sábado, 5 de setembro de 2015
Superando o medo
(Leia Mc 9.30-40)
Os cristãos têm uma missão, a de fazer discípulos. Jesus cumpriu a sua missão que, no seu caso, incluía o sacrifício de seu próprio corpo como propiciação pelos nossos pecados. Ele encontrou dificuldades no cumprimento de sua missão, pois o inimigo estava sempre procurando atrapalhar. Entre os instrumentos mais usados pelo inimigo para atrapalhar a nossa missão, está o medo. Precisamos aprender superá-lo. Este texto nos fala de três medos que, se não tratarmos, atrapalharão a nossa missão.
I – Medo de perder a nossa vida (30-32)
Partindo da região norte, passavam pela Galiléia, e não queria que ninguém o soubesse; porque ensinava os seus discípulos e lhes dizia: O Filho do Homem será entregue nas mãos dos homens, e o matarão; mas, três dias depois da sua morte, ressuscitará. Eles, contudo, não compreendiam isto e temiam interrogá-lo.
Os discípulos não compreendiam, e é provável que não quisessem compreender, a mensagem da cruz. Tinham medo até de perguntar sobre o assunto. Esta atitude parece ser uma estratégia de defesa, como aquelas que nós utilizamos quando não queremos ir ao médico, para que ele não descubra as doenças que temos, para que não fiquemos preocupados. Diante da realidade da mensagem da cruz, nós temos a tendência de fugir do assunto e de qualquer sofrimento que possa nos sobrevir por causa da nossa profissão de fé.
Antigamente era mais difícil falar de Jesus. As pessoas não eram tão abertas como são hoje. Uma vez, fui à casa de um amigo, que eu ganhara para Cristo, e chegou outro amigo dele. No meio da conversa, enquanto falávamos de nossa fé, o outro protestou: "Você não está querendo se tornar crente, está?". Embora fosse exatamente isto o que estava acontecendo, ou seja, meu amigo estava se tornando um crente, ele não teve coragem de admitir diante do outro amigo, e até eu mesmo me senti intimidado com a pergunta "recriminadora".
Talvez nossa integridade física não esteja em risco, como no caso de missionários em países não cristãos, mas sofremos psicologicamente nas rodas de amigos, de familiares, ou profissionais, sendo prejudicados por falar a verdade, enquanto as coisas são facilitadas para os que usam indiscriminadamente a mentira.
Havia mestres na Galácia, no tempo de Paulo, que queriam ostentar-se na carne, e constrangiam os gálatas a se circuncidarem, “somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo” (Gálatas 6.12).
Não podemos ter medo da morte, de negarmos a nós mesmos, perdendo “privilégios” da vida. Temos que entregar no altar de Deus o nosso corpo como sacrifício vivo, santo e agradável, para recebermos de volta a vida abundante. Como na história de Abraão, sacrificando Isaque, temos que ir com coragem até onde Deus mandar. Só assim a nossa missão terá chances de ser bem-sucedida.
II – Medo de perder a nossa posição (33-37)
Estando já em casa, em Cafarnaum, Jesus interrogou os discípulos: “De que é que discorríeis pelo caminho?” Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior. Então lhes disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” Trazendo uma criança, tomou-a nos braços, e disse: “Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me enviou.”
Os discípulos temiam perder a sua posição no reino vindouro. Articulavam, como políticos, um cargo, um ministério, e sabiam que para satisfazer suas pretensões, era necessário se organizarem numa hierarquia.
Evódia e Síntique, na igreja de Filipos, não estavam pensando concordemente (Fp 4.2), talvez por conflito de seus interesses. Ficamos ansiosos quando alguém ameaça invadir o nosso espaço. Às vezes agimos como um cão de guarda. Se alguém se aproximar demais do seu território, ele adverte com latidos. Mas, assim como nem todo o que se aproxima do quintal do cachorro é necessariamente uma ameaça, assim também nem todos os que transitam por nosso campo de atuação, são mal intencionados. E se forem, temos um protetor que é Deus. Ele é quem defende os interesses daqueles que estão ao seu serviço. De nossa parte, precisamos aprender a “sofrer o dano” (1Co 6.7), a “andarmos duas milhas”, a “darmos também a capa”, a “darmos a outra face” (Mt 5.39-41), a buscarmos ser os últimos e não os primeiros, a servir em vez de buscarmos ser servidos (Mc 10.45), a preferirmos em honra uns aos outros (Rm 12.10), a não fazermos nada por partidarismo ou vanglória (Fp 2.3).
É natural que gostemos de ser elogiados, de que as pessoas reconheçam os nossos feitos. Recentemente, uma família que estava afastada de nossa igreja, voltou. Foi para nós uma grande alegria. Numa situação assim, damos glória a Deus, e ficamos imaginando como é que isto aconteceu, de que maneira Deus trabalhou no coração destes irmãos. Eu e minha esposa tínhamos visitado esta família, não muito tempo atrás, então imaginei que Deus tivesse usado esta visita para tocar em seus corações. Mas, antes que eu pudesse me gloriar disto, outro irmão me confidenciou: “eu liguei ontem para eles, falando para virem na Igreja, e eles vieram!”. Pelo menos dois outros membros da Igreja também disseram que estavam orando por eles, e achavam que foram suas orações, que foram ouvidas. De quem, pois é a glória? De Deus, é claro, que nos usou em conjunto para demonstrar amor.
Jesus apresenta uma criança como ilustração de um crente sincero e humilde. Precisamos cuidar para não sermos para estes uma pedra de tropeço, brigando o tempo todo por espaço e reconhecimento. Não tenhamos medo de perder o nossa posição, pois o reconhecimento que realmente importa vem do Senhor, que tudo sabe e que tudo vê.
III – Medo de perder as nossas convicções (38-40)
Diante da lição de Jesus, João confessou: “Mestre, vimos um homem que, em teu nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não seguia conosco.” Mas Jesus respondeu: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de mim. Pois quem não é contra nós é por nós.
Ter convicções, para nós, é tão importante que, se alguém ameaça tentar mudá-las ou enfraquecê-las, temos atitudes inesperadas. Um pastor muito conhecido nosso, e respeitado, conta a história de que, na sua infância, antes de aceitar a Cristo, discutiu com um colega de escola. O outro dizia que ele não ia para o céu, pois não era da sua Igreja, e ele dizia que o outro é que não iria para o céu, pois sua Igreja era a mais correta. A discussão tornou-se mais e mais acalorada, até que o pastorzinho finalmente venceu o debate, desferindo um murro no nariz do coleguinha, que foi embora chorando e sangrando. Apesar de "vencer o debate", o vitorioso ainda estava incomodado em seu coração, pois na verdade, não tinha certeza de que ia para o céu, até que, aos nove anos, aceitou a Cristo como seu Senhor e Salvador.
Teria sido o medo de perder suas convicções, o que levou João a proibir um homem de expelir demônios? O homem não andava com eles, que direito tinha de expelir demônios em nome de Jesus? O que aquele homem ensinava, enquanto expelia demônios? Se ele fazia uma coisa boa, então deveria estar junto aos demais discípulos. Mas o homem não estava com eles. Fazia parte de outro grupo, e isto incomodava. Se alguém tinha algo bom para ensinar, uma obra boa para fazer, este alguém necessariamente devia fazer parte do grupo dos que andavam lado a lado com o único que tinha “as palavras da vida eterna”.
Mas, como Jesus ensinou noutra ocasião, não era o momento de separar o joio do trigo. É certo que há muitas seitas, muitos lobos em peles de ovelhas, muitos falsos mestres, que precisamos combater e alertar os incautos. Mas, por mais que isto nos incomode, temos que conviver com a diversidade de pensamentos. Nossa igreja, por exemplo, tem uma declaração de fé, pois isto é necessário para que nos identifiquemos como um corpo local. Se alguém não concordar com esta declaração de fé, está livre para desligar-se da igreja, e não deve tentar impor ideias divergentes, enquanto permanecer membro desta comunidade. Ainda assim, todos nós somos livres para pensar. Não podemos nem devemos ter controle sobre os livros que se leem, as músicas que se escutam, os programas que se assistem. Não devemos achar que somente a nossa igreja tem o caminho da salvação, nem querer que todos se conformem à nossa interpretação das Escrituras. Atitudes assim já foram tomadas, no passado, quando a Igreja tinha maior poder sobre a sociedade, e os resultados não foram plenamente satisfatórios. Aliás, muitas tragédias ocorreram como resultado destas tentativas de se padronizar a fé, como fez a Igreja Católica Romana durante séculos, e depois os primeiros reformadores, em seus respectivos territórios. Hoje, reformados, históricos, tradicionais, pentecostais, neopentecostais, e outros, convivem num relacionamento de mútuo respeito. Tolerar a fé alheia, porém, não significa abandonar as nossas convicções. Devemos tomar uma posição, com base na Bíblia, a Palavra da Deus, e segui-la. Devemos defender nosso ponto de vista e, se possível, convencer outros a seguirem conosco, mas não devemos temer a convivência com os que, sob nosso ponto de vista, teimam em ser errados, como se eles pudessem mudar nossas convicções.
Que o Senhor nos ajude a sermos mais eficientes em nossa missão de fazer discípulos, superando os medos que nos atrapalham: o medo de perder a vida, de perder a nossa posição, de perder as nossas convicções. Que nós possamos nos aperfeiçoar no amor a Deus e aos irmãos, pois, como diz 1Jo 4.18, “o amor perfeito lança fora o medo”.
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