domingo, 9 de setembro de 2018

As obras das nossas mãos (Atos 7.36-41)

Quando eu paro para pensar na criatividade do homem, não tem como não ficar impressionado. A tecnologia nos possibilita recursos inimagináveis. Com um smartphone na mão, eu posso tirar foto, enviar mensagens, passar vídeos, orientar-me por GPS e até fazer ligações telefônicas! É um aparelho tão maravilhoso que algumas pessoas dão até suas vidas por eles. É praticamente uma idolatria. Parece que, em vez de adorarem o Criador dos elétrons, os homens estão adorando as criações eletrônicas, obras das suas próprias mãos. Vejam só que absurdo: em outubro de 2016,


Um homem na Ucrânia trocou oficialmente seu nome para iPhone 7 depois que uma loja de eletrônicos ofereceu o novo aparelho da Apple às primeiras cinco pessoas que fizessem esta mudança, segundo a agência de notícias Associated Press. Antes chamado Olexander Turin, de 20 anos, ele recebeu seu aparelho como prêmio nesta sexta-feira (28). Um iPhone 7 na Ucrânia custa a partir de US$ 850, enquanto a troca de nome no país custa apenas US$ 2. iPhone 7 disse à agência que seus amigos e família ficaram chocados com a mudança no início, mas depois apoiaram a ideia. Ele afirmou que pode mudar o nome de volta para Olexander Turin quando tiver filhos. Sua irmã, Tetyana, disse que "foi difícil aceitar e acreditar", mas "cada pessoa no mundo busca se expressar de certa maneira. Por que não assim?


Ucraniano troca seu nome para 'iPhone 7' para ganhar um celular. Site G1, 28/10/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/10/ucraniano-troca-seu-nome-para-iphone-7-para-ganhar-um-celular.html Acesso em 29 out. 2016.


O povo de Israel não tinha smatphones, mas foi um povo rebelde, e não se entregou de todo o coração ao Senhor, para fazer a sua vontade. Eles não foram gratos, mas antes murmuraram, pensando que o Senhor deveria lhes dar mais do que já lhes tinha dado. Rejeitaram a alegria que lhes estava proposta para buscarem uma alegria instantânea e passageira.


Não quiseram saber das obras de Deus. Antes, se alegraram com as obras de suas mãos. Neste parágrafo de Atos, nós podemos identificar pelo menos três evidências de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, para se alegrarem.


Rejeição da alegria de presenciar os prodígios e sinais feitos por Deus (36)


A primeira evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, nós identificamos no versículo 36: “Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos”.  Vimos aqui a menção dos prodígios e sinais que o povo presenciou, mas que, evidentemente, não valorizou, rejeitando a alegria que é receber e presenciar os milagres de Deus.


Para convencer os egípcios de que era o SENHOR quem estava ordenando a libertação do seu povo, Deus enviou-lhes dez pragas:


  1. As águas tingem-se de sangue, vindo a morrer todos os peixes;
  2. Rãs cobrem a terra;
  3. Piolhos atormentam homens e animais;
  4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais;
  5. A morte dos animais;
  6. Pústulas cobrem homens e animais;
  7. Chuva de granizo destrói plantações;
  8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações;
  9. Escuridão encobre o sol por três dias;
  10. Os primogênitos de homens e animais morrem;

O maná, as águas jorrando das pedras, as vitórias nas guerras, todos estes milagres Deus fez diante de todo o povo, mas isto não foi considerado suficiente. O povo queria mais milagres.


Em Hebreus 11.6 está escrito que, “de fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.  Esta fé que agrada a Deus nem sempre é bem compreendida e, como aconteceu com Israel, é comum haver distorções em sua aplicação. Jaime Francisco de Moura, em seu livro “Lavagem cerebral e hipnose nos cultos protestantes”, observa que:


Muitas pessoas procuram na religião não a salvação, a verdade, a vida eterna, mas apenas sensações agradáveis, emoções que as façam sentir-se bem consigo mesmas. Esta busca da emoção, do sensível (aquilo que percebemos por nossos sentidos) é algo que pode trazer problemas enormes para uma pessoa bem intencionada. A fé edificada sobre a emoção não é fé verdadeira, mas mera busca de recompensa rápida, pouco profunda e ineficiente.


Ao expor o resultado do seu estudo, o escritor denuncia o uso, por parte de alguns líderes religiosos, de técnicas de lavagem cerebral e hipnose para simular milagres. Ele afirma que “[...] existem três tipos de fenômenos no mundo em que vivemos. O físico, o paranormal e o sobrenatural”, e “[...] que fenômenos paranormais, onde também se enquadra a lavagem cerebral e a hipnose, estão sendo confundidos com o sobrenatural, ou com a ação do Espírito Santo, por muitos pastores. Em muitos casos são confundidos também com obras de anjos maus e o demônio”


MOURA, Jaime Francisco de. Lavagem Cerebral e Hipnose nos Cultos Protestantes. Brasília: Gráfica Opção, 2010. P. 5,8,9.


A Igreja Católica tem comissões para examinar milagres. Não é todo testemunho de milagres que é aceito. Antes que um fenômeno seja aceito como milagre, precisa cumprir alguns requisitos, sendo um dos mais importantes, o de que a ciência não possa dar uma explicação plausível; caso contrário, isto seria um fenômeno natural, e não poderia ser reconhecido como um milagre.


Alguns fenômenos históricos passaram por esse crivo, como o a liquefação do sangue de San Gennaro (1980, Nápoles), o Santo Sudário (Turim, 1357), a dança do sol em Fátima (Portugal, 1917), a imagem da Virgem de Guadalupe (1531, México).


Mas existem, certamente, muitos milagres acontecendo que, mesmo que as autoridades eclesiásticas não os reconheçam, não deixam de ser milagres. Especialmente os “pequenos milagres”, que afetam diretamente nossas vidas em determinados momentos.


Eu me lembro que, quando eu tinha uns três ou quatro anos de idade, estava viajando com meu pai num ônibus; ele me deixou por um instante sozinho e foi até a lanchonete comprar alguma coisa. Eu fiquei com muito medo de ficar sozinho, olhando atentamente para não perdê-lo de vista. Meu pai demorou muito a voltar, e eu não o estava vendo mais, quando o motorista entrou no ônibus, deu partida e estava dando ré para sair. Vocês podem imaginar o que aconteceu. Eu caí no choro, fiquei desesperado, quando, de repente, meu pai colocou a mão sobre mim e me acalmou, assentando-me em seu colo. Como isto foi possível? Uma brincadeira? Meu pai estava o tempo todo atrás de mim e eu não sabia? Ou será que Deus atendeu ao meu choro desesperado e “arrebatou” o meu pai, colocando-o perto de mim com o ônibus em movimento. Ninguém sabe. Deveria eu chamar as autoridades eclesiásticas para analisar os fatos e determinar se foi um milagre ou não? Não precisa. Para aquela criança de três ou quatro anos, foi suficiente receber o abraço e o consolo de seu pai, no exato momento em que achava que tudo estava perdido. Para ela foi um milagre.


Nós temos a tendência de esquecer, desprezar, rejeitar os milagres de Deus, e queremos realizar nossos próprios milagres. Rejeitamos a salvação que veio por meio do sacrifício vicário de Jesus e queremos salvar-nos a nós mesmos, como se isto fosse possível. Não andamos em fé, mas agimos como se tudo dependesse de nosso próprio esforço, sem nos darmos conta de que nossa saúde, inteligência, força física, seja o que for que nos dê prosperidade, vem de Deus, conforme nos lembra Salmos 127.1 “Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. 


Se olharmos do ponto de vista correto, veremos que a nossa vida está repleta de milagres, então precisamos crer e nos alegrar com os milagres que de Deus temos recebido todos os dias, uns maiores e outros menores.


O Pastor Misael, da Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Preto, escreveu num boletim semanal da igreja, em comemoração à Semana da Reforma, que “do ponto de vista da providência, existimos como igreja graças ao propósito soberano de Deus. Do ponto de vista histórico, estamos aqui por causa da Reforma Protestante do século 16”


BATISTA, Misael. 499 anos de reforma protestante. São José do Rio Preto: Igreja Presbiteriana (Boletim 357), 30/10/2016. Disponível em: http://www.ipbriopreto.org.br/499-anos-de-reforma-protestante/ Acesso em: 29/10/2016).


Ele elaborou assim o seu texto para dar ênfase à obra verdadeiramente relevante do reformador alemão. Mas note que o pastor não se esqueceu de dar honra a quem, de fato, é o responsável por estarmos aqui, esclarecidos quanto à salvação pela graça, lendo a Bíblia em nosso próprio idioma, livres para cultuar a Deus em Espírito e em Verdade. Pois ele começa dizendo que “do ponto de vista da providência, existimos como igreja graças ao propósito soberano de Deus”. Precisamos praticar mais este tipo de pensamento, reconhecendo a multidão de milagres que Deus já nos fez e está fazendo a cada dia. Isto é infinitamente melhor do que vivermos querendo mais e tentando produzir nossos próprios milagres.


O povo de Israel recebeu o Maná todos os dias, por quarenta anos. Era um milagre diário, que os alimentava porque não podiam cultivar lavouras no deserto. Mas ficaram enfastiados desse milagre, e chegaram a chamá-lo de “pão vil” (Números 21.5). Será que estamos impacientes também com Deus, achando “vis” os milagres diários que ele tem nos dado? Querendo mais e maiores milagres? Querendo produzir nossos próprios milagres?


Rejeição da alegria de ouvir as Palavras Vivas (37,38)


Nos versículos 37 e 38 encontramos a segunda evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos:


Foi Moisés quem disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim. É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir.


As palavras que Moisés tinha para transmitir ao povo eram Palavras Vivas, dadas pelo Anjo do SENHOR. Mesmo assim, isso não foi valorizado pelo povo, que as rejeitou.


A comunicação de Deus conosco, através de suas palavras vivas, dão sabedoria, consolo e alegria, mas constantemente os homens buscam relatos fantasiosos, pseudo-intelectuais, para satisfazerem sua curiosidade ou desejo de que sejam apoiados seus instintos pecaminosos. Por causa desta tendência de querer ouvir coisas “mágicas” é que fazem tanto sucesso livros como o “código Da Vinci” e a série “Harry Potter”.


Esta tendência, dentro da própria igreja, de querer ouvir coisas mágicas e sensacionais, foi profetizada em 2ª Timóteo 4.3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.


Eclesiastes, o pregador, procurou escrever palavras que agradassem, sem, contudo, se desviar da verdade, enfatizando que o mais importante é o temor a Deus. Ele escreveu no capítulo 12, versículos 10-14:


Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever com retidão palavras de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas, dadas pelo único Pastor. Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne. De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.


As Palavras de Deus são vivas, conforme Salmos 19, e nós precisamos “mergulhar” nestas palavras, sem termos medo de aprender. Não bastam dogmas, doutrinas sistematizadas que, embora possam ter muito valor como resultado de quem se dedicou ao estudo zeloso e piedoso das escrituras, não devem ser limitadoras de nosso raciocínio, nem isentas de juízo.


As sistematizações de doutrinas são valorosos guias para não nos perdermos em heresias, mas algumas vezes estamos lendo as escrituras e, em nossa meditação, chegamos à conclusão de que Jesus “não podia pecar”. Só que nossa doutrina diz que Jesus “podia não pecar”. Às vezes uns versículos inspiradores nos levam à revelação de que o homem de Deus tem que cuidar do seu corpo, alma e espírito, mas a doutrina de nossa igreja diz que o homem não é “tricotômico”, e sim “dicotômico”. Tem horas que precisamos deixar de lado estes detalhes, e simplesmente nos deleitarmos com a beleza, a sabedoria, a doçura das palavras vivas de Deus.


Não podemos cair nos mesmos erros de hereges que acham que tiveram uma “revelação”, fecharam questão com um sistema próprio de doutrina e nunca mais voltaram para analisar se não estão andando em erro, seja por ignorância, seja por má fé. Precisamos aprender a ouvir o que a Bíblia nos diz, renovando esse compromisso a cada leitura, com oração para que o Senhor fale conosco. Precisamos ouvir outros irmãos que também têm lido e meditado nas escrituras, porque Deus pode nos falar através deles também. Precisamos ouvir os estudiosos, os professores, os pastores, que acreditamos estarem sinceramente e diligentemente buscando aprender a palavra de Deus para depois compartilhar esse conhecimento.


Muitos de nós temos nossa própria doutrina particular. Aqui na igreja aprendemos como se deve proceder, mas no dia-a-dia o que vale é o nosso modo de pensar. Aprendemos aqui princípios valiosos, conselhos sábios. Mas quando fechamos nossas Bíblias, deixamos guardadas todas essas recomendações, até o próximo culto, quando vamos abrir as suas páginas novamente e nos lembrarmos de que esquecemos de praticar o que foi ensinado.


Com uma atitude assim, acabamos não fazendo nem o básico da vida cristã. Aprendemos sobre a importância da leitura diária da Bíblia e de separarmos um tempo diário para oração, mas nos perdemos na avalanche das múltiplas atividades e empurramos com a barriga a Bíblia e a oração. Aprendemos sobre a necessidade de nos disciplinarmos para não chegarmos atrasados nos cultos mas acabamos não levando a sério esta questão porque, naturalmente, não há punição para quem chega atrasado nos cultos, diferentemente do trabalho secular. E muitas coisas piores fazemos ou deixamos de fazer contra a vontade de Deus, porque temos uma outra Bíblia, secreta, que só nós conhecemos e reverenciamos: a nossa própria sabedoria, o nosso modo de ver as coisas. Esta é, na prática, a nossa Bíblia verdadeira, e não as Palavras Vivas de Deus.


Rejeição da alegria de adorar e de ter comunhão santa, na presença de Deus (39-41)


A terceira evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, está nos versículos 39-41: 


A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque, quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu. Naqueles dias, fizeram um bezerro e ofereceram sacrifício ao ídolo, alegrando-se com as obras das suas mãos.


O relato de Estêvão é baseado em Êxodo 32.17-19:


Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial. Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço. Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte.


Os cânticos nos cultos nos conduzem à alegria da adoração. A comunhão e as festas na igreja nos incentivam a ficar firmes no caminho, mas a maioria do povo quer mais do que isto, quer festas onde praticamente não há limites para extravasar suas alegrias e seus instintos naturais. Assim é que se multiplicam as “baladas” e os carnavais.


Não é de se admirar que, hoje em dia, ouve-se falar de blocos “evangélicos” saindo no Carnaval, já que existe um esforço histórico de dar-lhe justificativas religiosas. Ao pesquisar o verbete “Carnaval” na Wikipédia, encontramos o seguinte:


A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. (...) Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (...). Todas as datas eclesiásticas são calculadas em função da data da Páscoa, com exceção do Natal. Como o Domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio (...) do outono (no hemisfério sul), e a Sexta-Feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.


Carnaval. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval  Acesso em 29 out. 2016.


Sobre este viés religioso do carnaval escreve Rachel Soihet, num artigo de 1998, dizendo que:


No paganismo, os homens agiam como selvagens, de acordo com suas paixões, enquanto os cristãos moviam-se segundo o espírito de Deus e a razão. Assim, o paganismo implicava no "pecado da carne", no qual incorriam, também, os que cometiam atos irracionais, loucos, não esquecendo que falta de razão, não raramente, identificava-se com alegria. A todo momento, a valorização do sofrimento, da sisudez,da privação em vez de transbordamento. Neste encaminhamento, busca Baroja a comprovação de sua tese: a alegria e os excessos do carnaval só têm sentido como catarse preparatória para justificar a entrada na quaresma [...] embora Baroja não tenha como justificar o fato de que "as abstinências e os rigores da quaresma foram sempre menos observadas que os excessos carnavalescos"[...].


SOIHET, Rachel. Reflexões sobre o carnaval na historiografia, pag. 3, Rio de Janeiro: UFF, 1998. Disponível em: http://www.academiadosamba.com.br/monografias/raquelsoihet.pdf Acesso em 09 set. 2018.


Há momentos em que, em vez de festa, paga agradar a Deus, temos que jejuar e nos entristecer. Davi era um homem que servia a Deus com alegria, mas quando se deparava com o seu pecado, buscava a Deus com jejuns, como em 2º Samuel 12.16: “Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra”.


Quando Esdras recebeu permissão do rei Artaxerxes, rei da Pérsia, para voltar a Jerusalém para organizar e promover a adoração no Templo do Senhor, ele jejuou para pedir o favor de Deus, conforme diz em Esdras 8.21: “Então, apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos perante o nosso Deus, para lhe pedirmos jornada feliz para nós, para nossos filhos e para tudo o que era nosso”.


O jejum pode expressar sinceridade em nos arrependermos de nossos pecados, como podemos ler em Joel 2.12: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto”.


Mas o jejum, por si mesmo, não garante a aprovação de Deus. No tempo de Isaías, ele repreendeu o povo porque estava distorcendo o verdadeiro propósito do jejum, e reclamando a Deus, conforme Isaías 58.3-6:


[...] dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” e Deus lhes respondeu: “Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. [...] Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?


Deus não quer que vivamos tristes e sisudos o tempo todo. Pelo contrário, deu instruções ao seu povo, desde o começo, para se alegrarem perante ele, como em Deuteronômio 12.5-21:


[...] mas buscareis o lugar que o SENHOR, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis. [...] Lá, comereis perante o SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o SENHOR, vosso Deus. [...] e vos alegrareis perante o SENHOR, vosso Deus, vós, os vossos filhos, as vossas filhas, os vossos servos, as vossas servas e o levita que mora dentro das vossas cidades e que não tem porção nem herança convosco [...]. Se estiver longe de ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para nele pôr o seu nome, então, matarás das tuas vacas e tuas ovelhas, que o SENHOR te houver dado, como te ordenei; e comerás dentro da tua cidade, segundo todo o teu desejo.


O povo de Israel, assim como grande parte da população de hoje, não se contentou com a alegria de adorar e de ter comunhão santa, na presença de Deus. Antes, procurou outros tipos de alegria, obras de sua imaginação, e de suas próprias mãos.


Conclusão


O homem da Ucrânia trocou oficialmente seu nome para ganhar um aparelho celular. Você trocaria seu nome para ganhar um prêmio assim, com o qual pudesse se alegrar? Um prêmio feito por mãos humanas? Apocalipse 13.16-18 fala de um dia assim, em que haverá a necessidade de se ter uma identidade específica para que se possa gozar até mesmo dos direitos de cidadão:


A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.


Seria o caso de que a questão do “nome da besta” fosse algo parecido com a história do “iPhone7”?


Vivemos num mundo em que as fronteiras do que é ou não razoável não estão bem delimitadas. Então nos permitimos certos deslizes, raciocinando como a Tetyana, irmã do jovem Olexander Turin: “Porque não?” Talvez. Mas chegará um dia em que teremos que decidir radicalmente de que lado estamos, assim como aconteceu no dia em que Moisés flagrou os adoradores do bezerro de ouro alegrando-se com as obras de suas mãos.


Não vamos rejeitar as alegrias que Deus nos oferece para nos alegrarmos com as obras de nossas próprias mãos. Alegremo-nos com os milagres, com as palavras vivas, e com as festas de adoração que o nosso Deus nos dá.


*Figura: Touro da Wall Street. Disponível em: http://mercadofinanceiro.forumeiros.com/t86-o-urso-e-o-touro-de-wall-street Acesso em 10 set. 2018.


 


 

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