sexta-feira, 10 de julho de 2015

Como está o seu coração?


(Leia Mc 6.45-56)

Nosso coração pode estar com problemas sem que o saibamos, porque, muitas vezes, os problemas iniciam pequenos, crescendo silenciosamente até que, de repente, a crise vem com todas as suas forças. Por isto, é importante fazermos uma checagem periódica, com exames em laboratórios, para não sermos pegos de surpresa.

No campo espiritual, coisa semelhante acontece. Neste texto observamos que há, pelo menos, três condições possíveis de um coração, quanto ao seu estado espiritual.

Primeira condição: Coração Devoto (45-47)

Jesus mandou seus discípulos embarcarem e passarem para o outro lado, enquanto ele despedia a multidão. Depois, subiu ao monte para orar. Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra.

Jesus tinha superpoderes, autoridade; podia tornar-se o rei de Israel, porque o povo estava com ele; mas, ainda assim, era frágil, em sua humanidade. Precisava estar a sós com o Pai, pedir a sua orientação, falar-lhe dos seus anseios. Se o único tempo que tinha para fazer isto, era o tempo que, normalmente, os outros usavam para dormir, então, que fosse assim. Não podia negligenciar seu tempo de devoção; era o tempo em que ele se reabastecia espiritualmente.

Corre o boato de que nossa igreja não está buscando o Espírito Santo, que apenas faz orações e fica esperando a resposta de Deus, a qual nunca vem, ou demora a vir, enquanto as outras igrejas são mais dedicadas, fazem jejuns, vigílias, correntes, campanhas, determinam e declaram as bênçãos. Ora, o que estamos tentando fazer, é o que Jesus mesmo fazia, em seus momentos de fragilidade. Tentamos buscar o Pai em oração silenciosa, porque só ele tem o poder para determinar e decretar as bênçãos. Se ele tem dito a outros servos para determinar e decretar algo e eles não o fizerem, estarão em pecado. Se ele não nos diz que devemos decretar ou determinar algo, e nós nos atrevermos a fazê-lo, não seríamos também culpados de presunção e jactância? Jesus mesmo, só fazia e falava aquilo que o Pai mandava (Jo 5.19; 7.16-18).

Precisamos verificar, nos laboratórios espirituais da palavra de Deus e da oração, se o nosso coração está, de fato, numa condição de devoção, pois somente assim poderemos receber instrução e poderes adequados à nossa missão, a qual nos foi dada em Mt 28.19,20.

Segunda condição: Coração Endurecido (48-52)

Vendo os discípulos em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta das três ou quatro da madrugada, Jesus veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. Quando os discípulos o viram, andando sobre o mar, pensaram que ele era um fantasma, e gritaram perturbados. Mas logo lhes falou e disse: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!” E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou; pelo que ficaram, também, muito admirados, porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.

Podemos começar o dia com oração silenciosa, ao lado da cama mesmo, falando a sós com o Pai, tentando ouvir a sua voz, meditando nas passagens bíblicas que temos lido, e intercedendo pelos irmãos, amigos e familiares. Um coração devoto. Depois nos levantamos, e vamos começar as atividades diárias, fazer a higiene pessoal, preparar o café, vestir-nos para o trabalho, e começar o expediente. É nesta fase do dia que, geralmente, nosso coração fica endurecido. Os ventos contrários, as ondas rebatendo, nos impedem de atingir os objetivos que temos almejado. Esquecemo-nos até das promessas de Deus, dos milagres que ele realizou até recentemente, e ficamos nervosos, estressados, inconformados com os obstáculos instransponíveis que nos atrapalham em alcançar o alvo. Se algum imprevisto acontece, algo que não estava em nossa agenda, como uma má notícia, um acidente; ficamos apavorados, até que escutemos a voz do Senhor: “Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais!”

Por que os discípulos foram para o outro lado e deixaram Jesus a sós? Foram mandados, sim, pelo Senhor, mas, por que? Talvez porque seu coração já estivesse endurecido, porque queriam descansar, já que seu descanso tinha sido frustrado, por causa da presença da multidão. E por que Deus os afligiu com o vento contrário, que os impediam de chegar ao outro lado? Que frustração não devem ter sentido, que revolta! Desde o final da tarde até alta madrugada, remando e não saindo do lugar! Se eu estivesse lá, talvez desistisse, e deixasse o vento levar o barco de volta para a praia, e fosse orar, com Jesus, deixando, aos pés do trono do Pai, toda a minha queixa.

Jesus compeliu os discípulos a passar para o outro lado, como o Senhor compeliu a Balaão para atender ao chamado de Balaque, mas depois fez-lhe resistência no caminho (Nm 22.20-35). Sempre fico intrigado quando penso na história deste profeta. Por que o Senhor o mandou ir, e logo depois queria matá-lo? Teria, mesmo, matado a Balaão, se não fosse a intercessão de uma jumenta. A resposta pode estar naquilo que o texto não revela explicitamente: era o desejo do coração de Balaão, que certamente contrariava a vontade de Deus, enquanto, exteriormente, comportava-se exemplarmente, aos olhos dos mensageiros do rei Balaque.

Se nos exames, nos laboratórios espirituais, descobrirmos que nosso coração está endurecido, que estamos nos esquecendo, e que não temos tentado entender os milagres que Jesus tem feito em nossas vidas, se estivermos remando contra a maré, gastando toda nossa energia para, no fim, não chegarmos a lugar nenhum, então, que possamos ouvir a repreensão do Senhor, como no dia em que acalmou a grande tempestade: "Como é que não tendes fé?" (Mc 4.40). Não vamos nos extraviar, "seguindo pelo caminho de Balaão" (2 Pe 2.15), mas convertamos o nosso coração em uma condição de constante devoção, como o coração de Jesus.

Terceira condição: Coração Quebrantado (53-56)

Ao aportarem do outro lado, saindo do barco, o povo percorreu toda a região, trazendo os enfermos em leitos. Onde quer que ele entrasse nas aldeias, cidades ou campos, punham os enfermos nas praças, rogando-lhe que os deixasse tocar ao menos na orla da sua veste; e quantos a tocavam saíam curados.

Os discípulos, mesmo não entendendo o porquê de tanta provação, seguiam Jesus, e junto com ele atenderam às multidões, que, de corações quebrantados, buscavam o único recurso para suavizar suas dores.

Às vezes, no final do dia, nosso coração também encontra-se assim, quebrantado; por ter, Deus, permitido que nos atingissem doenças, desemprego, desilusões, aflições sem fim. De corações quebrantados, buscamos a Jesus, porque cremos no seu poder e na sua compaixão, com os quais pode nos dar o alívio desejado. Talvez você, que agora está lendo esta mensagem, esteja com o coração quebrantado, porque não conseguiu atingir os seus objetivos, porque acha que sua vida foi um fracasso, porque tem enfrentado uma grave enfermidade, própria ou de uma pessoa querida, porque perdeu a possibilidade de comunicação com alguém, a quem o Senhor levou para si. Saiba que Jesus está vivo; está vendo as suas aflições; e embora pareça indiferente, está incluindo você nas suas intercessões junto ao Pai, como fomos informados em Romanos 8:34: "Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós." Ou está rogando por nós, como também rogou por Pedro, para que a sua fé não desfalecesse (Lc 22.31,32).

É como se ele estivesse no alto da montanha e, nós, no meio do lago. Em vez de continuarmos com o coração endurecido, buscando coisas que, se nos satisfizerem, serão por pouco tempo; em vez de continuarmos com nosso rancor, nossa amargura, que nos faz cegos às misericórdias de Deus, vamos quebrantar o nosso coração, e transformá-lo num coração devoto, como o de Jesus, que nos ensinou com seu exemplo quando orou, pouco antes de se entregar por amor de nós: "dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua." (Lc 22.42).

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