terça-feira, 26 de março de 2019

Planos frustrados (Atos 9.23-31)

Muitas pessoas, que se tornaram famosas por seu grande sucesso, passaram antes por rejeições, ou tiveram grandes fracassos. Além de muitos personagens bíblicos, podemos citar Thomas Edison, Bill Gates, Albert Einstein, Henry Ford, entre outros. Este último já teve duas empresas fracassadas, antes da criação da Ford Motor Company, e até mesmo nos anos finais de sua vida não foi isento de fracassos, inclusive de um investimento milionário feito na Amazônia brasileira, a Fordlândia.


A história não foi diferente com o novato apóstolo Saulo. Este parágrafo de Atos 9.23-31 nos apresenta o que parece ser uma sequência de planos frustrados daquele que se tornaria o maior evangelizador do mundo. Antes do sucesso, porém, era preciso que Saulo se ajustasse aos planos de Deus, pela fé. Vamos falar um pouco sobre os planos frustrados de Saulo, em contraste com os planos do Senhor.


Projeto Damasco (23-25)


"Decorridos muitos dias, os judeus deliberaram entre si tirar-lhe a vida; porém o plano deles chegou ao conhecimento de Saulo. Dia e noite guardavam também as portas, para o matarem. Mas os seus discípulos tomaram-no de noite e, colocando-o num cesto, desceram-no pela muralha".


Parece que Saulo decidiu começar, o quanto antes, seu mistério de pregação, mas seu ministério não “deslanchava”. Talvez tivesse a intenção de converter Damasco, e por isso pregava com tanta eloquência, que confundia os judeus, demonstrando que Jesus era o Cristo.


Um jovem de nossa igreja, há muito tempo atrás, ficou encantado com um projeto de evangelização numa grande favela em São Paulo. Seu alvo era ganhar 300 mil almas para Cristo. Nosso pastor, mais experiente, tentou dissuadi-lo, vaticinando que esse projeto, da maneira como planejava executar, em vez de glorificar a Deus, iria afastá-lo da Igreja, uma vez que, indo morar em São Paulo, perderia o vínculo com a congregação, onde ainda estava sendo treinado como obreiro. Argumentou que, se estava pronto para evangelizar na favela, por que não evangelizava seus vizinhos, sua casa, seus colegas de trabalho? Recebeu como resposta um versículo que diz: “[...] Não há profeta sem honra, senão na sua terra, entre os seus parentes e na sua casa” (Marcos 6.4). O velho pastor, então, retrucou: “quem disse que você é um profeta, para poder aplicar este versículo para si”? Não obstante, o jovem, encantado, se foi, seguindo seus planos. Dos 300 mil convertidos, porém, nunca mais ouvimos falar.


Saulo nunca chegou a estabelecer uma igreja em Damasco, como fez em outras regiões mais tarde, no tempo determinado por Deus. Em vez disso, a situação ficou tão insustentável, que teve que elaborar um “plano B”, desta vez para fugir da cidade fortemente vigiada. E para isso contou humildemente com a ajuda dos demais discípulos, que o desceram dentro de um cesto, pelas altas muralhas.


Projeto Jerusalém (26,27)


"Tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo. Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de Jesus".


Saulo quis ajuntar-se com os discípulos em Jerusalém, mas não acreditaram nele. Precisou da intervenção de Barnabé para ter acesso aos apóstolos, mesmo assim, só conseguiu falar com Pedro e com Tiago, conforme Gálatas 1.18,19. Qual seria agora o plano de Saulo? Será que planejava se estabelecer em Jerusalém, fortalecendo a base dos apóstolos, para dar apoio aos demais missionários?


Uma vez li sobre uma estratégia de missões, em que procuravam apoiar o envio de brasileiros para países como o Iraque, onde americanos eram muito rejeitados pelo povo, mas brasileiros eram bem-vindos, e podiam assim ser mais eficientes na evangelização. Será que uma coisa semelhante passou pela cabeça de Saulo? Já que era muito visado e não podia pregar livremente sem que os judeus o perseguissem, poderia ficar em Jerusalém e treinar outros que tivessem maior acesso entre o povo, e menor expressão pública. Se tinha um plano assim, é certo que não vingaria, pois não poderia contar com o apoio da maioria dos discípulos de Jerusalém, os quais nem acreditavam que ele fosse, de fato, discípulo.


Projeto helenistas (28-30)


"Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e discutia com os helenistas; mas eles procuravam tirar-lhe a vida. Tendo, porém, isto chegado ao conhecimento dos irmãos, levaram-no até Cesaréia e dali o enviaram para Tarso".


Persistindo ainda em seu ministério, direcionou seus esforços para evangelizar os helenistas, um grupo de judeus menos conservadores, que falavam a língua grega e não eram tão rigorosos quanto às tradições, como eram os fariseus. Esse plano podia parecer bem razoável, visto que Saulo podia compreender muito bem o seu modo de pensar, já que nascera em meio aos judeus da Cilícia, onde a maioria era simpática à cultura grega. Podia até ser um plano bem pensado, mas, o principal resultado foi a deportação para sua terra natal, para o bem de sua segurança.


Os planos do Senhor (31)


"A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número".


Os planos do Senhor, porém, não podem ser frustrados. Ele tinha planos de que a igreja tivesse paz, e que se edificasse, caminhasse no temor do Senhor e, no conforto do Espírito Santo, crescesse em número.


Pode ser que Saulo, até aquele momento, estivesse ainda trabalhando no seu próprio entendimento, como Sara e Abraão, que “ajudaram Deus” com o “projeto Hagar” (Gênesis 16.1,2), ou como Rebeca e Jacó, com seu “projeto primogenitura” (Gênesis 25.23; 27.5-10), ou ainda como os apóstolos, no “projeto décimo segundo” (Atos 1.15-26). Saulo bem poderia ter seu próprio projeto de evangelização, que não estava dando certo, mas talvez não imaginasse que tudo fazia parte do plano de Deus, que já estava, sim, em todas aquelas dificuldades, realizando os seus propósitos.


Imagino que Saulo era um jovem que gostava de ser independente, que era bem seguro de si, consciente de sua inteligência, superior aos demais de sua idade (Gálatas 1.14). Devia ser cheio de ideias, de críticas ao sistema vigente. Agora, que era um cristão, e apóstolo recrutado diretamente pelo Cristo ressuscitado, poderia fazer, da maneira certa, o trabalho do apostolado, de modo que frutificasse sobremaneira. Mas o Senhor tem uma maneira especial de trabalhar com os seus servos, de conduzi-los amorosamente à humildade e à simplicidade, para que a glória nunca seja do “vaso de barro”, mas de Deus (2Co 4.7). Saulo podia pensar que já estava maduro para o ministério, mas não. “Muitos propósitos há no coração do homem, mas o desígnio do SENHOR permanecerá” (Provérbios 19:21). 


(*) Imagem do cabeçalho disponível em: https://www.heliopeixoto.com/planos-de-deus-nao-podem-ser-frustrados/#.XJocwPdKiUk Acesso em 26 mar. 2019.


(**) citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em Português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


 

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