segunda-feira, 13 de julho de 2015

Os Preceitos de Deus


(Leia Mc 7.1-23)

Deus nos tem dado os seus preceitos, desde Adão. Por escrito, desde Moisés. Os preceitos de Deus devem ser aprendidos, decorados, obedecidos, passados de pais para filhos. Fazendo assim, aprendemos a amar os preceitos de Deus, porque eles nos guiam e nos tornam felizes; sua sabedoria nos possibilita a sermos bem sucedidos em tudo o que fazemos. Neste parágrafo, aprendemos que existem pelo menos três posicionamentos, os quais costumamos adotar, com respeito aos preceitos de Deus:

Primeiro posicionamento: FORMALISMO (1-5)

Os fariseus e alguns escribas, vindos de Jerusalém, observavam Jesus e, vendo que alguns dos discípulos dele comiam pão sem fazer a lavagem cerimonial das mãos, interpelaram-no: "Por que não andam os teus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?"

Assim como os escribas e fariseus, nós temos uma tendência de querer simplificar as coisas, e por isto gostamos de organizar, sistematizar aquilo que aprendemos, para nos lembrarmos e cumprirmos o que achamos importante. Uma vez, quando explicava ao meu pastor a maneira como eu preparava uma mensagem, eu ia dizer que observava exaustivamente o texto, até que encontrasse nele uma afirmação consistente, que cobrisse todo o parágrafo, que pudesse ser dita numa só frase. Mas, antes que eu terminasse, ele me interrompeu: "você examina o texto até achar nele três pontos". Eu não gostei da crítica, mas para meu desespero, fui descobrindo ao longo do tempo que ele devia ter mesmo razão. Notei que, por mais que eu me esforçasse, sempre acabava dividindo a exposição em três, ou, raramente, quatro pontos. Não conseguia fazer diferente. Os três pontos sempre saltavam ao meus olhos no final do preparo.

Às vezes fico pensando porque Deus não nos apresentou a Bíblia toda organizadinha, com pontos e sub-pontos bem definidos. Deus não sistematiza seus preceitos, porque eles não podem ser moldados segundo os moldes humanos. Não há uma receita pronta para nos tornarmos agradáveis a Deus. Por isto é que a religião, embora seja boa, não pode nos salvar. Deus quer ter conosco um relacionamento dinâmico, íntimo, de amizade, de amor mútuo.

Em nossa fraqueza, precisamos sistematizar e formalizar os preceitos, mas não devemos achar que todo o nosso relacionamento com Deus se limita a seguir certas regras. Deus espera muito mais de nós, do que obedecer regras.

Os fariseus e escribas estavam tão envolvidos neste processo de formalização, que seu relacionamento com Deus tornou-se apenas em cumprimentos de regras. Cl 2.20-3.4 nos adverte sobre este erro: "Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade. Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória."

Segundo posicionamento: RACIONALIZAÇÃO (6-13)

Jesus respondeu aos escribas e fariseus que o interpelavam: "Bem profetizou Isaías (29.13) a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens."

Disse ainda que, com um jeitinho sofisticado, eles rejeitavam os preceitos de Deus para guardarem a própria tradição. Citou como exemplo um preceito, dado através de Moisés, que diz: "Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte." Eles chegaram à ousadia de dispensar os homens de ajudar financeiramente seus pais, caso dessem o valor correspondente como oferta, no templo. Faziam também muitas outras coisas semelhantes.

Racionalizar é argumentar, em nossa defesa, de tal maneira, que acabamos achando um jeitinho de fazermos o que desejamos, de defendermos os nossos interesses, em detrimento da evidente vontade de Deus.

Como é que os judeus chegaram a este ponto? Não foi, certamente, da noite para o dia, pois sua consciência não o suportaria. Mas, para aplacar a sua consciência, foram elaborando mais e mais desculpas para o seu pecado de ganância, até que envolvessem o maior número possível de pessoas no delito, de forma que a culpa fosse compartilhada por toda a sociedade.

Eu tenho medo quando examino nosso próprio comportamento, como comunidade cristã. Estamos totalmente envolvidos em nossos delitos e pecados, e não podemos pensar muito sobre isto, porque nossa consciência não o suportaria.

Somos irremediavelmente corruptos. Nós mentimos o tempo todo, buscamos os nossos próprios interesses, fazemos superficialmente a obra de Deus. Não temos como escapar da condenação de Deus. Somente a sua misericórdia, por meio do Senhor Jesus, pode nos salvar de sermos lançados junto com o diabo no lago que arde em fogo e enxofre.

Achamos que estamos indo bem. Pregamos a Palavra, somos Igreja Bíblica! Verdade? Quando Deus julgar as nossas obras, e compará-las com seus preceitos, o que vai restar? Não será quase tudo queimado pelo fogo do juízo de Deus?

Mas alguém dirá: vamos parar com isto! Vamos então voltar ao verdadeiro evangelho! Muitos movimentos começaram assim, como um que inspirou o livro "Em seus passos, que Faria Jesus?" (Charles Sheldon). Foi um zelo assim que fez surgir a Reforma de Lutero, os movimentos carismáticos, os avivamentos históricos liderados por homens como Jonathan Edwards e George Whitefield.

Poderíamos nós, hoje mesmo, nos arrependermos no pó e na cinza e iniciarmos uma profunda mudança para voltarmos ao primeiro amor, mas como? Tenho uma sugestão.

Imagine um pregador, durante o culto, fazendo um apelo para que todos depositem ali, no centro do templo, seu aparelho celular. Isto é um impactante começo. Você teria coragem de fazer isto? Imagine-se colocando-o ali, na cesta de ofertas. Dedique a Deus o que você tanto ama, para provar que só tem um Deus a quem a quem adora, e que nem o seu celular, tão querido, você estima mais do que o seu relacionamento com o seu Deus.

Então o pregador nos convida a dar mais um passo. Pede que deixemos ali, no "altar", nossa bolsa, nossa carteira, com todo o dinheiro e também os documentos. Não vamos mais precisar deles de hoje em diante. Depois, vamos embora a pé. Deixaremos os carros estacionados onde estão, não vamos mais carregar este peso sobre nós. Ninguém precisa fechar o templo. As portas vão ficar do jeito que estão. Prá que se importar? Porque vamos nos preocupar com os instrumentos musicais que estão ali guardados, com os equipamentos de som, os móveis, com os celulares, as bolsas e as carteiras que vamos deixar sobre o altar? Não precisamos mais de nada disto, só precisamos de Cristo em nós. Vamos fazer isto mesmo agora? Ele para de falar, e todos começamos a por em prática esta ação, que vai iniciar o nosso reavivamento (pausa para pensar).

Não vamos fazer isto, não é mesmo? Não estamos prontos. Não temos certeza se é a voz de Deus tocando em nossos corações, ou se é apenas uma loucura momentânea.

Mas, observemos uma coisa: não é exatamente assim que vai acontecer quando Cristo voltar? Todos aqueles objetos não vão ficar exatamente assim enquanto nós seremos arrebatados para o céu? Talvez você não acredite no arrebatamento, então eu vou dar outra ilustração: e se recebêssemos neste instante um ataque do Estado Islâmico? Não sairíamos correndo para salvar a nossa vida, deixando tudo exatamente deste jeito?

Se, porém, não vamos fazer isto agora, então vamos admitir o nosso pecado. A verdade é que amamos o nosso celular, amamos a nossa bolsa e a nossa carteira, amamos o nosso carro, o templo e tudo o que tem dentro. Amamos os nossos pecados particulares, a comida, a bebida, o conforto, o lazer, o poder, o dinheiro. Estamos dedicando nossas vidas a estas coisas, e para não nos sentirmos culpados, usamos a racionalização. Afinal, nós precisamos destas coisas materiais. Afinal, nós estamos dedicando tudo isto para Deus. Damos o dízimo de tudo, usamos tudo para a glória de Deus, não é mesmo?

Uma passagem da Bíblia que me deixa muito impressionado é a oração de arrependimento de Daniel 9.1-20. Daniel, um homem a quem nós consideramos extremamente justo, e de quem Deus mesmo deu testemunho em sua palavra, de que era um homem justo, ele mesmo, Daniel, não se considerava assim. Sua oração foi de arrependimento e súplica, por todo o povo e por si mesmo. Disse não à racionalização, e assumiu sua culpa com todo o povo, para testificar que Deus é justo e nós somos perversos. Deus é verdadeiro e nós somos mentirosos. Oh! Senhor, tenha misericórdia de nós, pecadores!

Terceiro posicionamento: INTERIORIZAÇÃO (14-23)

Jesus convocou a multidão e disse-lhes: "Ouvi-me, todos, e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina." Depois, estando em casa, os discípulos o interrogaram acerca da parábola, ao que ele explicou: "tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso (...) O que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem."

A interiorização dos preceitos é o que vai realmente nos ajudar, porque Deus vê o interior, não o exterior. Devemos guardar no coração as palavras de Deus, para não pecar contra ele (Sl 119.11); Devemos orar, como no Salmo 19.12-14: “Quem há que possa discernir as próprias faltas? Absolve-me das que me são ocultas. Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensível e ficarei livre de grande transgressão. As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, SENHOR, rocha minha e redentor meu!”

Somente a interiorização dos preceitos de Deus pode arrancar do nosso interior tudo aquilo que está nos contaminando, para que possamos prosseguir na busca da santidade, na nossa incessante busca pelo nosso Deus Santo.

Vamos buscar, portanto, a interiorização dos preceitos de Deus em nossos corações, através da leitura da Bíblia, da oração, da prática de tudo o que descobrirmos, por meio da meditação assim orientada, que é a vontade de Deus para nossas vidas. Isto é tudo o que vamos levar para o céu. Nossos celulares vão ficar.

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