“José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos”.
*Figura disponível em: http://cantinhodashistoriasbiblicas.blogspot.com.br/2016/03/ananias-e-safira-mentira-tem-as-suas.html
Introdução
Existe uma estratégia de mercado muito utilizada em todo o mundo, que é a marcação do produto com um selo de procedência. Um dos produtos que se beneficiam dessa estratégia, no Brasil, é a carne bovina. O Sebrae Nacional publicou no seu site um artigo dizendo que
O Pampa Gaúcho é conhecido como a “terra do churrasco”. Os produtores da região querem ser identificados não somente pelo sabor da carne preparada, mas também pela boa procedência do que vai para a churrasqueira. Desde 2006, mais de 70 deles usam o registro de Indicação Geográfica fornecido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O selo certifica a qualidade da carne local. Juntos, os criadores da região reúnem um rebanho bovino de mais de cem mil cabeças. O selo garante valorização de até 40% no preço da carne, segundo o secretário-executivo da Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (ProPampa), Rogério Jaworski. Só os cortes mais nobres recebem a etiqueta.
Selo de procedência valoriza carne em até 40%. Sebrae Nacional, 2014. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/selo-de-procedencia-valoriza-carne-em-ate-40,45089e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD – acesso em: 12/06/2016)
Embora nem toda carne procedente dos Pampas tenha o selo de qualidade, é inegável que a região adquiriu boa fama pela tradicional qualidade de seus produtos.
Podemos falar de um conceito semelhante quando o assunto é o caráter de alguém. Muitas vezes, ao comentarmos o comportamento de certas pessoas, repetimos ditados como: “tal pai, tal filho”, “filho de peixe, peixinho é”. Temos esse costume por reconhecermos que, muitas vezes, o caráter de um homem está ligado à sua procedência. É o caso de um homem chamado José, apresentado no texto bíblico, o qual foi “selado”, pelos seus conhecidos, com pelo menos três identidades de procedência.
Filho da exortação
A primeira identidade de procedência, com a qual José foi selado, é a de “filho da exortação”, cuja pronúncia na língua aramaica, Barnabas (português Barnabé), tornou-se o nome pelo qual ele ficou mais conhecido. A palavra grega que foi traduzida por “exortação”, é a palavra “paraklesis”, também traduzida por “consolação” em Lucas 2.25, numa referência ao Messias que acabara de nascer. Em Romanos 15.5, Paulo se refere ao Pai como o Deus da paciência e da consolação [paraklesis]”. Já o evangelista João registra que Jesus apontava o Espírito Santo como o portador da consolação, após a sua partida. Usando a palavra grega “parakletos”, traduzida em nossa versão como “consolador”, ele se refere várias vezes ao Espírito, conforme os versículos abaixo:
E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (João 14.16); Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (João 14.26); Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim (João 15.26); Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei (João 16.7).
Jesus também ensina o mestre Nicodemos, dizendo: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito [...]. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3.6,8).
É certo que José havia passado por essa experiência descrita por Jesus, a do novo nascimento, o nascimento do Espírito; então era apropriado que passasse a ser reconhecido como Barnabé, o “filho da exortação”, ou melhor, o “filho da consolação” (paraklesis). Certamente não foi o seu novo nascimento somente, que o levou ao apelido, mas o que dele se podia perceber, a sua bondade, humildade, a sua prontidão em ajudar. Quem quiser receber também a mesma identidade de procedência, precisa nascer de novo, nascer do Espírito Santo, e portar-se como um verdadeiro filho de Deus, tal qual José Barnabé.
Filho de levi (levita)
A segunda identidade de procedência, com a qual Barnabé foi selado, é a de “filho de Levi”. Barnabé era um levita, portanto, um filho de Levi. Havia outro levita famoso, mencionado por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.32). Será que Barnabé, um dia, foi um levita como aquele, que passou de largo para evitar um homem ferido na beira da estrada? Pelo sim ou pelo não, o fato é que neste caso ele aproveitou a oportunidade de mostrar compaixão pelos necessitados, doando voluntariamente o dinheiro da venda de uma propriedade. Todos os que se consideram religiosos, cedo ou tarde terão oportunidades de mostrar compaixão condizente com a fé que propagam. Se você é daqueles que carregam o nome de crente em qualquer lugar onde estejam, as pessoas vão esperar que você aja como crente, que tenha atitudes compatíveis. Não podemos fugir à responsabilidade de nos comportarmos conforme o exemplo de Jesus. Tiago (1.26) faz um alerta para o fato de que,
Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
José soube exercer bem a sua religiosidade, honrando e fazendo ser honrado o título de “filho de Levi”.
Filho de Chipre (natural de Chipre)
A terceira identidade de procedência, com a qual José Barnabé foi selado, é a de filho de Chipre (natural de Chipre). Essa ilha do Mediterrâneo, localizada entre a Cilícia e a Síria, era fértil e encantadora. Existem outras duas passagens, na Bíblia, onde se menciona que alguém é procedente de Chipre. Em uma dessas passagens, fala de discípulos inovadores, que não se contentaram em pregar somente aos judeus, mas pregaram também aos gregos (Atos 11.20). Em outra, fala de um velho discípulo chamado Mnasom, que hospedou Paulo e sua equipe na fatídica jornada até Jerusalém (Atos 21.16).
Será que essas três passagens revelam que os habitantes da ilha tinham a fama de serem boas pessoas? Levar a fama de fazer parte de uma determinada comunidade pode ser uma grande responsabilidade. Como será que as pessoas reagem, ao dizermos o nome da igreja que freqüentamos? Qual será a nossa fama?
Há uma música de Erasmo Carlos, onde ele brinca com a preocupação em manter sua fama. Diz assim um trecho da letra:
Meu bem, chora, chora, e diz que vai embora. Exige que eu lhe peça desculpas, sem demora. E digo não, por favor, não insista e faça pista; não quero torturar meu coração. Perdão à namorada é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau!
CARLOS, Erasmo, CARLOS, Roberto. Minha fama de mau. Gravadora Elenco. Rio de Janeiro, 1983.
Será que nós estamos preocupados em manter a nossa fama, seja ela qual for? Paulo, certa vez, apelou para uma espécie de “chantagem emocional”, desafiando os coríntios a serem generosos na contribuição aos seus irmãos da Judéia, de modo que comprovassem sua boa fama (2Coríntios 9.1-4):
Ora, quanto à assistência a favor dos santos, é desnecessário escrever-vos, porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio junto aos macedônios, dizendo que a Acaia está preparada desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado a muitíssimos. Contudo, enviei os irmãos, para que o nosso louvor a vosso respeito, neste particular, não se desminta, a fim de que, como venho dizendo, estivésseis preparados, para que, caso alguns macedônios forem comigo e vos encontrem desapercebidos, não fiquemos nós envergonhados (para não dizer, vós) quanto a esta confiança.
Enquanto Chipre e até mesmo a Acaia, podiam se orgulhar de sua boa fama, o mesmo não se pode dizer a respeito de outra ilha, Creta, porque a sua fama não era muito boa, conforme Tito 1.12: “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos”.
Conclusão
Quanto será que valem as nossas “identidades de procedência”? Os gaúchos dos Pampas e de outras regiões certificadas com o “Registro de Indicação Geográfica”, podem se gabar da boa qualidade dos seus produtos. Barnabé, por sua vez, era um exemplo a ser seguido, por seu amor prático, representando bem os “filhos da exortação” (nascidos do Espírito Santo), os “filhos de Levi” (religiosos), e os “filhos de Chipre” (comunidade de onde veio). Todos esses podiam se orgulhar do seu bom representante, e afirmar confiantemente que José era um homem de procedência.
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