio do caminho, para que no último julgamento não sejamos tidos como reprovados.