domingo, 27 de setembro de 2015
A Vida Eterna
(Leia Mc 10.17-31)
Somos mortais, mas vivemos tentando achar um jeito de prolongar a vida. Nos tempos modernos, pelo que temos conhecimento, os que conseguiram viver mais tempo, chegaram à faixa dos 120 anos.
Na revista - Super Interessante de Fevereiro de 2010, (1) João Vito Cinquepalmi divulga um quadro chamado "A luta (da humanidade) contra a morte", mostrando como, durante 1 000 anos de estudo, a ciência entendeu, aos poucos, como adiar o fim da vida.
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Anos:
1000
Nada de limpeza ou dieta: o pessoal compartilhava as casas com animais e comia a valer, numa dieta de pães, queijos e cerveja.
1675
O cientista holandês Antony van Leeuwenhoek descobre uma das maiores causas de mortes da época: as bactérias. Mas só no século 19 é que se descobriu a relação delas com nossas doenças.
1785
Morre a primeira pessoa registrada como a mais velha do mundo: o norueguês Eilif Philipsen, com 102 anos.
1796
Testes com o que seria considerada a primeira vacina. O médico inglês Edward Jenner percebe que uma pessoa contaminada pela varíola bovina - forma mais branda da doença - não pegaria a humana. Na época, 40% dos infectados pela doença não sobreviviam.
1850-1885
Louis Pasteur desenvolve a pasteurização, que elimina micróbios dos alimentos.
1854
Descoberta de que uma epidemia de cólera em Londres foi causada por água contaminada. É o primeiro passo para o desenvolvimento dos sistemas de saneamento, um grande motivo para o aumento da expectativa de vida no século 20.
1895
Criação do raio X, que permitiria diagnósticos mais precisos de doenças como tuberculose.
1900
O homem só prolongou sua vida média em 7 anos desde o ano 1000, por ainda ser um novato em questões de higiene e saneamento. (Só no fim do século 19, por exemplo, prova-se que médicos deveriam lavar as mãos com cloro antes de fazer um parto.)
1928
Aos 113 anos, morre a americana Delina Filkins, que manteve o recorde de mulher mais velha do mundo até 1955. Ela viveu toda a vida dentro de um raio de 16 quilômetros da fazenda em que nasceu.
1929
Alexander Fleming descobre a penicilina, 1º antibiótico do mundo. Começaria a ser ministrada em pessoas 10 anos depois.
1953
Os cientistas James Watson (americano) e Francis Crick (inglês) publicam um artigo sobre a estrutura em espiral do DNA, que ajuda a entender a herança genética.
1997
Aos 122 anos, morre a francesa Jeanne Louise Calment, a pessoa que mais viveu no mundo até hoje. Louise andou de bicicleta até os 100 anos e morou sozinha até os 110. Dizia que azeite na comida, vinho e chocolate a ajudaram a viver mais.
2003
Conclusão do mapeamento genético humano, o que poderá permitir a identificação de genes causadores de doenças.
2008
Recorde na quantidade de pessoas com mais de 110 anos no mundo: 92 super-centenários. Em 1990, eram 28 pessoas. Em 1980, 11.
2010
Expectativa de vida: 68 anos. A japonesa Kama Chinen é a pessoa mais velha do mundo, com 114 anos.
2015-2020
O mundo terá mais idosos (acima de 65 anos) do que crianças, pela primeira vez.
2040
Estimativa de 1,3 bilhão de pessoas com mais de 65 anos - eram 506 milhões em 2008.
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Mas em Mc 10.17-31, a Bíblia nos fala de uma maneira melhor e totalmente eficaz de se conseguir viver muito. Na verdade, viver para sempre. Os que alcançaram esta garantia do Senhor apresentam pelo menos três sintomas:
I - OBEDECEM AOS MANDAMENTOS (17-22)
"E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e tua mãe. Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades."
a) Guardar os mandamentos
Embora sejamos salvos pela graça de Deus, não pelos mandamentos, não estamos isentos de cumpri-los. Quem é salvo, nascido de novo, tem o Espírito Santo habitando dentro de si e, portanto, não vai deixar de obedecer seus próprios preceitos. Que privilégio para um homem poder dizer que guarda irrepreensivelmente os mandamentos de Deus desde a juventude! É um motivo de muito orgulho. O único problema é que o maior esforço do homem ainda não atinge o nível de santidade digno de agradar a Deus. Àquele diligente cumpridor da lei e dos seus deveres ainda faltava uma coisa: a sinceridade de coração para aceitar o amor de Deus sem reservas.
b) A vida eterna
Há pelo menos duas referências importantes à vida eterna, no antigo testamento, uma no começo e outra perto do final:
Gênesis 3.22 Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim, que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente.
Daniel 12.2 Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e horror eterno.
c) O detalhe que falta
Vender todos os bens e dar aos pobres - será que era um teste como o de Abraão, ao chegar bem perto de sacrificar seu filho Isaque? Jesus não era contra as pessoas possuírem bens. Em Lc 8.2,3 lemos: "(...) e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens".
A proposta feita ao homem era de uma aplicação financeira no banco eterno de Deus. Jesus costumava fazer perguntas ou desafios para testar a sinceridade do coração. À mulher samaritana, ele manda chamar o seu marido. À mulher sírio-fenícia, fez comparar-se um cãozinho que comia migalhas que caíam da mesa dos judeus. Aos discípulos em tribulação no meio do mar, quando o viram andando sobre as águas, fez menção de que ia passar adiante deles.
d) Contrariado e triste
Ficamos contrariados e tristes quando as coisas não acontecem segundo as nossas expectativas. Temos tido esperanças de que Deus nos dará o que merecemos. Somos como o irmão do filho pródigo. Às vezes, servimos fielmente nosso patrão, nosso chefe, nossa igreja, esperando que um dia sejamos reconhecidos, mas quando surge uma oportunidade de sermos promovidos, de ocuparmos uma posição de destaque, dão o lugar para outro e nos sentimos desprezados. Não conseguimos o que desejávamos, porque nos faltava qualificação. Na empresa onde eu trabalho, eles costumam chamar isto de "perfil". Quando acham que você não serve para determinada função, dizem que você não tem "perfil". É muito triste ouvirmos isto de alguém, porque é uma reprovação do nosso modo de ser. O que está em jogo quando alguém nos analisa assim não é a nossa competência, a nossa responsabilidade, a nossa dedicação. O "perfil" é uma coisa que nem sabemos o que é. Não sabemos o que está na mente do nosso chefe, para nos moldarmos e adquirirmos o formato de personalidade que o agrada. Não servimos e pronto! Jesus, porém, não deixou o homem nesta situação. Ele disse objetivamente o que lhe faltava. Era uma simples prova de fé e obediência.
II - DESPRENDEM-SE DAS COISAS DO MUNDO (23-27)
"Então, Jesus, olhando ao redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Os discípulos estranharam estas palavras; mas Jesus insistiu em dizer-lhes: Filhos, quão difícil é para os que confiam nas riquezas entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Eles ficaram sobremodo maravilhados, dizendo entre si: Então, quem pode ser salvo? Jesus, porém, fitando neles o olhar, disse: Para os homens é impossível; contudo, não para Deus, porque para Deus tudo é possível."
a) O peso das riquezas
1 Timóteo 6.17 diz: “Exorta aos ricos do presente século que não sejam orgulhosos, nem depositem a sua esperança na instabilidade da riqueza, mas em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para nosso aprazimento;”
Provérbios 30.7-9 é uma oração que diz: “Duas coisas te peço; não mas negues, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário; para não suceder que, estando eu farto, te negue e diga: Quem é o SENHOR? Ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus.”
Em um artigo no site da BBC Brasil (2), Maria Atanasov reproduz o depoimento de alguns homens ricos, participantes de um estudo. Eis alguns trechos:
"(...) Impossível abrir mão do dinheiro - Outra pessoa que pediu anonimato disse que preferia ter ganhado sua fortuna aos poucos. Ela ganhou US$ 20 milhões vendendo o seu negócio de tecnologia.”
"Eu queria ser rico e consegui. Mas acho que talvez não tenha valido a pena. Um caminho mais lento até a fortuna talvez teria sido muito mais saudável para a minha carreira e vida em geral."
“Ele aponta um fator curioso entre os milionários: pode até ser que alguém tivesse perdido muitas coisas ao ficar muito rico, mas ninguém quer abrir mão do seu dinheiro para voltar à condição financeira anterior.”
"É impossível abrir mão de dinheiro. Talvez não valha a pena ser rico. Mas quando você chega lá, quer ficar ali para sempre."
Um homem sem fé apega-se às coisas palpáveis. Um homem de fé, atenta para as coisas que não se veem, conforme 2Coríntios 4.18: “não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.” E Hebreus 11.1: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem.”
b) Possível para Deus
As pessoas mais improváveis podem se converter. O apóstolo Paulo foi um exemplo bem radical. Um missionário no México, chamado Luiz Alegria, conta a história da um traficante, chefe de gangue, que, depois de assistir à sua palestra, interessou-se e comprou todo o material do missionário para distribuir aos seus "funcionários", que junto com ele vieram a se converter.
Íris Abravanel, uma das mulheres mais ricas do Brasil, contando à revista “Isto é” (3) a experiência de sua conversão, diz que no dia seguinte, foi atrás de uma Bíblia para saber quem é Jesus. “O José quis me dar a dele”, disse. ”E eu não quis. Aí, ele me disse: ‘Dona Íris, a senhora tem tudo. Esse é o melhor presente que eu posso lhe dar e a senhora não quer aceitar?!’ Foi a primeira lição que tive. Como somos soberbos.”
III - CONFIAM EM JESUS (28-31)
"Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna. Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros."
a) Ressarcimento
Jesus garante que seus seguidores terão tudo o que necessitam, em abundância. Os recursos deste mundo são para nós utilizarmos, mas não adorarmos. Todo sacrifício que porventura fizermos para seguir Jesus, será reconhecido pelo Pai, que nos recompensará. E não é preciso ter dinheiro ou bens próprios para ter uma vida confortável. É possível viver com coisas doadas e emprestadas, como viveu Jesus.
Num artigo intitulado "Viver sem dinheiro" (4), lemos que, "nos Estados Unidos, um homem das cavernas moderno vive em grutas no deserto de Utah, mantém um blog e participa ativamente da comunidade. Na Alemanha, uma avó viaja de uma cidade a outra para pregar o desapego aos bens materiais. No Reino Unido, um ex-economista sem conta no banco nem dinheiro no bolso empenha seu tempo em recrutar voluntários para uma comunidade autossustentável. Em comum, eles tomaram a decisão de nunca mais ter dinheiro. O americano Daniel Suelo, 50 anos, doou seus últimos dólares em 2000. A lituana radicada alemã Heidemarie Schwermer, 69 anos, nem chegou a ter um euro. Quando a moeda entrou em circulação, em 2002, já fazia seis anos que a simpática senhora não via a cor do vil metal. Já o irlandês Mark Boyle, 32 anos, em jejum financeiro desde 2009, garante que não ter dinheiro é sinônimo de liberdade, não de dificuldade".
b) Com perseguição
Perseguição faz parte da disciplina dos filhos de Deus.
c) Primeiros últimos e últimos primeiros
Quem tem privilégios agora poderá não ter no futuro. Quem vive vida regalada agora poderá ser "pobre" no porvir, ou até ter destino pior, como vemos na história do rico e de Lázaro (Lc 16.19-31).
Mateus 20.8 Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros.
Lc 13.29,30 Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus. Contudo, há últimos que virão a ser primeiros, e primeiros que serão últimos.
Assim, aprendemos que guardar os mandamentos, desprender-se do mundo e confiar na palavra de Jesus, são sintomas de quem recebeu a vida eterna. Seguir sua direção, mesmo que isto represente abandonar seus projetos, seus direitos, seus desejos, é sinal de quem entra no reino de Deus e alcança a vida eterna. João 3.36 diz: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”
REFERÊNCIAS:
(1) (Você pode ser imortal - João Vito Cinquepalmi - Super Interessante – Edição 275 - Fevereiro de 2010 – Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/voce-pode-ser-imortal - Acesso em: 25-09-2015)
(2) (Maria Atanasov - "Milionários revelam o 'lado ruim' de ser rico demais" BBC BRASIL - 3 outubro 2014 Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141002_vert_cap_milionarios_dg Acesso em: 19/09/2015)
(3) (Entrevista de Íris Abravanel por Rodrigo Cardoso - Isto é - Entrevista N° Edição: 2248 | 07.Dez.12 - Disponível em:
http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/259642_ESTOU+PENSANDO+EM+NEGOCIAR+UM+AUMENTO+NO+SBT+ - Acesso em: 19/09/2015)
(4) (Viver sem dinheiro - Rachel Costa - Isto é - Comportamento N° Edição: 2223 | 15.Jun.12 - Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/214114_VIVER+SEM+DINHEIRO - Acesso em: 20/09/2015)
sexta-feira, 25 de setembro de 2015
O Reino de Deus e as Crianças
Mc 10.13-16
"Então, lhe trouxeram algumas crianças para que as tocasse, mas os discípulos os repreendiam. Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. Então, tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava."
Ao estudar este texto, me vieram à mente duas perguntas, para as quais não achei uma resposta direta e definitiva.
I - O QUE É O REINO DE DEUS
No livro de Marcos, mesmo, temos muitas informações sobre o assunto:
Marcos 1:15 O Reino de Deus está próximo e isto exige de nós arrependimento;
Marcos 4:11 O Reino de Deus é misterioso, por isso precisamos aprender mais e mais sobre ele;
Marcos 4:26,27 O Reino de Deus é como uma semente que cresce sem que saibamos como. Por isto precisamos semear com esperança;
Marcos 4:30 O Reino de Deus cresce de maneira irregular, e outros que não são filhos do reino tiram proveito dele;
Marcos 9:1 O Reino de Deus se manifestará com poder; Veremos a sua glória no tempo devido;
Marcos 9:47 É preciso ser puro para entrar no Reino de Deus;
Marcos 10:23-25 É muito difícil entrar no Reino de Deus;
Marcos 12:34 É possível estar perto do Reino de Deus, sem, contudo, estar nele;
Marcos 14:25 Jesus vai cear com os discípulos no Reino de Deus vindouro; Que nós possamos estar entre estes discípulos!
Marcos 15:43 O Reino de Deus é algo que se espera; José de Arimatéia era rico e ilustre membro do sinédrio que condenou Jesus (certamente deu voto contrário), mas provavelmente entrou no Reino de Deus.
Estas informações não nos dão uma resposta direta e definitiva sobre o que é o Reino de Deus, mas nos fazem entender o quanto é importante buscarmos fazer parte dele
II - O QUE É SER COMO CRIANÇA
Do próprio parágrafo podemos extrair pelo menos três características das crianças que estão relacionadas à sua entrada no Reino de Deus:
1 - São relativamente incapazes ("então lhe trouxeram algumas crianças"). Elas não vêm por conta própria. Temos que trazer as pessoas que, mesmo se considerando adultas, não sabem vir sozinhas, e não sabem que precisam da salvação. Por isso é que às vezes fazemos programações especiais para atrair estas “crianças” à Igreja porque, de outra forma, não viriam. Nos esforçamos para trazê-las, dando carona, indo chamar.
2 - São embaraçadas ("deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis"). Quando tomam a decisão de vir, muitos as repreendem, colocam obstáculos para atrapalhar. É o trabalho do inimigo para impedir que elas se convertam. Precisamos orar por elas, insistir, argumentar, e se estiver ao nosso alcance, repreender quem as repreende.
3 - Crianças se deixam levar, não resistem muito ("então, tomando-as nos braços..."). Isto pode ser bom ou ruim, dependendo de quem conduz as crianças. Precisamos ser como crianças para aceitarmos o ensino e a direção dos mestres da Igreja. Não podemos ser recalcitrantes. Se adotamos uma Igreja, é porque confiamos que ali se ensina os preceitos bíblicos de maneira correta. Tendo, então, assumido o compromisso de servimos a Deus nesta Igreja, devemos ser submissos e andarmos nos caminhos que os mestres estão apontando. Nem sempre isto vai ser fácil. Às vezes isto exigirá de nós que deixemos de lado algumas convicções e sigamos na direção que todos estão caminhando, sem sermos rebeldes. Por outro lado, não devemos ser ingênuos, devemos equilibrar a submissão e a resistência, como diz 1Coríntios 14.20 “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos.”
Será que já fazemos parte do Reino de Deus? Vamos buscá-lo em primeiro lugar na vida (Mt 6.33).
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Coisas do coração
(Leia Mc 10.1-12)
Jesus se aproxima cada vez mais de Jerusalém. Agora, ele concentra seu ministério na região onde João batizava. Atrai multidões de seguidores e também os inimigos fariseus, que tentam comprometê-lo diante do povo e das autoridades, fazendo perguntas que, segundo imaginavam, obrigariam Jesus a assumir uma posição comprometedora. Mas o Mestre sempre aproveita estas oportunidades para ensinar, e através deste acontecimento nos ensina pelo menos duas lições importantes.
I - SOBRE A VONTADE DE DEUS PARA O MATRIMÔNIO (1-3,10-12)
O mundo quer ter privilégios sem assumir responsabilidades. Antigamente, os jovens não queriam se casar, só namorar. Hoje em dia, o namoro já é considerado um relacionamento muito sério. A onda é só curtir. Como exemplo do pensamento "moderno", cito um trecho de uma famosa música, cantada por um grupo intitulado "Aviões do forró", que diz assim: "Eu não quero namorar, eu quero é beber, curtir, porque amar, to fora; tô cansada de sofrer, eu quero é viver, beber, porque amar tô fora; (...) eu parei de ser besta; de ficar em casa sexta;(...)" (Disponível em: http://www.temforro.com.br/2015/05/letra-aprenda-amar-to-fora-novo-sucesso.html Acesso em: 12/09/2015).
Não podemos nos conformar com um pensamento assim. Jesus diz, no sermão da montanha, que qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela. Pouco depois ele afirma que repudiar a mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério. Ali também Jesus adverte que, se olho ou a mão faz tropeçar, é melhor cortar e ficar aleijado do que persistir em pecar contra Deus e acabar no inferno (Mt 5.27-32).
Em 1Co 7.1-17,35-40, temos uma extensa instrução sobre casamento, com mandamentos e conselhos pessoais de Paulo para a Igreja. Em Ef 5.21-33, aprendemos que os maridos devem amar suas esposas, assim como Cristo amou a Igreja; e que as esposas devem ser submissas aos próprios maridos, como ao Senhor.
Somos pecadores, e já perdemos a oportunidade de sermos perfeitos, mas podemos juntar o que nos resta e servir ao Senhor. Não sejamos como os fariseus, que eram hipócritas. Não tinham o coração disposto a servir, mas queriam defender sua posição tentando desacreditar seus adversários. Não usemos justificativas para o nosso pecado, como dizer: "todo mundo faz assim". Os preceitos de Deus são absolutos, não variam conforme a época, nem são negociáveis. Adultério, sexo fora do casamento, homossexualismo, continuam sendo pecado; são abomináveis para Deus. O casamento continua sendo sagrado, uma união de um homem com uma mulher, para toda a vida. Ninguém é obrigado a se casar, mas, se não consegue se conter, é melhor casar do que viver abrasado (1Co 7.9).
Quando Mateus narra a mesma história deste parágrafo de Marcos, ele menciona que os discípulos, vislumbrando a grande responsabilidade que é o casamento, protestaram: "Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar." Jesus, porém, lhes respondeu: "Nem todos são aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita" (Mt 19.10-12).
II - SOBRE A DUREZA DO CORAÇÃO DO HOMEM (4-9)
Há escolhas, que fazemos na vida, que nos levam para o bem ou para o mal. Desde a escolha de aceitar a Cristo, até a decisão de cometer um crime. Há decisões que não são nem certas nem erradas, mas que são permanentes, que se tornam um compromisso para o resto da vida, como casar-se ou ter um filho. Numa decisão importante assim, devemos consultar o que diz a palavra de Deus sobre o assunto.
Mas nada é tão simples para estas criaturas de Deus, conhecidas como o homem e a mulher. No princípio, Deus deu uma instrução clara e direta: não comer do fruto do conhecimento do bem e do mau. Nem isto fomos capazes de obedecer. O homem tem o coração endurecido, e Deus tem administrado a dureza do coração do homem, como no caso em que ordenou a carta de divórcio, para resguardar o direito da esposa e assim diminuir os danos que o pecado do marido pudessem causar à mulher.
Nenhum de nós anda 100% com Deus. Pelo contrário, andamos fazendo coisas segundo a dureza do nosso coração. As mulheres não usam mais o véu, como Paulo orientou à igreja de Corinto; usam roupas que, há cem anos atrás seriam consideradas escandalosas. Introduzimos músicas estranhas ao culto em nossas igrejas, para atendermos aos apelos de alguns membros; na TV de casa, assistimos a filmes e outros programas onde blasfemam o nome de Deus e valorizam os maus costumes constantemente; assistimos jogos de futebol e "Fórmula 1" no domingo, dia em que todos deveriam estar adorando o Senhor, na Igreja; idolatramos celebridades; gastamos tanto dinheiro consumindo coisas dispensáveis;
A dureza de coração do homem é denunciada, por exemplo, em Mt 13.15, onde se confirma a profecia de que o coração de Israel estava endurecido, e que de mau grado ouviu com os ouvidos e fechou os olhos. Até mesmo o coração dos discípulos, pelo seu endurecimento, era tardio para crer nos milagres e na própria ressurreição de Jesus.
Sobre tudo o que se deve guardar, guardemos o coração, porque dele procedem as fontes da vida (Pv 4.23). O Senhor é aquele que sonda mentes e corações, e nos dará a cada um segundo as nossas obras (Ap 2.23). Somos exortados por Tiago a não sermos inconstantes, e a limparmos o nosso coração (Tg 4.8). O Senhor espera de nós que não sejamos endurecidos, mas que sejamos limpos de coração (Mt 5.8); que o amemos de todo o nosso coração, alma e forças (Dt 6.5). Quando, na igreja, a Palavra de Deus é pregada com entendimento e clareza, os segredos do nosso coração são manifestos, e adoramos a Deus, testemunhando que Deus está, de fato, no meio de nós (1Co 14.25) Quando nos convertemos, o Senhor nos purifica o coração, como é dito dos primeiros gentios da Igreja, em At 15.9.
Precisamos ter cautela, para que nosso coração não fique sobrecarregado com as conseqüências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo, e para que o dia do julgamento não venha sobre nós repentinamente, como um laço (Lc 21.34).
Nós somos, para Deus, igreja morna, como a Igreja de Laodicéia. Somos como viciados que sabem que estão morrendo mas não conseguem abandonar o vício. Estamos como num veículo desgovernado, sem freio, sem solução, e não podemos fazer nada para evitar o desastre iminente. Então, cantemos hinos de louvor a Deus, e trabalhemos enquanto é dia, enquanto o navio ainda não afunda! Deixemos de lado o que não é importante. Façamos boas obras, e busquemos o favor e a misericórdia do nosso bom Deus, que está em Cristo Jesus. Somente o sacrifício de Jesus, derramando seu sangue, dando sua vida por nós, pode nos livrar da ira vindoura. Recebamos, pois, a salvação, e produzamos frutos dignos de arrependimento.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Difíceis decisões
(Leia Mc 9.41-50)
No tempo de Jesus, o sal era uma especiaria muito valiosa. Por isto, os discípulos são comparados ao sal, e exortados a não perderem o seu valor, tornando-se insípidos. Para não perdermos o galardão de Deus, e para não corrermos o risco de sermos condenados com os ímpios, é melhor termos o valor do sal em nós mesmos. Este texto nos adverte, dizendo que, às vezes, temos que tomar decisões difíceis, para demonstrarmos o nosso valor diante de Deus e não corrermos o risco de perdermos o galardão ou de sermos condenados com os ímpios.
I - DECISÃO DE COLABORAR PARA O PROGRESSO DO EVANGELHO (41)
Jesus disse que, quem der de beber um copo de água, em seu nome, aos discípulos de Cristo, não perderá o seu galardão.
Quem recusaria dar um copo de água para alguém? Se alguém vier pedir um copo de água na porta de sua casa, você recusaria? Imagine se estivéssemos numa guerra, e um soldado inimigo estivesse passando na sua rua, morrendo de sede. Dar água a ele seria visto pelo seu país como uma traição. Muitos recusam dar um copo d'água por medo da violência urbana, porque ladrões usam esta estratégia para se aproximar e entrar nos lares. Quando se nega uma moeda a um morador de rua, numa parada de semáforo, isto não ocorre necessariamente por falta de compaixão, mas pode ser por princípios, para não incentivar uma prática nociva à sociedade e até mesmo ao bem estar do pedinte, que pode estar usando a esmola para comprar drogas. Por outro lado, Raabe acolheu espiões inimigos e foi salva da destruição, junto com sua família. Rebeca deu água para um estranho e conquistou um nobre esposo.
Ajudar pessoas é normal, todo mundo faz isto. Mas o que rende vantagens é ajudar com um propósito. Dar um copo de água a um discípulo de Cristo, conscientemente, é contribuir para o progresso do evangelho. Por isto é tão importante, por exemplo, ajudarmos as missões.
Jesus disse que o amor de uns para com os outros é que iria marcar a autenticidade dos seus discípulos (Jo 13.35). Quando eu me converti, fiquei impressionado com a solicitude dos irmãos em ajudar-me. Vi que as pessoas se preocupavam comigo. Estavam sempre atentos, para que eu e minha família ficássemos bem. Era como se a Igreja fosse uma família e eu, o filho mais querido. Queira Deus que eu e os irmãos estejamos fazendo o mesmo com os que chegam na Igreja, hoje.
Fazer atos de bondade entre os irmãos, especialmente aos mais necessitados, é um modo de garantir seu galardão. Isto não significa, de modo algum, que devamos ajudar somente aos crentes, porque nem sabemos, ao ajudar alguém necessitado, se ele é um crente. Mesmo que tenhamos bons indícios de que a pessoa não é crente, não sabemos se um dia virá a crer. Os filhos do Altíssimo imitam o seu pai, pois amam até os inimigos, fazem o bem e emprestam, sem esperar nenhuma paga, assim como o Altíssimo é benigno até para com os ingratos e maus (Lc 6.35).
Às vezes, decidir colaborar é uma decisão difícil, mas precisamos decidir, com sabedoria, para que mostremos o nosso valor diante de Deus.
II - DECISÃO DE RENUNCIAR ÀS COISAS QUE NOS FAZEM TROPEÇAR (42-48)
Jesus disse que, quem fizer tropeçar a um pequenino crente, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar. Que, se a mão, ou o pé, ou o olho faz tropeçar, é melhor arrancá-los do que ir para o inferno, para o fogo inextinguível.
Fazer tropeçar é colocar algum obstáculo para que os outros se atrasem ou caiam pelo caminho. Nossa decisões podem atrapalhar os outros que querem ficar firmes e andar na fé. Se não nos livrarmos dos obstáculos que nos fazem tropeçar, podemos cair em pecado e levar outros a caírem conosco (como se estivéssemos numa trilha em caminhos íngremes).
Quase todos os dias nos vemos diante de dilemas, ao decidir se devemos acordar cedo ou dormir até mais tarde, se vamos estudar ou nos divertir com os amigos. Escolher a melhor opção nem sempre é tão simples. Às vezes precisamos descansar um pouco mais, e não devemos abandonar totalmente a diversão com os amigos, mas, na maioria das vezes, a opção mais amarga é a que vai nos livrar de muitas tribulações, como a perda do emprego, ou que nos trará melhores recompensas, como uma melhor posição social.
A advertência para quem se deixa tropeçar e, assim, faz outros tropeçarem, é muito severa. Fala do castigo extremo do inferno, onde o verme não morre, e o fogo é inextinguível. Mas, como um crente deve entender esta advertência, se a Bíblia nos ensina que, pela salvação de Jesus, ele "não entra em juízo", que já pode se considerar como quem "passou da morte para a vida" (Jo 5.24)? Não sei. Eu poderia dizer, porém, parafraseando Shakespeare, que há muito mais coisas "entre o céu e o inferno" do que imagina uma "vã teologia". Por isto, é prudente atentarmos à advertência.
Para mostrar o nosso valor diante de Deus, precisamos renunciar às coisas que nos fazem tropeçar, mesmo que esta decisão seja difícil como cortar uma mão, ou um pé, ou arrancar um olho.
III - DECISÃO DE NEGOCIAR A PAZ (49,50)
Jesus conclui: cada um será salgado com fogo. Bom é o sal; mas, se o sal vier a tornar-se insípido, como lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos e paz uns com os outros.
É difícil, até para os comentaristas, interpretar o que Jesus quis dizer ao afirmar que cada um será salgado com fogo. Mas, como o fogo é uma figura de tribulação, e o sal, uma figura do discípulo valoroso, talvez quisesse dizer, como em outras passagens bíblicas, que as provações nos aperfeiçoam e nos tornam mais preciosos para Deus. Os relacionamentos humanos são grande fonte de tribulação. Não há melhor exemplo da complexidade dos relacionamentos humanos do que o relacionamento familiar: marido e mulher, pais e filhos, irmãos, sogras, genros e noras.
Pedro diz, em 1Pe 3.7, para os maridos viverem a vida comum do lar, com discernimento; e, tendo consideração para com a mulher como parte mais frágil, tratá-la com dignidade, para não se interromperem as suas orações. Em Mt 5.21-26, no mesmo contexto do ensino deste parágrafo de Marcos, Jesus instrui a entrarmos em acordo sem demora com o nosso adversário, enquanto estamos com ele a caminho, para que o adversário não nos entregue ao juiz, o juiz, ao oficial de justiça, e sejamos recolhidos à prisão.
Negociar a paz, pedir perdão e perdoar, é muitas vezes uma decisão extremamente difícil, mas precisamos zelar pela paz, mostrando assim que temos valor diante de nosso Criador, e que não somos como um sal que se tornou insípido.
Colaborar com o progresso do evangelho, nem que seja com um simples copo de água fria; renunciar aos costumes que nos fazem tropeçar, mesmo que estejam tão arraigados, com se fossem a nossa mão, o nosso pé, ou o nosso olho; negociar a paz, mesmo tendo que passar por cima do nosso orgulho; são decisões difíceis, mas temos que encarar este desafio, e com fé decidirmos fazer o que agrada a Deus, para mostrar que somos úteis, para não perdermos o nosso galardão, e nem corrermos o risco de sermos condenados com o mundo.
sábado, 5 de setembro de 2015
Superando o medo
(Leia Mc 9.30-40)
Os cristãos têm uma missão, a de fazer discípulos. Jesus cumpriu a sua missão que, no seu caso, incluía o sacrifício de seu próprio corpo como propiciação pelos nossos pecados. Ele encontrou dificuldades no cumprimento de sua missão, pois o inimigo estava sempre procurando atrapalhar. Entre os instrumentos mais usados pelo inimigo para atrapalhar a nossa missão, está o medo. Precisamos aprender superá-lo. Este texto nos fala de três medos que, se não tratarmos, atrapalharão a nossa missão.
I – Medo de perder a nossa vida (30-32)
Partindo da região norte, passavam pela Galiléia, e não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; mas, três dias depois da sua morte, ressuscitará. Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo.
Os discípulos não compreendiam, e é provável que não quisessem compreender, a mensagem da cruz. Tinham medo até de perguntar sobre o assunto. Esta atitude parece ser uma estratégia de defesa, como aquelas que nós utilizamos quando não queremos ir ao médico, para que ele não descubra as doenças que temos, para que não fiquemos preocupados. Diante da realidade da mensagem da cruz, nós temos a tendência de fugir do assunto e de qualquer sofrimento que possa nos sobrevir por causa da nossa profissão de fé.
Antigamente era mais difícil falar de Jesus. As pessoas não eram tão abertas como são hoje. Uma vez, fui à casa de um amigo, que eu ganhara para Cristo, e chegou outro amigo dele. No meio da conversa, enquanto falávamos de nossa fé, o outro protestou: "Você não está querendo se tornar crente, está?". Embora fosse exatamente isto o que estava acontecendo, ou seja, meu amigo estava se tornando um crente, ele não teve coragem de admitir diante do outro amigo, e até eu mesmo me senti intimidado com a pergunta "recriminadora".
Talvez nossa integridade física não esteja em risco, como no caso de missionários em países não cristãos, mas sofremos psicologicamente nas rodas de amigos, de familiares, ou profissionais, sendo prejudicados por falar a verdade, enquanto as coisas são facilitadas para os que usam indiscriminadamente a mentira.
Havia mestres na Galácia, no tempo de Paulo, que queriam ostentar-se na carne, e constrangiam os gálatas a se circuncidarem, “somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo” (Gálatas 6.12).
Não podemos ter medo da morte, de negarmos a nós mesmos, perdendo “privilégios” da vida. Temos que entregar no altar de Deus o nosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável, para recebermos de volta a vida abundante. Como na história de Abraão, sacrificando Isaque, temos que ir com coragem até onde Deus mandar. Só assim a nossa missão terá chances de ser bem-sucedida.
II – Medo de perder a nossa posição (33-37)
Estando já em casa, em Cafarnaum, Jesus interrogou os discípulos: “De que é que discorríeis pelo caminho?” Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior. Então lhes disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” Trazendo uma criança, tomou-a nos braços, e disse: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou.”
Os discípulos temiam perder a sua posição no reino vindouro. Articulavam, como políticos, um cargo, um ministério, e sabiam que para satisfazer suas pretensões, era necessário se organizarem numa hierarquia.
Evódia e Síntique, na igreja de Filipos, não estavam pensando concordemente (Fp 4.2), talvez por conflito de seus interesses. Ficamos ansiosos quando alguém ameaça invadir o nosso espaço. Às vezes agimos como um cão de guarda. Se alguém se aproximar demais do seu território, ele adverte com latidos. Mas, assim como nem todo o que se aproxima do quintal do cachorro é necessariamente uma ameaça, assim também nem todos os que transitam por nosso campo de atuação, são mal intencionados. E se forem, temos um protetor que é Deus. Ele é quem defende os interesses daqueles que estão ao seu serviço. De nossa parte, precisamos aprender a “sofrer o dano” (1Co 6.7), a “andarmos duas milhas”, a “darmos também a capa”, a “darmos a outra face” (Mt 5.39-41), a buscarmos ser os últimos e não os primeiros, a servir em vez de buscarmos ser servidos (Mc 10.45), a preferirmos em honra uns aos outros (Rm 12.10), a não fazermos nada por partidarismo ou vanglória (Fp 2.3).
É natural que gostemos de ser elogiados, de que as pessoas reconheçam os nossos feitos. Recentemente, uma família que estava afastada de nossa igreja, voltou. Foi para nós uma grande alegria. Numa situação assim, damos glória a Deus, e ficamos imaginando como é que isto aconteceu, de que maneira Deus trabalhou no coração destes irmãos. Eu e minha esposa tínhamos visitado esta família, não muito tempo atrás, então imaginei que Deus tivesse usado esta visita para tocar em seus corações. Mas, antes que eu pudesse me gloriar disto, outro irmão me confidenciou: “eu liguei ontem para eles, falando para virem na Igreja, e eles vieram!”. Pelo menos dois outros membros da Igreja também disseram que estavam orando por eles, e achavam que foram suas orações, que foram ouvidas. De quem, pois é a glória? De Deus, é claro, que nos usou em conjunto para demonstrar amor.
Jesus apresenta uma criança como ilustração de um crente sincero e humilde. Precisamos cuidar para não sermos para estes uma pedra de tropeço, brigando o tempo todo por espaço e reconhecimento. Não tenhamos medo de perder o nossa posição, pois o reconhecimento que realmente importa vem do Senhor, que tudo sabe e que tudo vê.
III – Medo de perder as nossas convicções (38-40)
Diante da lição de Jesus, João confessou: “Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.” Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é por nós.
Ter convicções, para nós, é tão importante que, se alguém ameaça tentar mudá-las ou enfraquecê-las, temos atitudes inesperadas. Um pastor muito conhecido nosso, e respeitado, conta a história de que, na sua infância, antes de aceitar a Cristo, discutiu com um colega de escola. O outro dizia que ele não ia para o céu, pois não era da sua Igreja, e ele dizia que o outro é que não iria para o céu, pois sua Igreja era a mais correta. A discussão tornou-se mais e mais acalorada, até que o pastorzinho finalmente venceu o debate, desferindo um murro no nariz do coleguinha, que foi embora chorando e sangrando. Apesar de "vencer o debate", o vitorioso ainda estava incomodado em seu coração, pois na verdade, não tinha certeza de que ia para o céu, até que, aos nove anos, aceitou a Cristo como seu Senhor e Salvador.
Teria sido o medo de perder suas convicções, o que levou João a proibir um homem de expelir demônios? O homem não andava com eles, que direito tinha de expelir demônios em nome de Jesus? O que aquele homem ensinava, enquanto expelia demônios? Se ele fazia uma coisa boa, então deveria estar junto aos demais discípulos. Mas o homem não estava com eles. Fazia parte de outro grupo, e isto incomodava. Se alguém tinha algo bom para ensinar, uma obra boa para fazer, este alguém necessariamente devia fazer parte do grupo dos que andavam lado a lado com o único que tinha “as palavras da vida eterna”.
Mas, como Jesus ensinou noutra ocasião, não era o momento de separar o joio do trigo. É certo que há muitas seitas, muitos lobos em peles de ovelhas, muitos falsos mestres, que precisamos combater e alertar os incautos. Mas, por mais que isto nos incomode, temos que conviver com a diversidade de pensamentos. Nossa igreja, por exemplo, tem uma declaração de fé, pois isto é necessário para que nos identifiquemos como um corpo local. Se alguém não concordar com esta declaração de fé, está livre para desligar-se da igreja, e não deve tentar impor ideias divergentes, enquanto permanecer membro desta comunidade. Ainda assim, todos nós somos livres para pensar. Não podemos nem devemos ter controle sobre os livros que se leem, as músicas que se escutam, os programas que se assistem. Não devemos achar que somente a nossa igreja tem o caminho da salvação, nem querer que todos se conformem à nossa interpretação das Escrituras. Atitudes assim já foram tomadas, no passado, quando a Igreja tinha maior poder sobre a sociedade, e os resultados não foram plenamente satisfatórios. Aliás, muitas tragédias ocorreram como resultado destas tentativas de se padronizar a fé, como fez a Igreja Católica Romana durante séculos, e depois os primeiros reformadores, em seus respectivos territórios. Hoje, reformados, históricos, tradicionais, pentecostais, neopentecostais, e outros, convivem num relacionamento de mútuo respeito. Tolerar a fé alheia, porém, não significa abandonar as nossas convicções. Devemos tomar uma posição, com base na Bíblia, a Palavra da Deus, e segui-la. Devemos defender nosso ponto de vista e, se possível, convencer outros a seguirem conosco, mas não devemos temer a convivência com os que, sob nosso ponto de vista, teimam em ser errados, como se eles pudessem mudar nossas convicções.
Que o Senhor nos ajude a sermos mais eficientes em nossa missão de fazer discípulos, superando os medos que nos atrapalham: o medo de perder a vida, de perder a nossa posição, de perder as nossas convicções. Que nós possamos nos aperfeiçoar no amor a Deus e aos irmãos, pois, como diz 1Jo 4.18, “o amor perfeito lança fora o medo”.
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