sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
Pouco Caso
(Leia Mc 15.16-24)
Jesus estava indo para a cruz. Para a execução da pena, foi entregue aos cuidados dos soldados. Conforme profetizou Isaías (53.3), ele “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso.”
Os soldados eram homens comuns, que não se davam conta de que tinham em suas mãos aquele que era o motivo de estarem vivos, o próprio Criador que se fez homem, e estava prestes a morrer em favor de todo o que nele crê. Através de Lucas (23.34) sabemos que Jesus disse, no final: “(...) Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (...)”.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UM MOTIVO DE PIADAS (16-19)
“Então, os soldados o levaram para dentro do palácio, que é o pretório, e reuniram todo o destacamento. Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça. E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos judeus! Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam.”
Os soldados queriam se divertir. Seu trabalho era pesado, e a diversão lhes fazia esquecer as amarguras da vida, era o seu "happy hour". Antes de condenar os soldados, precisamos olhar para nós mesmos, se não estamos agindo de maneira semelhante, vivendo a vida como se tudo fosse brincadeira. Abusamos da vida que Deus nos deu, aproveitamos as bênçãos que temos recebido, vivendo despreocupadamente, como fazem os chamados “bon vivant”.
Zombaram de Jesus levando-o para dentro de um palácio que não era dele. Um lugar dominado pelo “príncipe deste mundo”, cheio de abominações, a ponto de os próprios Judeus, que acusavam Jesus, terem se recusado a entrar nele, para manterem sua “santidade”, sem a qual não poderiam comer a Páscoa (Jo 18.28).
Há lugares neste mundo que representam o palácio celestial do Rei Jesus. Destes lugares nós devemos zelar, porque Deus escolheu honrá-los com a presença de seu Espírito de maneira singular. Por não reconhecer este fato, o povo de Israel foi repreendido em Ageu 1.4, por habitarem “em casas apaineladas”, enquanto o templo, também chamado de “casa de Deus”, permanecia em ruínas.
Devemos nos lembrar, também, de que o nosso próprio corpo se transforma em palácio para morada do Espírito do Senhor, desde o momento em que abrimos para ele a porta do nosso coração. Somos alertados para este fato, por exemplo, em 1Coríntios 3.16 e 6.19. Temos a obrigação de cuidar bem do nosso corpo, considerando que ele não nos pertence mais, pois foi dedicado em santidade ao Rei Jesus, para o seu serviço.
O crente é notório, tradicionalmente, como alguém que não bebe, não fuma, e não faz outras “extravagâncias”. O conceito moderno de cuidado do corpo e da mente, porém, envolve muito mais do que se abster destas coisas. Podemos aproveitar muito dos conselhos de especialistas em “dietas equilibradas” e “vida regrada”, sem, contudo, chegarmos ao extremo de idolatrarmos o próprio corpo.
O palácio de Jesus não era aquele pretório, que pertencia aos governadores romanos. A despeito da zombaria, haverão de reconhecer que o seu palácio é muito superior.
Outra forma de zombaria usada pelos soldados refere-se às vestimentas. O ânimo de escarnecer do ilustre prisioneiro era tão grande, que lhe arrumaram uma sofisticada capa de púrpura, e se deram ao trabalho de tecer-lhe uma coroa de espinhos.
Mas estas vestes não pertenciam a Jesus. Deus, o Pai, estava prestes a providenciar-lhe “vestes de salvação” e o “manto de justiça”, conforme a profecia de Is 61.10. O próprio Senhor “vestiu-se de justiça, como de uma couraça, e pôs o capacete da salvação na cabeça; pôs sobre si a vestidura da vingança e se cobriu de zelo, como de um manto” (Is 59.17).
Quando nós chamamos Jesus de Rei, mas não fazemos o que ele manda, não honramos o seu nome, é como se estivéssemos colocando em sua cabeça uma coroa de espinhos. Machuca. É como se estivéssemos vestindo-o de um manto de zombaria.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UM PESO TEDIANTE (20-23)
“Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem. E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz. E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira. Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou.”
Os soldados não eram “bon vivants”. Tinham um trabalho para fazer, e chegara a hora de agir. Nem se divertiram muito com aquele prisioneiro, pois ele permanecia passivo, resignado, e não desesperado e assustado como os demais.
Ao sair do palácio, ironicamente, acompanhava o Rei uma forte escolta armada. Mas essa escolta não havia sido convocada por ele. Sua verdadeira escolta está prevista em Jd 1.14,15, que diz: “(...) Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele.”
A “brincadeira” estava ficando sem graça. Jesus estava tão debilitado, fisicamente, que nem podia carregar a sua cruz. Os soldados forçaram, então, um dos curiosos dentre a multidão a carregar-lhe a cruz. Não sabemos muita coisa sobre esse Simão, mas penso que dificilmente faria esse serviço voluntariamente. Além do grande esforço físico, ainda tinha a questão da contaminação daquele objeto, provavelmente ensanguentado, símbolo de maldição, que inviabilizaria totalmente, para Simão, a comemoração da Páscoa, provável motivo de ele estar ali de passagem. O Rei, porém, não forçaria Simão a fazer esse serviço. Os súditos do Rei Jesus o servem voluntariamente, por gratidão. É para eles um privilégio sair “fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13.13), porque compreendem que dessa maneira é que Jesus conquistou a salvação do seu povo.
Deram-lhe a beber uma substância entorpecente, para facilitar-lhes o trabalho, mas ele não quis beber. Jesus precisava ficar bem sóbrio, pois estava “em serviço”. Quanto aos soldados, logo iriam voltar para casa, descansar de sua jornada, e talvez comentar com seus familiares sobre os acontecimentos de mais um dia tediante de trabalho.
Quando eu era adolescente, gostava de ouvir e cantar música popular brasileira. Não qualquer música. Eu era muito seletivo. Preferia os intelectuais. Uma das músicas que eu tentei cantar, mas não consegui, tinha um bordão muito bem elaborado, que eu admirei muito, mas não consegui cantar, pois apesar de eu não ser crente ainda, não podia concordar com a ideia chocante que trazia. O bordão dizia: “Eu quero crer na solução dos evangelhos; Obrigando os nossos moços ao poder dos nossos velhos” (Cordilheiras - Sueli Costa & Paulo César Pinheiro). Pensei: será que o evangelho é assim mesmo? Apenas um instrumento de limitar a liberdade dos jovens? Infelizmente muitos têm acreditado nessa mentira, achando que viver para Cristo é perder a liberdade.
Nós também podemos passar assim pela vida, sem considerar o sacrifício de nosso Senhor por nós, achando que a “religião” é apenas mais um fardo pesado que nos limita, e do qual, se pudéssemos, nos livraríamos para nos sentir mais leves e livres.
PARA OS SOLDADOS, JESUS ERA APENAS UMA FONTE DE GANHO (24)
“Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um.”
Porque será que eles tinham interesse nas vestes de Jesus? Não deviam ser muito valiosas, mas eles queriam aproveitar tudo o que pudessem tirar de vantagem da situação.
Ainda hoje isso acontece entre cristãos, de várias maneiras. Paulo já alertava Timóteo a respeito de falsos mestres, os quais supunham que a “piedade é fonte de lucro” (1Tm 6.5), e observava que “o amor do dinheiro é raiz de todos os males” (1Tm 6.10).
Por outro lado, muitos descartam a possibilidade de viver para Cristo, e apenas se aproveitam do que ele nos deixou de herança. Muitos que se consideram sábios, se beneficiam da paz e liberdade de pensamento e expressão que possuem. Essa liberdade se deve ao efeito do cristianismo, que promoveu a estabilização dos povos, de modo que o evangelho pudesse chegar aos confins da terra. O evangelho pavimentou as estradas por onde caminham hoje muitos incrédulos, que vêm na vida apenas uma oportunidade de ganho, de lazer, como quem adora a criatura no lugar do Criador. Quando alguém se recusa a viver para Jesus, o verdadeiro responsável por sua atual liberdade de escolha, é como se o considerasse apenas uma fonte de ganho.
No entanto, os maiores prazeres deste mundo, são apenas mesquinharia, comparados com a glória eterna que Jesus preparou para aqueles que o amam. Um servidor de Cristo não precisa de mesquinharias. O seu Rei lhes dá tudo em abundância. Em João 10.10 lemos que “o ladrão vem somente para roubar, matar e destruir”. Jesus veio para que tenhamos vida em abundância.
Será que nós temos considerado Jesus como os soldados o consideraram? Será que ele é para nós apenas um motivo de piadas? Um peso tediante, uma fonte de ganho? Jesus, mesmo estando em terrível sofrimento, crucificado, pediu ao Pai que perdoasse os soldados, porque não sabiam o que faziam. E quanto a nós, sabemos o que estamos fazendo?
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