A igreja nominal de Cristo alcançou muita riqueza nos seus quase dois mil anos de existência. Como exemplo, podemos citar uma notícia no portal G1, em junho de 2017, a qual diz que
O Instituto para as Obras de Religião (IOR), mais conhecido como o banco do Vaticano, ganhou € 36 milhões em 2016, frente aos € 16,1 milhões de 2015, segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira (12).
"Este resultado foi obtido graças a uma atividade de negociação eficaz, em um contexto de grande volatilidade dos mercados, de instabilidade política (...) e de baixas taxas de juros", disse o IOR.
O banco explica ter continuado em 2016 "a servir com prudência e a oferecer serviços financeiros especializados à igreja católica em todo o mundo".
Em 2016 o IOR tinha cerca de 15.000 clientes, principalmente religiosos, congregações e trabalhadores do Vaticano. No dia 31 de dezembro administrava € 5,7 bilhões em fundos.
Banco do Vaticano tem faturamento de € 36 milhões em 2016. Portal G1, 12/06/2017. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/banco-do-vaticano-tem-faturamento-de-36-milhoes-em-2016.ghtml Acesso em: 01/10/2017.
* 36 milhões de euros = R$ 123 milhões em 01/01/2017; 16 milhões = R$ 59.856 milhões; 5,7 bilhões = R$ 21.323,7 milhões;
A Revista Forbes, em janeiro de 2013, fez uma lista dos cinco pastores mais ricos do Brasil. Segundo o jornal Correio News,
A revista americana de economia e negócios Forbes avaliou o patrimônio dos principais pastores evangélicos do Brasil e elaborou uma lista dos cinco mais ricos. Em primeiro lugar, disparado, ficou Edir Macedo (foto), chefe da Igreja Universal do Reino de Deus. A revista estima que seu patrimônio líquido seja de pelo menos US$ 950 milhões (R$ 1,9 bilhão). [...] Valdemiro Santiago, da Mundial, em segundo lugar. Forbes estimou que a patrimônio líquido do pastor que aparece na TV chorando pedindo dinheiro seja de US$ 220 milhões (R$ 440 milhões). [...] Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A revista avaliou o seu patrimônio líquido em US$ 150 milhões (R$ 300 milhões). [...] R.R. Soares, o quarto colocado na lista dos mais ricos. O fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus teve seu patrimônio líquido estimado em US$ 125 milhões (R$ 250 milhões). Estevam Hernandes Filho e sua mulher Sônia, da Igreja Renascer, ficaram em quinto lugar, com patrimônio líquido estimado em US$ 65 milhões (R$ 130 milhões).
Os Pastores mais ricos do Brasil, segundo a Forbes. O Correio News, maio 2016. Disponível em: http://ocorreionews.com.br/portal/2016/05/29/fortuna-de-pastores-brasileiros-chama-a-atencao-da-forbes/ Acesso em: 01/10/2017. Citando como fontes a revista Exame, 29 de maio de 2016, e o artigo de ANTUNES, Anderson. The Richest Pastors In Brazil. Site da Forbes, 17/01/2013, disponível em: https://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/01/17/the-richest-pastors-in-brazil/#1105384d5b1e Acesso em: 01/10/2017.
A Bíblia, porém, fala da riqueza que a Igreja tinha no início de sua formação. Em Atos 4.32-35 podemos notar que haviam pelo menos três recursos abundantes que faziam da igreja primitiva uma igreja rica.
Primeiro recurso abundante na igreja: Comunhão (32)
Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.
Gostamos de brincar, quando alguma cozinheira erra na medida do arroz, e ele fica grudado, dizendo que é um arroz “unidos venceremos”; é senso comum a ideia de que a “união faz a força”; pensando nisso, as empresas modernas e bem sucedidas sempre se empenham para manter, da melhor forma possível, o seu “clima organizacional”. Na igreja, há milênios, ecoa o apelo a “Evódias” e a “Síntiques” para que “pensem concordemente, no Senhor” (Filipenses 4.2).
Apesar de não faltarem apelos, houve divisão na igreja desde os primórdios, conforme veremos em Atos 6, com os helenistas murmurando contra os hebreus. Até mesmo líderes exemplares como
Barnabé e Saulo tiveram desavenças que os levaram a se separar no ministério (Atos 15.36-40). A história da igreja é uma história de divisões. É inevitável a divergência de opiniões.
Por isso mesmo, a comunhão dos cristãos é um milagre operado pelo Espírito Santo, que os mantém unidos no que é fundamental em termos de fé, e do “amor uns aos outros”, que é o autenticador dos que são reconhecidamente discípulos de Cristo. A comunhão se materializa no compartilhamento de bens, quando o crente considera que suas posses não são exclusivamente suas, mas estão à disposição do Senhor, para socorrer a quem precisa. Este hábito de comunhão, de compartilhar seus bens, ainda prevalece na igreja, entre os que sinceramente servem ao Senhor Jesus. Entre os bens que se compartilha em nome da comunhão, o que mais chama a atenção é o dinheiro. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada entre 2002 e 2003, divulgada pelo IBGE em março de 2012, mostra que
As famílias que têm como principal membro um praticante da religião espírita têm rendimento médio mensal de R$ 3,796 mil – valor 2,9 vezes maior que o rendimento médio dos evangélicos pentecostais, de R$ 1.271, que têm o menor rendimento. Ainda assim, a proporção entre o ganho e o volume gasto com doações, pagamento de pensões, mesadas e dízimos, na classificação de outras despesas correntes, é muito maior entre os evangélicos: de 21,4% entre os pentecostais (R$ 22,79), chegando a 34% em outras correntes evangélicas (R$ 59,16). Entre os espíritas, esta participação é de 8,2% (42,58).
Embora os números acima possam nos dar uma noção da maneira como os crentes administram seus bens, é importante lembrar que a comunhão não se resume, nem tem como principal exemplo as contribuições monetárias. A prática da comunhão, do ajuntamento proativo e constante dos crentes, pressupõe a consideração de que cada indivíduo é um mero administrador de seus bens. Tudo o que ele possui, o seu tempo, e até mesmo sua própria alma, pertencem ao Senhor. Deus permita que o abundante recurso da comunhão esteja ainda presente em cada comunidade verdadeiramente cristã.
Segundo recurso abundante na Igreja: Poder (33a)
Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, (...)
Os apóstolos eram um canal de grande poder, vindo de Deus, manifestando-se na igreja, alcançando os pobres e necessitados. O poder de fazer milagres dava respaldo à mensagem do evangelho. Jesus disse aos apóstolos, em Atos 1.8: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Paulo também, embora não estivesse com Jesus no Monte das Oliveiras, recebeu o mesmo Espírito, conforme diz em 1Coríntios 2.4: “a minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”. Os santos todos, da igreja, receberam poderosos e diversos dons, de acordo com 1Coríntios 12.10: “[...] a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las”. O apóstolo orou pelos efésios (3.16) “para que, segundo a riqueza da sua glória”, Deus concedesse que eles fossem “fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior”. O evangelho que chegou aos tessalonicenses não foi somente em palavra, “mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”, assim como eles sabiam ter sido o procedimento de Paulo e seus ajudantes entre eles e por amor deles (1Tessalonicences 1.5). O jovem pastor Timóteo foi alertado por seu mentor de que não lhe fora dado por Deus “espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”, de forma que ele não devia se envergonhar do “testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado”, Paulo, pelo contrário, deveria participar com ele “dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Timóteo 1.7,8).
Assim, quem quiser dar um testemunho poderoso, não pode deixar que seja enfraquecido pelo poder do pecado. Uma palavra com credibilidade depende muito do caráter de quem a profere, mas, sobretudo, depende desse abundante recurso que é o poder do Espírito Santo, poder esse que compõe o “patrimônio espiritual” desta rica igreja de Cristo.
Terceiro recurso abundante na igreja: Graça (33b-35)
(...) e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.
Lemos, na Wikipédia, que “Caridade (lat caritate: Amor de Deus e do próximo. Benevolência, bom coração, compaixão. Beneficência, esmola.) é um termo derivante do latim caritas (afeto, amor), que tem origem no vocábulo grego chàris (graça)” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Caridade Acesso em: 04-06-2016).
Em certo momento do ministério público de Jesus, ele enviou os doze numa missão, dizendo: “curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8). Essa prática de ser gracioso se estendeu à igreja, tornando-se obrigação de todos os crentes.
Quando falamos de comunhão, pensamos mais na comunidade dos crentes, mas quando falamos de Graça, o público-alvo é mais amplo. Assim como nosso Pai celeste “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45), assim também deve ser graciosa a igreja. Quanto mais rica for de bens terrenos, mais responsabilidade terá para com os pobres. Isto vale também para os indivíduos. Parece que essa consciência de responsabilidade está bem expressa numa notícia veiculada no portal de notícias da Uol, em maio de 2016:
Conhecida como Baronesa Thyssen, Carmen Cervera, a sétima mulher mais rica da Espanha, incendiou as redes sociais ao declarar que "ser rica é difícil" e "é muita responsabilidade". Em uma entrevista publicada no jornal especializado em economia "Cinco Dias", a aristocrata declarou: "Ser rico sempre é difícil, é pior do que ser pobre. Vem uma grande responsabilidade para si mesma e para as pessoas que dependem de você."
(http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2016/05/24/milionaria-causa-polemica-ao-dizer-que-ser-rica-e-dificil.htm Acesso em: 04-06-2016)
O sábio Salomão, em seus estudos sobre a vida na terra, disse em uma de suas conclusões que
"Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir" (Eclesiastes 5:11,12).
Embora o rico, se não quiser lutar contra a própria natureza, seja praticamente obrigado a ser gracioso, a graça que vem de Deus não depende de ser rico ou não. Os pobres costumam ser mais graciosos do que os ricos, ao compartilhar o pouco que têm. Frequentemente, Deus abençoa os seus filhos para que sejam canais de bênção para outros. A graça de Deus para conosco tem o objetivo de nos estimular às boas obras, conforme 2Coríntios 9.8: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra”.
O crente que cumpre bem o seu papel de ser gracioso, é ainda mais abençoado, porque aqueles que são por ele ajudados, oram a seu favor “com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus” que neles há (2Coríntios 9.14).
Pedro no faz uma exortação: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1 Pedro 4.10).
Clive Staples Lewis, famoso escritor britânico, escreveu sobre a caridade, dizendo:
Não acredito que alguém possa estabelecer o quanto cada um deve dar. Creio que a única regra segura é dar mais do que nos sobra. Em outras palavras, se nossos gastos com conforto, bem supérfluos, diversão etc. se igualam ao do padrão dos que ganham o mesmo que nós, provavelmente não estamos dando o suficiente. Se a caridade que fazemos não pesa pelo menos um pouco em nosso bolso, ela está pequena demais. É preciso que haja coisas que gostaríamos de fazer e não podemos por causa de nossos gastos com caridade. Estou falando de "caridade" no sentido comum da palavra. Os casos particulares que afetam parentes, amigos, vizinhos ou empregados, de que Deus, por assim dizer, nos força a tomar conhecimento, exigem muito mais que isso: podem inclusive nos obrigar a pôr em risco nossa própria situação. [...] A regra comum a todos nós é perfeitamente simples. Não perca tempo perguntando-se se você "ama" o próximo ou não; aja como se amasse. Assim que colocamos isso em prática, descobrimos um dos maiores segredos. Quando você se comporta como se tivesse amor por alguém, logo começa a gostar dessa pessoa.
De acordo com Emerson Detoni, Santo Agostinho ensinava que
[...] Credere in Deum implica um caminhar até Deus, um movimento de amor. Movimento que compreendemos perfeitamente quando lemos o Enchiridion e percebemos que a fé na existência de Deus não pode estar desprovida da Caridade, como era a fé dos demônios, que acreditavam unicamente para evitar Jesus e não para viver Nele (Ench. 2.8). A verdadeira fé “reclama” a graça, através da qual pode cumprir as boas obras que conduzem a Deus. Ou seja, a fé impetra a graça e ao receber o Espírito de amor, torna-se ativa (Ench. 31.117). Na visão de Agostinho, a única fé que se justifica é a fé que se faz ativa por meio do amor.
DETONI, Emerson. Santo Agostinho: Fé, Esperança e Caridade. Disponível em: http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05.pdf Acesso em: 04-06-2016)
Conclusão
A riqueza que o Espírito Santo trouxe à Igreja a tornou abundante em comunhão, poder e graça. Resultados diferentes são produzidos pelo espírito do mundo. Paulo falou à igreja em 1Coríntios 2.12: “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente”. Mas tinha uma preocupação, a de que a igreja acabasse influenciada pelo espírito que está no mundo, e por isso fez declarações como a que lemos em 2Coríntios 12.20: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos”. Qual espírito está agindo em nós hoje? Quando Jesus voltar, nos encontrará agindo segundo o Espírito que nos deu, ou segundo o espírito do mundo? Sejamos sóbrios, vigilantes, e utilizemos bem os abundantes recursos que o Espírito Santo nos dá, para que a riqueza que se destaque na igreja seja de comunhão, poder e graça.
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