
Um milagre aconteceu. O povo estava atônito. Queria saber o significado daquilo. Fitaram Pedro e João, esperando uma explicação. Pedro aproveita que recebeu a atenção do povo e prega-lhes o evangelho, pretendendo fazer mais um milagre: a cura da cegueira espiritual. Este parágrafo de Atos contém a primeira parte de sua mensagem, na qual ele pretende abrir os olhos dos ouvintes para o fato de que eles foram avaliados e foram reprovados. Uma avaliação semelhante foi feita no tempo do profeta Daniel, quando Deus reprovou o profano rei Belsazar, de Babilônia, o qual foi medido, pesado e sentenciado à divisão do seu reino (Mene, Mene, Tequel, Parsim – Daniel 5.24-30). O povo de Jerusalém, por sua vez, foi reprovado em pelo menos três matérias:
1 – Reprovado em matéria de justiça (11-13)
O homem coxo apegou-se a Pedro e a João. Todo o povo correu atônito para perto deles, ajuntando-se no pórtico chamado de Salomão. Aproveitando a oportunidade, Pedro iniciou um discurso: “Israelitas, por que vos maravilhais disto ou por que fitais os olhos em nós como se pelo nosso próprio poder ou piedade o tivéssemos feito andar?” Então lhes apresentou o verdadeiro responsável pelo milagre que presenciaram, o “Servo Jesus”, glorificado pelo “Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó” mas traído e negado perante Pilatos, o juiz secular, que já tinha decidido não crucificá-lo, reconhecendo que era justo.
O povo, que incitou o governador-juiz a condenar Jesus e dar liberdade a Barrabás, e o próprio Pilatos, que tinha autoridade para impedir a injustiça, todos se enquadraram na reprovação proferida em Isaías 5.20-23, que diz:
“Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito! Ai dos que são heróis para beber vinho e valentes para misturar bebida forte, os quais por suborno justificam o perverso e ao justo negam justiça!”
2 – Reprovado em matéria de gratidão (14,15)
Eles negaram o Santo e o Justo, pedindo que se lhes concedesse um homicida. Mataram o Autor da Vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sendo os apóstolos testemunhas oculares.
Salmos 19.1 diz que “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos”. Os homens, porém, além de se esquecerem do benefício, ainda mataram aquele que lhes deu vida. Simão Pedro e os seus companheiros também foram tentados a virarem as costas para o autor da vida, quando Jesus proferiu um duro discurso que levou muitos discípulos, horas depois de terem sido alimentadas pelos pães e peixes, a abandonarem o discipulado. Naquela ocasião a graça do Pai livrou Pedro e os demais, do grupo dos doze, a raciocinarem: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna” (João 6.65-68).
O povo que ouvia o discurso de Pedro precisava reconhecer que, ao pedirem para si a liberdade de um homicida e a morte do Autor da Vida, estavam satisfazendo os desejos e seguindo os passos do diabo, que “foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade” (João 8.44), sendo por isso reprovado em matéria de gratidão.
3 – Reprovado em matéria de fé (16)
Foi pela fé no nome de Jesus que o homem coxo se fortaleceu à vista e para o reconhecimento de todos. A fé que vem por meio de Jesus deu ao homem saúde perfeita diante de todas aquelas testemunhas.
Uma vez um jovem pediu a um pastor conselhos sobre uma decisão difícil. Devia ou não batizar suas filhas gêmeas de um mês de idade, sendo que uma delas tinha um grave problema no coração? Ele temia que ela não sobrevivesse, e se angustiava, perguntando-se se deveria batizá-las para que elas fossem libertadas do “pecado original”, e assim tivessem garantida sua entrada no céu. O pastor sentiu que aquele jovem precisava exercitar a sua fé. Esclareceu que algumas igrejas faziam batismo de crianças, e que ele podia batizá-las se quisesse, porém na sua opinião o mais importante naquele momento não era o batismo. Havia uma preocupação do pastor com o jovem pai e sua esposa, para que assumissem a responsabilidade de começar a frequentar fielmente uma igreja que valorizasse o ensino da Palavra, e que aprendessem para poder ensinar suas filhas a andar no caminho do Senhor. Sugeriu que orassem para que Deus desse às crianças saúde, e que crescessem fortes e pudessem aprender os caminhos do Senhor o mais cedo possível. Não se sabe o que o pai aflito decidiu no íntimo do seu coração, mas se ele creu, e se entregou de todo o coração ao Senhor para aprender e praticar a sua vontade, certamente houve salvação naquela casa. Ele pensava na salvação por meio de um único ato de fé, o batismo, mas o pastor tentou abrir-lhe os olhos para o fato de que a fé salvadora não se limita em apenas um ato, pois revela-se plenamente por meio da perseverança em seguir os caminhos do Salvador.
Foi com o propósito de ensinar uma fé perseverante que Paulo e sua equipe voltaram às cidades envolvidas no apedrejamento do apóstolo, logo depois do ocorrido, “fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14.22).
Jesus há de “julgar o mundo com justiça” (Atos 17.31), e o Pai já estabeleceu um dia de julgamento, cuja data somente ele conhece. Nesse dia só serão salvos os que têm com Deus uma aliança, não somente por palavra, mas que pela graça de Deus passaram na prova dos que “andam nas pisadas da fé que teve Abraão” (Romanos 4.12). Ora, todo mundo conhece os pecados de Abraão. Ele foi salvo porém, apesar dos seus pecados, pela graça de Deus, e trilhou o seu caminho como um pioneiro entre os que decidem associar-se a Jesus para salvação mediante a fé. Entretanto, os que se diziam filhos do patriarca, segundo a carne, foram reprovados nessa matéria.
Conclusão
Haverá um julgamento. Não poderemos nos esquivar. Hoje temos a admoestação e a exortação da Palavra de Deus, mas no dia do Senhor, a sentença final. Em matéria de justiça, Deus espera de nós que a promovamos e a pratiquemos em todos os âmbitos de nosso alcance. Ela é “cega”, imparcial. Não pode estar contaminada por nossos interesses imediatos. Em matéria de gratidão, somos “muito obrigados” à honra e obediência para com o Autor da Vida, a quem devemos amar de todo o nosso coração. Em matéria de fé, ela deve se mostrar em nossas decisões, nas horas de crise, com toda perseverança. Os homens da história foram reprovados, mas advertidos em vida, podiam ainda corrigir sua conduta. Façamos isso, enquanto estamos no meio do caminho, para que no último julgamento não sejamos tidos como reprovados.
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