Andei fazendo muitas provas de concursos alguns anos atrás. A primeira coisa que fazia antes de me inscrever num concurso era ler o edital para ver se eu preenchia os pré-requisitos para o cargo pretendido.
Olhando para o início da primeira viagem missionária de Paulo e Barnabé, podemos notar um paralelo, numa jornada que estava apenas começando, e a maneira como eles faziam a obra que lhes fora confiada, nos serve de exemplo. Aprendemos nestes poucos versículos que, para ser um missionário, é preciso se qualificar, para não fazer a obra de Deus relaxadamente. Neste parágrafo encontramos três pré-requisitos para que um missionário seja usado por Deus em sua obra.
Primeiro pré requisito: Zelo (14)
“Mas eles, atravessando de Perge para a Antioquia da Pisídia, indo num sábado à sinagoga, assentaram-se”.
O fato de os missionários terem ido à sinagoga no sábado demonstra o seu zelo para com as coisas que se referem à sua religião. É claro que, se eles buscavam oportunidades para pregar o evangelho, não havia lugar melhor para ir do que a sinagoga, onde se reuniam todo sábado pessoas que buscavam a adoração, a comunhão e o aprendizado da Palavra de Deus. Mas não se trata somente disto, pois o hábito os levaria ao local de adoração independentemente de haver ali uma oportunidade de pregar.
Um missionário, em primeiro lugar, tem que ser zeloso, fazendo-se sempre presente na congregação, o que pode não ser tão fácil quanto parece, à primeira vista. São chuvas, sóis, intercorrências mil, que escusam a maioria dos “mortais” que costumam faltar aos cultos. Mas um missionário ou aspirante não se deixa levar pelas intempéries, e confia em seu Deus que proverá livramento, de sorte que poderá estar presente onde outros falhariam. Em situações difíceis, ele sempre se lembra de exortações como as de Hebreus 10.19-25:
Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou pelo véu, isto é, pela sua carne, e tendo grande sacerdote sobre a casa de Deus, aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel. Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima.
Todos os cristãos deveriam ser zelosos quanto ao hábito de se congregarem, pelo menos no domingo, que tradicionalmente é o dia de descanso, conforme sinalizado nas Escrituras, em passagens como 1ª Coríntios. 16.1-2 e Atos. 20.7, e estabelecido oficialmente desde o império romano, conforme Codex Justinianus, lib. 13, it. 12, par. 2:
Que todos os juízes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atendam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo céu.
Conforme o catecismo da igreja católica, §2175:
O Domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual sucede cronologicamente, cada semana, e cuja prescrição ritual substitui, para os cristãos. Leva à plenitude, na Páscoa de Cristo, a verdade espiritual do Sábado judaico e anuncia o repouso eterno do homem em Deus. Com efeito, o culto da lei preparava o mistério de Cristo, e o que nele se praticava prefigurava, de alguma forma, algum aspecto de Cristo (1Cor 10,11).
E conforme a Confissão de Fé de Westminster, Capítulo XXI parágrafo VII
Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão [Exo. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor. 16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18].
Há também igrejas que preferem se reunir principalmente aos sábados, e há outros cultos e programações ao longo da semana, às vezes seletivos, mas todos eles importantes. Um aspirante a missionário precisa ser zeloso e valorizar as reuniões dos irmãos.
Segundo pré requisito: Coragem (15)
“Depois da leitura da lei e dos profetas, os chefes da sinagoga mandaram dizer-lhes: Irmãos, se tendes alguma palavra de exortação para o povo, dizei-a”.
A pergunta feita pelos chefes da sinagoga era a deixa para eles evangelizarem a audiência. Não sei quanto a você, mas, se eu estivesse no lugar de Paulo e Barnabé, nesta hora, sentiria um frio na barriga, pois a responsabilidade era muito grande. Tornaram-se o centro das atenções, e todos deveriam estar fitando-os atentamente para ouvirem uma mensagem inteligente, empolgante, que valesse a pena o seu precioso tempo. Não podiam falhar.
O que falar, como falar, cada detalhe era importante, para que a oportunidade recebida fosse bem aproveitada. A coragem para falar vinha, em parte, pelo fato de estarem preparados de antemão, de conhecerem muito bem as escrituras, e como aplica-las a cada situação, mas vinha, sobretudo, da fé em Deus, que os enviara e que não iria, de modo algum, os abandonar, chegando, inclusive, a colocar as palavras certas em suas bocas, conforme a necessidade.
Há pessoas que são conhecidas por sua coragem, mas outras, por sua covardia. Seria possível alguém que é covarde praticar atos de bravura? Sim, Deus pode escolher e capacitar os tímidos para atos grandiosos. Exemplo disto é o Gideão, valente pelos seus feitos, mas sempre hesitante no seu coração, pelo que pedia constantemente sinais de aprovação da parte de Deus, e ficou conhecido como o inventor da famosa “prova da lã”. Lemos em Juízes 6.11-14, 27, 32, 39 e 7.10,11 que:
Então, veio o Anjo do SENHOR, e assentou-se debaixo do carvalho que está em Ofra, que pertencia a Joás, abiezrita; e Gideão, seu filho, estava malhando o trigo no lagar, para o pôr a salvo dos midianitas. Então, o Anjo do SENHOR lhe apareceu e lhe disse: O SENHOR é contigo, homem valente. Respondeu-lhe Gideão: Ai, senhor meu! Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto? E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o SENHOR subir do Egito? Porém, agora, o SENHOR nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas. Então, se virou o SENHOR para ele e disse: Vai nessa tua força e livra Israel da mão dos midianitas; porventura, não te enviei eu? [...] Então, Gideão tomou dez homens dentre os seus servos e fez como o SENHOR lhe dissera; temendo ele, porém, a casa de seu pai e os homens daquela cidade, não o fez de dia, mas de noite. [...] Naquele dia, Gideão passou a ser chamado Jerubaal, porque foi dito: Baal contenda contra ele, pois ele derribou o seu altar. [...] Disse mais Gideão: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que mais esta vez faça eu a prova com a lã; que só a lã esteja seca, e na terra ao redor haja orvalho. [...] Se ainda temes atacar, desce tu com teu moço Pura ao arraial; e ouvirás o que dizem; depois, fortalecidas as tuas mãos, descerás contra o arraial [...].
Ser corajoso não é necessariamente ser isento do medo, mas é ir adiante, com fé, apesar do medo. Este pré-requisito é desejável naquele que aspira a ser um missionário.
Terceiro pré requisito: Sabedoria (16)
“Paulo, levantando-se e fazendo com a mão sinal de silêncio, disse: Varões israelitas e vós outros que também temeis a Deus, ouvi”.
Um missionário evangelista se destaca, frequentemente, por sua ousadia no falar. O seu zelo e a sua coragem o levam a falar, sem rodeios, a realidade da situação do homem, miserável pecador, condenado ao inferno, cuja única esperança é crer em Jesus para remissão dos pecados, evitando, assim, o juízo. E é preciso, mesmo, ser muito incisivo na pregação do evangelho, e não deixar lugar para dúvidas quanto à urgência do arrependimento e da conversão, antes que seja tarde.
Há, porém, um dilema a ser considerado. Ninguém gosta de ouvir certas verdades, e se o missionário não tiver sabedoria no falar, e habilidade para atrair, vai acabar assustando, criando resistências, e fracassando em sua missão. Como conciliar uma mensagem contundente e ao mesmo tempo atraente? É o que Paulo sabia fazer de melhor, usando a sabedoria que Deus lhe deu, e que ele cultivou, desde a sua mocidade.
Note que ele começa o seu discurso na sinagoga reconhecendo a presença de varões israelitas e dos demais que temem a Deus, ou seja, os prosélitos dentre os gentios. Paulo adaptava o seu discurso conforme os seus ouvintes, como ele diz em 1ª Coríntios 9.22: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”.
O amor pelos seus ouvintes o levava a aperfeiçoar a sua sabedoria, pois, se o temor do Senhor é o princípio da sabedoria, o amor é o vínculo da perfeição, conforme Colossenses 3.12-17 12:
Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição. Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos. Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração. E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.
Com temor do Senhor, e amor pelas almas perdidas, que nos leva a nos dedicarmos ao aperfeiçoamento de nosso procedimento e discurso, se cultiva a sabedoria, pré-requisito daquele que aspira a ser um missionário.
Conclusão:
Se você é jovem, e aspira a ser um missionário, é uma excelente obra que almeja, e oro para que o Senhor lhe capacite com zelo, coragem e sabedoria.
Mas se você, como eu, já não é tão jovem, e pensa: “por que razão deveria me preocupar com esses pré-requisitos, visto que já sou velho, e já passou o tempo de me dedicar a missões”? Ouça meus argumentos.
Em primeiro lugar, não podemos dizer que somos velhos para iniciar um novo ciclo em nossas vidas, pois há exemplos na Bíblia de homens que iniciaram novas fases em idade muito avançada. Cito como exemplos Abraão e Moisés. Abrão se considerava velho com cerca de 85 anos de idade (Genesis 15.2; 17.24,25), mas Deus mudou a sua vida a partir dos 100 anos, com o nascimento de Isaque, e lhe deu uma sobrevida de 75 anos (Gênesis 25.7); Moisés também se considerava velho e incapaz aos 80 anos quando seu verdadeiro ministério começou, e Deus lhe deu sobrevida de mais 40 anos.
Em segundo lugar, e isto agora se aplica tanto a velhos como a jovens, para ser um missionário não é preciso viajar ao outro lado do mundo. Podemos ser missionários em nosso lar, em nossa escola, em nosso trabalho. Somos forasteiros, estamos em terra estranha, somos embaixadores de Cristo. Para finalizar, quero compartilhar com você um corinho infantil que tem tudo a ver com o tema deste artigo:
Posso ser um missionariozinho, se falar de Cristo ao companheirinho; Posso trabalhar em minha terra. Manda-me, pois, Senhor! Não preciso atravessar os mares para dar aos outros novas salutares; posso fornecer sustento aos outros que meu Senhor mandou. Hei de orar e trabalhar fielmente; caso Deus me chame seguirei contente. para os campos que vão branquejando dispõe de mim, Senhor.
DEAL, Harold; BARTELLS, Henry Dekoven. Posso Ser um Missionariozinho.
(*) Foto do cabeçalho disponível em: http://geografiageralebiblica.blogspot.com/2011/01/israel-na-epoca-do-novo-testamento.html Acesso em. 05 set. 2020.
(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.
Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, setembro de 2020.
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