segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

A hora da nossa morte (Atos 7.54-60)


A última palavra do piloto do avião que caiu com o time da Chapecoense foi: “Jesus”, conforme gravação da conversa entre ele e uma controladora de tráfego aéreo do aeroporto de Medellín.


Fonte: MOURA, Marcelo. As últimas palavras do avião da Chapecoense para a torre de controle. Revista Época/esporte (online), 30/11/2016. Disponível em: http://epoca.globo.com/esporte/noticia/2016/11/ultimas-palavras-do-aviao-da-chapecoense-com-torre-de-controle.html  Acesso em 04 dez. 2016.


Notícias trágicas como esta podem nos despertar para o fato de que a nossa hora um dia também vai chegar, quer seja de maneira trágica, como um acidente de avião, quer seja de maneira natural. Quando alguém se vê diante da angústia da morte, naturalmente se lembra dos filhos, dos pais, das pessoas queridas. Lembra-se de Deus, com quem espera se encontrar. Um pastor, meu amigo, costuma dizer para as pessoas que, na hora da morte, elas devem ter certeza de que a única coisa que lhes falta, a única coisa pendente, realmente, é morrer.


Neste parágrafo de Atos nós vemos que Estêvão morreu tragicamente, de forma injusta e cruel, mas ele estava bem preparado. Na hora de sua morte, pode-se dizer que ele estava seguro, pois tinha pelo menos três certezas.


A certeza de que estava olhando para o céu (54-56)


“Ouvindo eles isto, enfureciam-se no seu coração e rilhavam os dentes contra ele. Mas Estêvão, cheio do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus e Jesus, que estava à sua direita, e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus”.


Se Estêvão estivesse olhando ao seu redor, só veria pessoas enfurecidas, com pedras nas mãos, prontas para atacar. Mas ele não olhou ao redor, e sim para o céu, onde viu a glória de Deus.


Outro dia achei à venda, na internet, um tal “óculos da fé”. Ele estava em oferta, de R$ 62,00 por R$ 48,00. Estes óculos podem te ajudar a enxergar de modo mais agradável, já que têm “fator de proteção UVB/UVA 400”.


Fonte: Site Fé pra todo lado. Disponível em: http://www.fepratodolado.com/produtos/todos/listar/q=%C3%B3culos  Acesso em 04 dez. 2016.


Mas, se você está querendo uma proteção extra, a Bíblia te oferece óculos muito melhores, óculos que te farão um vencedor. Leia, por exemplo, Hebreus 12.2:olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus”.


Devemos ter um alvo, um objetivo. Quem coloca a mão no arado, não pode olhar para trás. Tem que olhar para o horizonte, seu objetivo está nesse caminho, conforme Lucas 9.62:Mas Jesus lhe replicou: Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus”. Às vezes a questão não é tanto a direção para onde olhamos, mas a maneira de enxergarmos as coisas, conforme Lucas 11.34:São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; mas, se forem maus, o teu corpo ficará em trevas”;  e Mateus 5.28:Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela”.


Na hora da nossa morte, talvez vamos nos lembrar destas coisas, e ficaremos mais consolados, caso tenhamos a certeza de que estivemos olhando para o céu, vendo as coisas do modo como Deus quer que as vejamos, com as “lentes espirituais” da Bíblia.


Certeza de que dedicou seu espírito ao Senhor (57-59)


“Eles, porém, clamando em alta voz, taparam os ouvidos e, unânimes, arremeteram contra ele. E, lançando-o fora da cidade, o apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo. E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito!”


Na época do natal, costumamos comprar presentes antecipadamente, e o guardamos para dar na data da festa.  Eu, pessoalmente, tomo muito cuidado com os presentes, enquanto ainda estão em minha posse, para que não se quebre, e que nem a embalagem seja amassada.


No meio jurídico existe a figura do “fiel depositário”. Uma vez, eu e minha esposa fomos licenciar um carro que havíamos comprado, mas a documentação estava irregular e, conforme a lei, o carro tinha que ser apreendido. O delegado, porém, teve compaixão de nós e achou uma boa solução, que foi me nomear como “fiel depositário”. Eu podia utilizar o automóvel livremente, mas devia cuidar bem dele porque a qualquer momento o governo poderia pedi-lo de volta.


Nossa alma, nosso espírito, nosso coração, e até mesmo o nosso corpo não nos pertencem mais, desde o dia em que nos dedicamos ao Senhor, se é que um dia chegamos a tomar essa decisão de fé. Temos ainda, porém, a posse dessas coisas, somos “fiéis depositários” de nossa própria vida, como mordomos, cuidando do que não é nosso. Na hora de nossa morte, o Senhor vai pedir tudo de volta. Que consolo não será para nós, se, naquele momento, tivermos a certeza de que cuidamos bem do nosso espírito, encomendando-o à obediência da Palavra de Deus, e agora podemos dedica-lo com toda segurança ao autor da nossa fé para salvação!


A certeza de que perdoou os seus devedores (60)


“Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este pecado! Com estas palavras, adormeceu”.


A oração modelo de Mateus 6.12 nos ensina a pedir para Deus perdoar “as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores”. Romanos 12.20 repete um provérbio do velho testamento: “se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça”. Exemplificando este antigo conceito bíblico, José perdoou seus irmãos, e Davi perdoou Saul.


O perdão é uma questão muito séria. Sabemos que, quando chegar o dia do julgamento, Jesus dirá a alguns: “nunca vos conheci”, embora eles argumentem “Senhor, mas nós profetizamos e fizemos milagres em teu nome...” (Mateus 7.22,23).


Será que, naquele dia, alguns também dirão: “Senhor, mas eu aceitei Jesus no coração dia tal, do ano tal, olha aqui, está escrito na capa da minha Bíblia!”? Se essa pessoa não perdoou os seus devedores, aqueles contra quem tinha justificadas queixas, o que o Senhor diria a ela? Talvez Mateus 18.21-35 tenha a resposta:


Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Por isso, o reino dos céus é semelhante a um rei que resolveu ajustar contas com os seus servos. E, passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o senhor que fosse vendido ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía e que a dívida fosse paga. Então, o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo, e tudo te pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora e perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo: Paga-me o que me deves. Então, o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe implorava: Sê paciente comigo, e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes, indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus companheiros o que se havia passado, entristeceram-se muito e foram relatar ao seu senhor tudo que acontecera. Então, o seu senhor, chamando-o, lhe disse: Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que lhe pagasse toda a dívida. Assim também meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não perdoardes cada um a seu irmão.


Na hora da nossa morte, tenhamos a certeza de que andamos perdoando os nossos devedores, os nossos ofensores. 


Conclusão


Estêvão devia estar em grande angústia, a sua morte foi resultado de grande injustiça e crueldade. Mas ele estava milagrosamente sereno, seguro. Ele olhou para o céu, dedicou seu espírito ao Senhor, e perdoou os seus inimigos. Certamente ele não aprendeu estas coisas de uma hora para outra, mas agiu conforme o seu costume, morreu como havia vivido.


Não podemos saber o que se passava na mente dos que estavam no avião da Chapecoense, a não ser pelo testemunho dos seis sobreviventes. Um dia, porém, vai chegar a nossa hora, seja de maneira trágica, seja de maneira natural. Por que esperar a hora de nossa morte? Hoje é o dia em que podemos e devemos estar preparados, tendo pelo menos estas três certezas, de que estamos olhando para o céu, dedicando nosso espírito ao Senhor, e perdoando aqueles contra os quais temos alguma queixa. Que o Senhor nos capacite.


(*) Imagem do cabeçalho - Luis Benavides/AP. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/11/aviao-com-equipe-da-chapecoense-sofre-acidente-na-colombia.html  Acesso em 03 dez. 2018.


 

domingo, 11 de novembro de 2018

O homem justo (Atos 7.51-53)

Neste ponto, em que conclui o seu discurso, Estêvão passa de acusado a acusador, exercendo a função de um verdadeiro profeta. Ele não se ocupa de sua própria defesa, mas expõe a verdade de que aquele tribunal que o estava julgando era injusto, e culpado de condenar muitos inocentes, especialmente o Justo de Deus, Jesus Cristo.


Jesus é, entre os homens que viveram na terra, o único que pode ter o título de justo por seu mérito. Mas Deus, em sua graça, torna possível a muitos homens o serem chamados de justos.


Um homem justo, no conceito bíblico, só pode ser chamado assim se for movido pelo Espírito Santo, que o capacita a agradar a Deus. Podemos perceber, por este parágrafo, que para ser justo, o homem não pode se deixar mover pelas coisas que normalmente movem o mundo. Neste sentido, podemos dizer que o homem justo tem pelo menos três características.


O homem justo não é movido exclusivamente pelo coração (51)


Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo


Se nós seguirmos exclusivamente as inclinações do nosso coração, sempre resistiremos ao Espírito Santo. Jeremias 17.9 diz que o nosso coração é enganoso. Um coração assim tende a nos levar para decisões não muito sábias. Um artigo assinado por Ana Paula Severiano, na revista Super Interessante, em 2013, relata a seguinte experiência:


No seu mais novo livro, Thinking, Fast and Slow, o psicólogo ganhador do Prêmio Nobel de Ciências Econômicas de 2002, Daniel Kahneman, mostra como vários equívocos acontecem ao nos deixarmos levar pela confiança e pelos preconceitos – ou seja, quando damos crédito demais ao tal feeling a ponto de ignorar a lógica. Em um de seus estudos mais famosos, Kahneman apresentava aos voluntários uma personagem fictícia, a estudante Linda: solteira, franca, brilhante, preocupada com justiça social e discriminação. Ao ouvir a descrição, os participantes tinham que dizer se ela era “caixa de banco” ou “caixa de banco e ativa no movimento feminista”. Ele realizou esse estudo por décadas, com diferentes grupos, e constatou que a maioria escolhia a segunda alternativa, sem perceber que a primeira já seria uma resposta correta – e mais segura. Até mesmo alunos da Escola de Negócios de Stanford, com formação em probabilidade, ignoraram seus conhecimentos de que adicionar um detalhe só diminuiria a chance de acerto nesse caso: 85% apostaram no engajamento de Linda.


SEVERIANO, Ana Paula. Conselhos errados que as pessoas dão: “Siga o seu coração”. 2013. Disponível em: http://super.abril.com.br/comportamento/conselhos-errados-que-as-pessoas-dao-siga-o-seu-coracao/  Acesso em: 12/11/2016.


Os homens que estavam no tribunal, diante do qual Estêvão estava sendo condenado, tinham o coração contaminado de preconceitos. Não “davam ouvidos” ao Espírito Santo que lhes advertia quanto ao seu grande erro. Por seguirem apenas o seu coração, não estavam qualificados para a sua posição, na qual deveriam ser agentes da justiça.


O homem justo não é movido exclusivamente pela sua natureza (51,52)


“[…] assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis.  Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo,


Costumam dizer que filho de peixe, peixinho é. Parece que a maioria das pessoas enxergam como inevitável a determinação da genética ou da educação sobre o comportamento. Um estudo do Prof. Marco Montarroyos Calegaro, neurocientista, fala das contribuições conjuntas da genética e do ambiente no comportamento humano:


[…] O nazismo tentou usar a genética para amparar sua teoria da superioridade ariana, […] A psicologia americana na época da segunda guerra mundial era radicalmente ambientalista, […] admitir diferenças genéticas entre João e Pedro em habilidades cognitivas, por exemplo, seria aceitar os pressupostos que justificariam o fascismo e o racismo. [...] acredito que não é mais possível sustentar este tipo de crítica à genética pois é baseada em um equívoco grosseiro. […] sabemos hoje que todo comportamento depende, em maior ou menor grau, de fatores genéticos e de fatores ambientais, interagindo de maneira extremamente complexa. […] Os genes definem tendências, mas são as experiências individuais que, sempre, as modulam. […] A pergunta clássica “este comportamento é herdado ou adquirido pela experiência?” perde completamente o sentido, dando lugar à difícil questão “como é que os genes interagem com o ambiente na produção deste comportamento?.”


CALEGARO, Marco Montarroyos, MSc. Psicologia e Genética: O Que Causa o Comportamento? Revista Cérebro & Mente. Universidade Estadual de Campinas, 2001. Disponível em: http://www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html  http://www.cerebromente.org.br/n14/mente/genetica-comportamental1.html Acesso em 13 nov. 2016.


Há uma lenda contando que:


Um monge e seus discípulos iam por uma estrada e, quando passavam por uma ponte, viram um escorpião sendo arrastado pelas águas. O monge correu então pela margem do rio, meteu-se na água e tomou o bichinho na mão. Quando o trazia para fora do rio o escorpião o picou. Devido à dor, o monge deixou-o cair novamente no rio. Foi então à margem, pegou um ramo de árvore, voltou outra vez a correr pela margem, entrou no rio, resgatou o escorpião e o salvou. Em seguida, juntou-se aos seus discípulos na estrada. Eles haviam assistido à cena e o receberam perplexos e penalizados. - Mestre, o Senhor deve estar muito doente! Por que foi salvar esse bicho ruim e venenoso? Que se afogasse! Seria um a menos! Veja como ele respondeu à sua ajuda: picou a mão que o salvava! Não merecia sua compaixão! O monge ouviu tranquilamente os comentários e respondeu: - Ele agiu conforme a sua natureza e eu de acordo com a minha.


OMENA, Carlos Alberto. Reflexões. Santos: Clube dos Autores, 2013.


O monge agiu conforme a sua natureza, o escorpião também. Os discípulos, embora inclinados a agirem conforme a sua natureza, tiveram a oportunidade de refletir e, quem sabe, mudar seu ponto de vista. Em Josué 24.15 o povo, igualmente, foi exortado a repensar a natureza de sua tradição: “Porém, se vos parece mal servir ao SENHOR, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao SENHOR”.


Nós, também, temos uma escolha a fazer. Podemos deixar que a genética faça o seu papel, podemos nos conformar ao ambiente em que vivemos, às tradições nas quais fomos criados, ou podemos escolher o que é justo, segundo a Palavra de Deus.


Os “justos” que julgavam Estêvão podiam reconsiderar, diante das palavras inspiradas de Estêvão, a sua posição, evitando cometerem mais uma grande injustiça, mas, ao que parece, estavam antes inclinados a seguirem a sua própria natureza.


O homem justo não é movido exclusivamente pelos interesses (52,53)


[...] do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes.


Pilatos era um homem que vivia da política e, quando teve que tomar a decisão mais importante de sua vida, tragicamente escolheu o caminho que lhe parecia ser de maior interesse, não obstante a mensagem sobrenatural vinda por intermédio de sua esposa, conforme Mateus 27.19, 24:


E, estando ele no tribunal, sua mulher mandou dizer-lhe: Não te envolvas com esse justo; porque hoje, em sonho, muito sofri por seu respeito. […] Vendo Pilatos que nada conseguia, antes, pelo contrário, aumentava o tumulto, mandando vir água, lavou as mãos perante o povo, dizendo: Estou inocente do sangue deste justo; fique o caso convosco!


Nicolau Maquiavel foi um filósofo dos séculos XV e XVI, que ficou famoso por falar sobre a política como ela realmente é. A Wikipédia descreve a sua ética nos seguintes termos:


[...] A ética em Maquiavel se contrapõe à ética cristã herdada por ele da Idade Média. Para a ética cristã, as atitudes dos governantes e os Estados em si estavam subordinados a uma lei superior e a vida humana destinava-se à salvação da alma. Com Maquiavel a finalidade das ações dos governantes passa a ser a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, não o próprio, de forma que uma atitude não pode ser chamada de boa ou má a não ser sob uma perspectiva histórica. Reside aí um ponto de crítica ao pensamento maquiavélico, pois com essa justificativa, o Estado pode praticar todo tipo de violência, seja aos seus cidadãos, seja a outros Estados. Ao mesmo tempo, o julgamento posterior de uma atitude que parecia boa, pode mostrá-la má.


Nicolau Maquiavel. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel https://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel Acesso em 13 nov. 2016.


Todos nós temos interesses a defender, e é de bom senso fazê-lo. Mas quando se trata de fazer o que é justo, há situações em que precisamos decidir se vamos defender os interesses imediatos ou se vamos pensar nos interesses eternos.


O Sinédrio, tribunal diante do qual Estêvão fazia a sua defesa oral, tinha a obrigação de julgar segundo a lei que, inclusive, lhes fora dada por ministério de anjos, mas já se percebia em seus semblantes a sua inclinação, a sua tendência de trair e até mesmo assassinar, para defender os seus próprios interesses.


Conclusão


Os acusadores de Estêvão foram confrontados. Ficaram claras as suas motivações, que estavam sendo guiadas pelo coração, pela sua natureza, e por seus próprios interesses. Examinemos, pois, a nós mesmos. São verdadeiramente justas as nossas intenções, de forma que Deus se agrade de nós? A Bíblia nos mostra o caminho da justiça que passa, em primeiro lugar, pelo reconhecimento dos nossos pecados, de nossas ofensas para com Deus. Busquemos em Jesus Cristo, o Senhor, o perdão e a reconciliação. Que o Espírito de Deus nos guie, e nos capacite a sermos verdadeiramente justos.


Apêndice: O que mais a Bíblia fala sobre o homem justo?


1 - É possível um homem ser chamado de justo:


Mateus 1.19 “Mas José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente.”


Mateus 13.43 “Então, os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.


Mateus 13.49 “Assim será na consumação do século: sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos”


Mateus 25.31-33,46


Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos, à esquerda [...] E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.


Lucas 1.6 “Ambos eram justos diante de Deus, vivendo irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor.”


Lucas 1.17 “E irá adiante do Senhor no espírito e poder de Elias, para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado.”


2 - Não existe justo a não ser que Deus o declare:


Lucas 18.9 “Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros”


Romanos 3.10 “como está escrito: Não há justo, nem um sequer,”


Romanos 3.26 “tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”


Gálatas 3.11 “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé.”


3 - Os que são salvos devem manifestar a justiça


1ª Pedro 4.18 “E, se é com dificuldade que o justo é salvo, onde vai comparecer o ímpio, sim, o pecador?”


1ª João 3.7 “Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo.”


Apocalipse 22.11 “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.”


 


(*) Imagem do cabeçalho disponível em: http://studiu-biblic.ro/devotional-femei/2015/12/01/am-strigat-si-m-a-auzit.html  Acesso em 11 nov. 2018.


 

sábado, 22 de setembro de 2018

A casa de Deus (Atos 7.42-50)

Um sinal de que alguém está evoluindo, prosperando na vida, é quando adquire sua casa própria. Nós nos sentimos seguros quando temos um lugar que podemos arrumar do nosso jeito, guardar todos os nossos móveis, e proteger-nos da chuva, do sol, e quem sabe do calor...


No texto de hoje nós vemos que o povo de Israel evoluiu, na medida em que aprendeu a adorar o Deus verdadeiro, e um dos sinais mais visíveis desta evolução é que construíram uma casa para Deus, embora ainda precisassem aprender a abandonar completamente os ídolos. Estêvão, quase finalizando sua defesa, abordou o assunto como quem tenta explicar que, embora a Casa de Deus fosse importante, O Senhor estava inaugurando um novo tempo, uma forma mais evoluída de adoração, que não dependia tanto do lugar onde se adorava, mas da maneira certa de adorar, como ensinou Jesus: “em espírito e em verdade” (João 4.24).


Podemos dizer que Deus espera que o seu povo evolua por meio de, pelo menos, três passos:


Abandonar o tabernáculo dos ídolos (42,43)


Mas Deus se afastou e os entregou ao culto da milícia celestial, como está escrito no Livro dos Profetas: Ó casa de Israel, porventura, me oferecestes vítimas e sacrifícios no deserto, pelo espaço de quarenta anos, e, acaso, não levantastes o tabernáculo de Moloque e a estrela do deus Renfã, figuras que fizestes para as adorar? Por isso, vos desterrarei para além da Babilônia.


Os povos que foram expulsos da terra prometida para que Israel tomasse posse, adoravam muitos ídolos, fazendo coisas que eram abomináveis ao Senhor. Israel deveria tomar isto como advertência e evoluir através deste primeiro passo, que era abandonar o tabernáculo dos ídolos, abolir de vez estas práticas. Mas, em vez disto, paralelamente à adoração do Deus verdadeiro, muitos continuavam a adorar e manter tabernáculos de ídolos.


Há pessoas que procuram adorar um deus que lhe agrade, ou até procuram agradar todos os deuses, como o povo da Roma antiga, com o seu panteão.


O próprio Salomão, que teve o privilégio de construir o primeiro e mais glorioso templo ao Deus verdadeiro, construiu, em seguida, templos para deuses pagãos como Quemos, abominação de Moabe, e Moloque, abominação dos filhos de Amon (1º Reis 11.7).


Ninguém, que eu conheça, gosta de ser chamado de idólatra, por isso é que a idolatria contemporânea é tão sutil. Assim como Raquel escondeu os seus ídolos (Gênesis 31.19,34), os nossos ídolos também estão ocultos, apesar de deixarmos transparecer nossa tendência idólatra por alguns detalhes em nossa linguagem comum. Quando um artista, antes desconhecido, nos surpreende com o seu talento, dizemos que ele é uma revelação; quando gostamos muito dele, dizemos que somos seu ; se o artista se destaca internacionalmente, se torna um superstar (super estrela), e quando faz o seu show (para mostrar sua glória), aplaudimos o espetáculo. Algumas expressões como “você que está vidrado na telinha”, “você vai se encantar com a nossa programação”, dão as dicas da relação desejada entre as companhias de entretenimento e seus espectadores. Tem gente que não liga muito para a televisão, eu sei, mas às vezes diz coisas do tipo: “eu adoro pescar”.


Pagamos cachês altíssimos a ídolos populares, ou diretamente, ou por meio dos impostos, como foi noticiado no jornal O Globo em julho de 2016, sobre a festa Junina de Caruaru:


RIO – Depois da polêmica em torno do cachê de Wesley Safadão para se apresentar na tradicional festa junina de Caruaru, o governo pernambucano decidiu revelar o valor pago a todos os artistas escalados para a 26ª edição do Festival de Inverno de Garanhuns, que começou no último dia 21 e segue até o dia 30 de julho. Os valores vão de R$ 7 mil, para Clayton Barros, e R$ 120 mil, recebido por Nação Zumbi e Alceu Valença. De acordo com o jornal "Diário de Pernambuco", os valores foram detalhados em banners estendidos ao lado dos palcos. Participam ainda Elza Soares (R$ 92 mil), Elba Ramalho (R$ 105 mil), Gal Costa (R$ 114 mil), Otto (R$ 60 mil) e Margareth Menezes (R$ 85 mil), entre outros. Além disso, a quantia investida na estrutura do evento também foi explicitada. A Fundarpe, Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, responsável pelo evento, pagou R$ 89.846,86 para a montagem do palco, R$ 70.342,20 pelos geradores de energia elétrica, e R$ 102.752,50 pela locação dos equipamentos de som.


Organização divulga cachê dos artistas do Festival de Inverno de Garanhuns. O Globo (online), 25/07/2016. Disponível em: http://oglobo.globo.com/cultura/musica/organizacao-divulga-cache-dos-artistas-do-festival-de-inverno-de-garanhuns-19780298 Acesso em 04 nov. 2016.


O principal mandamento diz: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração” (Deuteronômio 6.5). Ora, se é de todo o coração, não sobra espaço para amar mais nada. Todas as demais coisas podemos amar, somente, se estiveram “no Senhor”. Até mesmo o cônjuge, conforme diz em 1ª Coríntios 7.39: “A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor.


Para quem você está dando o melhor de si? Nós costumamos separar o que é melhor para pessoas ou coisas às quais queremos dar maior honra. Assim, o nosso melhor tempo, o nosso maior vigor, a nossa melhor roupa, a melhor fase de nossa vida, devemos dedicar ao Senhor, nosso Deus. Ou será que alguém imagina que devemos dar a Deus somente o resto? Às vezes parece que aqui, na igreja, só chegamos o “pó”, o “caco”, chegamos sonolentos e até mal-humorados, porque já demos o melhor das nossas energias para outras coisas. Os que vão prestar o ENEM (Exame Nacional do Ensino Mécio) são aconselhados a dormir e se alimentar bem na noite anterior, para que possam dar o melhor de si na hora da prova. Por que não fazemos isto também na véspera do domingo, o Dia do Senhor? Abandonemos, pois, o tabernáculo dos ídolos, e sirvamos somente ao Senhor.


Construir uma casa digna para o Deus verdadeiro (44-47)


O tabernáculo do Testemunho estava entre nossos pais no deserto, como determinara aquele que disse a Moisés que o fizesse segundo o modelo que tinha visto. O qual também nossos pais, com Josué, tendo-o recebido, o levaram, quando tomaram posse das nações que Deus expulsou da presença deles, até aos dias de Davi. Este achou graça diante de Deus e lhe suplicou a faculdade de prover morada para o Deus de Jacó. Mas foi Salomão quem lhe edificou a casa.


O segundo passo para evoluir segundo a vontade de Deus é construir-lhe uma casa digna. Moisés foi instruído a construir um tabernáculo para adorar o Deus Verdadeiro. Depois de muito tempo, já instalados na terra prometida, puderam construir um templo definitivo.


Durante os séculos, os cristãos têm construído muitas casas para Deus. Existem muitas catedrais históricas e famosas dedicadas à adoração cristã, como os exemplos abaixo:


Notre Dame – Paris (1163);


Imagem disponível em: https://www.getyourguide.com.br/paris-l16/skip-the-line-notre-dame-cathedral-with-audio-guide-t83454/?utm_force=0 Acesso em 17 set. 2018.


Santa Sofia - Istambul (532-537);


Imagem disponível em: https://www.turismogrecia.info/guias/turquia/a-igreja-de-santa-sofia Acesso em 17 set. 2018.


Catedral de Colônia – Alemanha (1248-1880);


Imagem disponível em: https://catedraismedievais.blogspot.com/2013/10/catedral-de-colonia-encontro-entre-o.html Acesso em 17 set. 2018.


Catedral da Sé – São Paulo (1913-1954);


Imagem disponível em: https://www.infoescola.com/sao-paulo/catedral-da-se/ Acesso em 17 set. 2018.


 

Candelária – Rio de Janeiro (1880);


Imagem disponível em: https://pleno.news/brasil/cidades/vigilia-relembra-vitimas-da-chacina-da-candelaria.html Acesso em 17 set. 2018.


Mas a casa de Deus não é, evidentemente, uma casa terrena. Os templos que construímos são importantes na medida em que nos ajudam a adorar em paz e segurança, para nos concentrarmos melhor no serviço de adoração. Estes templos devem ser maiores, mais confortáveis, mais belos que a nossa própria casa, para a glória de Deus. É certo, porém, que Deus se agrada mais de uma oca numa tribo indígena, onde estejam adorando a Deus em espírito e em verdade, do que da mais esplêndida catedral já construída, se não houver ali uma genuína adoração.


Construir uma casa não feita por mãos humanas (48-50)


Entretanto, não habita o Altíssimo em casas feitas por mãos humanas; como diz o profeta: O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés; que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Não foi, porventura, a minha mão que fez todas estas coisas?


O terceiro passo nesta evolução, esperada por Deus para o seu povo, é a construção de uma casa não feita por mãos humanas.


Pedro diz, em sua primeira carta (2.5): “também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo”. Paulo, por sua vez, diz em Efésios 2.19-22:


Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qual também vós juntamente estais sendo edificados para habitação de Deus no Espírito.


Espiritualmente, devemos nos sentir como missionários, peregrinos, estrangeiros. Um missionário não costuma dispor de muitas coisas materiais. Imaginamos que um missionário que trabalhe numa tribo indígena deva se misturar aos índios e viver como eles vivem, morar onde eles moram, comer o que eles comem. Por causa da urgência da obra e dos recursos comumente disponíveis, não se imagina a construção de uma catedral, nem mesmo uma construção das mais simples, destas que costumamos usar como templos nas áreas urbanas. A princípio, basta uma cobertura de palhas sobre uma estrutura de troncos e galhos de árvores. E por que isto já seria suficiente? Porque o verdadeiro templo que agrada a Deus é construído de pessoas reunidas para adorá-lo. É ali que Deus tem prazer em habitar. Cremos que Deus está presente conosco quando nos reunimos nos cultos. E por que está presente? Não é pela beleza do prédio. Se não houvesse prédio, ele também estaria presente. Mas será que todos nós estaríamos presentes na igreja se a reunião não fosse num prédio bonito e confortável? Espero que sim. Espero que não estejamos indo aos cultos por causa do prédio, porque, se fosse assim, trocaríamos facilmente a nossa igreja por outra, onde o prédio fosse mais aconchegante, mais bonito, mais esplendoroso. Antes de pensarmos no prédio, pensemos em nós mesmos como “pedras que vivem”, construindo um santuário dedicado ao Senhor, do qual Jesus é a Pedra Angular. Esta casa não é feita por mãos humanas.


Conclusão


E então, será que estamos evoluindo? Se Deus nos tem abençoado com um lar, não façamos de nosso lar uma casa de ídolos, e vamos zelar da casa de Deus, no sentido físico, sim, mas principalmente no sentido espiritual.


Deus tem ciúmes das coisas que você mais ama, daquilo que você tanto gosta, porque o amor que dedicamos a determinadas coisas deveria ser dedicado a ele. Tiago 4.5 diz: “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?”


Em Apocalipse 3.19 o Senhor adverte: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te”.


Em Ezequiel 16.38 Deus dirige a Jerusalém estas palavras: “Julgar-te-ei como são julgadas as adúlteras e as sanguinárias; e te farei vítima de furor e de ciúme”. Ele buscava pessoas que, com uma atitude positiva, evitassem a destruição da cidade santa, conforme Ezequiel 22.30: “Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei”.


São muito tentadores, os prazeres ilusórios que a vida oferece, mas sejamos firmes, e tenhamos nossa esperança integral na morada que é construída pelo próprio Deus, conforme diz João 14.2,3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também”.


* Imagem do Cabeçalho: O Muro das Lamentações. Disponível em: https://www.infoescola.com/religiao/muro-das-lamentacoes/ Acesso em 22 set. 2018

domingo, 9 de setembro de 2018

As obras das nossas mãos (Atos 7.36-41)

Quando eu paro para pensar na criatividade do homem, não tem como não ficar impressionado. A tecnologia nos possibilita recursos inimagináveis. Com um smartphone na mão, eu posso tirar foto, enviar mensagens, passar vídeos, orientar-me por GPS e até fazer ligações telefônicas! É um aparelho tão maravilhoso que algumas pessoas dão até suas vidas por eles. É praticamente uma idolatria. Parece que, em vez de adorarem o Criador dos elétrons, os homens estão adorando as criações eletrônicas, obras das suas próprias mãos. Vejam só que absurdo: em outubro de 2016,


Um homem na Ucrânia trocou oficialmente seu nome para iPhone 7 depois que uma loja de eletrônicos ofereceu o novo aparelho da Apple às primeiras cinco pessoas que fizessem esta mudança, segundo a agência de notícias Associated Press. Antes chamado Olexander Turin, de 20 anos, ele recebeu seu aparelho como prêmio nesta sexta-feira (28). Um iPhone 7 na Ucrânia custa a partir de US$ 850, enquanto a troca de nome no país custa apenas US$ 2. iPhone 7 disse à agência que seus amigos e família ficaram chocados com a mudança no início, mas depois apoiaram a ideia. Ele afirmou que pode mudar o nome de volta para Olexander Turin quando tiver filhos. Sua irmã, Tetyana, disse que "foi difícil aceitar e acreditar", mas "cada pessoa no mundo busca se expressar de certa maneira. Por que não assim?


Ucraniano troca seu nome para 'iPhone 7' para ganhar um celular. Site G1, 28/10/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2016/10/ucraniano-troca-seu-nome-para-iphone-7-para-ganhar-um-celular.html Acesso em 29 out. 2016.


O povo de Israel não tinha smatphones, mas foi um povo rebelde, e não se entregou de todo o coração ao Senhor, para fazer a sua vontade. Eles não foram gratos, mas antes murmuraram, pensando que o Senhor deveria lhes dar mais do que já lhes tinha dado. Rejeitaram a alegria que lhes estava proposta para buscarem uma alegria instantânea e passageira.


Não quiseram saber das obras de Deus. Antes, se alegraram com as obras de suas mãos. Neste parágrafo de Atos, nós podemos identificar pelo menos três evidências de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, para se alegrarem.


Rejeição da alegria de presenciar os prodígios e sinais feitos por Deus (36)


A primeira evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, nós identificamos no versículo 36: “Este os tirou, fazendo prodígios e sinais na terra do Egito, assim como no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos”.  Vimos aqui a menção dos prodígios e sinais que o povo presenciou, mas que, evidentemente, não valorizou, rejeitando a alegria que é receber e presenciar os milagres de Deus.


Para convencer os egípcios de que era o SENHOR quem estava ordenando a libertação do seu povo, Deus enviou-lhes dez pragas:


  1. As águas tingem-se de sangue, vindo a morrer todos os peixes;
  2. Rãs cobrem a terra;
  3. Piolhos atormentam homens e animais;
  4. Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais;
  5. A morte dos animais;
  6. Pústulas cobrem homens e animais;
  7. Chuva de granizo destrói plantações;
  8. Nuvem de gafanhotos ataca plantações;
  9. Escuridão encobre o sol por três dias;
  10. Os primogênitos de homens e animais morrem;

O maná, as águas jorrando das pedras, as vitórias nas guerras, todos estes milagres Deus fez diante de todo o povo, mas isto não foi considerado suficiente. O povo queria mais milagres.


Em Hebreus 11.6 está escrito que, “de fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.  Esta fé que agrada a Deus nem sempre é bem compreendida e, como aconteceu com Israel, é comum haver distorções em sua aplicação. Jaime Francisco de Moura, em seu livro “Lavagem cerebral e hipnose nos cultos protestantes”, observa que:


Muitas pessoas procuram na religião não a salvação, a verdade, a vida eterna, mas apenas sensações agradáveis, emoções que as façam sentir-se bem consigo mesmas. Esta busca da emoção, do sensível (aquilo que percebemos por nossos sentidos) é algo que pode trazer problemas enormes para uma pessoa bem intencionada. A fé edificada sobre a emoção não é fé verdadeira, mas mera busca de recompensa rápida, pouco profunda e ineficiente.


Ao expor o resultado do seu estudo, o escritor denuncia o uso, por parte de alguns líderes religiosos, de técnicas de lavagem cerebral e hipnose para simular milagres. Ele afirma que “[...] existem três tipos de fenômenos no mundo em que vivemos. O físico, o paranormal e o sobrenatural”, e “[...] que fenômenos paranormais, onde também se enquadra a lavagem cerebral e a hipnose, estão sendo confundidos com o sobrenatural, ou com a ação do Espírito Santo, por muitos pastores. Em muitos casos são confundidos também com obras de anjos maus e o demônio”


MOURA, Jaime Francisco de. Lavagem Cerebral e Hipnose nos Cultos Protestantes. Brasília: Gráfica Opção, 2010. P. 5,8,9.


A Igreja Católica tem comissões para examinar milagres. Não é todo testemunho de milagres que é aceito. Antes que um fenômeno seja aceito como milagre, precisa cumprir alguns requisitos, sendo um dos mais importantes, o de que a ciência não possa dar uma explicação plausível; caso contrário, isto seria um fenômeno natural, e não poderia ser reconhecido como um milagre.


Alguns fenômenos históricos passaram por esse crivo, como o a liquefação do sangue de San Gennaro (1980, Nápoles), o Santo Sudário (Turim, 1357), a dança do sol em Fátima (Portugal, 1917), a imagem da Virgem de Guadalupe (1531, México).


Mas existem, certamente, muitos milagres acontecendo que, mesmo que as autoridades eclesiásticas não os reconheçam, não deixam de ser milagres. Especialmente os “pequenos milagres”, que afetam diretamente nossas vidas em determinados momentos.


Eu me lembro que, quando eu tinha uns três ou quatro anos de idade, estava viajando com meu pai num ônibus; ele me deixou por um instante sozinho e foi até a lanchonete comprar alguma coisa. Eu fiquei com muito medo de ficar sozinho, olhando atentamente para não perdê-lo de vista. Meu pai demorou muito a voltar, e eu não o estava vendo mais, quando o motorista entrou no ônibus, deu partida e estava dando ré para sair. Vocês podem imaginar o que aconteceu. Eu caí no choro, fiquei desesperado, quando, de repente, meu pai colocou a mão sobre mim e me acalmou, assentando-me em seu colo. Como isto foi possível? Uma brincadeira? Meu pai estava o tempo todo atrás de mim e eu não sabia? Ou será que Deus atendeu ao meu choro desesperado e “arrebatou” o meu pai, colocando-o perto de mim com o ônibus em movimento. Ninguém sabe. Deveria eu chamar as autoridades eclesiásticas para analisar os fatos e determinar se foi um milagre ou não? Não precisa. Para aquela criança de três ou quatro anos, foi suficiente receber o abraço e o consolo de seu pai, no exato momento em que achava que tudo estava perdido. Para ela foi um milagre.


Nós temos a tendência de esquecer, desprezar, rejeitar os milagres de Deus, e queremos realizar nossos próprios milagres. Rejeitamos a salvação que veio por meio do sacrifício vicário de Jesus e queremos salvar-nos a nós mesmos, como se isto fosse possível. Não andamos em fé, mas agimos como se tudo dependesse de nosso próprio esforço, sem nos darmos conta de que nossa saúde, inteligência, força física, seja o que for que nos dê prosperidade, vem de Deus, conforme nos lembra Salmos 127.1 “Se o SENHOR não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o SENHOR não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”. 


Se olharmos do ponto de vista correto, veremos que a nossa vida está repleta de milagres, então precisamos crer e nos alegrar com os milagres que de Deus temos recebido todos os dias, uns maiores e outros menores.


O Pastor Misael, da Igreja Presbiteriana do Brasil em Rio Preto, escreveu num boletim semanal da igreja, em comemoração à Semana da Reforma, que “do ponto de vista da providência, existimos como igreja graças ao propósito soberano de Deus. Do ponto de vista histórico, estamos aqui por causa da Reforma Protestante do século 16”


BATISTA, Misael. 499 anos de reforma protestante. São José do Rio Preto: Igreja Presbiteriana (Boletim 357), 30/10/2016. Disponível em: http://www.ipbriopreto.org.br/499-anos-de-reforma-protestante/ Acesso em: 29/10/2016).


Ele elaborou assim o seu texto para dar ênfase à obra verdadeiramente relevante do reformador alemão. Mas note que o pastor não se esqueceu de dar honra a quem, de fato, é o responsável por estarmos aqui, esclarecidos quanto à salvação pela graça, lendo a Bíblia em nosso próprio idioma, livres para cultuar a Deus em Espírito e em Verdade. Pois ele começa dizendo que “do ponto de vista da providência, existimos como igreja graças ao propósito soberano de Deus”. Precisamos praticar mais este tipo de pensamento, reconhecendo a multidão de milagres que Deus já nos fez e está fazendo a cada dia. Isto é infinitamente melhor do que vivermos querendo mais e tentando produzir nossos próprios milagres.


O povo de Israel recebeu o Maná todos os dias, por quarenta anos. Era um milagre diário, que os alimentava porque não podiam cultivar lavouras no deserto. Mas ficaram enfastiados desse milagre, e chegaram a chamá-lo de “pão vil” (Números 21.5). Será que estamos impacientes também com Deus, achando “vis” os milagres diários que ele tem nos dado? Querendo mais e maiores milagres? Querendo produzir nossos próprios milagres?


Rejeição da alegria de ouvir as Palavras Vivas (37,38)


Nos versículos 37 e 38 encontramos a segunda evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos:


Foi Moisés quem disse aos filhos de Israel: Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim. É este Moisés quem esteve na congregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir.


As palavras que Moisés tinha para transmitir ao povo eram Palavras Vivas, dadas pelo Anjo do SENHOR. Mesmo assim, isso não foi valorizado pelo povo, que as rejeitou.


A comunicação de Deus conosco, através de suas palavras vivas, dão sabedoria, consolo e alegria, mas constantemente os homens buscam relatos fantasiosos, pseudo-intelectuais, para satisfazerem sua curiosidade ou desejo de que sejam apoiados seus instintos pecaminosos. Por causa desta tendência de querer ouvir coisas “mágicas” é que fazem tanto sucesso livros como o “código Da Vinci” e a série “Harry Potter”.


Esta tendência, dentro da própria igreja, de querer ouvir coisas mágicas e sensacionais, foi profetizada em 2ª Timóteo 4.3: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos”.


Eclesiastes, o pregador, procurou escrever palavras que agradassem, sem, contudo, se desviar da verdade, enfatizando que o mais importante é o temor a Deus. Ele escreveu no capítulo 12, versículos 10-14:


Procurou o Pregador achar palavras agradáveis e escrever com retidão palavras de verdade. As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos bem fixados as sentenças coligidas, dadas pelo único Pastor. Demais, filho meu, atenta: não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne. De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más.


As Palavras de Deus são vivas, conforme Salmos 19, e nós precisamos “mergulhar” nestas palavras, sem termos medo de aprender. Não bastam dogmas, doutrinas sistematizadas que, embora possam ter muito valor como resultado de quem se dedicou ao estudo zeloso e piedoso das escrituras, não devem ser limitadoras de nosso raciocínio, nem isentas de juízo.


As sistematizações de doutrinas são valorosos guias para não nos perdermos em heresias, mas algumas vezes estamos lendo as escrituras e, em nossa meditação, chegamos à conclusão de que Jesus “não podia pecar”. Só que nossa doutrina diz que Jesus “podia não pecar”. Às vezes uns versículos inspiradores nos levam à revelação de que o homem de Deus tem que cuidar do seu corpo, alma e espírito, mas a doutrina de nossa igreja diz que o homem não é “tricotômico”, e sim “dicotômico”. Tem horas que precisamos deixar de lado estes detalhes, e simplesmente nos deleitarmos com a beleza, a sabedoria, a doçura das palavras vivas de Deus.


Não podemos cair nos mesmos erros de hereges que acham que tiveram uma “revelação”, fecharam questão com um sistema próprio de doutrina e nunca mais voltaram para analisar se não estão andando em erro, seja por ignorância, seja por má fé. Precisamos aprender a ouvir o que a Bíblia nos diz, renovando esse compromisso a cada leitura, com oração para que o Senhor fale conosco. Precisamos ouvir outros irmãos que também têm lido e meditado nas escrituras, porque Deus pode nos falar através deles também. Precisamos ouvir os estudiosos, os professores, os pastores, que acreditamos estarem sinceramente e diligentemente buscando aprender a palavra de Deus para depois compartilhar esse conhecimento.


Muitos de nós temos nossa própria doutrina particular. Aqui na igreja aprendemos como se deve proceder, mas no dia-a-dia o que vale é o nosso modo de pensar. Aprendemos aqui princípios valiosos, conselhos sábios. Mas quando fechamos nossas Bíblias, deixamos guardadas todas essas recomendações, até o próximo culto, quando vamos abrir as suas páginas novamente e nos lembrarmos de que esquecemos de praticar o que foi ensinado.


Com uma atitude assim, acabamos não fazendo nem o básico da vida cristã. Aprendemos sobre a importância da leitura diária da Bíblia e de separarmos um tempo diário para oração, mas nos perdemos na avalanche das múltiplas atividades e empurramos com a barriga a Bíblia e a oração. Aprendemos sobre a necessidade de nos disciplinarmos para não chegarmos atrasados nos cultos mas acabamos não levando a sério esta questão porque, naturalmente, não há punição para quem chega atrasado nos cultos, diferentemente do trabalho secular. E muitas coisas piores fazemos ou deixamos de fazer contra a vontade de Deus, porque temos uma outra Bíblia, secreta, que só nós conhecemos e reverenciamos: a nossa própria sabedoria, o nosso modo de ver as coisas. Esta é, na prática, a nossa Bíblia verdadeira, e não as Palavras Vivas de Deus.


Rejeição da alegria de adorar e de ter comunhão santa, na presença de Deus (39-41)


A terceira evidência de que o povo não estava contente com as obras de Deus, preferindo fazer obras com suas próprias mãos, está nos versículos 39-41: 


A quem nossos pais não quiseram obedecer; antes, o repeliram e, no seu coração, voltaram para o Egito, dizendo a Arão: Faze-nos deuses que vão adiante de nós; porque, quanto a este Moisés, que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe aconteceu. Naqueles dias, fizeram um bezerro e ofereceram sacrifício ao ídolo, alegrando-se com as obras das suas mãos.


O relato de Estêvão é baseado em Êxodo 32.17-19:


Ouvindo Josué a voz do povo que gritava, disse a Moisés: Há alarido de guerra no arraial. Respondeu-lhe Moisés: Não é alarido dos vencedores nem alarido dos vencidos, mas alarido dos que cantam é o que ouço. Logo que se aproximou do arraial, viu ele o bezerro e as danças; então, acendendo-se-lhe a ira, arrojou das mãos as tábuas e quebrou-as ao pé do monte.


Os cânticos nos cultos nos conduzem à alegria da adoração. A comunhão e as festas na igreja nos incentivam a ficar firmes no caminho, mas a maioria do povo quer mais do que isto, quer festas onde praticamente não há limites para extravasar suas alegrias e seus instintos naturais. Assim é que se multiplicam as “baladas” e os carnavais.


Não é de se admirar que, hoje em dia, ouve-se falar de blocos “evangélicos” saindo no Carnaval, já que existe um esforço histórico de dar-lhe justificativas religiosas. Ao pesquisar o verbete “Carnaval” na Wikipédia, encontramos o seguinte:


A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. (...) Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados "gordos", em especial a terça-feira (...). Todas as datas eclesiásticas são calculadas em função da data da Páscoa, com exceção do Natal. Como o Domingo de Páscoa ocorre no primeiro domingo após a primeira lua cheia que se verificar a partir do equinócio (...) do outono (no hemisfério sul), e a Sexta-Feira da Paixão é a que antecede o Domingo de Páscoa, então a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa.


Carnaval. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carnaval  Acesso em 29 out. 2016.


Sobre este viés religioso do carnaval escreve Rachel Soihet, num artigo de 1998, dizendo que:


No paganismo, os homens agiam como selvagens, de acordo com suas paixões, enquanto os cristãos moviam-se segundo o espírito de Deus e a razão. Assim, o paganismo implicava no "pecado da carne", no qual incorriam, também, os que cometiam atos irracionais, loucos, não esquecendo que falta de razão, não raramente, identificava-se com alegria. A todo momento, a valorização do sofrimento, da sisudez,da privação em vez de transbordamento. Neste encaminhamento, busca Baroja a comprovação de sua tese: a alegria e os excessos do carnaval só têm sentido como catarse preparatória para justificar a entrada na quaresma [...] embora Baroja não tenha como justificar o fato de que "as abstinências e os rigores da quaresma foram sempre menos observadas que os excessos carnavalescos"[...].


SOIHET, Rachel. Reflexões sobre o carnaval na historiografia, pag. 3, Rio de Janeiro: UFF, 1998. Disponível em: http://www.academiadosamba.com.br/monografias/raquelsoihet.pdf Acesso em 09 set. 2018.


Há momentos em que, em vez de festa, paga agradar a Deus, temos que jejuar e nos entristecer. Davi era um homem que servia a Deus com alegria, mas quando se deparava com o seu pecado, buscava a Deus com jejuns, como em 2º Samuel 12.16: “Buscou Davi a Deus pela criança; jejuou Davi e, vindo, passou a noite prostrado em terra”.


Quando Esdras recebeu permissão do rei Artaxerxes, rei da Pérsia, para voltar a Jerusalém para organizar e promover a adoração no Templo do Senhor, ele jejuou para pedir o favor de Deus, conforme diz em Esdras 8.21: “Então, apregoei ali um jejum junto ao rio Aava, para nos humilharmos perante o nosso Deus, para lhe pedirmos jornada feliz para nós, para nossos filhos e para tudo o que era nosso”.


O jejum pode expressar sinceridade em nos arrependermos de nossos pecados, como podemos ler em Joel 2.12: “Ainda assim, agora mesmo, diz o SENHOR: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto”.


Mas o jejum, por si mesmo, não garante a aprovação de Deus. No tempo de Isaías, ele repreendeu o povo porque estava distorcendo o verdadeiro propósito do jejum, e reclamando a Deus, conforme Isaías 58.3-6:


[...] dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta?” e Deus lhes respondeu: “Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. [...] Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao SENHOR? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo?


Deus não quer que vivamos tristes e sisudos o tempo todo. Pelo contrário, deu instruções ao seu povo, desde o começo, para se alegrarem perante ele, como em Deuteronômio 12.5-21:


[...] mas buscareis o lugar que o SENHOR, vosso Deus, escolher de todas as vossas tribos, para ali pôr o seu nome e sua habitação; e para lá ireis. [...] Lá, comereis perante o SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis em tudo o que fizerdes, vós e as vossas casas, no que vos tiver abençoado o SENHOR, vosso Deus. [...] e vos alegrareis perante o SENHOR, vosso Deus, vós, os vossos filhos, as vossas filhas, os vossos servos, as vossas servas e o levita que mora dentro das vossas cidades e que não tem porção nem herança convosco [...]. Se estiver longe de ti o lugar que o SENHOR, teu Deus, escolher para nele pôr o seu nome, então, matarás das tuas vacas e tuas ovelhas, que o SENHOR te houver dado, como te ordenei; e comerás dentro da tua cidade, segundo todo o teu desejo.


O povo de Israel, assim como grande parte da população de hoje, não se contentou com a alegria de adorar e de ter comunhão santa, na presença de Deus. Antes, procurou outros tipos de alegria, obras de sua imaginação, e de suas próprias mãos.


Conclusão


O homem da Ucrânia trocou oficialmente seu nome para ganhar um aparelho celular. Você trocaria seu nome para ganhar um prêmio assim, com o qual pudesse se alegrar? Um prêmio feito por mãos humanas? Apocalipse 13.16-18 fala de um dia assim, em que haverá a necessidade de se ter uma identidade específica para que se possa gozar até mesmo dos direitos de cidadão:


A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.


Seria o caso de que a questão do “nome da besta” fosse algo parecido com a história do “iPhone7”?


Vivemos num mundo em que as fronteiras do que é ou não razoável não estão bem delimitadas. Então nos permitimos certos deslizes, raciocinando como a Tetyana, irmã do jovem Olexander Turin: “Porque não?” Talvez. Mas chegará um dia em que teremos que decidir radicalmente de que lado estamos, assim como aconteceu no dia em que Moisés flagrou os adoradores do bezerro de ouro alegrando-se com as obras de suas mãos.


Não vamos rejeitar as alegrias que Deus nos oferece para nos alegrarmos com as obras de nossas próprias mãos. Alegremo-nos com os milagres, com as palavras vivas, e com as festas de adoração que o nosso Deus nos dá.


*Figura: Touro da Wall Street. Disponível em: http://mercadofinanceiro.forumeiros.com/t86-o-urso-e-o-touro-de-wall-street Acesso em 10 set. 2018.


 


 

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Rejeitado pelo mundo, escolhido por Deus (Atos 7.20-35)

Prosseguindo no discurso em sua defesa, Estêvão passa a falar de Moisés, contra o qual foi acusado de blasfemar. Ele apresenta o grande líder histórico de Israel como um homem cheio de qualidades, as quais, no entanto, não garantiram sua aprovação diante do mundo. Pelo contrário, Moisés foi um homem rejeitado, até o momento em que Deus o transforma em libertador do seu povo.

As boas qualidades não garantem aprovação no mundo. Mas Deus tinha um plano bem traçado para a vida de Moisés, e é isto que, no final, importa. Ele aceitou e seguiu o plano de Deus para sua vida e tornou-se um dos nomes mais importantes para Israel e para o mundo inteiro, até aos dias de hoje. Neste parágrafo do livro de Atos podemos notar que Moisés tinha pelo menos três qualidades, as quais não garantiram por si mesmas a aprovação do mundo.

Beleza. (20-21)

"Por esse tempo, nasceu Moisés, que era formoso aos olhos de Deus. Por três meses, foi ele mantido na casa de seu pai; quando foi exposto, a filha de Faraó o recolheu e criou como seu próprio filho".

O lindo bebê Moisés foi guardado em seu lar durante três meses, mas por causa da lei de Faraó, seus pais foram obrigados a rejeitá-lo, lançando-o ao rio, ainda que, cuidadosamente, tenham providenciado uma pequena arca, para que ele não afundasse. Pela providência de Deus, foi acolhido pela filha de Faraó, que contratou a própria mãe do bebê para lhe servir de ama em sua fase de lactente.

Imagine uma linda criança, pense nas que você conhece. Como seria possível explicar para uma criança assim que ela tinha que deixar a sua casa para morar na casa de outra mulher, que lhe serviria de mãe, porque agora, desmamada, já não precisava dos serviços daquela que lhe dera à luz e que o tratava com todo o amor do mundo?

Crianças ou adultos, a quem Deus agraciou com beleza física, não estão isentos de serem rejeitados. Homens e mulheres de hoje se utilizam de técnicas que podem incrementar ou fazer manutenção da sua beleza física. Dietas, academias, maquiagens, cirurgias, vestimentas, cortes e pinturas de cabelos, entre outros procedimentos. Mas, como aconteceu com Moisés, também conosco pode acontecer que a beleza não seja determinante para evitar que sejamos rejeitados. E mesmo que as pessoas não nos rejeitem, podemos ficar tão obcecados em nos mantermos dentro dos padrões modernos de beleza que isto nos torne sempre insatisfeitos, frustrados, ou até mesmo doentes. As mulheres são as que mais sofrem com este problema. Augusto Cury, em seu livro “A ditadura da Beleza”, observa que

A era da imagem trouxe uma expansão da beleza estética em diversas áreas da atividade humana. Mas, na área da auto-imagem e da imagem do ser humano diante do outro, provocou um estrago no inconsciente, fazendo com que grande parte das pessoas perdessem o senso da magia, da suavidade, da leveza do ser, do encanto pela vida, afetando drasticamente a saúde emocional e as relações sociais.

CURY, Augusto Jorge. A Ditadura da Beleza e a Revolução das Mulheres. Rio de Janeiro: Sextante, 2005, pag. 15.

A busca de aceitação por meio de padrões de beleza chegam a extremos, como revela uma reportagem de abril de 2014 no site da revista Marie Claire, cujo título é “Médico se especializa em cirurgia nos pés para sapato de grife calçar melhor”:

Há até nomes para os procedimentos: Perfect 10 para encurtar os dedos; Model T para crescer os dedos; e o mais radical de todos, Cinderela, no qual o pé é remodelado para o formato de um sapato que se deseja usar. [...] Os termos foram criados por Ali Sadrieh, médico de Beverly Hills, que há 13 anos deu início a uma clínica especializada em pés. Não se trata apenas de corrigir joanetes ou deformidades reais, suas pacientes querem caber em saltos de estilistas famosos.

Revista Marie Claire (online), 27/04/2014. Disponível em: https://revistamarieclaire.globo.com/Beleza/noticia/2014/04/medico-se-especializa-em-cirurgia-nos-pes-para-sapato-de-grife-calcar-melhor.html Acesso em 15 out. 2016.

A verdade, porém, é que nem sempre acertamos ao imaginar o que as pessoas esperam de nós quanto à nossa aparência. Um artigo assinado por Caroline Caron menciona uma boa ilustração do fato de que erramos frequentemente, ao imaginar o que as pessoas esperam de nós quanto à aparência física. O estudo divulga que foram comparadas as reações de 20 homens e 20 mulheres,

[...] que classificaram o grau de atração perante as fotos de uma modelo em trajes provocantes e em trajes “normais”. Assim os avaliadores observaram uma série de fotografias onde as modelos apareciam com camiseta sobre o sutiã, na outra camiseta molhada sem sutiã, outra camisa abotoada e outra foto com a camisa desabotoada até o meio. Transcrevendo as palavras de Mirkin (2001): “Surpreendentemente, quando olharam as fotografias das modelos de roupa deliberadamente provocante, os homens não percebiam acréscimo na capacidade de atração da mulher e as mulheres percebiam decréscimo.”

CARON, Caroline Freiberger. Influência da Moda da Ditadura da Beleza Feminina. Faculdade de Tecnologia Senai Blumenau, 2008. Disponível em:  http://www.fiepr.org.br/nospodemosparana/uploadAddress/moda%5B24229%5D.pdf Acesso em 06 out. 2016.

Vigor físico e intelectual (22-29)

E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras. Quando completou quarenta anos, veio-lhe a idéia de visitar seus irmãos, os filhos de Israel. Vendo um homem tratado injustamente, tomou-lhe a defesa e vingou o oprimido, matando o egípcio.  Ora, Moisés cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus os queria salvar por intermédio dele; eles, porém, não compreenderam. No dia seguinte, aproximou-se de uns que brigavam e procurou reconduzi-los à paz, dizendo: Homens, vós sois irmãos; por que vos ofendeis uns aos outros? Mas o que agredia o próximo o repeliu, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz sobre nós? Acaso, queres matar-me, como fizeste ontem ao egípcio? A estas palavras Moisés fugiu e tornou-se peregrino na terra de Midiã, onde lhe nasceram dois filhos.

Moisés era vigoroso, física e intelectualmente, mas esta qualidade não evitou que ele fosse rejeitado pelos seus irmãos. Diante da rejeição, se viu obrigado a fugir, sendo acolhido pelo sacerdote de Midã, que lhe deu sua filha Zípora como esposa, com a qual teve dois filhos e assim constituíram uma família.

O vigor físico e intelectual que Deus deu a Moisés era impressionante aos olhos de qualquer um. Ele era muito bom nos argumentos, e quando os argumentos falhavam, ele usava sua força física. Foi assim que “convenceu” o egípcio a não espancar mais os pobres escravos, e seus irmãos, a pararem de brigar. Foi assim também que “convenceu” os pastores a deixarem em paz as frágeis pastoras, filhas de Reuel (Jetro), no momento em que as queriam enxotar do poço para furarem a fila e darem água para o seu rebanho em primeiro lugar (Êxodo 2.16-19).

Podemos desejar ter as mesmas qualidades de Moisés, quanto ao vigor físico e intelectual, para que sejamos melhores aceitos na sociedade, mas é quase certo que, se nos apoiarmos neste conceito, acabaremos decepcionados, porque isto não nos garante aceitação, assim como não garantiu ao aspirante a libertador de Israel.

Falo agora especialmente aos homens. Você é daqueles que deseja ter uma “barriga de tanquinho” e “músculos de aço”? E se você tiver, além do corpo atlético, uma inteligência acima da média, de forma que possa debater qualquer assunto com qualquer intelectual e ainda sair vencedor? Não é um sonho de consumo?

Eu tenho a impressão que, antigamente, as pessoas eram menos exigentes. Se alguém era muito forte, não se esperava que fosse muito inteligente. Se fosse fraco, sua fraqueza poderia ser compensada por uma inteligência acima da média. Mas hoje em dia, parece que ninguém se contenta com menos do que os atores de novelas e de filmes de ação que, além de serem muito inteligentes para poderem interpretar bem, precisam ter ainda um porte atlético.  O preparador físico Eric Oram, que tem como cliente o ator Robert Downey Jr., fala de sua preparação para interpretar seus dois personagens mais famosos:

Tony Stark, o Homem de Ferro, é forte e musculoso. Sherlock Holmes, ao contrário, se não é exatamente fraco, é bem mais magro, seco e definido. Ambos os personagens foram interpretados nos últimos anos por Robert Downey Jr., que teve que mudar a configuração do próprio corpo de acordo com as exigências de cada filme. “[...] O tamanho 'natural' do corpo de Robert é algo entre esses dois personagens, [...] "A primeira parte da transformação dura cerca de 30 dias e quando chegamos ao terceiro mês ele está pronto para filmar", completa. Além de levantamento de peso, o treino preparado para Downey Jr. por Oram inclui o boxe chinês, kung fu e um exercício que consiste em bater em pneus gigantes com um martelo.

O Segredo de Downey Jr. Site UOL/Entretenimento, 27/09/2013. Disponível em: https://cinema.uol.com.br/noticias/redacao/2013/09/27/segredo-de-downey-jr-e-se-exercitar-sempre-diz-preparador-fisico-do-ator.htm Acesso em 09 out. 2016.

Pra ser aceito no meio cinematográfico, o vigor físico e intelectual é imprescindível, mas, tanto ali quanto no meio social, pode não ser suficiente para evitar a rejeição. Não foi suficiente para Moisés, quando se candidatou a libertador de Israel.

Humildade (30-35)

Decorridos quarenta anos, apareceu-lhe, no deserto do monte Sinai, um anjo, por entre as chamas de uma sarça que ardia. Moisés, porém, diante daquela visão, ficou maravilhado e, aproximando-se para observar, ouviu-se a voz do Senhor: Eu sou o Deus dos teus pais, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Moisés, tremendo de medo, não ousava contemplá-la. Disse-lhe o Senhor: Tira a sandália dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Vi, com efeito, o sofrimento do meu povo no Egito, ouvi o seu gemido e desci para libertá-lo. Vem agora, e eu te enviarei ao Egito. A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça.

Moisés tornou-se tão humilde que já não era mais questão de ser rejeitado pelos outros. Ele chegou ao extremo de rejeitar-se a si mesmo. Quando Deus o chamou e comunicou que era o escolhido para a importante missão de libertar Israel da opressão do Egito, não quis aceitar. Falou que era incapaz, que não sabia nem falar direito.  Deus até se irritou com Moisés, por causa da sua insistência em não aceitar a nobre missão para a qual foi escolhido (Êxodo 3.11-4.17).

A humildade é uma boa qualidade, e todos nós devemos ter. Mas não devemos confundir humildade com baixa auto-estima. O consultor Alan Miranda, em seu site Motivação e Foco, propõe uma comparação entre humildade e baixa auto-estima:

A humildade é uma qualidade que se caracteriza pela modéstia, simplicidade, pela consciência de suas próprias limitações. É a virtude de se manter no nível dos outros, de reconhecer que ninguém é pior ou melhor que ninguém e que todos estamos no mesmo nível de dignidade humana. [...] Por outro lado, a baixa auto-estima é caracterizada por uma percepção negativa de si mesmo. É uma sensação de incapacidade ou de menor valor atribuída a si mesmo.

MIRANDA, Alan. Não confunda baixa auto-estima com humildade. Site Motivação e Foco. Disponível em:  http://motivacaoefoco.com.br/nao-confunda-baixa-autoestima-com-humildade/ Acesso em 09 out. 2016.

Moisés precisou lutar contra sua baixa auto-estima, com a ajuda de Deus. Manteve, porém, a humildade.

Conclusão

As qualidades dadas por Deus a Moisés, não garantiram, por si mesmas, a aprovação do mundo. Apesar da Beleza, do Vigor e da Humildade, ele foi rejeitado no seu meio social, e até mesmo aos seus próprios olhos. Mas, independente de tudo, ele foi escolhido por Deus.

Você se sente rejeitado? Pode ser que o mundo inteiro te rejeite, mas se você se achegar a Deus com fé, ele não vai te rejeitar. Jesus foi o melhor homem que já viveu neste mundo, não obstante, também foi rejeitado. Ele não precisava passar pelo que passou, mas aceitou o sofrimento por amor de nós, para nos salvar. Creiamos nele e nos acheguemos para salvação.

Você se sente incapaz? Deus chamou Moisés, mesmo que ele estivesse se sentindo assim. Deus te chama também para fazer a sua obra. Creia nele, permita que ele te use. Se Deus está dizendo que você pode, não resista à sua vontade.

* Imagem "Moisés" disponível em: http://www.radiojacuipe.com.br/2015/09/02/tv-record-pragas-do-egito-rendem-recorde-de-audiencia-a-os-dez-mandamentos/ acesso em 09 jul. 2018.