domingo, 11 de fevereiro de 2018

Conflito de poderes (Atos 5.17-25)

Muitos falam, hoje em dia, sobre o perigo de haver uma crise entre poderes, no nosso país. Durante o processo de impeachment, em 2016, havia um presidente interino e uma presidente afastada. Grande parte das autoridades que julgavam a presidente eram também alvos de graves acusações. Nos vários processos em curso envolvendo políticos, observava-se que um juiz mandava prender, e outro mandava soltar; um juiz mandava bloquear bens e outro mandava desbloquear. Esses conflitos, porém, são considerados normais dentro de um país democrático. Há instâncias inferiores e instâncias superiores. Há delimitações na esfera de atuação entre os três poderes da república. Não haveria esses conflitos se hão houvesse democracia. Assim, podemos dizer que o conflito entre os poderes é como um “efeito colateral” da democracia. O texto indicado nos faz lembrar que Deus permitiu que os homens tivessem poderes espirituais, que muitas vezes geram conflito, mas também acabam contribuindo para o avanço do evangelho.


O poder da inveja (17,18)


“Levantando-se, porém, o sumo sacerdote e todos os que estavam com ele, isto é, a seita dos saduceus, tomaram-se de inveja, prenderam os apóstolos e os recolheram à prisão pública”.


 


O poder da inveja é muito grande para o mal. Tiago 3.16 diz que “onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins”. O poder da inveja é classificado como um dos mais nocivos em Provérbios 27.4: “Cruel é o furor, e impetuosa, a ira, mas quem pode resistir à inveja?”. Sabemos, por meio de Marcos 15.10 e Mateus 27.18, que foi por inveja que Cristo foi entregue a Pilatos para ser crucificado. 


Mas o poder da inveja pode ser revertido para o bem. Eclesiastes 4.4 diz que “todo trabalho e toda destreza em obras provêm da inveja do homem contra o seu próximo”. Já vi muitos automóveis com adesivos dizendo: “Não tenha inveja. Faça como eu: trabalhe”. A inveja acaba trazendo coisas boas se, por causa dela, os homens se tornam mais produtivos. Até mesmo quando se fala de evangelização, pois Paulo disse em Filipenses 1.15, que “alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; (...)”;


Quando aconteceu a reforma protestante, a Igreja Católica foi abalada, e um dos resultados foi que ela se viu obrigada a apressar algumas reformas que já vinham sendo amadurecidas há décadas ou séculos antes. Nós podemos dizer, de certa forma, que a inveja do sucesso do movimento protestante levou a Igreja Católica a apressar sua própria reforma, e alguns historiadores chamam essa reação de “contrarreforma”. Um dos resultados mais significantes dessa reforma católica foi o surgimento da “Companhia de Jesus”, cujos membros eram chamados de Jesuítas. Para nós, brasileiros, isto é ainda mais relevante, pois foram os jesuítas os maiores responsáveis pela evangelização do Brasil, desde os primórdios do “descobrimento”. Lemos na Wikipédia que


“Desde 1549 chegara ao Brasil (Bahia) o primeiro grupo de seis missionários liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos pelo governador-geral Tomé de Sousa. Certamente a maior obra jesuítica em terras brasileira consistiu na fundação de São Paulo de Piratininga em torno do seu famoso colégio, ponto de origem da expansão territorial e da colonização do interior do país. As missões jesuítas na América Latina foram controversas na Europa, especialmente na Espanha e em Portugal, onde eram vistas como interferência na ação dos reinos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à escravidão indígena. Eles fundaram uma série de aldeamentos missionários - chamados missões ou misiones no sul do Brasil, ou ainda reducciones, no Paraguai - organizados de acordo com o ideal católico, que, mais tarde, acabaram sendo destruídos por espanhóis, e principalmente por portugueses, à cata de escravos”.


 


O poder da inveja dos sacerdotes e dos demais saduceus lançou os apóstolos na prisão, mas esse conflito somente atiçou mais ainda o desejo deles de continuar sua obra de evangelização e de promoção do Reio de Deus.


O poder da obediência (19-24)


Mas, de noite, um anjo do Senhor abriu as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, lhes disse: Ide e, apresentando-vos no templo, dizei ao povo todas as palavras desta Vida. Tendo ouvido isto, logo ao romper do dia, entraram no templo e ensinavam. Chegando, porém, o sumo sacerdote e os que com ele estavam, convocaram o Sinédrio e todo o senado dos filhos de Israel e mandaram buscá-los no cárcere. Mas os guardas, indo, não os acharam no cárcere; e, tendo voltado, relataram, dizendo: Achamos o cárcere fechado com toda a segurança e as sentinelas nos seus postos junto às portas; mas, abrindo-as, a ninguém encontramos dentro. Quando o capitão do templo e os principais sacerdotes ouviram estas informações, ficaram perplexos a respeito deles e do que viria a ser isto.


Um anjo foi enviado para resolver o problema que se formava na terra. Já imaginou se os anjos não obedecessem ao Senhor? E se os apóstolos não obedecessem? Eles podiam questionar: “Mas como eu vou pregar no templo, se as autoridades nos prenderam por causa disso”?


A obediência cega levou os jesuítas ao sucesso. Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, disse: “Acredito que o branco que eu vejo é negro, se a hierarquia da igreja assim o tiver determinado”. Sua obediência era louvável, o problema é que estava direcionada a mortais falhos e potencialmente corruptos.


Às vezes, obedecer é difícil. Parece que a ordem não faz sentido. Acho que Filipe sentiu-se assim, quando Deus o mandou ir à estrada de Jerusalém a Gaza (Atos 8.26). O discípulo Ananias, mesmo sendo obediente, quando o Senhor lhe mandou ir visitar Saulo, respondeu: “Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém” (Atos 9.13). Paulo e os companheiros provavelmente não entenderam porque o Espírito os impediu de pregar em Bitínia (Atos 16.7), mas atenderam prontamente quando entenderam que deviam partir para a Macedônia.


A obediência aos mandamentos de Deus e à fé em Jesus podem nos colocar em muitas situações de conflito, seja com autoridades, seja com familiares, com melhores amigos, com pessoas amadas, e até com nossos íntimos desejos, mas Jesus nos ensinou a orar ao Pai: “faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mateus 6.10). Ele mesmo, em grande conflito, no Monte das Oliveiras, orou ao Pai: “não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22.42).


 


O poder da vida (25)


Nesse ínterim, alguém chegou e lhes comunicou: Eis que os homens que recolhestes no cárcere, estão no templo ensinando o povo.


Os discípulos ainda estavam vivos. Foi inútil a tentativa dos sacerdotes, de intimidá-los. Libertados do cárcere, eram como brotos renascendo, provando a força recebida de sua raiz.


O poder da vida é dado por Deus, a princípio, sem distinção. Prova disso é que o mundo contemporâneo tem lutado para combater o terrorismo, mas parece que não consegue vencê-lo. Por mais que incrementem os aparatos de segurança, os atentados vão surgindo de onde menos se espera. O terrorismo trabalha para impor o medo, e tendo recebido, de Deus, o poder da vida, pretendem impor sua vontade pelo terror da morte.


A vontade de Deus, porém, é que a vida espiritual seja multiplicada por meio de sua palavra, como diz Isaías 55.10,11:


Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra, e a fecundem, e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei.


Enquanto tivessem o poder da vida, não haveria conflitos que impedissem os apóstolos de anunciarem a Palavra de Deus, conforme já haviam declarado Pedro e João: “[...] Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4.19,20).


Conclusão:


A inveja não é um bom guia, e a vida, sem orientação correta, pode nos dar forças para ofender o seu próprio Autor. Por isso, se pudéssemos mensurar esses três poderes, o maior seria o poder da obediência. Não a obediência cega, mas uma obediência iluminada pela Palavra de Deus. Assim orientados, caminharemos para o equilíbrio, em vez de conflito entre poderes.


Referências


Companhia de Jesus. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Jesus. Acesso em: 28 jul. 2016.

 


Figura: Revolução Francesa. Disponível em: https://library.brown.edu/haitihistory/3.html. Acesso em: 11 fev. 2018.

 

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