domingo, 9 de abril de 2017
Voltar atrás (Atos 3.17-26)
Introdução
Esta parte da mensagem de Pedro me faz lembrar a história de José, quando seus irmãos foram lhe pedir perdão por sua traição. Ele disse que não deviam se afligir. Na verdade eles haviam agido mal, mas Deus, através disso, salvou-os, bem como toda a sua família (Gênesis 50.17,20). Na situação semelhante encontrada neste texto de Atos vemos que, diante da disposição de Deus em perdoar, o povo que estava em Jerusalém precisava se arrepender e se converter, pois era grande o seu pecado. Caso atendessem o apelo de Pedro, se arrependendo e se convertendo, levariam pelo menos quatro vantagens: o cancelamento dos seus pecados; o refrigério de presenciar a vinda de Cristo e a restauração de todas as coisas; a certeza de que não seriam banidos, mas estariam entre o povo escolhido de Deus; e a bênção prometida através da descendência de Abraão.
Primeira vantagem: o cancelamento dos seus pecados (17-19)
O que o povo fez, fez por ignorância, assim como o fizeram as autoridades então constituídas. Foi dessa forma que Deus cumpriu o que havia anunciado por meio dos profetas, dizendo que o seu Cristo havia de padecer. Por isso foi dada ao povo uma chance: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”.
Podem existir abusos quando o assunto é perdão de pecados. Foi assim no caso de Johann Tetzel, nascido em 1465 em Pirna, Alemanha, frade dominicano e pregador, o qual se tornou o grande comissário do Papa para indulgências (cartas que davam direito a perdão de pecados) na época de Lutero. Numa ilustração que chama a atenção para o absurdo que foi a prática de venda de indulgências, conta-se que,
“de acordo com Lutero, depois que Tetzel tinha recebido uma quantidade substancial de dinheiro em Leipzig, um nobre perguntou-lhe se era possível receber uma carta de indulgência para um pecado futuro. Tetzel rapidamente respondeu que sim, insistindo, no entanto, que o pagamento tinha de ser feito de uma só vez. Esse nobre o fez, recebendo logo a seguir a carta selada de Tetzel. Quando Tetzel deixou Leipzig, o nobre lhe atacou ao longo do caminho, deu-lhe uma grande surra, e o mandou de volta de mãos vazias para Leipzig, com o comentário de que esse era o pecado futuro que ele tinha em mente. O Duque George no início ficou bastante furioso por este incidente, mas quando ouviu toda a história, deixou-o ir sem castigar o nobre”.
(Fonte: LuthersSchriften, herausg. von Walch. XV, 446. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Tetzel Acesso em: 08/04/2016)
Pedro, no entanto, apresentou ao povo uma possibilidade real de cancelamento de pecados. Uma oferta irrecusável, gratuita, oferecida através do apóstolo pelo único a quem foi dado o poder de fazê-lo: O Senhor Jesus Cristo. Não era uma oferta vazia, enganosa, fraudulenta, como foi no caso de Johann Tetzel.
Segunda vantagem: ver a Cristo e os tempos de refrigério (no tempo de restauração de todas as coisas) (20,21)
Caso se arrependessem e se convertessem, viriam da presença do Senhor tempos de refrigério, Deus lhes enviaria o Cristo, o qual já estava designado, Jesus, ao qual era necessário que o céu recebesse até aos tempos da restauração de todas as coisas, conforme Deus falou por meio dos seus santos profetas desde a antiguidade.
Os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas são um desejo universal. Quem não gostaria de viver num mundo ideal, sem guerra, sem doença, sem sofrimento, sem catástrofes? Esse era o anelo do povo de Israel, e tem sido o anelo de todos os povos em toda a história. Falando sobre a expectativa popular da volta de Cristo e da consequente restauração de todas as coisas, Craig C. Hill (2004) afirma que
“(...) A Agonia do Grande Planeta Terra, best-seller de Hal Lindsey escrito na década de 1970 [...] argumentava que o mundo estava pronto para um cataclismo, literalmente ‘de proporções bíblicas’, depois do qual Cristo voltaria para reinar por mil anos. Ele calculou que essas coisas deveriam acontecer dentro de quarenta anos — uma ‘geração bíblica’ —, a partir da fundação do moderno Estado de Israel, em 1948. Isso significa que o fim do mundo deveria ter ocorrido em 1988. ‘Muitos eruditos que têm dedicado toda a vida ao estudo das profecias da Bíblia creem assim’.”
(Hill, Craig C. O Tempo de Deus. Tradução de Carlos Caldas e Jarbas Aragão. Julho 2004. Viçosa MG. Editora Ultimato. Pag. 17 Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Tempo-de-Deus-leia.pdf Acesso em: 09/04/2016)
Thomas Ice, escrevendo para a revista Chamada da Meia Noite, em fevereiro de 2014, também fala do mesmo assunto, e declara:
“Primeiro, creio que o Espírito Santo estava extremamente ativo, movendo-se sobre minha geração rebelde como Ele jamais havia feito. O Senhor usou livros como O Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual certamente fez milhões virem a Cristo por meio de sua influência. Filmes como A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite], de Russell Doughten,[1] ensinavam sobre o Arrebatamento antes da Tribulação e também foram um catalisador que levou muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta o Arrebatamento como Cristo vindo feito um ladrão na noite”.
(Thomas Ice - Disponível em: http://www.chamada.com.br/mensagens/ladrao_na_noite.html Acesso em: 09/04/2016. Filme citado no artigo: Russell S. Doughten, Jr., A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite] (1972).)
Os anos que antecederam o de 2000 foram os anos em que nossa igreja mais cresceu, pois muitos aceitaram a Cristo ou se reaproximaram da Igreja com medo de que o mundo acabasse na virada do milênio. Cristo ainda não voltou, e os que o esperam podem até ficar impacientes e perderem a fé, mas podemos dizer pela expectativa de vida nos dias atuais que a espera raramente será mais do que 100 anos (eu creio que, quando a morte vem, essa espera torna-se mais agradável para os filhos de Deus, pois já estarão na presença do Senhor, como numa “sala vip”).
Para o povo que ouvia a pregação de Pedro era vantajoso o arrependimento e a conversão, ao qual seria dado o privilégio de presenciar esse tão almejado tempo de refrigério.
Terceira vantagem: habitar no meio do povo de Deus (não ser banido desse povo) (22-24)
Moisés já dizia com verdade: “O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo”. Todos os profetas, desde Samuel, também anunciaram esses dias.
Podemos entender melhor a figura de alguém que é banido do povo quando pensamos na situação de um presidiário nos dias de hoje. No artigo intitulado “O sistema prisional brasileiro”, disponível no portal da faculdade Estácio, lemos o seguinte relato:
“[...] nada disso impede que uma infinidade de criminosos tenham seus direitos básicos jogados por terra, como no massacre do Carandiru quando a Polícia Militar em busca de retomar o Complexo durante uma rebelião, invadiu-a e executou sumariamente 103 detentos que somados a outros que aparentemente foram mortos em conflitos entre os próprios detentos somaram 111 mortos. Também conquistou repercussão nacional o caso do 42 Distrito Policial que confinou 51 detentos que planejavam uma tentativa de fuga em apenas uma cela de 1,5 x 4m sem ventilação que levou a morte de 18 destes por asfixia.”
(O sistema prisional brasileiro. Faculdade Estácio. Rio de Janeiro. 2009. Disponível em: http://portal.estacio.br/media/1597224/artigo%20sistema%20prisional%20brasileiro%20pseudonimo%20mtjr%20penal.pdf Acesso em: 09/04/2016)
Se neste mundo os que estão “banidos” da sociedade enfrentam situações desesperadoras, imaginamos o que significará ser banido para sempre do povo que Deus tem selecionado para a vida eterna. Mas os que se arrependessem e se convertessem teriam a certeza de não estar entre os banidos quando chegar o momento de Deus separar para si o seu povo.
Quarta vantagem: ser abençoado (ser livre da maldição) (25,26)
Os ouvintes de Pedro eram “filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu” com seus pais, quando disse a Abraão: “Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”. Deus ressuscitara o seu Servo e o enviara primeiramente a eles para abençoá-los, no sentido de que cada um se apartasse das suas perversidades.
Uma pessoa amaldiçoada não tem paz na vida e pode ficar enlouquecida como Lady Macbeth, personagem de William Shakespeare que, atormentada pela culpa, não conseguia livrar-se da impressão de que possuía sangue em suas mãos. Deus amaldiçoou o homem por causa do seu pecado, logo no início da criação, conforme Gênesis 3.17-19:
“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.
O pai de Noé tinha esperança de que Deus amenizaria essa maldição, por isso lhe deu esse nome, “dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gênesis 5.29). O mesmo Noé, mais tarde, porém, amaldiçoou seu neto, Canaã, “e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos” (Gênesis 9.25). Em Deuteronômio 27 e 28 Moisés determinou que o povo, do alto do monte Ebal, pronunciasse maldições para os que fossem desobedientes à Palavra de Deus. O último versículo do Antigo Testamento, em português, termina com a palavra maldição (Malaquias 4.6). Mas Deus oferecia ao povo, por meio da pregação de Pedro, a vantagem, caso se arrependessem e se convertessem, de assumirem sua participação na linhagem dos que são abençoados.
Conclusão:
Assim como o povo de Jerusalém, nós também precisamos reconhecer os nossos pecados, nos arrependermos e nos convertermos. Se reconhecermos os nossos pecados e voltarmos atrás, Deus é fiel e justo, e nos consolará com as mesmas vantagens, cancelando nossos pecados, fazendo-nos presenciar os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas, de forma que não estaremos entre os que serão banidos do seu povo, mas entre os que têm fé naquele que é a bênção das nações.
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