quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Pouco, mas tudo


"Assentado diante do gazofilácio, observava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias. Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento" (Mc 12.41-44).

Se fizéssemos uma vaquinha para comprar um pote de sorvete, entre os que estavam presentes no último culto de domingo, e pedíssemos a cada um o valor de um real, talvez conseguíssemos comprar dois potes de sorvete. Alguns dariam um real, sem problemas. Alguns dariam até mais, talvez o pote inteiro. Outros, porém, teriam dificuldades, porque poderia faltar para pagar o ônibus, ou para comprar o pão. Alguns diriam: eu não vou dar, porque não gosto de sorvete. Outros não dariam porque acham um absurdo fazer uma vaquinha na igreja, e talvez alguém faria um longo discurso a respeito do mal que o sorvete pode causar à saúde. Se fizéssemos uma coleta para missões, ocorreria coisa similar. Mas, e se Deus nos pedisse a cada um, agora, tudo o que temos? Eu digo que provavelmente só os mais pobres atenderiam a este apelo.

Existem hoje, no mundo, grandes doadores, como Bill Gates, criador de uma fundação que movimenta atualmente cerca de R$ 159 bilhões em doações (fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/fundacao-bill-gates-processa-petrobras-por-perdas-diz-agencia.html - Acesso em: 15/11/2015). Será que Deus se agrada mais de Bill Gates do que de alguém que dá um copo de água para uma pessoa sedenta? Depende. Se a pessoa sedenta for um atleta famoso e a pessoa que dá o copo de água for um integrante da equipe do patrocinador que lhe dá assistência, isto não seria um grande feito. Mas, se a pessoa sedenta for o seu inimigo, e o copo de água for o único disponível no seu cantil, no meio do deserto, e você fizer isto em nome de Jesus, Deus se agradará muito de você.

A viúva pobre deu uma oferta que, para ela e para Deus, era valiosíssima. Todo o seu sustento (a sua "bios", no grego). Daquele gazofilácio, naquele dia, os oficiais do templo devem ter recolhido grandes somas. Ficaram muito felizes com as centenas, talvez milhares de denários ali depositados, mas Deus estava olhando, lá do céu, para aquelas duas moedinhas, e pensando em como iria abençoar aquela pobre viúva, que o comovera com sua significativa oferta.

Qual foi a oferta que nós demos hoje, para o Senhor? Dois reais, cem reais, quinhentos reais? Ou talvez nossa oferta não tenha sido em dinheiro. Talvez ofertamos, em nome de Jesus, um sorriso gentil àquela pessoa que nem notou, porque virou o rosto. Talvez acordamos mais cedo e oramos por alguém que, nem de longe, imagina que as bênçãos em sua vida são resposta de nossas orações diárias. Talvez tenhamos chegado na igreja em meio a angústias, dores, mal estar, só porque não queríamos perder o culto. Deus não vai se esquecer nunca da nossa oferta de amor. Ele vai nos abençoar por causa disto.

Se queremos agradar mesmo a Deus, não tem nada melhor do que darmos tudo a ele. Abraão agradou a Deus porque deu o seu único filho (da esposa legítima - Gn 22.2). Deus podia ter pedido a Abraão o sacrifício de Ismael, o filho da escrava Hagar, ou então Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque ou Suá, filhos de Quetura (Gn 25.2), ou então um dos filhos de suas concubinas. Mas não. Só o sacrifício de Isaque, o filho da promessa, agradaria a Deus. Moisés ensinou em Deuteronômio 4.29 que só acharíamos o Senhor quando o buscássemos de todo o coração e de toda a alma. Em Deuteronômio 6.5, ordenou: "Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." Salomão agradou um pouco a Deus, mas não como o seu pai Davi, cujo coração "era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus" (1Reis 11.4). Jeroboão, o primeiro rei do norte de Israel, foi repreendido porque não foi como Davi, que guardou os mandamentos de Deus e andou após ele de todo o seu coração (1Reis 14.8). Josias foi elogiado em 2Reis 23.25, porque se converteu ao SENHOR "de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a Lei de Moisés". Todas estas pessoas foram ricas e influentes, e mereceram menção especial na Bíblia. Mas quando Deus enviou Jesus para evangelizar e salvar, mandou-o especialmente aos pobres, conforme os seguintes versículos:

"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres ; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos" (Lucas 4.18 ).

"Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus" (Lucas 6.20).

"Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho" (Lucas 7.22).

Os ricos, como José de Arimatéia (Mt 27.57) e Zaqueu (Lc 19.2), também tiveram sua oportunidade, mas foram raros os convertidos ricos, conforme Jesus observou em Mt 19.23, que "um rico dificilmente entrará no reino dos céus". Aos ricos foi proclamado, no sermão da planura, um "ai", porque eles já tinham a sua consolação (Lucas 6.24). Hoje em dia, desfrutamos de muito mais privilégios do que os ricos da antiguidade, sem precisarmos ser tão ricos, mas somos advertidos em Apocalipse 3.17 que, embora possamos nos considerar ricos e abastados, que não precisamos de coisa alguma, ainda assim podemos ser infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus, se a nossa riqueza não vier de Deus.

Ficamos chocados com o atentado que ocorreu na última sexta-feira, na França, e admirados ao reconhecer que os terroristas tinham muita fé, a ponto de se explodirem no cumprimento de sua missão. Sua fé, que achamos infundada, é a de que recebem recompensas eternas por se entregarem totalmente àquela causa.

Para agradar a Deus, não precisamos ser extremistas, que matemos ou morramos, como os terroristas, mas devemos entregar a ele tudo o que somos, tudo o que temos. Se ele nos chamar para sermos missionários nos países muçulmanos, ou entre índios no Brasil, e tivermos certeza desta chamada, então devemos obedecer. Para a maioria de nós, porém, Deus tem um chamado para ficarmos onde estamos, e às vezes isto significa entregarmos o nosso desejo de aventura, e até coisas tão pequenas quanto duas moedinhas, mas que fazem muita diferença para o nosso sábio e misericordioso Senhor. Ele pedirá que demos aquele sorriso gentil, àquela pessoa, que virou o rosto. Pedirá também um gesto de amor do marido para com a esposa, que vá além de dizer eu te amo e comprar-lhe flores. Talvez um dia lavar a louça, ou passar pano no chão. Pedirá para engolirmos o nosso orgulho, os nossos desejos, os nossos sonhos, as nossas preferências, para glorificarmos a Jesus, e fazermos a sua vontade, e perseguirmos os seus propósitos, do jeito dele, e não do nosso.

E então? Vamos fazer uma vaquinha? Ou vamos doar tudo o que temos? Antes de dar a resposta, vamos ler dois versículos:

"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1 ).

"(...) se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lucas 9.23).


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