quinta-feira, 23 de julho de 2015
Suspirando, mas avançando
(Leia Mc 7.31-37)
A situação de nosso país, atualmente, é desanimadora. Há muitos desempregados, os preços estão subindo, os líderes corruptos têm grande chance de sair ilesos, e não há perspectivas de melhora. Às vezes, diante de um quadro assim, nós acabamos desistindo de nossos projetos. No texto de hoje, vemos que Jesus enfrentou momentos difíceis em seu ministério. As perspectivas, sob o ponto de vista humano, não eram muito boas. Diante disto, Jesus suspirou. Ele gemeu diante de um quadro desolador. Será que, naquele momento, ele pensou em desistir? Nesta história, podemos ver pelo menos três fatores que poderiam ter levado Jesus a desistir de sua missão, se não fosse a sua determinação em salvar-nos:
Primeiro fator: A imensidão de povo para ser evangelizado (31)
Jeus retirou-se das terras de Tiro e foi por Sidom, 30 Km ao norte. Depois atravessou o Jordão seguiu uns 95 Km para o sul, passando pela região de Decápolis, até à costa leste do mar da Galiléia.
Decápolis era a região da qual Jesus fora expulso em outra tentativa de evangelização. Tiro e Sidom eram cidades grandes, de comércio intenso. Ao passar por toda esta vasta região de cidades prósperas, com seu povo ocupado com o comércio e indústria, alheios ao próprio Senhor da glória que os visitava, Jesus deve ter suspirado: “A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Mt 9.37).
Hoje, a população mundial é de quase 8 bilhões. Eu moro numa cidade bem populosa. Quando passo pelo terminal de ônibus urbano, tenho uma sensação de impotência, de vazio, vendo a grande multidão que passa por lá todos os dias. Observo as pessoas indo e vindo, geralmente apressadas, carregando, cada uma, seus anseios, suas dores, parecendo alheias ao mundo espiritual que as cerca. Imagino, pela expressão de cada um, se é crente ou não, se tem dedicado a Deus um tempinho na sua rotina diária de trabalho, estudo e lazer.
Diante de um trabalho assim, imenso e não promissor, Jesus podia ter desistido, mas não desistiu. Prosseguiu no seu propósito de salvação.
Segundo fator: A situação deplorável do povo (32-35)
Então, lhe trouxeram um surdo e gago e lhe suplicaram que impusesse as mãos sobre ele. Mas, em vez disso, Jesus o tirou da multidão, pôs-lhe os dedos nos ouvidos e lhe tocou a língua com saliva; depois, erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse: Efatá!, que quer dizer: Abre-te! Abriram-se-lhe os ouvidos, e logo se lhe soltou o empecilho da língua, e falava desembaraçadamente.
Numa situação semelhante, em Jo 11.32-38, quando Jesus chega para o funeral de Lázaro, Maria lança-se aos seus pés, dizendo: "Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido." "Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no espírito e comoveu-se." E ao ver onde fora sepultado, Jesus chorou. Os judeus disseram: Vede quanto o amava. Mas alguns questionaram: "Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse?" Jesus agitou-se novamente em si mesmo, encaminhou-se para o túmulo, e ressuscitou Lázaro.
Deus deve estar suspirando neste momento, vendo a situação deplorável em que se encontram os nossos conhecidos, que enfrentam doenças graves, como o câncer, que estão nos hospitais entre a vida e a morte. Se Jesus estivesse aqui, fisicamente, diria uma palavra, tocaria com seus dedos, colocaria saliva no local doente, e a saúde destas pessoas seria restaurada. Mas, até quando?
Usando a mesma palavra que foi traduzida aqui como "suspiro", em Romanos 8.23 Paulo diz que a natureza, tanto quanto nós, igualmente "gememos" em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Em 2Coríntios 5.2 diz que, neste tabernáculo, que é o nosso corpo, "gememos", aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial;"
Diante de uma situação assim, de pessoas doentes e desesperadas, com sofrimentos sem fim, Jesus poderia ter desistido, mas não desistiu. Antes, prosseguiu, no seu propósito de salvação.
Terceiro fator: A falta de sintonia do povo para com os propósitos de Deus (36,37)
Tendo curado o homem, Jesus lhes ordenou que a ninguém o dissessem; contudo, quanto mais recomendava, tanto mais eles o divulgavam. Eles maravilhavam-se sobremaneira, dizendo: "Tudo ele tem feito esplendidamente bem; não somente faz ouvir os surdos, como falar os mudos."
O povo queria que Jesus curasse as suas doenças, que resolvesse todos os seus problemas, mas não queriam obedecer. Não era a primeira vez que Jesus advertia o povo para não divulgar suas curas, mas as palavras de Jesus passavam longe de seu coração. As pessoas queriam a glória, mas não a responsabilidade. Queriam a cura, mas não queriam compromisso.
Eu trabalho em um banco, e um dos produtos que tenho mais dificuldade em vender no é o seguro de vida. É difícil convencer as pessoas a pensarem que podem morrer ou sofrer um acidente grave a qualquer momento, que têm que pensar em si e nos seus familiares, caso venham a faltar. Outro produto difícil de vender é o plano de aposentadoria. É difícil convencer um jovem de que ele um dia vai ficar velho e precisa planejar desde já, guardando dinheiro para que, no futuro, tenha melhores condições financeiras para arcar com as despesas da velhice. As pessoas querem os benefícios, mas não querem pagar o preço.
Eu acho que era coisa semelhante, o que Jesus estava pensando quando desceu do monte da transfiguração, em Mc 9.14-19, pois quando se aproximou dos discípulos, viu numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles. Toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava. Jesus interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles? Então o pai de um menino, possesso de um espírito mudo, contou-lhe sua história, dizendo que seus discípulos não o puderam curar. Então, Jesus lhes disse: "Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei?"
Precisamos pagar o preço de muitas bênçãos. Nem todas são gratuitas. Se quisermos a bênção de sermos sábios, temos que ler a Bíblia. Se quisermos prosperar, temos que trabalhar. Se quisermos uma família unida, harmoniosa, filhos obedientes, temos que vir aos cultos regularmente, liderar nossa família nos caminhos do Senhor. Não dá para colher frutos diferentes das sementes que temos semeado.
Diante destes fatores, Jesus podia ter desistido, mas, glória a Deus! Ele não desistiu. Foi até o fim, em seu propósito de salvação. Ele quer que nós também o imitemos, e que não desistamos diante de situações desanimadoras. E não façamos o Senhor suspirar, por causa de nossa incredulidade, mas vamos prosseguir, pela fé, em sintonia com o seu Espírito, o qual intercede por nós com gemidos inexprimíveis.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
A Oração Aprovada por Deus
(Leia Mc 7.24-30)
O Senhor é bom o tempo todo, e todo o tempo Deus é bom. Esta é uma frase que foi exaustivamente falada no filme "Deus não está morto". É verdade que Deus é bom, e quer nos dar sempre o melhor. Mas não podemos achar que ele nos dará tudo o que pedirmos, sem exigir nada de nossa parte. Precisamos agradá-lo, cumprir os seus mandamentos, entregarmos a nossa vida a ele. Neste texto, nós notamos que a mulher siro-fenícia recebeu a resposta favorável à sua oração, mas precisou passar por, pelo menos, três testes:
Primeiro teste: Persistência (24-25)
Jesus partiu para as terras de Tiro e Sidom, entrou numa casa, e não queria que ninguém o soubesse; no entanto, não pôde ocultar-se, porque uma mulher, cuja filhinha estava possessa de espírito imundo, tendo ouvido a respeito dele, veio e prostrou-se-lhe aos pés.
Em Lc 18.1-8, Jesus ensinou a respeito de oração, contando uma parábola, cujo assunto era o dever de orar sempre e nunca esmorecer. Um juiz que não temia a Deus, nem respeitava homem algum, foi incomodado por uma viúva que vinha ter com ele, dizendo: Julga a minha causa contra o meu adversário. "Ele, por algum tempo, não a quis atender; mas, depois, disse consigo: Bem que eu não temo a Deus, nem respeito a homem algum; todavia, como esta viúva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim, venha a molestar-me." Logo depois de contar a parábola, Jesus faz a aplicação: " Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?"
Quase tudo na vida se conquista através da persistência. Conheço um pastor que tem um lema: "não desista"; e outro, que também tem o seu lema: "continue continuando". Há muitas histórias de sucesso que só foram possíveis por causa da persistência. Basta ler biografias de grandes empresários para constatar.
Temos que fazer a nossa parte, persistir, não desistir daquilo que queremos, mas há coisas que só Deus pode nos dar. Para estas coisas, o caminho é persistir na oração.
Segundo teste: Humildade (26-28)
A mulher era grega, de origem siro-fenícia, e rogava-lhe que expelisse de sua filha o demônio. Jesus lhe disse: Deixa primeiro que se fartem os filhos, porque não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos. Ela, porém, lhe respondeu: Sim, Senhor; mas os cachorrinhos, debaixo da mesa, comem das migalhas das crianças.
A mulher aceitou a humilhação pela qual teve que passar, reconhecendo que não era filha do povo da promessa, Israel. Ela não era digna de receber a graça pedida, mas pediu, estando disposta a se contentar, até mesmo, com migalhas.
Em Lc 18.9-14, Jesus continua ensinando sobre oração, falando para alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros: "Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho. O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!" O publicano desceu justificado para sua casa, e não o fariseu, porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
Para sermos salvos, precisamos reconhecer, em primeiro lugar, que somos pecadores. Que não merecemos a graça de Deus. Que, se Deus nos salvar, será puramente por causa da sua graça e misericórdia, e jamais por nossas obras. Isto vale também para as outras resposta de oração, que fazemos ao longo de nossa vida.
Paulo ensinou que os judeus também, embora sejam um povo escolhido por Deus, não podem alegar nenhuma vantagem (Rm 2.17-29).
Por isto, quando chegarmos ao trono de Deus para pedir, precisamos nos humilhar, precisamos reconhecer nossa origem, e reconhecer que ele não tem nenhuma obrigação de nos atender. Deus não nos deve nada.
Terceiro teste: Testemunho (29-30)
Jesus, então, lhe disse: Por causa desta palavra, podes ir; o demônio já saiu de tua filha. Voltando ela para casa, achou a menina sobre a cama, pois o demônio a deixara.
Num parágrafo anterior de Marcos, nós lemos a história da mulher que tinha o fluxo de sangue, e vimos como Jesus fez questão de que ela desse o testemunho público da sua cura.
Se Deus vai nos atender, não é para a nossa glória, mas para a glória dele. Devemos dar a ele toda a glória que lhe é devida, antes e depois de termos a oração respondida. Foi por causa do testemunho, que aquela mulher recebeu a resposta, e sua filhinha foi finalmente curada. Deus fez isto por amor a ela, mas fez também para a sua própria glória. Em Isaías 48.11, num contexto em que Deus revela sua decisão de não exterminar totalmente a nação de Israel, apesar da sua apostasia, ele diz o motivo: "Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem."
Será que estamos passando nos testes da oração? Possamos nós persistir, conforme a vontade de Deus, humilharmo-nos diante do trono da graça, pois é a nossa única esperança. E demos a palavra de testemunho, antes e depois de termos nossas orações respondidas. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!
Arildo Louzano da Silveira
São José do Rio Preto, junho de 2015
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segunda-feira, 13 de julho de 2015
Os Preceitos de Deus
(Leia Mc 7.1-23)
Deus nos tem dado os seus preceitos, desde Adão. Por escrito, desde Moisés. Os preceitos de Deus devem ser aprendidos, decorados, obedecidos, passados de pais para filhos. Fazendo assim, aprendemos a amar os preceitos de Deus, porque eles nos guiam e nos tornam felizes; sua sabedoria nos possibilita a sermos bem sucedidos em tudo o que fazemos. Neste parágrafo, aprendemos que existem pelo menos três posicionamentos, os quais costumamos adotar, com respeito aos preceitos de Deus:
Primeiro posicionamento: FORMALISMO (1-5)
Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam Jesus e, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão sem fazer a lavagem cerimonial das mãos, interpelaram-no: "Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?"
Assim como os escribas e fariseus, nós temos uma tendência de querer simplificar as coisas, e por isto gostamos de organizar, sistematizar aquilo que aprendemos, para nos lembrarmos e cumprirmos o que achamos importante. Uma vez, quando explicava ao meu pastor a maneira como eu preparava uma mensagem, eu ia dizer que observava exaustivamente o texto, até que encontrasse nele uma afirmação consistente, que cobrisse todo o parágrafo, que pudesse ser dita numa só frase. Mas, antes que eu terminasse, ele me interrompeu: "você examina o texto até achar nele três pontos". Eu não gostei da crítica, mas para meu desespero, fui descobrindo ao longo do tempo que ele devia ter mesmo razão. Notei que, por mais que eu me esforçasse, sempre acabava dividindo a exposição em três, ou, raramente, quatro pontos. Não conseguia fazer diferente. Os três pontos sempre saltavam ao meus olhos no final do preparo.
Às vezes fico pensando porque Deus não nos apresentou a Bíblia toda organizadinha, com pontos e sub-pontos bem definidos. Deus não sistematiza seus preceitos, porque eles não podem ser moldados segundo os moldes humanos. Não há uma receita pronta para nos tornarmos agradáveis a Deus. Por isto é que a religião, embora seja boa, não pode nos salvar. Deus quer ter conosco um relacionamento dinâmico, íntimo, de amizade, de amor mútuo.
Em nossa fraqueza, precisamos sistematizar e formalizar os preceitos, mas não devemos achar que todo o nosso relacionamento com Deus se limita a seguir certas regras. Deus espera muito mais de nós, do que obedecer regras.
Os fariseus e escribas estavam tão envolvidos neste processo de formalização, que seu relacionamento com Deus tornou-se apenas em cumprimentos de regras. Cl 2.20-3.4 nos adverte sobre este erro: "Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória."
Segundo posicionamento: RACIONALIZAÇÃO (6-13)
Jesus respondeu aos escribas e fariseus que o interpelavam: "Bem profetizou Isaías (29.13) a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens."
Disse ainda que, com um jeitinho sofisticado, eles rejeitavam os preceitos de Deus para guardarem a própria tradição. Citou como exemplo um preceito, dado através de Moisés, que diz: "Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte." Eles chegaram à ousadia de dispensar os homens de ajudar financeiramente seus pais, caso dessem o valor correspondente como oferta, no templo. Faziam também muitas outras coisas semelhantes.
Racionalizar é argumentar, em nossa defesa, de tal maneira, que acabamos achando um jeitinho de fazermos o que desejamos, de defendermos os nossos interesses, em detrimento da evidente vontade de Deus.
Como é que os judeus chegaram a este ponto? Não foi, certamente, da noite para o dia, pois sua consciência não o suportaria. Mas, para aplacar a sua consciência, foram elaborando mais e mais desculpas para o seu pecado de ganância, até que envolvessem o maior número possível de pessoas no delito, de forma que a culpa fosse compartilhada por toda a sociedade.
Eu tenho medo quando examino nosso próprio comportamento, como comunidade cristã. Estamos totalmente envolvidos em nossos delitos e pecados, e não podemos pensar muito sobre isto, porque nossa consciência não o suportaria.
Somos irremediavelmente corruptos. Nós mentimos o tempo todo, buscamos os nossos próprios interesses, fazemos superficialmente a obra de Deus. Não temos como escapar da condenação de Deus. Somente a sua misericórdia, por meio do Senhor Jesus, pode nos salvar de sermos lançados junto com o diabo no lago que arde em fogo e enxofre.
Achamos que estamos indo bem. Pregamos a Palavra, somos Igreja Bíblica! Verdade? Quando Deus julgar as nossas obras, e compará-las com seus preceitos, o que vai restar? Não será quase tudo queimado pelo fogo do juízo de Deus?
Mas alguém dirá: vamos parar com isto! Vamos então voltar ao verdadeiro evangelho! Muitos movimentos começaram assim, como um que inspirou o livro "Em seus passos, que Faria Jesus?" (Charles Sheldon). Foi um zelo assim que fez surgir a Reforma de Lutero, os movimentos carismáticos, os avivamentos históricos liderados por homens como Jonathan Edwards e George Whitefield.
Poderíamos nós, hoje mesmo, nos arrependermos no pó e na cinza e iniciarmos uma profunda mudança para voltarmos ao primeiro amor, mas como? Tenho uma sugestão.
Imagine um pregador, durante o culto, fazendo um apelo para que todos depositem ali, no centro do templo, seu aparelho celular. Isto é um impactante começo. Você teria coragem de fazer isto? Imagine-se colocando-o ali, na cesta de ofertas. Dedique a Deus o que você tanto ama, para provar que só tem um Deus a quem a quem adora, e que nem o seu celular, tão querido, você estima mais do que o seu relacionamento com o seu Deus.
Então o pregador nos convida a dar mais um passo. Pede que deixemos ali, no "altar", nossa bolsa, nossa carteira, com todo o dinheiro e também os documentos. Não vamos mais precisar deles de hoje em diante. Depois, vamos embora a pé. Deixaremos os carros estacionados onde estão, não vamos mais carregar este peso sobre nós. Ninguém precisa fechar o templo. As portas vão ficar do jeito que estão. Prá que se importar? Porque vamos nos preocupar com os instrumentos musicais que estão ali guardados, com os equipamentos de som, os móveis, com os celulares, as bolsas e as carteiras que vamos deixar sobre o altar? Não precisamos mais de nada disto, só precisamos de Cristo em nós. Vamos fazer isto mesmo agora? Ele para de falar, e todos começamos a por em prática esta ação, que vai iniciar o nosso reavivamento (pausa para pensar).
Não vamos fazer isto, não é mesmo? Não estamos prontos. Não temos certeza se é a voz de Deus tocando em nossos corações, ou se é apenas uma loucura momentânea.
Mas, observemos uma coisa: não é exatamente assim que vai acontecer quando Cristo voltar? Todos aqueles objetos não vão ficar exatamente assim enquanto nós seremos arrebatados para o céu? Talvez você não acredite no arrebatamento, então eu vou dar outra ilustração: e se recebêssemos neste instante um ataque do Estado Islâmico? Não sairíamos correndo para salvar a nossa vida, deixando tudo exatamente deste jeito?
Se, porém, não vamos fazer isto agora, então vamos admitir o nosso pecado. A verdade é que amamos o nosso celular, amamos a nossa bolsa e a nossa carteira, amamos o nosso carro, o templo e tudo o que tem dentro. Amamos os nossos pecados particulares, a comida, a bebida, o conforto, o lazer, o poder, o dinheiro. Estamos dedicando nossas vidas a estas coisas, e para não nos sentirmos culpados, usamos a racionalização. Afinal, nós precisamos destas coisas materiais. Afinal, nós estamos dedicando tudo isto para Deus. Damos o dízimo de tudo, usamos tudo para a glória de Deus, não é mesmo?
Uma passagem da Bíblia que me deixa muito impressionado é a oração de arrependimento de Daniel 9.1-20. Daniel, um homem a quem nós consideramos extremamente justo, e de quem Deus mesmo deu testemunho em sua palavra, de que era um homem justo, ele mesmo, Daniel, não se considerava assim. Sua oração foi de arrependimento e súplica, por todo o povo e por si mesmo. Disse não à racionalização, e assumiu sua culpa com todo o povo, para testificar que Deus é justo e nós somos perversos. Deus é verdadeiro e nós somos mentirosos. Oh! Senhor, tenha misericórdia de nós, pecadores!
Terceiro posicionamento: INTERIORIZAÇÃO (14-23)
Jesus convocou a multidão e disse-lhes: "Ouvi-me, todos, e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina." Depois, estando em casa, os discípulos o interrogaram acerca da parábola, ao que ele explicou: "tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso (...) O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem."
A interiorização dos preceitos é o que vai realmente nos ajudar, porque Deus vê o interior, não o exterior. Devemos guardar no coração as palavras de Deus, para não pecar contra ele (Sl 119.11); Devemos orar, como no Salmo 19.12-14: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!”
Somente a interiorização dos preceitos de Deus pode arrancar do nosso interior tudo aquilo que está nos contaminando, para que possamos prosseguir na busca da santidade, na nossa incessante busca pelo nosso Deus Santo.
Vamos buscar, portanto, a interiorização dos preceitos de Deus em nossos corações, através da leitura da Bíblia, da oração, da prática de tudo o que descobrirmos, por meio da meditação assim orientada, que é a vontade de Deus para nossas vidas. Isto é tudo o que vamos levar para o céu. Nossos celulares vão ficar.
sexta-feira, 10 de julho de 2015
Como está o seu coração?
(Leia Mc 6.45-56)
Nosso coração pode estar com problemas sem que o saibamos, porque, muitas vezes, os problemas iniciam pequenos, crescendo silenciosamente até que, de repente, a crise vem com todas as suas forças. Por isto, é importante fazermos uma checagem periódica, com exames em laboratórios, para não sermos pegos de surpresa.
No campo espiritual, coisa semelhante acontece. Neste texto observamos que há, pelo menos, três condições possíveis de um coração, quanto ao seu estado espiritual.
Primeira condição: Coração Devoto (45-47)
Jesus mandou seus discípulos embarcarem e passarem para o outro lado, enquanto ele despedia a multidão. Depois, subiu ao monte para orar. Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra.
Jesus tinha superpoderes, autoridade; podia tornar-se o rei de Israel, porque o povo estava com ele; mas, ainda assim, era frágil, em sua humanidade. Precisava estar a sós com o Pai, pedir a sua orientação, falar-lhe dos seus anseios. Se o único tempo que tinha para fazer isto, era o tempo que, normalmente, os outros usavam para dormir, então, que fosse assim. Não podia negligenciar seu tempo de devoção; era o tempo em que ele se reabastecia espiritualmente.
Corre o boato de que nossa igreja não está buscando o Espírito Santo, que apenas faz orações e fica esperando a resposta de Deus, a qual nunca vem, ou demora a vir, enquanto as outras igrejas são mais dedicadas, fazem jejuns, vigílias, correntes, campanhas, determinam e declaram as bênçãos. Ora, o que estamos tentando fazer, é o que Jesus mesmo fazia, em seus momentos de fragilidade. Tentamos buscar o Pai em oração silenciosa, porque só ele tem o poder para determinar e decretar as bênçãos. Se ele tem dito a outros servos para determinar e decretar algo e eles não o fizerem, estarão em pecado. Se ele não nos diz que devemos decretar ou determinar algo, e nós nos atrevermos a fazê-lo, não seríamos também culpados de presunção e jactância? Jesus mesmo, só fazia e falava aquilo que o Pai mandava (Jo 5.19; 7.16-18).
Precisamos verificar, nos laboratórios espirituais da palavra de Deus e da oração, se o nosso coração está, de fato, numa condição de devoção, pois somente assim poderemos receber instrução e poderes adequados à nossa missão, a qual nos foi dada em Mt 28.19,20.
Segunda condição: Coração Endurecido (48-52)
Vendo os discípulos em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta das três ou quatro da madrugada, Jesus veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. Quando os discípulos o viram, andando sobre o mar, pensaram que ele era um fantasma, e gritaram perturbados. Mas logo lhes falou e disse: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!” E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou; pelo que ficaram, também, muito admirados, porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.
Podemos começar o dia com oração silenciosa, ao lado da cama mesmo, falando a sós com o Pai, tentando ouvir a sua voz, meditando nas passagens bíblicas que temos lido, e intercedendo pelos irmãos, amigos e familiares. Um coração devoto. Depois nos levantamos, e vamos começar as atividades diárias, fazer a higiene pessoal, preparar o café, vestir-nos para o trabalho, e começar o expediente. É nesta fase do dia que, geralmente, nosso coração fica endurecido. Os ventos contrários, as ondas rebatendo, nos impedem de atingir os objetivos que temos almejado. Esquecemo-nos até das promessas de Deus, dos milagres que ele realizou até recentemente, e ficamos nervosos, estressados, inconformados com os obstáculos instransponíveis que nos atrapalham em alcançar o alvo. Se algum imprevisto acontece, algo que não estava em nossa agenda, como uma má notícia, um acidente; ficamos apavorados, até que escutemos a voz do Senhor: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!”
Por que os discípulos foram para o outro lado e deixaram Jesus a sós? Foram mandados, sim, pelo Senhor, mas, por que? Talvez porque seu coração já estivesse endurecido, porque queriam descansar, já que seu descanso tinha sido frustrado, por causa da presença da multidão. E por que Deus os afligiu com o vento contrário, que os impediam de chegar ao outro lado? Que frustração não devem ter sentido, que revolta! Desde o final da tarde até alta madrugada, remando e não saindo do lugar! Se eu estivesse lá, talvez desistisse, e deixasse o vento levar o barco de volta para a praia, e fosse orar, com Jesus, deixando, aos pés do trono do Pai, toda a minha queixa.
Jesus compeliu os discípulos a passar para o outro lado, como o Senhor compeliu a Balaão para atender ao chamado de Balaque, mas depois fez-lhe resistência no caminho (Nm 22.20-35). Sempre fico intrigado quando penso na história deste profeta. Por que o Senhor o mandou ir, e logo depois queria matá-lo? Teria, mesmo, matado a Balaão, se não fosse a intercessão de uma jumenta. A resposta pode estar naquilo que o texto não revela explicitamente: era o desejo do coração de Balaão, que certamente contrariava a vontade de Deus, enquanto, exteriormente, comportava-se exemplarmente, aos olhos dos mensageiros do rei Balaque.
Se nos exames, nos laboratórios espirituais, descobrirmos que nosso coração está endurecido, que estamos nos esquecendo, e que não temos tentado entender os milagres que Jesus tem feito em nossas vidas, se estivermos remando contra a maré, gastando toda nossa energia para, no fim, não chegarmos a lugar nenhum, então, que possamos ouvir a repreensão do Senhor, como no dia em que acalmou a grande tempestade: "Como é que não tendes fé?" (Mc 4.40). Não vamos nos extraviar, "seguindo pelo caminho de Balaão" (2 Pe 2.15), mas convertamos o nosso coração em uma condição de constante devoção, como o coração de Jesus.
Terceira condição: Coração Quebrantado (53-56)
Ao aportarem do outro lado, saindo do barco, o povo percorreu toda a região, trazendo os enfermos em leitos. Onde quer que ele entrasse nas aldeias, cidades ou campos, punham os enfermos nas praças, rogando-lhe que os deixasse tocar ao menos na orla da sua veste; e quantos a tocavam saíam curados.
Os discípulos, mesmo não entendendo o porquê de tanta provação, seguiam Jesus, e junto com ele atenderam às multidões, que, de corações quebrantados, buscavam o único recurso para suavizar suas dores.
Às vezes, no final do dia, nosso coração também encontra-se assim, quebrantado; por ter, Deus, permitido que nos atingissem doenças, desemprego, desilusões, aflições sem fim. De corações quebrantados, buscamos a Jesus, porque cremos no seu poder e na sua compaixão, com os quais pode nos dar o alívio desejado. Talvez você, que agora está lendo esta mensagem, esteja com o coração quebrantado, porque não conseguiu atingir os seus objetivos, porque acha que sua vida foi um fracasso, porque tem enfrentado uma grave enfermidade, própria ou de uma pessoa querida, porque perdeu a possibilidade de comunicação com alguém, a quem o Senhor levou para si. Saiba que Jesus está vivo; está vendo as suas aflições; e embora pareça indiferente, está incluindo você nas suas intercessões junto ao Pai, como fomos informados em Romanos 8:34: "Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós." Ou está rogando por nós, como também rogou por Pedro, para que a sua fé não desfalecesse (Lc 22.31,32).
É como se ele estivesse no alto da montanha e, nós, no meio do lago. Em vez de continuarmos com o coração endurecido, buscando coisas que, se nos satisfizerem, serão por pouco tempo; em vez de continuarmos com nosso rancor, nossa amargura, que nos faz cegos às misericórdias de Deus, vamos quebrantar o nosso coração, e transformá-lo num coração devoto, como o de Jesus, que nos ensinou com seu exemplo quando orou, pouco antes de se entregar por amor de nós: "dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua." (Lc 22.42).
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Aprendendo com as carências
Leia (Mc 6.30-44)
Um grande debate está acontecendo em nosso país, por causa da possibilidade de redução da maioridade penal. Os que são a favor, entendem que o menor infrator não pode mais ser tratado como uma criança, pois cometeu um crime de adulto. Os que são contra, geralmente entendem que os culpados não são os menores, e sim a sociedade, que não lhes dá oportunidades e ensino adequados; acham que muitos menores, que hoje estão no crime, poderiam ter outro destino, se tivessem melhores oportunidades, se não fossem tão carentes. Mas eu penso que a maioria, das duas correntes de pensamento, concorda que não é justificável, qualquer pessoa, menor ou maior de idade, praticar um crime, alegando que faz isto só porque é carente. A maioria dos que são carentes não comete crimes, mas busca alternativas para suprir sua carência, trabalhando duro, estudando. Muitos acabam, tristemente, morrendo em sua miséria, sem, contudo, nunca pensarem em cometer crimes. Todos nós temos carências, uns têm mais do que outros, e há muitos tipos de carência, até mesmo entre os que são chamados de ricos e abastados. Por algum motivo Deus determinou que a humanidade fosse assim e, em sua compaixão, ele usa as nossas carências como instrumento de aprendizado. Neste texto podemos identificar três carências, que Jesus transformou em oportunidade de aprendizado:
A carência de descanso (30-32)
Nada melhor do que um descanso merecido! Depois de cumprirem sua missão, os apóstolos voltaram à presença de Jesus e apresentaram o seu relatório. Jesus planejou, então, uma pausa para descanso, junto com os apóstolos, num lugar deserto; onde eles pudessem, pelo menos, comer suas refeições, sossegados, separados da multidão. Foram num barco, assim, para um lugar solitário. Os discípulos achavam que iam descansar, mas o único tempo de descanso, que tiveram, foi o tempo que demoraram, para atravessar o lago, dentro do barco, com Jesus.
Muitos de nós temos trabalhado demais, porque precisamos suprir as necessidades de nossa família, porque precisamos pagar as contas, porque temos um projeto de vida e nos esforçamos para alcançá-lo. Quando temos a oportunidade de descansar, queremos aproveitá-la ao máximo. Às vezes, é só um dia na semana, às vezes, nem toda semana podemos contar com um dia de descanso. Nós, os que somos crentes fiéis, que fazemos questão de vir à Igreja regularmente, somos vistos, por muitos, como loucos. No único dia que temos para dormir até tarde, para ir passear, para curtir um almoço em família, nós acordamos cedo, faça chuva ou faça sol, para virmos à igreja; se temos filhos, acordamos mais cedo ainda, para alimentá-los, arrumá-los, para não chegarmos atrasados. Quem tem veículo próprio, tem maior flexibilidade, mas quem depende de ônibus, tem que se arrumar num ritmo frenético, porque o motorista não espera. Quem nos vê chegar fielmente, todos os domingos e, às vezes também às quartas e aos sábados, talvez nem imagine a batalha que travamos contra nosso desejo de ficar mais um pouco na cama, de terminar de assistir a partida de futebol, de terminar a refeição com calma. Esta nossa carência, porém, tem nos ensinado, pelo menos, a sermos fiéis, a exercitarmos a nossa fé.
A carência de direção (33-34)
Jesus teve compaixão da multidão, pois eram como ovelhas que não têm pastor. É quase certo que eles não buscavam a Jesus apenas para aprender, mas o Mestre sabia que eles não podiam ficar sem instrução.
É nosso costume, compartilhar pedidos de oração. Pessoas estão sofrendo muito, por causa de doenças, de mortes, de tragédias. Nossa oração é sempre para que Deus os livre das angústias, mas que, também, dê consolo e sabedoria às pessoas que sofrem, porque acreditamos que tudo tem um propósito. Quando não somos visivelmente atendidos em nossa oração, ficamos tristes, mas não deixamos de orar. Se oramos por uma pessoa que estava doente e esta pessoa morreu, continuamos orando por seus familiares, para que eles busquem, no Senhor, o alívio de sua dor, e que tenham esperança e fé, para não ficarem desorientados e se perderem nos caminhos deste mundo.
Muitas vezes, quando alguém está sofrendo, queremos falar-lhes um versículo da Bíblia que as possa consolar, e ficamos procurando um trecho que se encaixe naquela situação. Mas pouco adianta, nesta hora, um versículo bíblico, se a pessoa que está sofrendo não se preparou de antemão, lendo, meditando, fazendo da Bíblia uma rocha em que construiu os alicerces de sua vida. Por isso, a carência de direção, que nos faz ficar em dúvida sobre que trabalho aceitar, que faculdade cursar, com quem namorar e casar, é uma oportunidade de aprendizado, que Deus, em sua compaixão, quer aproveitar em nossas vidas.
A carência de alimento (35-44)
O fato de terem apenas cinco pães e dois peixes pode significar que os discípulos estavam muito desligados, que nem sabiam de sua própria situação, de sua necessidade de socorro, porque não tinham alimento suficiente, nem para si mesmos. Pode significar, também, que eles, na verdade, tinham mais e esconderam para não compartilhar. Neste caso, precisavam aprender a não serem egoístas.
Jesus organizou a todos em grupos, assentados sobre a relva, de cem em cem e de cinqüenta em cinqüenta, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, os abençoou; depois, partiu os pães e deu-os aos discípulos para que os distribuíssem; assim também fez com os dois peixes. Todos comeram, se fartaram, e ainda recolheram doze cestos cheios de pedaços de pão e de peixe. Foram cinco mil, somente de homens (fora as mulheres e as crianças). Ao suprir a necessidade de pão para a multidão, Jesus ensinou-lhes a compartilhar, a serem organizados, ordeiros, a darem graças e a não desperdiçarem o que sobrava.
O Senhor, na sua compaixão, nos proporciona momentos de instrução específica, através de nossas necessidades mais básicas. Ao passarmos por várias tribulações, como doenças, dificuldades financeiras, todos os tipos de tormentos, físicos ou psicológicos, temos oportunidades didáticas que Deus, em sua compaixão, usa para nos tornar melhores servos seus.
Portanto, ao meditarmos sobre as nossas carências, devemos dar graças a Deus, quando podemos descansar todos os dias, em nossa casa, dormindo com segurança e paz; aproveitemos bem os momentos de laser com a família. Agradeçamos também pela instituição do domingo que, para a maioria, é um dia de fazermos uma pausa, para podermos ir à "casa de Deus" adorar, aprender e ensinar, ter um tempo de descontração com outros irmãos que também amam ao Senhor.
Devemos dar graças a Deus por termos a Bíblia em nossa própria língua. Isto é um sinal da compaixão de Deus para conosco. Devemos, pois, ler a Bíblia diariamente, para que tenhamos uma direção segura.
Precisamos olhar para nossa própria condição, examinarmos a nós mesmos, pois pode ser que não nos temos suprido de alimento espiritual suficiente. Se formos buscar, podemos descobrir que temos apenas "cinco pães e dois peixes"; que não temos aprendido o suficiente para ensinar os necessitados, e nem temos orientação segura, para nós mesmos.
O quanto pudermos, devemos ajudar aos que são carentes, dando graças a Deus por ter nos dado o suficiente, tanto para nós mesmos como para ajudar aos outros, pedindo a Deus que nos ajude a suprir, não somente o alimento e as outras necessidades físicas, mas também a sua carência espiritual, sendo irmãos, irmãs, pais, que lhes mostrem o caminho da salvação, em Jesus Cristo, nosso Senhor.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
As virtudes e a salvação
(Leia Mc 6.14-29)
Herodes Antipas era um homem glorioso. Mesmo que, como rei, tenha cometido muitas crueldades, era querido por algumas pessoas de seu convívio. Um habilidoso político e administrador, interessava-se também pela religião. Sabia que as pessoas ressuscitam, sendo bem instruído a respeito das coisas espirituais. Tinha senso de justiça, e sabia que João Batista estava certo em repreendê-lo. Mandou prender João, mas não queria se exceder a ponto de matá-lo. Cultivava uma boa relação com a sociedade, era generoso, honrava a sua palavra. Há muitas virtudes que podemos cultivar nesta vida, e há muitas pessoas virtuosas por aí. As virtudes humanas, porém, não são suficientes para atingir o altíssimo padrão exigido pelo Deus Eterno. Este texto nos mostra três virtudes de Herodes, que certamente não o livrariam da condenação do inferno.
Primeira Virtude: Uma boa noção das coisas espirituais (14-16)
Ao ouvir comentários sobre o que Jesus andava fazendo, Herodes emitiu sua opinião: era João que ressuscitara dentre os mortos. Estava errado, claro, mas o fato revela que o rei acreditava na ressurreição. Há pessoas que são assim. Têm um bom conhecimento de coisas espirituais, mas não se aprofundam no seu estudo. Acabam achando que a Bíblia diz coisas como: “Deus ajuda quem cedo madruga”, ou “mil chegará mas de dois não passará”. Outro dia eu falei, numa pregação, que Paulo foi a Damasco montado em seu cavalo, e alguém me advertiu prontamente: "A Bíblia não diz que ele estava montado num cavalo, você deve ter visto isto num filme". Eu pensei: "não é possível!" Mas fui conferir e vi que a pessoa estava com a razão. Pode ser apenas um detalhe, mas cada detalhe é importante na Palavra de Deus. Quanto mais conhecermos a Bíblia, mais chance teremos de alcançar a salvação. Porém, o bom conhecimento, somente, não é suficiente para atingirmos o padrão de Deus.
Segunda Virtude: Uma boa mente para ouvir a palavra de Deus (17-20)
Herodes prendeu João, mas tinha medo de matá-lo. Sabia que o profeta estava certo, e o ouvia de “boa mente”. Os discursos do profeta lhe davam prazer, mas não provocavam nele um efeito de verdadeiro arrependimento. Há muitas pessoas que ouvem com boa mente qualquer mensagem que lhes agrade, sem entrar no mérito de ela ser correta ou não, de ser sincera ou não. Os Coríntios tinham este problema, e Paulo lhes disse em 2 Coríntios 11.19: “Porque, sendo vós sensatos, de boa mente tolerais os insensatos.” É comum ouvirmos dizer que "todo caminho leva a Deus", que qualquer lugar onde se fala de Deus, é um bom lugar. Estas idéias porém, são distorções da verdade. Ter uma boa mente para ouvir a palavra de Deus é imprescindível para alcançarmos a salvação, mas isto, de maneira isolada, não é suficiente.
Terceira Virtude: Uma boa educação (21-29)
Herodes era bem relacionado, um bom anfitrião, dava grandes festas, foi generoso para com a jovem dançarina, e honrava sua palavra, mesmo que a palavra tenha sido dita num momento de precipitação. Sempre exaltamos pessoas assim. Nós costumamos nos surpreender quando uma criança se mostra bem comportada, ou quando somos tratados com muita atenção por um médico, no consultório. Para vergonha de muitos crentes, pessoas não crentes têm demonstrado, muitas vezes, maior cortesia, melhor caráter, mais compaixão do que aqueles que se dizem imitadores de Jesus. Uma boa educação é desejável em todos os relacionamentos, mas também isto, por si só, não é suficiente para aplacar a ira de Deus sobre nós, pecadores.
Pobre rei Herodes! Devia ter atendido à mensagem de João Batista. Devia ter se arrependido de seus pecados, antes que fosse tarde demais. Pouco lhe valeram as suas virtudes, pois, cerca de dez anos depois destes acontecimentos, Herodes estava morto. Foi-se toda a sua glória terrena, e provavelmente ainda estava carente da glória de Deus, não podendo chegar à sua presença por toda a eternidade. Nós podemos dizer que somos melhores do que Herodes, que não cometemos os crimes que ele cometeu, mas, ainda assim, nossas qualificações estão abaixo do que é necessário para a salvação. Rm 3.23 diz: “todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Romanos 11:32 diz: “Porque Deus a todos encerrou na desobediência, a fim de usar de misericórdia para com todos.”
O único caminho é Jesus, para chegarmos ao Pai, para remediarmos nossa carência da glória de Deus, para deixarmos a condição de destituídos da glória de Deus. Jesus é o caminho, e a verdade, e a vida (Jo 14.6). Devemos, pois, aceitar a salvação que ele nos oferece, confessando Jesus como nosso Senhor, andando em obediência aos seus mandamentos.
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