terça-feira, 11 de agosto de 2015

Vês alguma coisa?


(Leia Mc 8.22-26)

Uma vez assisti a um filme chamado "ensaio sobre a cegueira", baseado num livro do escritor português José Saramago. Achei interessante a história, porque nos leva a refletir sobre a importância da visão e os efeitos psicológicos e sociais que pode acarretar a falta dela. A história do cego de Betsaida, por sua vez, pode nos ajudar a refletir sobre a importância de buscarmos a cura para nossa própria cegueira espiritual. Entendi, nesta passagem, que há pelo menos três passos que precisamos dar para que sejamos curados da cegueira espiritual.

Primeiro passo: Reconhecermos o problema (22)

Chegando a Betsaida trouxeram a Jesus um cego, rogando que o tocasse. Aquele homem, é claro, sabia que tinha um grande problema, por isso acompanhou os homens que o levaram a Jesus. Um cego, hoje, tem muitos recursos que podem ajudá-lo a amenizar seu problema. Muitos até têm um bom emprego. A lei brasileira os favorece, obrigando, por exemplo, os restaurantes e lanchonetes a disponibilizarem menus em escrita braile, criando cotas para concursos públicos ou incentivando empresas privadas que os contratam. Mas no tempo de Jesus isto não era assim. Os cegos não podiam fazer muita coisa além de mendigar, para que pudessem sobreviver.

Falando de coisas espirituais, há pessoas que são cegas mas não reconhecem. Acham que podem guiar multidões, e as multidões cegas vão com elas para o abismo. Em Mateus 15.14 Jesus fala, a respeito dos fariseus: "Deixai-os; são cegos , guias de cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco."

A cegueira, às vezes, é um instrumento de juízo, como quando Paulo feriu de cegueira um homem que se opunha à pregação do evangelho, em Atos 13.11: "Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão." No campo espiritual isto também acontece, como observamos em João 9.39: "(...)Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos"

Nós podemos estar cegos e não reconhecermos, como os deficientes da fé, virtude, conhecimento, domínio próprio, perseverança, piedade, fraternidade, amor, descritos em 2Pedro 1.5-9.

Segundo passo: Não nos conformarmos com uma cura incompleta (23-25)

Tomando o cego pela mão, Jesus o levou para fora da aldeia e, aplicando-lhe saliva aos olhos e impondo-lhe as mãos, o curou parcialmente. Fazendo, porém, o “teste de qualidade”, o homem admitiu que a cura ainda não estava perfeita. É claro que não se trata de uma falha de Jesus, portanto atribuo o ocorrido à fé do homem, que era pequena, e ao propósito do Mestre de nos ensinar alguma coisa.

Existem falsos profetas dizendo que curam nossas feridas, mas a cura é superficial, como os profetas e sacerdotes mencionados em Jr 6.13-14, que se davam à ganância, e usavam de falsidade, curando superficialmente a ferida do povo, dizendo: "Paz, paz; quando não há paz." Ainda falando sobre eles, Jeremias (8.9) pergunta retoricamente: "que sabedoria é essa que eles têm?"

O rei Jeoás não creu o suficiente para receber de Deus livramento completo do país inimigo, na história de 2Rs 13.14-19. Segundo Eliseu, a fé do rei foi provada no ato de atirar contra a terra, depois de ser avisado que isto simbolizava a vitória de Israel contra os sírios. Joás demonstrou pouco entusiasmo, ferindo a terra apenas três vezes, quando deveria tê-lo feito cinco ou seis vezes.

Pedro quase afogou-se no mar porque duvidou no meio de uma demonstração de poder, em Mt 14.23-31.

Nós podemos deixar de receber sabedoria (visão) por falta de fé, como nos adverte Tiago em 1.2-6: "Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes. Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida. Peça-a, porém, com fé, em nada duvidando; pois o que duvida é semelhante à onda do mar, impelida e agitada pelo vento."

Para que a cura do cego de Betsaida fosse completa, Jesus "novamente lhe pôs as mãos nos olhos, e ele, passando a ver claramente, ficou restabelecido; e tudo distinguia de modo perfeito."

No que diz respeito à nossa situação espiritual, Deus quer que sejamos perfeitos. Não quer que nos contentemos com curas incompletas. Em Gênesis 17.1 lemos que, "quando atingiu Abrão a idade de noventa e nove anos, apareceu-lhe o SENHOR e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso; anda na minha presença e sê perfeito. Em Deuteronômio 18.13 Deus exige de Israel: "Perfeito serás para com o SENHOR, teu Deus.", o mesmo que faz Jesus com seus discípulos em Mateus 5.48, quando ensina: "Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." O caminho para a perfeição passa necessariamente pela leitura e prática da Palavra de Deus, conforme 2 Timóteo 3.14-17, que apresenta a Escritura como útil para que "o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra."

Terceiro passo: Obediência (26)

Tendo curado o homem, Jesus o mandou embora para casa, recomendando-lhe: Não entres na aldeia.

Jesus freqüentemente dava uma ordem a alguém, depois de o curar. Ao enfermo de João 5.14 ele disse: "Olha que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior." Ao leproso de Marcos 1.44 ele ordenou: "Olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo."

A importância da obediência é destacada na história de Saul, em 1Sm 15.18-23, onde Samuel o leva a considerar: "Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o atender, melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar".

Será que estamos enxergando as coisas claramente? Examinemos a nós mesmos. Não vamos nos contentar em sermos cristãos medianos, que só assistem aos cultos. Vamos trabalhar na obra do Senhor, pois a obra está carente de trabalhadores. Sejamos obedientes, para não perdermos a saúde espiritual, nem a nossa visão.

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