sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Pouco Caso
(Leia Mc 15.16-24)
Jesus estava indo para a cruz. Para a execução da pena, foi entregue aos cuidados dos soldados. Conforme profetizou Isaías (53.3), ele “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.”
Os soldados eram homens comuns, que não se davam conta de que tinham em suas mãos aquele que era o motivo de estarem vivos, o próprio Criador que se fez homem, e estava prestes a morrer em favor de todo o que nele crê. Através de Lucas (23.34) sabemos que Jesus disse, no final: “(...) Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (...)”.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UM MOTIVO DE PIADAS (16-19)
“Então, os soldados o levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento. Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam.”
Os soldados queriam se divertir. Seu trabalho era pesado, e a diversão lhes fazia esquecer as amarguras da vida, era o seu "happy hour". Antes de condenar os soldados, precisamos olhar para nós mesmos, se não estamos agindo de maneira semelhante, vivendo a vida como se tudo fosse brincadeira. Abusamos da vida que Deus nos deu, aproveitamos as bênçãos que temos recebido, vivendo despreocupadamente, como fazem os chamados “bon vivant”.
Zombaram de Jesus levando-o para dentro de um palácio que não era dele. Um lugar dominado pelo “príncipe deste mundo”, cheio de abominações, a ponto de os próprios Judeus, que acusavam Jesus, terem se recusado a entrar nele, para manterem sua “santidade”, sem a qual não poderiam comer a Páscoa (Jo 18.28).
Há lugares neste mundo que representam o palácio celestial do Rei Jesus. Destes lugares nós devemos zelar, porque Deus escolheu honrá-los com a presença de seu Espírito de maneira singular. Por não reconhecer este fato, o povo de Israel foi repreendido em Ageu 1.4, por habitarem “em casas apaineladas”, enquanto o templo, também chamado de “casa de Deus”, permanecia em ruínas.
Devemos nos lembrar, também, de que o nosso próprio corpo se transforma em palácio para morada do Espírito do Senhor, desde o momento em que abrimos para ele a porta do nosso coração. Somos alertados para este fato, por exemplo, em 1Coríntios 3.16 e 6.19. Temos a obrigação de cuidar bem do nosso corpo, considerando que ele não nos pertence mais, pois foi dedicado em santidade ao Rei Jesus, para o seu serviço.
O crente é notório, tradicionalmente, como alguém que não bebe, não fuma, e não faz outras “extravagâncias”. O conceito moderno de cuidado do corpo e da mente, porém, envolve muito mais do que se abster destas coisas. Podemos aproveitar muito dos conselhos de especialistas em “dietas equilibradas” e “vida regrada”, sem, contudo, chegarmos ao extremo de idolatrarmos o próprio corpo.
O palácio de Jesus não era aquele pretório, que pertencia aos governadores romanos. A despeito da zombaria, haverão de reconhecer que o seu palácio é muito superior.
Outra forma de zombaria usada pelos soldados refere-se às vestimentas. O ânimo de escarnecer do ilustre prisioneiro era tão grande, que lhe arrumaram uma sofisticada capa de púrpura, e se deram ao trabalho de tecer-lhe uma coroa de espinhos.
Mas estas vestes não pertenciam a Jesus. Deus, o Pai, estava prestes a providenciar-lhe “vestes de salvação” e o “manto de justiça”, conforme a profecia de Is 61.10. O próprio Senhor “vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se cobriu de zelo, como de um manto” (Is 59.17).
Quando nós chamamos Jesus de Rei, mas não fazemos o que ele manda, não honramos o seu nome, é como se estivéssemos colocando em sua cabeça uma coroa de espinhos. Machuca. É como se estivéssemos vestindo-o de um manto de zombaria.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UM PESO TEDIANTE (20-23)
“Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem. E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz. E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira. Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou.”
Os soldados não eram “bon vivants”. Tinham um trabalho para fazer, e chegara a hora de agir. Nem se divertiram muito com aquele prisioneiro, pois ele permanecia passivo, resignado, e não desesperado e assustado como os demais.
Ao sair do palácio, ironicamente, acompanhava o Rei uma forte escolta armada. Mas essa escolta não havia sido convocada por ele. Sua verdadeira escolta está prevista em Jd 1.14,15, que diz: “(...) Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.”
A “brincadeira” estava ficando sem graça. Jesus estava tão debilitado, fisicamente, que nem podia carregar a sua cruz. Os soldados forçaram, então, um dos curiosos dentre a multidão a carregar-lhe a cruz. Não sabemos muita coisa sobre esse Simão, mas penso que dificilmente faria esse serviço voluntariamente. Além do grande esforço físico, ainda tinha a questão da contaminação daquele objeto, provavelmente ensanguentado, símbolo de maldição, que inviabilizaria totalmente, para Simão, a comemoração da Páscoa, provável motivo de ele estar ali de passagem. O Rei, porém, não forçaria Simão a fazer esse serviço. Os súditos do Rei Jesus o servem voluntariamente, por gratidão. É para eles um privilégio sair “fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13.13), porque compreendem que dessa maneira é que Jesus conquistou a salvação do seu povo.
Deram-lhe a beber uma substância entorpecente, para facilitar-lhes o trabalho, mas ele não quis beber. Jesus precisava ficar bem sóbrio, pois estava “em serviço”. Quanto aos soldados, logo iriam voltar para casa, descansar de sua jornada, e talvez comentar com seus familiares sobre os acontecimentos de mais um dia tediante de trabalho.
Quando eu era adolescente, gostava de ouvir e cantar música popular brasileira. Não qualquer música. Eu era muito seletivo. Preferia os intelectuais. Uma das músicas que eu tentei cantar, mas não consegui, tinha um bordão muito bem elaborado, que eu admirei muito, mas não consegui cantar, pois apesar de eu não ser crente ainda, não podia concordar com a ideia chocante que trazia. O bordão dizia: “Eu quero crer na solução dos evangelhos; Obrigando os nossos moços ao poder dos nossos velhos” (Cordilheiras - Sueli Costa & Paulo César Pinheiro). Pensei: será que o evangelho é assim mesmo? Apenas um instrumento de limitar a liberdade dos jovens? Infelizmente muitos têm acreditado nessa mentira, achando que viver para Cristo é perder a liberdade.
Nós também podemos passar assim pela vida, sem considerar o sacrifício de nosso Senhor por nós, achando que a “religião” é apenas mais um fardo pesado que nos limita, e do qual, se pudéssemos, nos livraríamos para nos sentir mais leves e livres.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UMA FONTE DE GANHO (24)
“Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um.”
Porque será que eles tinham interesse nas vestes de Jesus? Não deviam ser muito valiosas, mas eles queriam aproveitar tudo o que pudessem tirar de vantagem da situação.
Ainda hoje isso acontece entre cristãos, de várias maneiras. Paulo já alertava Timóteo a respeito de falsos mestres, os quais supunham que a “piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5), e observava que “o amor do dinheiro é raiz de todos os males” (1Tm 6.10).
Por outro lado, muitos descartam a possibilidade de viver para Cristo, e apenas se aproveitam do que ele nos deixou de herança. Muitos que se consideram sábios, se beneficiam da paz e liberdade de pensamento e expressão que possuem. Essa liberdade se deve ao efeito do cristianismo, que promoveu a estabilização dos povos, de modo que o evangelho pudesse chegar aos confins da terra. O evangelho pavimentou as estradas por onde caminham hoje muitos incrédulos, que vêm na vida apenas uma oportunidade de ganho, de lazer, como quem adora a criatura no lugar do Criador. Quando alguém se recusa a viver para Jesus, o verdadeiro responsável por sua atual liberdade de escolha, é como se o considerasse apenas uma fonte de ganho.
No entanto, os maiores prazeres deste mundo, são apenas mesquinharia, comparados com a glória eterna que Jesus preparou para aqueles que o amam. Um servidor de Cristo não precisa de mesquinharias. O seu Rei lhes dá tudo em abundância. Em João 10.10 lemos que “o ladrão vem somente para roubar, matar e destruir”. Jesus veio para que tenhamos vida em abundância.
Será que nós temos considerado Jesus como os soldados o consideraram? Será que ele é para nós apenas um motivo de piadas? Um peso tediante, uma fonte de ganho? Jesus, mesmo estando em terrível sofrimento, crucificado, pediu ao Pai que perdoasse os soldados, porque não sabiam o que faziam. E quanto a nós, sabemos o que estamos fazendo?
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
O que fazer com Jesus?
(Leia Mc 15.1-15)
Pilatos acordara cedo para mais um dia de expediente, talvez achando que seria mais um dia normal. Mas quando chegam os judeus com o preso Jesus, percebe que estava com uma situação muito “delicada” para resolver. O que faria com Jesus? Neste texto podemos notar pelo menos três fases de seu relacionamento com a causa de Jesus, o escolhido de Deus.
1ª fase: ADMIRAÇÃO (1-5)
“Logo pela manhã, entraram em conselho os principais sacerdotes com os anciãos, os escribas e todo o Sinédrio; e, amarrando a Jesus, levaram-no e o entregaram a Pilatos. Pilatos o interrogou: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o dizes. Então, os principais sacerdotes o acusavam de muitas coisas. Tornou Pilatos a interrogá-lo: Nada respondes? Vê quantas acusações te fazem! Jesus, porém, não respondeu palavra, a ponto de Pilatos muito se admirar.”
Pilatos nunca tinha interrogado um preso como aquele. Normalmente os acusados se defendiam, negavam as acusações e apresentavam suas versões, mas Jesus nada respondia. Se ele se considerava rei dos judeus, conforme afirmavam, então porque era tão humilde? Certamente não era um preso qualquer. Alguma coisa havia de diferente e admirável naquele homem que tinha diante de si.
Assim como foi admirado por Pilatos, Jesus é admirado no mundo inteiro, mesmo pelos que não creem que ele seja o Filho de Deus.
Gandhi, por exemplo, “se referia a Jesus e à sua mensagem com respeito e mesmo devoção (…)”; afirmou também que “o evangelho que Jesus pregava é mais sutil e aromático do que o da rosa (citação de Ghandi - Gandhi, 1996, I.3, p. 123);” Gandhi “concordava profundamente” com a passagem do Evangelho de Jesus Cristo de que “nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que pratica a vontade de meu Pai que está nos céus”, pois as obras “sem a fé e sem a prece, são como flores artificiais e sem perfume” (Gandhi, 1991, I.19, p.45) (…)”; Chegou à conclusão de que “talvez o mais nítido de todos os testemunhos em favor da resposta afirmativa à questão que temos pela frente sejam as vidas dos maiores mestres do mundo: Jesus, Maomé, Buda, (…) estes homens exerceram uma influência imensa sobre o caráter de milhares de homens; pode-se dizer que moldaram-no. O mundo é mais rico porque eles viveram entre nós (Gandhi, 1996, I.2, p. 58)”; Acrescentou ainda que “porque a vida de Jesus tem a significância e a transcendência à qual aludi, acredito que ele pertença não só ao cristianismo mas ao mundo inteiro, a todas as raças e povos, pouco importando sob que bandeira, denominação (Gandhi, 1996, I.2, pp. 74.75-76) (...);” (1).
Muita gente encontra-se nesta fase de relacionamento com Jesus: Admiração, pois Jesus é mesmo uma personagem histórica singular.
2ª fase: TOLERÂNCIA (6-11)
“Ora, por ocasião da festa, era costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem. Havia um, chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais em um tumulto haviam cometido homicídio. Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregado. Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes soltasse, de preferência, Barrabás.”
Nesta fase, Pilatos vê Jesus como uma vítima, e quer evitar que sejam feitas injustiças. Posiciona-se com uma atitude condescendente de quem, tendo algum poder em suas mãos, procura ajudar outro, mesmo não concordando plenamente com suas ideias, sabendo que não faria mal a ninguém.
Muita gente “importante” assume esta atitude “condescendente” para com Jesus. Não é totalmente a favor, mas também não é contra. Incentiva quem quer seguir Jesus, embora não esteja disposta, ela mesma, a andar por este caminho.
Numa sessão de psicoterapia, por exemplo, o terapeuta pode ouvir com atenção o testemunho de um crente, mas em nome da ética profissional, deve manter-se a certa distância emocional. Num artigo sobre o assunto, chamado “Religião e Psicologia”, lemos o seguinte:
“Desta forma, em concordância com a opinião expressa em um dos artigos encontrados sobre a influência da religiosidade na Psicologia Clínica (CAMBUY et alii 2006), pensa-se que os profissionais devem possibilitar a emergência da religiosidade/espiritualidade de seus clientes no setting terapêutico, considerando a temática como parte de sua realidade e, por meio do discurso religioso (mas sem ater-se a ele), ajudá-los a chegar ao cerne da questão. Isto pode ser considerado como uma forma de se utilizar a religiosidade a serviço da psicoterapia, partindo da ideia de que ambas são potencialmente capazes de promover saúde e bem estar, desde que sabiamente utilizadas, e sem sobreposição de saberes” (2)
Muita gente, por conta de sua posição profissional ou social, ou até mesmo pessoal, encontra-se nesta fase de relacionamento com Jesus: a tolerância.
3ª fase: DECISÃO – ENGAJAMENTO OU ABANDONO (12-15)
“Mas Pilatos lhes perguntou: Que farei, então, deste a quem chamais o rei dos judeus? Eles, porém, clamavam: Crucifica-o! Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele? E eles gritavam cada vez mais: Crucifica-o! Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás; e, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”
A situação de Pilatos foi se complicando, por mais que ele quisesse se esquivar. Chegou o momento em que ele tinha que decidir: Ou fazia o que era certo, o que seria equivalente a engajar-se à causa de Jesus, designado o escolhido de Deus para reinar sobre a humanidade, ou continuava a seguir o seu caminho, virando as costas para a oportunidade que se apresentava. Oportunidade, por sinal, que tinha um peso eterno.
Um método muito usado para evangelização é chamado “o abismo ligado”. Nele, nós explicamos resumidamente a história da redenção. Normalmente as pessoas ouvem de bom grado toda a explanação, e só começam a ficar incomodados a partir do momento em que esclarecemos a necessidade de atravessar a ponte, como um ato de fé, para receber a salvação.
A fase da decisão é mesmo muito estressante. Um artigo a respeito de administração educacional observa que uma “grande razão para muitas decisões mal concebidas e implementadas está relacionada com as consequências motivacionais dos conflitos – em particular, as tentativas para superar o estresse gerado por escolhas extremamente difíceis sobre decisões vitais. Assim, as pessoas ignoram a informação sobre riscos e vão em frente (aderência não conflituosa). Outras simplesmente aceitam o curso de ação mais popular (mudança não conflituosa) e outros ainda procrastinam e evitam a ação (evitação defensiva). No outro extremo, alguns tomadores de decisão entram em pânico e tornam-se hipervigilantes enquanto buscam freneticamente uma solução”. (3)
Como tem sido nosso comportamento diante de Deus a respeito de decisões importantes? Uma decisão que não podemos adiar, é sobre o que vamos fazer a respeito da salvação que Jesus nos oferece. Se você ainda não “atravessou a ponte”, faça isto agora mesmo. Depois, andemos pelo caminho com Cristo, submetendo toda decisão importante à orientação de nosso Senhor.
Pilatos finalmente decidiu, mas decidiu errado. O maior peso na sua ponderação foi colocado sobre as coisas imediatas, com prejuízo das coisas eternas. Se ele tivesse decidido soltar Jesus, poderia perder sua posição, seu prestígio, talvez até a própria vida. Mas tudo o que viermos a sofrer por amor de Cristo, por mais doloroso que seja, a Bíblia chama de “leve e momentânea tribulação”, enquanto o resultado de atos de fé são chamados de “eterno peso de glória” (2Co 4.17).
Em que fase está o seu relacionamento com Jesus? ADMIRAÇÃO, TOLERÂNCIA, ou DECISÃO?
Não dá para ficarmos adiando certas decisões importantes. Não dá para ficarmos somente nas fases de admiração e tolerância. Cedo ou tarde precisamos decidir: Engajamento na causa de Cristo ou abandono, pois Jesus deixou claro: “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha” (Mateus 12.30). Pilatos tomou sua decisão. E você? O que vai fazer com Jesus?
Citações:
(1) (Gláucia Siqueira Marcondes; Humberto Araújo Quaglio de Souza; Josélia Henriques Pio Gouvêa; Matheus Landau de Carvalho - Mahatma Gandhi e seu diálogo inter-religioso com o cristianismo na busca pela Verdade - Disponível em: http://www.ufjf.br/sacrilegens/files/2013/03/9-2-9.pdf – Acesso em: 06/01/2016)
(GANDHI, Mahatma A roca e o calmo pensar. São Paulo: Palas Athena, 1991.
_________. Gandhi e o Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1996.)
(2) (Religião e Psicologia: análise das interfaces temáticas - Martha Caroline Henning - Carmen L. O. O. Moré - Disponível em: http://www.pucsp.br/rever/rv4_2009/t_henning.pdf Acesso em: 06/01/2015).
(CAMBUY, A.; AMATUZZI, M.M.; ANTUNES, A. 2006 “Psicologia clínica e Experiência Religiosa”. Revista de Estudos da Religião, São Paulo, Nº 3: 77-93.)
(3) (Wayne K. Hoy, Cecil G. Miskel, C. John Tarter. Administração Educacional: Teoria, Pesquisa e Prática. 9ª edição. Tradução Henrique de Oliveira Guerra. Pag. 315. AMGH. Porto Alegre. 2015. Disponível em: https://books.google.com.br/books?id=WIYTBwAAQBAJ&pg=PA315&lpg=PA315&dq=estresse+da+decis%C3%A3o&source=bl&ots=XAmqqzA1ss&sig=yI2UwyVe8pvrBm23JcY7Ds1u2yw&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwib26fg2Z3KAhWEjJAKHfyKBdgQ6AEIPDAG#v=onepage&q=estresse%20da%20decis%C3%A3o&f=false – Acesso em: 09/01/2016).
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
Perdendo a autoconfiança
(Leia Mc 14.66-72)
Pedro ainda respirava teimosia, ainda não lhe saíra da cabeça a sensação de que podia evitar a morte do mestre. Não aceitava a ideia de sofrer tamanha afronta sem ao menos lutar. Precisava bolar um plano para sair daquela situação. Só precisava resistir firme, até que achasse uma solução. Teve que mentir a respeito de si mesmo e de Jesus, mas isto era apenas uma estratégia. Se fosse nos dias de hoje, eu diria que Pedro andou assistindo muitos filmes americanos de ação, daqueles em que o herói enfrenta sozinho trezentos opositores e sai vitorioso. Mas como não tinha cinema naquele tempo, não sei onde ele buscou inspiração. Talvez na história de Davi, que enfrentou o gigante Golias e o exército dos filisteus, usando apenas uma funda e um cajado. Jesus estava atento ao que acontecia com o seu discípulo. Devia estar mais preocupado com Pedro do que consigo mesmo. Avisou-o daquela hora, para que, no seu desespero, ao chorar amargamente, se firmasse na compaixão daquele que sabia antecipadamente do seu comportamento vergonhoso, e mesmo assim o amava. Orava por ele, para que sua fé não desfalecesse diante da turbulência daquele momento (Lc 22.32). O desastre que ocorreu na vida de Pedro aquela noite realça ainda mais a certeza da necessidade da morte de nosso Salvador em nosso lugar. O melhor dos discípulos, Pedro, chegou ao limite do poder humano de ser fiel a Deus, amando-o de todo o coração e com todas as suas forças. Este quadro ilustra muito bem onde termina a força do homem e começa o poder de Deus. Pedro não podia ir além dos seus limites. Quais eram os limites de Pedro?
Limitação física (66-68)
“Estando Pedro embaixo no pátio, veio uma das criadas do sumo sacerdote e, vendo a Pedro, que se aquentava, fixou-o e disse: Tu também estavas com Jesus, o Nazareno. Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. E o galo cantou.”
Pedro tinha que se aquecer. Não queria ficar ali, no meio dos inimigos, mas estava muito frio, e sentiu a necessidade de se aquecer naquela abençoada fogueira, enquanto colocava os pensamentos em ordem. Se Pedro não tivesse limitações físicas, talvez não precisasse se expor tanto, e seria mais fácil cumprir sua missão, a qual ele tinha em mente. Muitas vezes nos esquecemos de que somos mortais e precisamos descansar, nos alimentar corretamente, cuidar da saúde.
Muitos missionários modernos acabam abandonando o campo por problemas de saúde, limitando suas atividades a ambientes menos hostis. Até mesmo o abnegado apóstolo Paulo não podia se esquecer de suas limitações físicas, e teve que dedicar um espaço, em meio a uma carta repleta de instruções espirituais, extremamente importantes, para que Timóteo não se esquecesse de levar para ele a capa que deixou na casa de Carpo (2Tm 4.13); antes de começar as saudações finais, Paulo ainda insiste: “apressa-te a vir antes do inverno” (2Tm 4.21).
Nossas limitações físicas atrapalham o cumprimento de nossa missão. Não precisava ser assim, pois Jesus também limitou-se a um corpo humano, e mesmo assim cumpriu sua missão. Mas nós somos pecadores. Nossas necessidades básicas acabam se tornando nossas inimigas. Não podemos ficar sem nos alimentar, mas acabamos tomando alimento além do que é necessário. Não podemos ficar sem dormir, mas acabamos dormindo além do que é necessário. Podemos ir também para o outro extremo, e por excesso de zelo ou por vaidade não nos alimentamos o suficiente, ou não dormimos o suficiente, acarretando doenças que vão nos limitar ainda mais no futuro.
Por isso foi necessário Jesus sofrer tudo aquilo, e pagar na cruz os nossos pecados, para que, pelo seu sangue purificador nos tornássemos aceitáveis ao Pai.
Limitação emocional (69-71)
“E a criada, vendo-o, tornou a dizer aos circunstantes: Este é um deles. Mas ele outra vez o negou. E, pouco depois, os que ali estavam disseram a Pedro: Verdadeiramente, és um deles, porque também tu és galileu. Ele, porém, começou a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem de quem falais!”
As emoções de Pedro estavam à flor da pele. Ele tomou para si uma responsabilidade muito pesada, como se quisesse carregar o mundo nas costas, e estava perdendo suas forças. Seus pensamentos eram como um delírio. Não estava entendendo, não podia aceitar o que estava acontecendo com aquele de quem dissera: “só tu tens as palavras da vida eterna” (Jo 6.68); “tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16.16). Jesus estava ali, bem ao lado, sendo caluniado, humilhado, espancado. A insistência dos serventuários, que não tinham nada que especular, que deveriam deixa-lo em paz, era como alfinetadas que desestabilizavam seu controle emocional. Pedro não estava sob o controle do Espírito Santo.
Assim como Pedro, precisamos do Espírito Santo atuando em nossas vidas, para termos sucesso no controle de nossas emoções. Muitas decisões erradas, que tomamos na vida, são consequências de descontrole emocional. Muitos deixam a Igreja por se sentirem desprezados, por terem sido insultados, ou até por coisas menores.
Dirigir veículos, hoje em dia, é uma grande provação. No trânsito as pessoas se transformam. Qualquer deslize é motivo de “buzinaços” ou xingamentos. Há muitas brigas, há muitas imprudências. Quando nos deixamos guiar pelas emoções, corremos o grande risco de tomarmos decisões das quais nos arrependeremos no futuro. É uma boa prática contar até dez, adiar a decisão para o dia seguinte, orar a respeito do assunto. Mas quem poderia perfeitamente controlar suas emoções? Somente pela misericórdia de Deus é que nos livramos de algumas consequências de nossas decisões precipitadas. Precisamos, em primeiro lugar, nascer de novo, nascer do espírito, pelo arrependimento e pela fé em Jesus, e entregarmos cada dia as “rédeas” nas mãos de nosso Senhor, por meio do seu Espírito que em nós habita. Desconfiemos sempre de nossas emoções. Se elas vierem de Deus, então não o envergonharemos com as ações por elas impulsionadas.
Limitação do tempo - O cantar do galo (68,72)
“Mas ele o negou, dizendo: Não o conheço, nem compreendo o que dizes. E saiu para o alpendre. E o galo cantou. E logo cantou o galo pela segunda vez. Então, Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes. E, caindo em si, desatou a chorar.”
Algumas doutrinas ensinam o aperfeiçoamento do homem através de várias tentativas, em várias vidas, mas a Bíblia nos diz em 9.27 que “aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo”; e em Rm 3.20 nos poupa de ilusões, afirmando que “ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”.
O cantar do galo, para Pedro, naquela madrugada, parecia o ressoar de um ringue, que marcava o final da luta, para o anúncio do vencedor e do perdedor. O cantar do galo podia ser, na verdade, o ressoar de uma trombeta. Nós temos um tempo curto para provarmos nossa fidelidade a Deus e depois enfrentaremos o juízo. Se não for a trombeta do arcanjo, que anuncia a volta de Jesus, será o dia de nossa morte, que pode vir antes do que esperamos. Nós envelhecemos, e muitas coisas que deixamos de fazer na juventude já não podem ser resgatadas. Algumas oportunidades são como ônibus que têm hora marcada, os quais, se não quisermos perder, precisamos ser rápidos e decididos. Algumas janelas de oportunidade passam apenas uma vez em nossas vidas. Pedro, neste caso, até que teve outras oportunidades de confessar Jesus, e se saiu bem. Por exemplo, nas suas prisões e perseguições pelos sacerdotes, que enfrentou, junto com outros discípulos, no início do seu ministério, quando respondeu às autoridades: “antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5.29), e depois de terem sido açoitados, “se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome” (At 5.41).
Conclusão
Jesus disse em Mateus 10.33: “mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus”. Então Pedro será negado por Jesus diante do Pai? Acho que não. Pedro teve chance de se arrepender, e assim anular o seu pecado. Até mesmo as autoridades que conspiravam contra Jesus tiveram sua chance, dada pelo próprio Pedro em At 3.19, quando os admoesta: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”.
Ao lermos o livro de Atos e as cartas de Pedro, temos a impressão de que ele aprendeu, de que sua entrega ao Espírito Santo para controlar sua vida, resolveu definitivamente o problema de suas limitações. Mas uma coisa ainda nos preocupa. Paulo, em Gl 2.11-21, testemunha um comportamento inadequado de Pedro, que, sob o ponto de vista de Paulo, estava virtualmente negando a graça de Cristo por pressão dos judaizantes. Então, baseando-nos no exemplo de Pedro, podemos concluir que nossa luta contra a carne e suas limitações não tem fim. Por isto, precisamos chorar amargamente diante do trono de Deus, as nossas limitações, e seguir o conselho do próprio Pedro, que certamente sabia o que estava dizendo em 1 Pedro 1.13,18-19: “Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo. (...) sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo”.
Talvez Pedro, num ato de heroísmo, quisesse resgatar Jesus, mas teve que reconhecer que ele é que precisava ser resgatado.
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