Um sinal de que alguém está evoluindo, prosperando na vida, é quando adquire sua casa própria. Nós nos sentimos seguros quando temos um lugar que podemos arrumar do nosso jeito, guardar todos os nossos móveis, e proteger-nos da chuva, do sol, e quem sabe do calor...
No texto de hoje nós vemos que o povo de Israel evoluiu, na medida em que aprendeu a adorar o Deus verdadeiro, e um dos sinais mais visíveis desta evolução é que construíram uma casa para Deus, embora ainda precisassem aprender a abandonar completamente os ídolos. Estêvão, quase finalizando sua defesa, abordou o assunto como quem tenta explicar que, embora a Casa de Deus fosse importante, O Senhor estava inaugurando um novo tempo, uma forma mais evoluída de adoração, que não dependia tanto do lugar onde se adorava, mas da maneira certa de adorar, como ensinou Jesus: “em espírito e em verdade” (João 4.24).
Podemos dizer que Deus espera que o seu povo evolua por meio de, pelo menos, três passos:
Abandonar o tabernáculo dos ídolos (42,43)
Mas Deus se afastou e os entregou ao culto da milícia celestial, como está escrito no Livro dos Profetas: Ó casa de Israel, porventura, me oferecestes vítimas e sacrifícios no deserto, pelo espaço de quarenta anos, e, acaso, não levantastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do deus Renfã, figuras que fizestes para as adorar? Por isso, vos desterrarei para além da Babilônia.
Os povos que foram expulsos da terra prometida para que Israel tomasse posse, adoravam muitos ídolos, fazendo coisas que eram abomináveis ao Senhor. Israel deveria tomar isto como advertência e evoluir através deste primeiro passo, que era abandonar o tabernáculo dos ídolos, abolir de vez estas práticas. Mas, em vez disto, paralelamente à adoração do Deus verdadeiro, muitos continuavam a adorar e manter tabernáculos de ídolos.
Há pessoas que procuram adorar um deus que lhe agrade, ou até procuram agradar todos os deuses, como o povo da Roma antiga, com o seu panteão.
O próprio Salomão, que teve o privilégio de construir o primeiro e mais glorioso templo ao Deus verdadeiro, construiu, em seguida, templos para deuses pagãos como Quemos, abominação de Moabe, e Moloque, abominação dos filhos de Amon (1º Reis 11.7).
Ninguém, que eu conheça, gosta de ser chamado de idólatra, por isso é que a idolatria contemporânea é tão sutil. Assim como Raquel escondeu os seus ídolos (Gênesis 31.19,34), os nossos ídolos também estão ocultos, apesar de deixarmos transparecer nossa tendência idólatra por alguns detalhes em nossa linguagem comum. Quando um artista, antes desconhecido, nos surpreende com o seu talento, dizemos que ele é uma revelação; quando gostamos muito dele, dizemos que somos seu fã; se o artista se destaca internacionalmente, se torna um superstar (super estrela), e quando faz o seu show (para mostrar sua glória), aplaudimos o espetáculo. Algumas expressões como “você que está vidrado na telinha”, “você vai se encantar com a nossa programação”, dão as dicas da relação desejada entre as companhias de entretenimento e seus espectadores. Tem gente que não liga muito para a televisão, eu sei, mas às vezes diz coisas do tipo: “eu adoro pescar”.
Pagamos cachês altíssimos a ídolos populares, ou diretamente, ou por meio dos impostos, como foi noticiado no jornal O Globo em julho de 2016, sobre a festa Junina de Caruaru:
RIO – Depois da polêmica em torno do cachê de Wesley Safadão para se apresentar na tradicional festa junina de Caruaru, o governo pernambucano decidiu revelar o valor pago a todos os artistas escalados para a 26ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns, que começou no último dia 21 e segue até o dia 30 de julho. Os valores vão de R$ 7 mil, para Clayton Barros, e R$ 120 mil, recebido por Nação Zumbi e Alceu Valença. De acordo com o jornal "Diário de Pernambuco", os valores foram detalhados em banners estendidos ao lado dos palcos. Participam ainda Elza Soares (R$ 92 mil), Elba Ramalho (R$ 105 mil), Gal Costa (R$ 114 mil), Otto (R$ 60 mil) e Margareth Menezes (R$ 85 mil), entre outros. Além disso, a quantia investida na estrutura do evento também foi explicitada. A Fundarpe, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, responsável pelo evento, pagou R$ 89.846,86 para a montagem do palco, R$ 70.342,20 pelos geradores de energia elétrica, e R$ 102.752,50 pela locação dos equipamentos de som.
Organização divulga cachê dos artistas do Festival de Inverno de Garanhuns. O Globo (online), 25/07/2016. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/musica/organizacao-divulga-cache-dos-artistas-do-festival-de-inverno-de-garanhuns-19780298 Acesso em 04 nov. 2016.
O principal mandamento diz: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração” (Deuteronômio 6.5). Ora, se é de todo o coração, não sobra espaço para amar mais nada. Todas as demais coisas podemos amar, somente, se estiveram “no Senhor”. Até mesmo o cônjuge, conforme diz em 1ª Coríntios 7.39: “A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor”.
Para quem você está dando o melhor de si? Nós costumamos separar o que é melhor para pessoas ou coisas às quais queremos dar maior honra. Assim, o nosso melhor tempo, o nosso maior vigor, a nossa melhor roupa, a melhor fase de nossa vida, devemos dedicar ao Senhor, nosso Deus. Ou será que alguém imagina que devemos dar a Deus somente o resto? Às vezes parece que aqui, na igreja, só chegamos o “pó”, o “caco”, chegamos sonolentos e até mal-humorados, porque já demos o melhor das nossas energias para outras coisas. Os que vão prestar o ENEM (Exame Nacional do Ensino Mécio) são aconselhados a dormir e se alimentar bem na noite anterior, para que possam dar o melhor de si na hora da prova. Por que não fazemos isto também na véspera do domingo, o Dia do Senhor? Abandonemos, pois, o tabernáculo dos ídolos, e sirvamos somente ao Senhor.
Construir uma casa digna para o Deus verdadeiro (44-47)
O tabernáculo do Testemunho estava entre nossos pais no deserto, como determinara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto. O qual também nossos pais, com Josué, tendo-o recebido, o levaram, quando tomaram posse das nações que Deus expulsou da presença deles, até aos dias de Davi. Este achou graça diante de Deus e lhe suplicou a faculdade de prover morada para o Deus de Jacó. Mas foi Salomão quem lhe edificou a casa.
O segundo passo para evoluir segundo a vontade de Deus é construir-lhe uma casa digna. Moisés foi instruído a construir um tabernáculo para adorar o Deus Verdadeiro. Depois de muito tempo, já instalados na terra prometida, puderam construir um templo definitivo.
Durante os séculos, os cristãos têm construído muitas casas para Deus. Existem muitas catedrais históricas e famosas dedicadas à adoração cristã, como os exemplos abaixo:
Notre Dame – Paris (1163);
Imagem disponível em: https://www.getyourguide.com.br/paris-l16/skip-the-line-notre-dame-cathedral-with-audio-guide-t83454/?utm_force=0 Acesso em 17 set. 2018.
Santa Sofia - Istambul (532-537);
Imagem disponível em: https://www.turismogrecia.info/guias/turquia/a-igreja-de-santa-sofia Acesso em 17 set. 2018.
Catedral de Colônia – Alemanha (1248-1880);
Imagem disponível em: https://catedraismedievais.blogspot.com/2013/10/catedral-de-colonia-encontro-entre-o.html Acesso em 17 set. 2018.
Catedral da Sé – São Paulo (1913-1954);
Imagem disponível em: https://www.infoescola.com/sao-paulo/catedral-da-se/ Acesso em 17 set. 2018.
Candelária – Rio de Janeiro (1880);
Imagem disponível em: https://pleno.news/brasil/cidades/vigilia-relembra-vitimas-da-chacina-da-candelaria.html Acesso em 17 set. 2018.
Mas a casa de Deus não é, evidentemente, uma casa terrena. Os templos que construímos são importantes na medida em que nos ajudam a adorar em paz e segurança, para nos concentrarmos melhor no serviço de adoração. Estes templos devem ser maiores, mais confortáveis, mais belos que a nossa própria casa, para a glória de Deus. É certo, porém, que Deus se agrada mais de uma oca numa tribo indígena, onde estejam adorando a Deus em espírito e em verdade, do que da mais esplêndida catedral já construída, se não houver ali uma genuína adoração.
Construir uma casa não feita por mãos humanas (48-50)
Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi, porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?
O terceiro passo nesta evolução, esperada por Deus para o seu povo, é a construção de uma casa não feita por mãos humanas.
Pedro diz, em sua primeira carta (2.5): “também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Paulo, por sua vez, diz em Efésios 2.19-22:
Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.
Espiritualmente, devemos nos sentir como missionários, peregrinos, estrangeiros. Um missionário não costuma dispor de muitas coisas materiais. Imaginamos que um missionário que trabalhe numa tribo indígena deva se misturar aos índios e viver como eles vivem, morar onde eles moram, comer o que eles comem. Por causa da urgência da obra e dos recursos comumente disponíveis, não se imagina a construção de uma catedral, nem mesmo uma construção das mais simples, destas que costumamos usar como templos nas áreas urbanas. A princípio, basta uma cobertura de palhas sobre uma estrutura de troncos e galhos de árvores. E por que isto já seria suficiente? Porque o verdadeiro templo que agrada a Deus é construído de pessoas reunidas para adorá-lo. É ali que Deus tem prazer em habitar. Cremos que Deus está presente conosco quando nos reunimos nos cultos. E por que está presente? Não é pela beleza do prédio. Se não houvesse prédio, ele também estaria presente. Mas será que todos nós estaríamos presentes na igreja se a reunião não fosse num prédio bonito e confortável? Espero que sim. Espero que não estejamos indo aos cultos por causa do prédio, porque, se fosse assim, trocaríamos facilmente a nossa igreja por outra, onde o prédio fosse mais aconchegante, mais bonito, mais esplendoroso. Antes de pensarmos no prédio, pensemos em nós mesmos como “pedras que vivem”, construindo um santuário dedicado ao Senhor, do qual Jesus é a Pedra Angular. Esta casa não é feita por mãos humanas.
Conclusão
E então, será que estamos evoluindo? Se Deus nos tem abençoado com um lar, não façamos de nosso lar uma casa de ídolos, e vamos zelar da casa de Deus, no sentido físico, sim, mas principalmente no sentido espiritual.
Deus tem ciúmes das coisas que você mais ama, daquilo que você tanto gosta, porque o amor que dedicamos a determinadas coisas deveria ser dedicado a ele. Tiago 4.5 diz: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”
Em Apocalipse 3.19 o Senhor adverte: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”.
Em Ezequiel 16.38 Deus dirige a Jerusalém estas palavras: “Julgar-te-ei como são julgadas as adúlteras e as sanguinárias; e te farei vítima de furor e de ciúme”. Ele buscava pessoas que, com uma atitude positiva, evitassem a destruição da cidade santa, conforme Ezequiel 22.30: “Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei”.
São muito tentadores, os prazeres ilusórios que a vida oferece, mas sejamos firmes, e tenhamos nossa esperança integral na morada que é construída pelo próprio Deus, conforme diz João 14.2,3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”.
* Imagem do Cabeçalho: O Muro das Lamentações. Disponível em: https://www.infoescola.com/religiao/muro-das-lamentacoes/ Acesso em 22 set. 2018
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