Quando os deputados votavam o impeachment na Câmara em 2016, eu assisti uma boa parte dos discursos. Ouvindo os argumentos notei muitas coisas razoáveis, e muitas coisas não tão razoáveis. Havia deputados que em minha opinião foram muito sensatos, respeitando o lado oposto, embora tivessem que tomar partido e decidir de que lado estavam. Um deles fez um discurso interessante, sintetizando bem uma diferença de características entre a oposição e os governistas, dizendo que a oposição não tinha ídolos, mas eles sim, tinham (Lula e Dilma). Não sei se devo considerar bom ou ruim o fato de as pessoas na política aderirem a um líder carismático e tomarem o seu partido.
Mas por outro lado, quando o assunto é religião, é claro que nós cristãos temos um líder que é digno de adoração, Jesus Cristo, aquele que ressuscitou dentre os mortos para ser o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 17.14). Como servos dele, temos a obrigação de tomar seu partido, e anunciar a mensagem da ressurreição. Quando um cristão toma partido e anuncia corajosamente a mensagem da ressurreição, sua prática pode gerar pelo menos três resultados.
Primeiro resultado: perturbação do ambiente (1,2)
Enquanto Pedro e João ainda falavam ao povo, “sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos”.
Existe muita gente que pode ficar ressentida quando se fala a verdade, mas ela precisa ser dita. Em 2Timóteo 4.2, por exemplo, Paulo exorta um jovem pastor a pregar a palavra, insistir, “quer seja oportuno, quer não”. Seguindo esse princípio os apóstolos anunciaram ali, naquele ambiente do templo, equivalente à igreja de hoje, uma mensagem que era conflitante com o que defendiam as autoridades mais influentes. Além de ter potencial para perturbar o ambiente da própria igreja, uma mensagem sincera e baseada na palavra de Deus pode gerar perturbação também em outros ambientes, como nos exemplos a seguir:
a) Quando visitamos uma pessoa doente, em seu leito, queremos falhar-lhe sobre a importância de aceitar Jesus como Senhor e Salvador, mas os familiares às vezes não querem que os “perturbemos” com essa mensagem, que no seu ver podem abalar a sua tranquilidade;
b) No restaurante, quando vamos tomar refeições em família ou entre irmãos, costumamos fazer uma oração conjunta, em voz alta, para agradecer. Isto pode perturbar um pouco o ambiente, pois a prática não é usual;
c) Quando vamos distribuir versículos ou evangelizar de casa em casa, perturbamos o sossego das pessoas nos seus lares;
Há perturbações, porém, que não são recomendáveis, por não serem éticas ou produtivas. Há um princípio importante revelado em 1Coríntios 14.23, que diz: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?” Esse princípio mostra que devemos nos preocupar com as pessoas de fora, para que não interpretem mal nossas motivações e costumes. Não podemos usar, por exemplo, o ambiente de trabalho ou o tempo em que deveríamos estar trabalhando para evangelizar.
Segundo resultado: represálias (3)
As autoridades prenderam os apóstolos, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, sendo já tarde.
Vivemos num país que nos garante o direito de culto e de expressão, e nos consideramos felizes por isso, mas a lei não nos garante isenção de represálias, mesmo que veladas ou de baixa intensidade, por parte de pessoas que não concordam com nossa maneira de adoração e de expressão. Podemos citar alguns exemplos de represálias a que estamos sujeitos:
a) Pessoas às vezes passam na rua aqui em frente da igreja e, na hora do culto, gritam provocações;
b) Pessoas estacionam seus carros na frente da Igreja, bloqueando a entrada do estacionamento, sem respeitar os horários de culto (essa atitude pode ser apenas falta de educação, mas também pode ser entendida como uma espécie de retaliação);
c) Os rumos da sociedade moderna tendem ao liberalismo, e com liberais assumindo cada vez mais o poder, os cristãos zelosos serão cada vez mais criticados e limitados em sua liberdade de ensinar, já que ensinam a ortodoxia e o conservadorismo das Escrituras;
d) Uma irmã que, anos atrás, abandonou um bom emprego para torna-se seminarista, sofreu duras críticas, e o pastor foi acusado de subverter o futuro da moça. Essa crítica vinha até mesmo de crentes considerados fiéis;
e) Um casal de missionários que conhecemos bem foi expulso, pelo órgão do governo, da tribo Zoé a qual evangelizavam; outro casal ainda, sustentado parcialmente por nossa igreja, no começo do seu ministério, foi expulso da tribo Deni, por líderes comunitários dos próprios indígenas.
f) Numa nota da Folha de São Paulo de 10/04/2015 nós lemos que um “evangélico é acusado pelo MPF de proselitismo, por pregar a índios em Santarém (PA) [...] acusado de perturbar o ‘direito a manutenção de culturas próprias’. O Coordenador da FUNAI [...] diz que o órgão condena o proselitismo religioso porque pode haver impacto negativo para as tribos”.
(http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1614712-evangelico-e-acusado-de-proselitismo-por-pregar-para-indios.shtml)
Terceiro resultado: colheita de frutos (4)
Apesar do discurso de Pedro ter sido interrompido pela sua prisão, “muitos dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil”.
O resultado que todos queremos é que o nosso trabalho dê muitos frutos. Foi esse um dos resultados da pregação de Pedro e João. Às vezes, porém, nosso trabalho parece não frutificar. Quando isso acontece, podemos atribuir pelo menos três razões para o fruto não vingar, com respectivos versículos que as ilustram:
a) Não semear a Palavra;
"Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?" (Romanos 10.14)
b) Não regar a planta (não persistir, não demonstrar amor, não dar exemplo de vida);
“Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pedro 1.15);
“Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pedro 2.12);
“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa” (1Pedro 3.1);
“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal” (1Pe 3.14-17);
c) Não encontrar receptividade;
“Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto” (Mateus 4.3-7).
Conclusão
Deus nos conceda a graça de que cumpramos a nossa obrigação e anunciemos coerentemente, corajosamente, a mensagem da ressurreição. Fazendo isso, podemos ser tidos como meros perturbadores da ordem e até receber represálias, mas se formos fiéis e corajosos, é grande a possibilidade de colhermos bons frutos. E assim, irmãos, possamos honrar nosso “grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Tomemos partido, anunciemos a ressurreição!