Você já teve, ou tem um apelido? Eu já fui chamado, na infância, de elefante, porque era bem mais gordinho do que os meus colegas. Conheço alguém que, quando mocinha, tinha o apelido de fronha, porque era muito chorona. Alguns apelidos são bem carinhosos, mas outros são provocativos, e podem causar até danos psicológicos graves.
Neste parágrafo de Atos 13.4-13, que contém a narração do início da primeira viagem missionária, Lucas, o autor de Atos, tem um cuidado especial em falar do significado do nome de Elimas. Também o versículo 8 é famoso por indicar a transição do nome de Saulo para Paulo.
Estas informações me levaram a meditar na importância do significado de outros nomes envolvidos na história, e no fato de que nossas atitudes determinam o nome pelo qual seremos lembrados. Podemos identificar aqui pelo menos quatro atitudes que determinam um nome para ser lembrado.
Primeira atitude: Seguir as ordens do Espírito Santo (4,5)
“Enviados, pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre. Chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas judaicas; tinham também João como auxiliar”.
Saulo e Barnabé eram homens que seguiam as ordens do Espírito Santo, deixando que ele guiasse seus passos. Barnabé era o apelido de José, o levita natural daquela ilha de Chipre. Seu apelido, não era à toa, significava “filho do descanso”, “filho da exortação”.
Saulo, nome que no hebraico é o mesmo que Saul, “o desejado”, “o querido”, teve seu nome mudado para Paulo, de origem latina, que significa “pequeno” ou menor”. É bem possível que o próprio Paulo quis usar esse nome, para enfatizar que ele se considerava o menor dos apóstolos (1a Coríntios 15.9), o principal dos pecadores (1a Timóteo 1.15), que chegou a ser considerado lixo do mundo, escória de todos (1a Coríntios 4.13).
Mas apesar de Paulo a si mesmo se humilhar, ou talvez por esta causa mesmo, Deus o exaltou, e hoje ele é lembrado como o maior dos apóstolos, um exemplo de santidade, de obediência, de dedicação, de amor sacrificial, e tudo isso por sua atitude, junto com Barnabé e outros, de se deixar guiar pelo Espírito Santo, de seguir as suas ordens.
Segunda atitude: Buscar o que é sadio para a alma (6,7)
"Havendo atravessado toda a ilha até Pafos, encontraram certo judeu, mágico, falso profeta, de nome Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, que era homem inteligente. Este, tendo chamado Barnabé e Saulo, diligenciava para ouvir a palavra de Deus."
O governador da ilha, o procônsul Sérgio Paulo, era conhecido como um homem inteligente. Não sei se ele era bom em matemática, ou se ele sabia tudo sobre leis, ou medicina, ou sobre outras ciências. Mas sabemos que, de fato ele era inteligente, porque buscou o que era sadio para a sua alma. Prova disto é que ele chamou Barnabé e Saulo, e “diligenciava para ouvir a Palavra de Deus”.
Ele era um dos grandes homens de sua época, e até seu primeiro nome, Sérgio, de origem latina, era significativo, pois quer dizer “nascido da terra”, “nasceu um prodígio”, “nasceu um grande milagre”. Mas quem sabe, depois de ouvir e crer no evangelho, não preferiu ser chamado pelo seu segundo nome, Paulo, o “pequeno”, pois agora que decidira se tornar servo do Senhor Jesus, podia se alegrar em ser pequeno, já que Mateus 11.25 diz: “Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos”.
A atitude de Sérgio Paulo, de buscar o que é sadio para a sua alma, a Palavra de Deus, fez com que ele seja lembrado até hoje como um homem inteligente.
Terceira atitude: encher-se de engano (8-11)
Mas opunha-se-lhes Elimas, o mágico (porque assim se interpreta o seu nome), procurando afastar da fé o procônsul. Todavia, Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão.
Há pessoas, porém, que têm atitudes negativas, como o judeu chamado Barjesus. Seus pais devem ter-lhe dado esse nome em homenagem ao Senhor, pois significa “filho de Jesus”, ou “filho de José”, ou “filho de Josué”, que por sua vez significa “Javé é o Salvador”, “Jeová é o Salvador”.
Esse Barjesus passou a ser conhecido como Elimas, de provável origem árabe, que significa “homem sábio”. O mesmo significado de Mago, ou Mágico, nome dado pelos babilônicos (caldeus), Medos, Persas e outros, a homens sábios, mestres, sacerdotes, médicos, astrólogos, videntes, intérpretes de sonhos, áugures, advinhadores, feitiçeiros etc.
Mas sua atitude negativa, de enganar e deixar se encher de enganos, fez com que ele recebesse de Deus, através de Paulo, o nome de huios diabolos, “filho do diabo”, no lugar de seu nome de nascença, que era “filho de Jesus”.
Há muitos hoje em dia como Elimas, que se acham e são considerados intelectuais neste mundo, mas tristemente um dia também serão conhecidos como “filhos do diabo”, porque cultivam essa atitude, de se encher de engano.
Gostaria de registrar aqui uma advertência especial. Não nos deixemos encher do engano de filmes, séries e livros que são escritos por “intelectuais” como Elimas, que se opõe ao evangelho.
Quarta atitude: Buscar o caminho mais suave (12,13)
"Então, o procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor. E, navegando de Pafos, Paulo e seus companheiros dirigiram-se a Perge da Panfília. João, porém, apartando-se deles, voltou para Jerusalém."
João, nesse momento, escolheu o caminho mais suave, não enfrentando as dificuldades da viagem, voltando para sua casa em Jerusalém.
Uma pessoa com essa atitude é popularmente conhecida como quem só quer o “filé”, não quer saber de “roer o osso”; só quer a “nata”, só o “glacê do bolo”. A vida não é assim. Devemos ter consciência de que precisamos “ralar”, se quisermos ter bons frutos na vida.
Por causa dessa atitude, de buscar o caminho mais suave, mais fácil, João, quando houve uma nova oportunidade de servir numa viagem missionária, foi rejeitado por Paulo, que se lembrou de João como “aquele que se afastara desde a Panfília, não os acompanhando no trabalho” (Atos 15.38). Se Paulo fosse dar um apelido a João, nessa ocasião, provavelmente seria algo como “furão”, “corpo mole”, ou coisa parecida.
Mas depois, como sabemos (2a Timóteo 4.11), João Marcos foi relembrado pelo mesmo Paulo como aquele que é “útil para o ministério”. E até hoje é famoso no mundo inteiro pelo nome de Marcos, possivelmente por ter mudado de atitude. O nome “Marcos” dá a ideia daquele que se coloca como defesa, que está pronto para defender as pessoas, um território, a fé.
Conclusão
Qual é o apelido que as pessoas andam te dando? Como é que você gostaria de ser conhecido? Folgado, preguiçoso, mentiroso... às vezes as pessoas nos dão apelidos ruins, de maneira injusta, mas quanto a isto deixemos nas mãos do Senhor. Se, porém, nossas atitudes justificam um nome pejorativo, precisamos mudar.
Se você acha que o nome pelo qual está sendo lembrado não é um bom nome, então ainda pode mudar de atitude, e Deus pode mudar o seu nome. Em Apocalipse 2.17, na carta à igreja de Pérgamo, é mencionada uma pedrinha branca com um novo nome que será dado àqueles a quem Deus considera como vencedores.
Ter um bom nome para ser lembrado é importante, porém mais importante ainda é que nossas atitudes glorifiquem o nome que está acima de todo nome, o qual é apresentado em Filipenses 2.9-11: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.”
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, agosto de 2020.(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.submarinoviagens.com.br/bora-nessa-trip/chipre-a-ilha-do-amor/ Acesso em 23 ago. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ª ed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
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