Quando eu era recém-convertido, logo aprendi na Escola Dominical que Deus sempre responde à nossa oração, mas a resposta pode ser: sim, não, ou espere. Ninguém citou um versículo para apoiar essa tese, mas aceitei porque faz sentido. Ao ler este parágrafo de Atos, porém, saltou aos meus olhos uma tese semelhante, ainda que tenha escolhido nomes diferentes para identificar os tipos de resposta. Entendi pelo texto bíblico que, na oração, Deus espera que tenhamos fé e perseverança. À nossa oração, Deus pode nos dar pelo menos três tipos de resposta.
I - Resposta Velada (1-6)
Por aquele tempo, mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar, fazendo passar a fio de espada a Tiago, irmão de João. Vendo ser isto agradável aos judeus, prosseguiu, prendendo também a Pedro. E eram os dias dos pães asmos. Tendo-o feito prender, lançou-o no cárcere, entregando-o a quatro escoltas de quatro soldados cada uma, para o guardarem, tencionando apresentá-lo ao povo depois da Páscoa. Pedro, pois, estava guardado no cárcere; mas havia oração incessante a Deus por parte da igreja a favor dele. Quando Herodes estava para apresentá-lo, naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, acorrentado com duas cadeias, e sentinelas à porta guardavam o cárcere.
A igreja orava incessantemente por Pedro, quando ele foi preso por Herodes. Podemos deduzir disto que a igreja também orou pelos outros que foram presos anteriormente, inclusive por Tiago, que foi passado “ao fio da espada”. Veremos adiante que Deus tirou milagrosamente a Pedro do cárcere. Mas, e quanto a Tiago? Por que Deus não atendeu ao pedido da igreja e deixou que ele morresse? Bem, o fato é que Deus respondeu à oração, mas talvez não tenha sido do jeito que os irmãos esperavam. Digo que esse é um tipo de resposta velada de Deus, ou seja, uma resposta misteriosa, que não entendemos o motivo.
Embora não possamos entender plenamente o motivo, como dito acima, ainda assim podemos tentar. Tenho uma sugestão. No tempo de seu discipulado, os irmãos Tiago e João foram com sua mãe e fizeram uma “oração” a Jesus, onde a mãe “coruja” falou: “[...] Manda que, no teu reino, estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita, e o outro à tua esquerda” (Mateus 20.21). Imagino Jesus balançando a cabeça ternamente, ao adverti-los: “Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que estou para beber?” E eles, certamente sem saber de que cálice Jesus falava, foram resolutos: “Podemos”. Ao que Jesus sentenciou: “Bebereis o meu cálice” (Mateus 20.22). Mas quis a misericórdia de Deus que, na hora do cálice mais amargo, outras personagens foram introduzidas para estar à direita e à esquerda de Jesus, pois “com ele crucificaram dois ladrões, um à sua direita, e outro à sua esquerda” (Marcos 15.27). A resposta de Deus à oração da igreja por Tiago, quado preso por Herodes, no entanto, pode estar ligada àquela antiga oração da família de Zebedeu pois, como sabemos, Tiago foi o primeiro mártir dentre os apóstolos (à esquerda de Jesus?) e João, seu irmão, segundo a tradição, foi o último (à direita de Jesus?).
João 21.23 Então, se tornou corrente entre os irmãos o dito de que aquele discípulo não morreria. Ora, Jesus não dissera que tal discípulo não morreria, mas: Se eu quero que ele permaneça até que eu venha, que te importa?
Na igreja, em nossas orações, seguindo o exemplo de Jesus, costumamos acrescentar nos pedidos que o Senhor responda, se possível, de acordo com a nossa vontade, mas que a vontade de Deus prevaleça. Acredito que era assim também que a igreja primitiva orava. A vontade de Deus foi feita a respeito de Tiago, que acabou sendo passado “ao fio da espada”, portanto essa foi uma resposta velada de Deus, uma daquelas que não compreendemos o motivo.
II - Resposta Inesperada (7-17 )
Eis, porém, que sobreveio um anjo do Senhor, e uma luz iluminou a prisão; e, tocando ele o lado de Pedro, o despertou, dizendo: Levanta-te depressa! Então, as cadeias caíram-lhe das mãos. Disse-lhe o anjo: Cinge-te e calça as sandálias. E ele assim o fez. Disse-lhe mais: Põe a capa e segue-me. Então, saindo, o seguia, não sabendo que era real o que se fazia por meio do anjo; parecia-lhe, antes, uma visão. Depois de terem passado a primeira e a segunda sentinela, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade, o qual se lhes abriu automaticamente; e, saindo, enveredaram por uma rua, e logo adiante o anjo se apartou dele. Então, Pedro, caindo em si, disse: Agora, sei, verdadeiramente, que o Senhor enviou o seu anjo e me livrou da mão de Herodes e de toda a expectativa do povo judaico. Considerando ele a sua situação, resolveu ir à casa de Maria, mãe de João, cognominado Marcos, onde muitas pessoas estavam congregadas e oravam. Quando ele bateu ao postigo do portão, veio uma criada, chamada Rode, ver quem era; reconhecendo a voz de Pedro, tão alegre ficou, que nem o fez entrar, mas voltou correndo para anunciar que Pedro estava junto do portão. Eles lhe disseram: Estás louca. Ela, porém, persistia em afirmar que assim era. Então, disseram: É o seu anjo. Entretanto, Pedro continuava batendo; então, eles abriram, viram-no e ficaram atônitos. Ele, porém, fazendo-lhes sinal com a mão para que se calassem, contou-lhes como o Senhor o tirara da prisão e acrescentou: Anunciai isto a Tiago e aos irmãos. E, saindo, retirou-se para outro lugar.
Em seu livro “Oásis no Deserto” (p. 141), Jackson Garcia conta uma famosa história:
[…] havia vários meses que não chovia. O calor era intenso e mortes começaram a acontecer. Ele então convocou os irmãos para se reunirem em determinado lugar, com um único objetivo: Pedir a Deus que chovesse naquele mesmo dia. Compareceu quase toda a congregação. Quando se ajoelharam para orar, o Pastor perguntou: “Além de mim, alguém mais trouxe guarda-chuva?”
GARCIA, Jackson. Oásis no deserto: Alento para vidas sedentas. Joinville: Clube dos Autores, 2016.
Parece que, na casa de João Marcos, ninguém tinha levado o “guarda-chuvas” para o culto de oração. A Rode ficou desnorteada, os outros a chamaram de louca. Custaram acreditar que Deus lhes havia atendido a oração, de forma inesperada. O próprio Pedro, no começo, achou que tudo aquilo não passava de um sonho, uma visão.
Às vezes, Deus responde assim. Uma cura, um livramento, uma “luz no fim do túnel”. Quantas vezes já ouvimos, e quantas vezes ainda ouviremos, de púlpito, um pregador inflamado citar a grande promessa: “Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.7). Podemos esperar sim que, em algum momento, Deus nos responda inesperadamente e fiquemos eufóricos como a Rode ficou. Só tomemos o cuidado de não nos esquecermos, e de não omitirmos a condição explícita: “se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós...”.
III - Resposta Agendada (18-24)
Sendo já dia, houve não pouco alvoroço entre os soldados sobre o que teria acontecido a Pedro. Herodes, tendo-o procurado e não o achando, submetendo as sentinelas a inquérito, ordenou que fossem justiçadas. E, descendo da Judeia para Cesareia, Herodes passou ali algum tempo. Ora, havia séria divergência entre Herodes e os habitantes de Tiro e de Sidom; porém estes, de comum acordo, se apresentaram a ele e, depois de alcançar o favor de Blasto, camarista do rei, pediram reconciliação, porque a sua terra se abastecia do país do rei. Em dia designado, Herodes, vestido de trajo real, assentado no trono, dirigiu-lhes a palavra; e o povo clamava: É voz de um deus, e não de homem! No mesmo instante, um anjo do Senhor o feriu, por ele não haver dado glória a Deus; e, comido de vermes, expirou. Entretanto, a palavra do Senhor crescia e se multiplicava.
As respostas às orações da igreja não vieram todas ao mesmo tempo. Parece-nos, pelo texto indicado, que Deus agendou uma parte para cumprimento em futuro próximo. Eu me imagino naquele culto de oração, junto com Rode, Maria, João Marcos, e os demais discípulos. Uma das coisas que eu pediria a Deus era para não permitir mais que Herodes continuasse fazendo aquelas injustiças. Que o Senhor impedisse o rei cruel de maltratar assim a amada igreja. Eu tenho quase certeza de que alguém ali fez esse pedido. É plausível. A resposta de Deus, porém, veio do jeito e no tempo certo. Foi naquele “dia designado”. Quando Herodes estava em sua maior exaltação, “vestido de trajo real, assentado no trono”, requerido e bajulado. Ele não sabia, não acreditava, não esperava, mas a resposta de Deus à oração dos que ele oprimira já estava agendada.
Às vezes, Deus responde assim, como respondeu também a Daniel, que foi informado pelo anjo, em duas ocasiões, sendo uma no primeiro ano de Dario: “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado […]” (Daniel 9.23 ); e outra no terceiro ano de Ciro: “[…] Não temas, Daniel, porque, desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras; e, por causa das tuas palavras, é que eu vim. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; [...]” (Daniel 10.12,13).
Em nossos tempos tecnológicos, em que estamos acostumados a obter quase tudo instantaneamente, não podemos nos esquecer de que Deus é longânimo, e quer ver em nós o fruto da longanimidade.
Conclusão
Na oração, Deus espera que tenhamos fé e perseverança. À nossa oração, Deus pode nos dar pelo menos estes três tipos de resposta, segundo o seu propósito. Podemos receber uma resposta Velada, uma resposta Inesperada, ou uma resposta Agendada, mas Deus responderá. “[...] Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lucas 18.8).
(*) Figura Perseverança na Oração: disponível em http://www.aliancacrista.com/2016/08/15/perseveranca-na-oracao/ acesso em 15 fev. 2018.
Amém!!! Gostei muito do modo como dispos a sequência em: resposta velada, inesperada e agendada.
ResponderExcluirJá tive essas respostas em minhas orações!!!
Obrigada!! Que o Senhor continue iluminando sua vida!!!