sábado, 9 de dezembro de 2017

A congregação do Senhor (Atos 5.12-16)



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Os apóstolos faziam milagres, e todos os crentes comportavam-se de forma peculiar, de forma que agradasse a população. Mas ninguém ousava ajuntar-se a eles. Podemos comparar a atitude da população do tempo apostólico com os dias de hoje, pois vemos que, da mesma forma, há grandes ajuntamentos em jogos de futebol, shows, bares e boates, e das pessoas que se ajuntam nesses ou noutros lugares para a prática de coisas que lhes dão prazer, poucos há que ousariam se ajuntar para fazer o que fazem, estando numa igreja. Apesar de ser comum ouvirmos que “o mundo está perdido”, ainda existe certo pudor que faz o povo distinguir o que é um ambiente santo e o que é um ambiente profano. Reunindo-se numa igreja, as pessoas não ousariam se comportar como se estivessem num estádio de futebol ou num bar. Não ousam ajuntar-se aos crentes. Ainda bem! Outro dia, brincamos numa aula de Escola Dominical, sugerindo que podíamos chamar um grande astro pop para fazer um show e assim encher a igreja. Porque não colocamos essa ideia em prática? Porque é inconcebível, tanto para nós quanto para os fãs do astro pop.

Apesar de a população não ousar ajuntar-se aos discípulos, as pessoas lhes tributavam grande admiração. A expressão original poderia ser traduzida como: "eles engrandeciam os crentes". Se eles engrandeciam os crentes é porque acreditavam que eram especiais, que realmente tinham uma aliança com Deus, o que lhes dava privilégios dignos de quem é amigo do Deus Poderoso. O povo acreditava nisto, mas não queria se ajuntar a eles. Pode ser que batessem palmas, que os incentivassem a viverem uma vida de fé, mas não queriam se ajuntar a eles. Encontramos entre o povo de hoje muitos que têm esse tipo de fé. Uma fé assim, no entanto, não pode salvar suas almas. Para ser salvo desta geração perversa, é preciso mais do que admirar, engrandecer a Deus e aos seus filhos. É preciso ter um tipo de fé que ousa ajuntar-se a eles, colocar-se em posição de evidência, pegar a Bíblia e caminhar até a igreja, ir para o culto enquanto os colegas e conhecidos ficam em casa, vão para os bares ou para o estádio de futebol.

O resultado visível daquele movimento histórico era que crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, e eles estavam frequentemente congregados. Podemos notar, pela narração do texto indicado, que havia pelo menos três motivos para eles se congregarem frequentemente.

Adoração (12)

“[...] E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão”.

A palavra adoração não aparece neste texto, mas a ideia de adoração encontra-se no fato de que eles se reuniam periodicamente no templo, especificamente no Pórtico de Salomão. O templo, todos sabem, é um lugar de adoração. Foi idealizado e edificado para promover a adoração.

Deus quer que nós o adoremos, porque este é um dos motivos pelos quais ele nos criou. Jesus, ao responder às tentações de Satanás, citou o antigo testamento no trecho em que diz: “[…] Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mateus 4.10; Lucas 4.8; Êxodo 23.24; Deuteronômio 5.9).

Todos os domingos, em nossa igreja, nos reunimos para celebrar o que chamamos de “culto de adoração”. Mas nós estamos, de fato, adorando? Adorar significa prostrar-se de forma humilhante. Já fui a mais de uma igreja onde, em dado momento do culto, fomos dirigidos a nos ajoelharmos no chão. Isto já aconteceu também aqui em nossa igreja, algumas vezes, mas não é um hábito. Se nós não nos prostramos literalmente, então o que estamos fazendo em substituição a isso? Temos uma forma melhor de adorar do que literalmente nos prostrarmos fisicamente até o chão?

O publicano de Lucas 18.13 tinha uma forma melhor de adorar, pois ele ficou “em pé, longe” e “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”.

Ana, mãe de Samuel, também tinha uma forma melhor de adorar, “porquanto Ana só no coração falava; seus lábios se moviam, porém não se lhe ouvia voz nenhuma;” (1ª Samuel 1.13). Ana e o publicano se humilharam perante o Senhor. Mesmo que não estivessem fisicamente prostrados, estavam prostrados na atitude do seu coração.

Em algumas igrejas, as mulheres ainda são orientadas a usar o véu, por causa de 1ª Coríntios 11.5-15. O ato de cobrir a cabeça simbolizava humildade por parte da mulher. No mundo existe outras situações em que cobrir a cabeça simboliza humildade. Por exemplo, há muito tempo atrás, nas escolas, os professores costumavam colocar os alunos problemáticos num canto da sala, e colocavam em suas cabeças um “chapeuzinho de burro”. Existe também uma expressão que usamos quando alguém se sente ofendido com algum comentário que fizemos, achando que era uma indireta para ele. Nós dizemos: “se a carapuça serviu...” Em nossa igreja, não temos o hábito de exigir o uso do véu, porque temos uma forma melhor de mostrar submissão. Oramos para que as mulheres de nossa igreja aprendam a se comportar como Pedro orientou em 1ª Pedro 3.3-5:

Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido.

Nós, homens e mulheres, nos congregamos para nos humilharmos diante de Deus. Isto é o cerne da adoração. Ninguém deve se congregar para se ostentar, mas para se humilhar. Somos ensinados em Filipenses 2.3 que cada um deve considerar os outros superiores a si mesmo. Se nós conseguirmos praticar isto, vão acabar quase todos os nossos problemas de relacionamento. Você já viu um escravo reclamar porque o seu senhor não notou a sua presença, porque não o cumprimentou, porque foi indelicado com ele? Jesus quer que nós nos tornemos escravos (servos) uns dos outros por amor (Gálatas 5.13). Isto sim é que é uma boa adoração.

Comprometimento (14)

“[…] E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor”

A palavra traduzida para “agregados”, de acordo com Strong (1999), é a palavra grega prostithemi, que tem o significado de juntar-se a uma companhia. Muitas vezes alguém me pergunta: “por qual time você torce?”. Às vezes eu digo que é o Internacional, às vezes digo que é o Curitiba, às vezes o Palmeiras, e ás vezes eu digo que não torço por nenhum time. Mas eu gostaria muito de dizer que jogo no time de Jesus, que “visto a camisa”, mesmo. Para que isto seja verdade, eu preciso mostrar-me comprometido com o seu reino. Era assim que a igreja primitiva se mostrava. Se houvesse uma camisa de uniforme, eles iam querer ter uma. Se tivesse um álbum de figurinhas, iam querer colecionar. Iam colar adesivos em seus violões e em suas motos e carros, porque eles queriam estar praticamente grudados com o Senhor e tudo o que se relacionava com ele. Por isso se congregavam frequentemente, para ouvir dos apóstolos tudo o que Jesus falava e fazia. Nós devíamos ser assim também na igreja, devíamos grudar nos estudos, agarrar nas promessas de Deus, decorar versículos, nos agregar à companhia de Jesus.

Minha avó paterna não tinha muitos luxos, se contentava com pouco e não me lembro de ouvir, de sua parte, uma reclamação sequer. Só uma coisa a deixava transtornada, era quando perdia o seu pequeno rádio de pilhas. Ela amava muito o seu rádio. Era pequenino, cabia na palma de sua mão, e ela se deitava sempre com ele ligado, bem pertinho do seu ouvido, para escutar, de madrugada, o seu programa favorito, o programa do “Zé Bettio”. Quando ela procurava o rádio e não o encontrava, saía pela casa perguntando: “Alguém viu o meu Zé Bettio”? Era o nome do seu rádio de pilhas. Nós devíamos ser zelosos assim para ouvir, na congregação, tudo o que se relaciona com o nosso Senhor Jesus. Devíamos ser como Maria, irmã de Marta que, segundo Lucas 10.38-42, não perdia por nada neste mundo uma oportunidade de ouvir o que Jesus tinha para dizer. Ela se desligava de tudo para ouvir o Mestre quando ele falava, assim como os homens fazem hoje para assistir a um jogo de final de campeonato.

Mostrar-nos comprometidos, agregados ao Senhor Jesus, eis um bom motivo para estarmos congregados.

Busca de curas (15,16)

“[...] e todos eram curados”.

Todos os que se congregavam pedindo curas, eram curados. Por que isto não acontece hoje? Por que muitos vêm à igreja pedindo cura, mas não são curados? Vamos analisar com mais calma esta questão. Será que, de fato, não existem mais milagres?

Eu me lembro de um acontecimento que, para mim, foi muito marcante, uma postagem de um irmão, no grupo da igreja, quando ele foi curado do câncer na garganta. Ele tirou uma foto de seus joelhos no chão, dizendo que esta era a posição que ele prontamente assumiu ao sair do consultório, depois de receber a notícia de que o tratamento havia tido um excelente resultado, e que havia sido curado de um câncer na garganta. Foi um milagre! Todos sabem que as pessoas não se curam de câncer assim, facilmente. Quem conheceu esse irmão, e sabe de quem estou falando, talvez me dissesse: “você não sabe que esse irmão morreu de câncer?” De fato ele morreu de câncer, porque havia outro câncer atingindo o seu pulmão, e desse outro ele não foi curado. Mas a alegria que ele sentiu e a glória que ele deu a Deus na cura do primeiro câncer foram legítimas e o acontecimento foi reconhecido, de fato, como um milagre.

Outra irmã, esposa de pastor, muito querida em nossa igreja, certa vez escapou da morte por um milagre. Se você soubesse de quem estou falando, certamente protestaria em seu íntimo: “você não sabe que essa irmã morreu por causa de um terrível câncer? Que oramos fervorosamente, mas não fomos atendidos quanto à sua cura?” Mas eu estou me referindo ao que aconteceu 20 anos antes de sua morte, quando ela tinha cerca de 54 anos, e escapou da morte num acidente extremamente grave, no caminho para o seminário onde lecionava. Segundo o testemunho do pastor, seu marido, ela chegou a morrer e ressuscitar várias vezes, deitada na beira da estrada, enquanto o pastor orava pedindo a Deus que ela não morresse. Ela milagrosamente sobreviveu, voltou a dirigir, e exerceu diligentemente o seu ministério até os 74 anos, quando o Senhor a tomou para si. Isto foi um dos muitos milagres que a nossa igreja já presenciou.

“Mas espere um pouco!”, diria um irmão de coração inflamado. “Não force a barra! O novo testamento narra milagres excepcionais. Paralíticos andando, cegos enxergando, mortos ressuscitando. É disto que estamos falando quando dizemos que na igreja primitiva se operavam milagres”. Aqueles milagres eram mesmo excepcionais. Lázaro, por exemplo, irmão de Marta e Maria, foi ressuscitado depois de quatro dias, quando seu corpo já estava em decomposição. Mas desviemos um pouco o nosso olhar para além desse acontecimento extraordinário. Vamos olhar mais em redor. Alguém porventura acha que, depois desse milagre, Lázaro e suas irmãs viveram felizes para sempre? Quando um pregador muito empolgado narra eloquentemente esse milagre, ele pode levar a congregação ao delírio. Mas um pregador honesto deve admitir que este não foi o final da história. Basta ler João 12. 10, 11, e ficaremos sabendo que “[...] os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro; porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus”. É isto! Lázaro não deve ter aproveitado por muito tempo sua vida ressurreta. É quase certo que os judeus logo o assassinaram.

Você vai à sua igreja em busca de um milagre? Você não está errado, nem querendo demais. Você precisa mesmo ter fé. Sem fé é impossível agradar a Deus; “[…] é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6). Tenha fé, e Deus lhe fará milagres. As irmãs de Lázaro, provavelmente, tiveram que suportar a tristeza e a angústia da perseguição e possível assassinato de seu irmão querido, mas antes tiveram a maravilhosa experiência de que o Senhor é bondoso, pois receberam seu milagre.

O irmão e a irmã de nossa igreja, dos quais falei acima, partiram precocemente, nos deixando angustiados e com saudades, mas antes também tiveram a experiência de que o Senhor é bondoso, e receberam os seus milagres.

Reflexão

Quando estivermos congregados em nossa igreja, vamos nos lembrar de que estamos reunidos para a verdadeira adoração, para nos mostrarmos comprometidos com o Senhor, querendo aprender e nos apropriar de tudo o que lhe diz respeito. E tenhamos fé, porque ele é poderoso para atender os nossos pedidos, nos dar paz em meio às tribulações. Ele ainda é, e sempre será, o Deus que faz milagres. Contemos com isso.

Gostaria de deixar também uma palavra a você, que ainda não se juntou a nós. Oro para que, um dia, você tenha a “ousadia” de fazê-lo. Que Deus, por sua graça e misericórdia, nos reúna e nos conserve sempre como a Congregação do Senhor.

Referências

As citações da Bíblia seguem a versão Almeida Revista e Atualizada, SBB.

STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica do Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999

Foto: Muro das Lamentações. Autor: Richard Nowitz.  História - Galeria de Fotos, Judéia Antiga. National Geografic, 08 ago. 2017. Disponível em: <https://origin-br.ngeo.com/photography/2017/08/galeria-de-fotos-judeia-antiga?image=24928>. Acesso em 10 dez. 2017.

 



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