quinta-feira, 26 de novembro de 2015

O princípio das dores



(Leia Mc 13.1-13)


Quando eu vou à capital de São Paulo, fico feliz e admirado ao contemplar as grandes e antigas construções seculares. Ao mesmo tempo, fico entristecido, pois sei que, assim como aconteceu com as civilizações antigas, é quase certo que, em algum momento do futuro, ali, não ficará pedra sobre pedra.

Engano e violência

Um dia, ao sair Jesus do templo, os seus discípulos comentaram a respeito das grandes pedras, e das construções no lugar do Templo, mas Jesus disse que aquilo tudo seria derrubado, e não restaria pedra sobre pedra. No monte das Oliveiras, defronte do templo, lhe perguntaram em particular sobre quando sucederiam estas coisas, e que sinal haveria quando todas elas estiverem para sem cumprir. A resposta de Jesus foi que muitos viriam em seu nome, enganando a muitos, e se ouviriam falar de guerras e rumores de guerras, e se levantaria nação contra nação, e haveria terremotos em vários lugares e também fomes. Ele chamou este tempo de “princípio das dores“.

Alertou-os para ficarem de sobreaviso, porque seriam entregues aos tribunais e às sinagogas; seriam açoitados, e os fariam comparecer à presença de governadores e reis, para servir de testemunho.

Que o evangelho seria pregado a todas as nações. Que o Espírito Santo os assistiria, mas que seriam odiados de todos por causa do nome de Cristo; aquele, porém, que perseverasse até ao fim, esse seria salvo.

Alguns irmãos em Cristo acreditam que todos estes acontecimentos, previstos por Jesus nesta profecia, já se cumpriram. Eu, porém, acho que este texto também nos diz respeito, e que muito do que foi dito está se cumprindo e se cumprirá.

Muitos vieram, na história, e continuam vindo, em nome de Cristo, enganando e causando guerras. Nações se levantaram contra nações em nome de Cristo, e até guerras civis tiveram o cristianismo nominal como motivação, lutando cristãos contra cristãos.

A violência não é própria do cristianismo. Muitos líderes que se dizem cristãos, porém, têm abusado de sua autoridade e se utilizam de muita violência.

No começo da era cristã, a igreja obedecia aos preceitos de Jesus, e se submetia aos opressores sem reação. Mas com a expansão do evangelho e principalmente com a conversão de imperadores, o quadro foi se modificando.

O historiador Alderi Souza de Matos, num artigo intitulado “Atitudes dos Cristãos em Relação à Guerra no Decorrer da História”, relata que “na época das invasões dos bárbaros, o grande bispo e teólogo Agostinho de Hipona (354-430) deu expressão à nova mentalidade formulando a teoria da guerra justa (…). Foi somente no século 11 que se extinguiu definitivamente a atitude pacífica da igreja antiga, sendo substituída pela glorificação do homem de combate (...). O cristianismo medieval testemunhou uma crescente legitimação da violência em nome de Deus. A liturgia passou a incluir a consagração das armas e dos estandartes de guerra. Surgiram as ordens religiosas militares, como os templários, os hospitalários e os cavaleiros teutônicos (…). Teólogos da época, tais como Graciano e Tomás de Aquino, criam que a guerra era uma condição necessária da sociedade e pouco se preocuparam em tratar do problema da violência (…). Thomas More e Erasmo de Roterdã (na era da igreja reformada), condenaram as novas formas de violência. Eles observaram que Cristo não promoveu o seu reino pela força, mas pelo amor, e acusaram a igreja de se tornar uma serva obediente de príncipes ambiciosos e sanguinários.” (Atitudes dos Cristãos em Relação à Guerra no Decorrer da História - Alderi Souza de Matos - disponível em: http://www.mackenzie.br/7143.html – Acesso em: 18/11/2015).

Nós somos cristãos verdadeiros e não queremos nos envolver em violência, certo? Porém, se viessem nos roubar no templo da igreja, não chamaríamos a polícia? E a polícia não usa de violência? A realidade da violência ao nosso redor nos deixa constrangidos, mas Jesus mesmo disse que "é necessário assim acontecer".

O mundo está duvidando da sinceridade dos que se dizem seguidores de Cristo, e não temos muitos argumentos para rebatê-los, por causa da história comprometedora da igreja nominal. A reação às notícias como a do terrorismo na última sexta-feira 13, divulgada pela mídia, ilustra bem a tendência da população. O jornalista Pedro Bial, no encerramento do programa Fantástico, da TV Globo, em 15/11/2015, revelou revolta contra atos de violência em nome de religiões, e a generaliza, através da frase: “Por Deus, não me venham falar em Deus, deixem que os homens resolvam isto como homens”. Um pianista desconhecido acabou ficando famoso ao fazer uma homenagem às vítimas do atentado, no dia seguinte, em frente ao Bataclan, tocando a música Imagine, de John Lennon. As pessoas pararam para ouvir e se comoveram, e a TV mundial transmitiu. É significativa a escolha da música tocada, cuja parte da letra, traduzida, diz o seguinte: “Imagine que não há paraíso; é fácil se você tentar; nenhum inferno abaixo de nós; acima de nós apenas o céu; imagine todas as pessoas vivendo para o hoje; imagine não existir países; não é difícil de fazer; nada pelo que matar ou morrer; e nenhuma religião também; imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”. O sentimento revelado nestas duas manifestações mostra que, para muitos, e talvez para a maioria da população, a solução para a paz inclui acabarem com a religião, como se ela fosse “a raiz de todos os males”.

O que Jesus pede para nós, de não resistirmos ao perverso, de darmos a outra face, é algo muito duro. Como poderemos suportar? Quanto mais estivermos ligados às coisas terrenas, mais difícil para nós será suportar este conceito. O reino dos céus não é compatível com este mundo. Paulo já disse desde o começo que por causa das angústias do tempo presente, é melhor o homem permanecer como está, sem preocupar-se até mesmo em casar-se (1Co 7.26). Em 1 Coríntios 7.29-31 ele afirma: "Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa."

Quando a violência se voltar contra nós, devemos nos lembrar das palavras de Jesus em Lc 21.12-19: "Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto vos acontecerá para que deis testemunho.(…) E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma."

Catástrofes

Terremotos, epidemias e fomes, vindos aparentemente por intervenção divina, também afligiram e afligirão os povos. Catástrofes chamadas de naturais devem se intensificar antes da volta de Cristo, mas para muitos elas têm sido uma realidade bem presente. Coisas ruins, grandes e pequenas, atingem também o povo de Deus. Uma ventania derrubou a moto de um irmão ontem; ela caiu sobre outro carro, gerando prejuízo financeiro e aborrecimento. Outro casal foi assaltado com mão armada, e levaram-lhes dinheiro e celulares. A filha de um pastor, bem conhecido de nós, está neste momento em coma induzido, e seu jovem irmão sofreu um pré-infarto. Por que coisas assim acontecem? E por que Deus permite que outros cristãos sejam perseguidos, justamente quanto decidem se dedicar totalmente a Deus? Não sabemos. Mas estas coisas, embora nos aflijam muito, nem podem ser comparadas com a manifestação da ira de Deus através de fenômenos catastróficos da natureza, para juízo de um mundo pecador.

Esfriamento do amor

O amor natural está se esfriando cada vez mais. Não é novidade, na história, acontecer que filhos matem pais, irmãos matem irmãos, mães abandonem filhos, e outras tragédias semelhantes. Mas é visível o aumento e a banalização destas ocorrências nos últimos anos. Mateus 24.12 nos dá mais detalhes, dizendo que isto acontece por causa da multiplicação da iniquidade.

Parafraseando a parábola da figueira, “quando as mangas começam a brotar, sabemos que está próximo o verão”. Então, quando vimos acontecerem estas coisas, sabemos que o tempo está próximo. O Templo já foi destruído. Muitos vieram e continuam vindo em nome de Cristo, enganando a muitos. Houve e continua havendo muitas guerras e rumores de guerras, terremotos e fomes. Milhares de mártires testemunharam através dos séculos, e continuam testemunhando; o evangelho tem sido pregado a todas as nações. Trabalhemos, pois, enquanto é dia, e fiquemos de sobreaviso.

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