De acordo com a Universidade Estácio[1], o conceito de empregabilidade aborda respostas para perguntas como o nível de importância da sua experiência; até que ponto o seu conhecimento teórico diferencia você dos outros; por quais razões uma empresa desejaria manter você como colaborador.
Podemos comparar princípios como estes também quando se trata de nos mantermos “empregáveis” na obra de Deus, pois esta é prioridade da igreja. As pessoas da igreja devem estar prontas para compor qualquer frente de trabalho para a qual Deus as chamar. Neste parágrafo encontramos pelo menos três frentes de trabalho das quais podemos fazer parte e, para isso, devemos estar sempre preparados.
Diáconos e ministros. (12.25)
“Barnabé e Saulo, cumprida a sua missão, voltaram de Jerusalém, levando também consigo a João, apelidado Marcos”.
A primeira frente de trabalho para a qual podemos ser chamados é composta por diáconos e ministros, ou, para sermos mais claros quanto ao significado da palavra grega que originou estes termos, poderíamos dizer: servos, escravos. O diácono está sempre disposto a servir ou, como se costuma dizer no Brasil, está sempre “às ordens”. O ministro, embora tenha um nome que consideramos, hoje em dia, “pomposo”, é aquele que é designado para um serviço específico, voluntário, e muitas vezes dispondo de seus próprios recursos, por amor à obra.
Era assim que Barnabé, Saulo e Marcos serviram ao Senhor, no contexto deste parágrafo, se dispondo a cumprir as missões, ou serviços, que a igreja lhes designava.
Vamos imaginar o seguinte diálogo entre os apóstolos:
- E aí, Barnabé? Que bom que conseguimos cumprir nossa missão, não é? Deus nos livrou dos assaltantes pelo caminho, e conseguimos entregar o dinheiro da oferta e ainda ter uma boa comunhão com os irmãos de Jerusalém. Acho que está na hora de voltarmos.
- Verdade. A Igreja de Antioquia está crescendo bastante, e temos muito trabalho a fazer por lá. A propósito, meu primo Marcos disse que queria ir conosco, pois tem o desejo de servir ao Senhor como missionário. O que você acha?
- Sim, pode ser uma boa ideia, que bom que ele tem este desejo. Vamos levá-lo conosco.
Marcos era membro de uma família muito rica de Jerusalém. Seus pais eram muito influentes, e muito conhecidos por seus serviços sociais relevantes. Foi na casa deles que a igreja estava hospedada quando aconteceu o milagre de Pentecostes. Marcos tinha um grande desejo de servir a Deus, desde a sua infância, e agora ele finalmente tinha tomado uma importante decisão. Não ia mais deixar-se vencer pelo medo, mas ia mergulhar de cabeça no serviço missionário, mesmo que isto significasse enfrentar muitos perigos e privações. A presença de seu primo, juntamente com Paulo e os demais irmãos de Antioquia, dando testemunho da maravilhosa obra que o Senhor, por meio deles, estava realizando entre os gentios, foi o impulso que ele precisava para vencer sua própria inércia. Foi por isso que, mesmo de maneira tímida, compartilhou com seu primo Barnabé, cuja fé e coragem muito admirava, as intenções de seu coração. Ficou muito feliz ao receber a notícia de que Paulo havia concordado, e foi logo arrumando as malas, sob o olhar apreensivo de sua mãe que, mesmo orgulhosa de sua atitude nobre, preocupava-se com o que poderia vir a acontecer com o seu amado filho, que nunca tinha ido assim tão longe de casa. Mas até mesmo ela reconhecia que o serviço do Senhor exige sacrifício. Enquanto milhares de jovens de sua comunidade estavam se deixando levar pela fascinação das riquezas, Marcos tinha uma luta secreta no seu coração, não podendo se esquecer, dia e noite, das palavras marcantes ouvidas do Senhor Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores; [...] Não podeis servir a Deus e às riquezas".
Profetas e mestres (13.1)
“Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo.”
A segunda frente de trabalho para a qual podemos ser chamados é composta de profetas e mestres.
Marcos chegou em Antioquia e foi apresentado à igreja. Era uma congregação enorme, e ele estava muito animado por fazer parte da equipe de liderança, embora fosse ainda um mero aprendiz. Esforçou-se muito para se mostrar útil, e ouvia avidamente todos os discursos, prestava atenção em todas as conversas, pois até nas horas mais informais era possível aprender com aqueles "gigantes" da fé, vindos das mais variadas raças, nações e posições sociais. Entre os profetas e mestres de Antioquia havia o Simeão, também chamado de Níger, ou seja, Negro; havia o Lúcio de Cirene, local que hoje conhecemos como o país da Líbia, no norte da África; havia Manaém, que foi irmão adotivo de Herodes o Tetrarca. Saulo e Barnabé eram os mais conhecidos.
Marcos aprendeu que o profeta é aquele que fala corajosamente as verdades referentes à palavra de Deus e, para isso, precisa ser íntimo dele. Isso também vale para aquele que é mestre, aquele que ensina a palavra de Deus. A intimidade com Deus nós só conseguimos lendo e meditando na Bíblia, orando sem cessar, participando da comunhão, e fazendo tudo o que Jesus manda, conforme João 15.14 -“Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando”.
Missionários (2-3)
“E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.”
A terceira frente de trabalho para a qual podemos ser chamados é composta por missionários.
Quando Barnabé e Saulo foram designados para esta primeira viagem missionária, não foram para lugares totalmente desconhecidos, nem muito remotos. Marcos, que acompanhou os missionários, deve ter sido o que mais sentiu as dificuldades da viagem, por ser o menos experiente.
Nossa igreja local foi fundada por um Pastor missionário, que chegou ao Brasil em 1965, primeiramente no estado do Rio Grande do Sul. Não sei que ideia ele tinha do Brasil quando veio para cá, mas as perspectivas deveriam ser de enfrentamento de muitos perigos, se fossem baseadas na história de seus sogros, os quais já eram missionários aqui há mais tempo, tendo começado a missão numa tribo indígena, no Mato Grosso do Sul. Sua sogra contraiu poliomielite no campo missionário e ficou paralítica, mas não desistiu por causa disto. Embora tivesse que deixar as tribos e se instalar em área urbana no interior de São Paulo, manteve-se firme em seu sagrado trabalho até quando faleceu, com mais de noventa anos de idade.
Há muito tipos de missões nas quais podemos trabalhar: missões urbanas, que podem ser realizadas em sua própria cidade, missões transculturais, que podem ser realizadas em tribos indígenas ou em outros países, mas, acima de tudo, devemos estar cientes de que “cada coração com Cristo é um missionário, e cada coração sem Cristo é um campo missionário” (Dick Hills).
Conclusão
Será que Deus te chamou, ou vai te chamar para ser um profeta, mestre ou missionário? Ou talvez você esteja sentindo que precisa se dedicar ainda mais como um diácono ou um ministro?
Pode ser que você esteja sentindo que não tem utilidade, que Deus não pode te usar, porque você não consegue ser fiel, não é forte espiritualmente. Se por acaso isso te passou pela cabeça, pense novamente em Marcos, primo de Barnabé, que estava sempre “à margem”, discreta e timidamente dando a sua contribuição para a obra de Deus, como desta vez em que Ele auxiliou Paulo e Barnabé, no início da primeira viagem missionária.
Veremos mais adiante que, na segunda viagem, ele foi sumariamente rejeitado por Paulo (Atos 15.37) como auxiliar, por tê-los abandonado em Chipre. Depois, porém, João Marcos foi publicamente reconhecido, pelo mesmo Paulo, como útil para seu ministério (2ª Timóteo 4.11).
A casa de seus pais estava sempre disponível para receber pessoas, e recebeu Jesus com os doze na última ceia, os 120 discípulos no dia do pentecostes, e a igreja reunida para oração em favor de Pedro, que foi preso durante a opressão de Herodes.
Ele pode ter sido aquele jovem que voltou entristecido por Jesus tê-lo mandado vender todos os seus bens (Marcos 10.17-22), e ainda aquele que nem teve tempo de se vestir e, envolto em um lençol, saiu na noite em que Jesus foi preso, em direção ao Getsêmani, com a intenção de avisá-lo de que os soldados estavam à sua procura. Nesta ocasião ele quase foi preso, mas fugiu nu, quando o agarraram pelo lençol (Marcos 14.51,52)[2][3]
Se essas suposições a respeito de Marcos forem verdadeiras, ele é um exemplo de alguém que era fraco, instável, tímido, indeciso, mas tinha o desejo sincero de servir Jesus. E Deus o usou grandemente, pois foi inclusive o escritor do evangelho de Marcos que, segundo alguns estudiosos, serviu como base para os outros sinóticos.
Você, que se sente fraco, instável, tímido, indeciso, mas tem o desejo sincero de servir Jesus: Esteja preparado, mantenha a sua "empregabilidade", porque Deus pode chamá-lo também para a sua grande obra.
(Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, agosto de 2020).
[1] Entenda o significado de empregabilidade. Portal Estácio, 2020. Disponível em: https://blog.estacio.br/empregabilidade-no-brasil/ Acesso em 01 ago. 2020.
[2] Vide comentário do Rev. Ewerton B. Tokashiki. Estudo Introdutório no Evangelho de Marcos disponível em: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/estudo_introdutorio_evangelho_marcos_tokashiki.pdf pag. 10 - Acesso em 29 jul. 2017
[3]. (Peço licença ao Rev. Hernandes Dias Lopes - O perigo de vestir-se com um lençol – Disponível em: http://hernandesdiaslopes.com.br/portal/o-perigo-de-vestir-se-com-um-lencol/ Acesso em: 29 jul. 2017 - para imaginar outra cena a respeito do jovem com o lençol).
(*) Foto do cabeçalho disponível em: http://pensandonascoisasdoalto.blogspot.com/2016/08/a-mulher-samaritana.html Acesso em 13 ago. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
Caro pastor, parabéns pelo texto abençoado que li e que fui muito edificado. Interesante a colocação de que este joven tímido e fraco fosse tal vez o joven rico que tinha ido embora triste porque tinha muitas possessões. Felicidades!!
ResponderExcluirParabéns pelo Estudo, muito edificante para q possamos compreender o Verdadeiro Evangelho, e seguirmos com Fé, firmes no propósito de seguir na Obra D Deus Pai
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