segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Decepção


(Leia Mc 11.12-26)

A DECEPÇÃO PELA FALTA DOS FRUTOS (12-14)

No dia seguinte ao da entrada triunfal, quando saíram de Betânia, Jesus teve fome. "E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti!" O Rei ficou decepcionado com a figueira, figura que representava bem o povo de Israel, sobre quem ele fora proclamado rei no dia anterior. O Rei espera que os seus súditos lhe tributem dos seus frutos. Neste texto podemos ver que há pelo menos três frutos, esperados de Israel, os quais nós também devemos tributar ao nosso Rei Jesus:

I - TEMOR A DEUS E RESPEITO ÀS COISAS SAGRADAS (15-18)

Quando entrou no templo, "passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Não permitia que alguém conduzisse qualquer utensílio pelo templo;" porque os comerciantes usavam o seu pátio como um simples atalho, sem considerar que pisavam num local sagrado. Jesus os repreendeu: "Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em covil de salteadores." Quando os principais sacerdotes e escribas ouviram o que estava acontecendo, procuravam um modo de lhe tirar a vida. Em vez de atender à repreensão, mostrando temor a Deus, apenas se preocupavam com a manutenção da "ordem" e dos negócios lucrativos dos comerciantes que lhes pagavam seu devido quinhão.

Há uma música que, para cantamos na igreja, precisamos modificar uma frase. Originalmente, ela dizia: "(...) Hoje sirvo a ele sem temor (...)". O motivo de mudarmos a frase é que, se a tomarmos "ao pé da letra", ela estará em desacordo com as Escrituras, como, por exemplo: Salmos 2.11: "Servi ao SENHOR com temor e alegrai-vos nele com tremor.", e Filipenses 2.12: "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor".

Uma maneira de tributarmos ao Rei o fruto do temor, é nos lembrarmos que a Bíblia é sagrada. Não é um livro qualquer. Não devemos ler a Bíblia como qualquer outro livro, mas com reverência, com oração, com respeito, esperando que ela nos fale algo importante, algo que vai nos purificar, nos edificar, nos tornar mais capazes de agradarmos a Deus. Deve ser lida antes do jornal da manhã; antes, até mesmo, do texto "devocional". Outra maneira, é nos lembrarmos de que o templo em que nos reunimos para os cultos é sagrado. Até a nossa casa deve ser um lugar santo, para que o Senhor não veja ali abominação. O nosso corpo é sagrado, é o santuário do Espírito Santo, conforme 1Co 3.16,17: "Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado" . A nossa própria vida é sagrada, por isso devemos começar e terminar o dia sempre com oração. Também devemos orar durante o dia, reconhecendo sempre a presença do Senhor, e que a sua misericórdia é a causa de não sermos consumidos, conforme Lm 3.22,23: "As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade."

II - FÉ (19-24)

Quando chegou a tarde a tarde, voltaram para Betânia. E, passando eles na manhã seguinte, viram que a figueira secara. Ao ser avisado por Pedro, Jesus lhes disse: "Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco."

Sem fé é impossível agradar a Deus; ele responde as nossas orações, e espera que nós confiemos nele como conseqüência desta certeza. Em Lc 18.1-8, Jesus conta uma parábola sobre oração, em que uma viúva pede a um juiz iníquo para julgar a sua causa contra o seu adversário. De tanto insistir, ela conseguiu convencer o juiz a ajudá-la. Então faz a aplicação: "Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?"

Deus tem dado, na história, grandes respostas de oração, como a libertação de Pedro da prisão, em At 12.5-16, e a resposta com fogo à oração de Elias em 1Rs 18.36-38; Nestes dois casos, curiosamente, logo após a grande resposta, há demonstrações de falta de fé. Os que oravam pela libertação de Pedro, custaram a acreditar que era ele batendo no seu portão, e Elias, logo depois de receber os milagres, foge com medo da rainha Jezabel.

Quem crê nas respostas de Deus às orações, pode fazer grandes coisas, e dar testemunho ao mundo, como fez, por exemplo, George Müller (1805-1898). Ele sensibilizou-se com a triste condição dos muitos órfãos abandonados, na Inglaterra de seus dias, e creu que podia acolhê-las em orfanatos, confiando somente na provisão de Deus através da oração. Na Wikipedia lemos a seu respeito, que, até o dia em que morreu, em 1898, Müller recebeu £ 1.500.000 (US$ 2,3 milhões, R$ 9 milhões) por meio da oração, e teve mais de 10.000 crianças sob seus cuidados (disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/Ashley_Down - acesso em: 13/10/2015).

Um jornal de Liverpool, comentando sobre a sua vida e obra, escreveu: " Müller disse ao mundo que (sua obra) foi resultado de oração. O racionalismo de hoje zombará desta declaração. Mas os fatos permanecem, e permanecem para serem explicados. Não seria científico desdenhar das ocorrências históricas quando elas são difíceis de esclarecer. E seria necessário muito truque para fazer os orfanatos em Ashley Down sumirem da vista." (Disponível em: http://www.gilsonsantos.com.br/pdfs/george_muller.pdf - Acesso em: 13/10/2015)

Charles Dickens, autor do livro "Oliver Twist", visitou o seu orfanato e fez um relatório favorável, em 1857. Sua impressão sobre este homem de fé foi a de que "George Müller se preocupa com o órfão, e tem realizado em sua própria maneira um substancial trabalho que deve assegurar-lhe o respeito de todos os homens de bem, qualquer que seja a forma de sua fé religiosa." (Household words - BUCKINGHAM LIBRARY - UNIVERSITY OF BUCKINGHAM disponível em: http://www.archive.org/stream/householdwords16dick/householdwords16dick_djvu.txt - Acesso em: 13/10/2015 - tradução minha).

Se temos recebido respostas de oração, grandes e pequenas, porque não tributarmos ao Rei o nosso fruto da fé, de confiança, de fidelidade?

III - INDULGÊNCIA (disposição para perdoar culpas ou erros; clemência, misericórdia) (25-26)

Deixando de lado a figueira seca, que não era importante naquele momento, Jesus falou aos discípulos sobre a importância de orar com fé, e acrescentou: "quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas."

Segundo os psicoterapeutas, a prática do perdão é essencial para a saúde do indivíduo, pois quem perdoa, se liberta de uma auto-tortura. Num artigo de Abílio Diniz, ele cita a psicoterapeuta Olga Tessari, dizendo que "não há força de vontade que possa eliminar as lembranças da vida, já que todos os acontecimentos ficam gravados no inconsciente. Por outro lado, com o perdão, é possível se livrar da angústia causada pelas mágoas passadas. “Não esquecemos os fatos que nos feriram, mas podemos parar de sofrer por causa deles. A pessoa que realmente perdoa, para de se torturar pelo ocorrido e o considera apenas um capítulo da sua história.” (disponível em: http://abiliodiniz.com.br/qualidade-de-vida/amor/o-poder-do-perdao/ - Acesso em: 13/10/2015)

A indulgência, neste contexto, vai além do conceito tradicional que temos de perdão. Você já deve ter ouvido ou até mesmo usado a expressão "não deixem que montem em cima de você", significando que temos que nos proteger daqueles que querem se aproveitar de nossa bondade. Mas o sentido do perdão, neste contexto, é justamente isto. A mesma palavra grega traduzida como "perdoai" no versículo 25, e como "permitia" no versículo 16, foi traduzida como "deixa-lhe" em Mateus 5.40: "e, ao que quer demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa." Podemos parafrasear este versículo, usando uma linguagem coloquial de nossos dias, dizendo: "se alguém quiser se aproveitar de você, deixe logo que monte em cima". Certamente isto não vale para todas as situações, mas vale para muitas situações em que estamos brigando, fazendo questão de certos direitos, perdendo a paz com o próximo e, junto com isto, o perdão e a comunhão com Deus. Em vez disto, deveríamos estar pagando o tributo de indulgência, para a glória do Reino de nosso Senhor Jesus Cristo.

Será que nós temos causado decepção ao nosso Rei, por deixarmos de tributar a ele os frutos de temor, desrespeitando as coisas sagradas? Será que temos nos comportado como homens e mulheres de pequena fé, andando ansiosos em vez de confiarmos em seu amor e poder através da oração? Temos deixado de ser indulgentes, de perdoar e deixar de lado as ofensas que sofremos, pela causa maior do Reino de Deus? Que o Senhor nos ajude a sermos bons súditos, tributando a ele tempestivamente os devidos frutos.

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