domingo, 20 de dezembro de 2020

Qual é a sua vocação? (Atos 15.1-5)


Quando um jovem vai escolher qual faculdade cursar, aconselha-se fazer, antes, um teste vocacional, para diminuir o risco de escolher um curso com o qual não se dê muito bem. Assim como os indivíduos, as instituições também têm suas vocações, que têm como base o ideal dos fundadores e dos seus próprios membros.

Jesus Cristo é o fundador da igreja, e seus membros que, não à toa, são chamados de cristãos[1], procuram imitar o seu Mestre. Se fôssemos aplicar, então, um teste vocacional à igreja hoje, qual seria o resultado?

Este parágrafo de Atos 15.1-5 mostra o andar de uma igreja jovem, que caminhava para o amadurecimento. Suas vocações, porém, são as mesmas que identificam as igrejas de um modo geral, ainda hoje.

Uma igreja vigilante (1,2)

Alguns indivíduos que desceram da Judeia ensinavam aos irmãos: Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos. Tendo havido, da parte de Paulo e Barnabé, contenda e não pequena discussão com eles, resolveram que esses dois e alguns outros dentre eles subissem a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, com respeito a esta questão.

A primeira vocação vista neste parágrafo é a que identifica a igreja como vigilante, atenta ao que está sendo ensinado, se está de acordo com a sã doutrina, repelindo aproveitadores que desejam explorar a boa fé, ou que distorcem a Palavra por motivo de ignorância.

Foi por causa desta vocação de vigilância que Paulo e Barnabé contestaram os indivíduos que desceram da Judeia, os quais, com ensinos supostamente bíblicos, mas fora do contexto da Nova Aliança estabelecida em Cristo, acabaram gerando grande discussão que precisou ser tratada com disciplina, até ao ponto de terem que subir a Jerusalém, aos apóstolos e presbíteros, para tratar da questão.

É comum, ainda hoje, nas igrejas, a atuação de pregadores que, por má fé ou por ignorância, levantam-se para trazer doutrinas e aplicações equivocadas, ignorando total ou parcialmente o contexto dos versículos bíblicos, os quais citam com tanta veemência.

Quando falamos de ignorância, na visão do escritor português Arménio Miranda[2], ela pode ser classificada em três tipos:

Ignorância positiva

[...] é a ignorância dos sábios. A Ignorância daqueles que sabem que pouco sabem daquilo que podem saber, porque sabem que entre o mundo absoluto e inatingível de Deus e o mundo efémero dos homens ainda existe outro mundo ao seu alcance – o mundo ignorado, o mundo ignoto. [...] têm a humildade de ostentar a sua Ignorância e de se questionar, questionar os outros e gostar de ser questionado [...]

Ignorância negativa

[...] A Ignorância daqueles que têm uma necessidade paranoica de ter sempre razão. [...] A nossa Ignorância é Negativa quando não assumimos que somos ignorantes e a ostentamos com prepotência, recusando-nos a questionarmo-nos, a questionar os outros e irritando-nos quando somos questionados. Quando temos poder, impomo-la. [...] A sua especialidade está em criar problemas para as soluções [...].

Santa Ignorância

A ignorância dos mais conformados e felizes. Desconhecem os perigos mais iminentes que estão nas mãos dos seus semelhantes. [...] É a Ignorância dos felizes. [...] Como é bom desconhecer que um dia o nosso planeta pode ficar estéril com uma catástrofe provocada pelo Homem. A Santa Ignorância é aquela que faz as pessoas mais felizes: não sabem, não procuram saber e admiram-se ou não se importam com quem sabe.

Paulo sempre incentivou a igreja a ser vigilante e lutar contra a ignorância, alertando sobre estas coisas em suas cartas, como nos trechos de Colossenses 2.4-18 reproduzidos abaixo:

[...] ninguém vos engane com raciocínios falazes [...], conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo; [...] Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo [...].  Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados, [...] Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado, sem motivo algum, na sua mente carnal [...].

Se a igreja se mantiver vigilante, examinando as Escrituras a exemplo dos bereanos (Atos 17.11), se protegerá da ignorância e se edificará de forma sadia para a glória de Deus.

Uma igreja alegre (3)

Enviados, pois, e até certo ponto acompanhados pela igreja, atravessaram as províncias da Fenícia e Samaria e, narrando a conversão dos gentios, causaram grande alegria a todos os irmãos.

O melhor caminho da Síria para a Judeia passava pela Fenícia e Samaria, mas o trecho que passa por Samaria era evitado pela maioria, já que os judeus não se davam com os samaritanos, conforme é dito em João 4.9. Para aqueles discípulos, porém, as fronteiras entre a Judeia, Samaria e Gentios estavam revogadas em Cristo. Chegara o dia, mencionado pelo Senhor, em que os verdadeiros adoradores adorariam a Deus em espírito e em verdade (João 4.23).

E eles verdadeiramente adoraram a Deus, tanto na província da Fenícia como em Samaria, demonstrando a vocação de uma igreja alegre, onde não havia mais lugar para o preconceito. Todos podiam se alegrar juntos pela conversão dos gentios, unidos agora com judeus e samaritanos.

A alegria às vezes vem facilmente, mas outras vezes precisa ser, digamos, meio “forçada”. Foi o que aconteceu com os exilados que voltaram para sua terra no tempo de Esdras e Neemias, quando se reuniram para ouvir a Palavra de Deus:

Neemias, que era o governador, e Esdras, sacerdote e escriba, e os levitas que ensinavam todo o povo lhe disseram: Este dia é consagrado ao SENHOR, vosso Deus, pelo que não pranteeis, nem choreis. Porque todo o povo chorava, ouvindo as palavras da Lei. Disse-lhes mais: ide, comei carnes gordas, tomai bebidas doces e enviai porções aos que não têm nada preparado para si; porque este dia é consagrado ao nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do SENHOR é a vossa força. Os levitas fizeram calar todo o povo, dizendo: Calai-vos, porque este dia é santo; e não estejais contristados. Então, todo o povo se foi a comer, a beber, a enviar porções e a regozijar-se grandemente, porque tinham entendido as palavras que lhes foram explicadas (Neemias 8.9-12).

Este cenário até se parece com nossas celebrações de Natal, não é mesmo? Às vezes é difícil ser alegre quando temos tantas lembranças tristes. Mas na igreja, seja de maneira espontânea, seja com um pouco de esforço, é preciso que nos ajustemos a esta vocação, e nos alegremos na presença daquele que nos concedeu salvação.

Uma igreja conciliadora (4,5)

Tendo eles chegado a Jerusalém, foram bem recebidos pela igreja, pelos apóstolos e pelos presbíteros e relataram tudo o que Deus fizera com eles. Insurgiram-se, entretanto, alguns da seita dos fariseus que haviam crido, dizendo: É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.

Este evento em Jerusalém é considerado o primeiro concílio da Igreja. Este e outros concílios na história foram promovidos como uma forma de se resolverem dúvidas doutrinárias importantes como, por exemplo, os livros que deveriam compor o cânon da Bíblia, a divindade de Cristo, e a Santíssima Trindade.

Mas os concílios, cujos objetivos são estabelecer doutrinas para o bem da união, não são capazes de impedir as divisões. Nestes cerca de dois mil anos, houve pelo menos duas grandes divisões, que foram o Cisma, em 1054, e a reforma protestante em 1517.

Entre os que seguiram o movimento da Reforma foram evidenciadas outras subdivisões, entre Zuínglio e Lutero, calvinistas e arminianos, Batistas e Presbiterianos, Anglicanos e Puritanos, Metodistas, pentecostais e tradicionais, e nos tempos atuais o fracionamento é praticamente a regra.

Já ouvi um jovem de uma igreja pentecostal se referindo aos irmãos das demais igrejas como “samaritanos”. E já ouvi muitos jovens de igrejas chamadas reformadas se dirigindo aos irmãos de igrejas pentecostais como hereges. Um grande debate, hoje, divide os crentes evangélicos em arminianos e calvinistas. Há também irmãos que nunca ouviram falar nada disto.

As igrejas precisam constantemente ser lembradas de que podemos debater nossas ideias sem sermos preconceituosos, considerando que os irmãos que defendem o outro ponto de vista merecem nosso respeito, principalmente ao reconhecermos que os concílios não conseguem conciliar tudo.

Batistas e Presbiterianos, por exemplo, apesar de serem bem próximos na forma de culto e de doutrina, trazem em suas origens profundas diferenças, como ressalta Vernon C. Lyons[3]:

Um evento de grande importância, mas muitas vezes não lembrado, é o Segundo Concilio de Speier no dia 25 de abril de 1529. [...] Phillip Schaaf, em sua "História da Igreja Cristã," Tomo VII, p. 692 afirma que "A partir deste protesto e apelo os Luteranos foram chamados ‘Protestantes.’[...]." Os Batistas de então não fizeram parte deste protesto e consequentemente não podem levar o nome "Protestante" [...] Além disso, o credo dos Batistas não é a Confissão de Augsburg, os Canons de Dort, ou a Confissão de Westminster, mas a simples Palavra de Deus. Assim é impossível identificar os Batistas como Protestantes.

Estas diferenças entre as várias vertentes de doutrinas cristãs, no entanto, não anulam a possibilidade do amor e da comunhão, numa igreja que é conciliadora.

Conclusão

Apesar de existirem problemas, a igreja atual ainda mantém estas vocações, sendo vigilante, alegre e conciliadora. As divisões que existem, em parte, se devem ao fato de termos uma liberdade em Cristo, a qual não permitimos que seja sequer sondada. Por isto somos vigilantes, não aceitando que sufoquem a nossa alegria da salvação, querendo impor regras humanas como condicionantes para o favor de Deus. Cremos no Senhor Jesus, e por isto somos salvos.

Neste Natal, vamos nos alegrar, porque Jesus nasceu, morreu na cruz e ressuscitou. O Filho de Deus veio ao mundo e, pela sua graça, nos salvou. O Espírito Santo habita em nós, ele garante a nossa conciliação, primeiro com Deus e, consequentemente, com todos os que o amam. E sejamos vigilantes, tanto para evitar falsos ensinos, quanto para nos vermos livres das “ciladas do diabo” (como diz em Efésios 6.11).

Quando se trata da escolha de uma profissão, somos aconselhados a seguirmos a indicação do teste vocacional. Quanto ao chamado de Deus, porém, vamos seguir o conselho de São Pedro: “[...] procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum” (2ª Pedro 1.10).

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, dezembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.zedge.net/wallpaper/c57ea0d5-49e9-3c12-847b-66306e60d730 Acesso em. 20 dez. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

[1] Na época em que o termo “cristãos” foi criado, era como contemporâneo termo “minions” que se atribui hoje, pejorativamente, aos seguidores de algum líder a quem se quer criticar.

[2] MIRANDA, Arménio. Ignorância – Apologia da Ignorância Positiva. Portugal: Liríope Editora, 2012 P. 25-29.

[3] LYONS, Vernon C.Tradução por MONTGOMERY, Steve. Batistas não são protestantes. Igreja Batista Independente de Ourinhos, SP, nov. 2000. Disponível em: http://solascriptura-tt.org/EclesiologiaEBatistas/BatistasNaoSaoProtestantes-Lyons.html Acesso em 24 dez. 2017.

 

domingo, 13 de dezembro de 2020

A porta da fé (Atos 14.19-28)

 


Nossa vida pode se transformar quando uma porta se abre. Pode ser a porta de um emprego, de um curso superior, de uma amizade... 

Paulo, Barnabé, e toda a igreja se regozijaram porque o Senhor havia aberto a porta da fé aos gentios. Alegraram-se mais ainda porque Deus fez isso através deles, dando-lhes as chaves. 

Podemos dizer que foram três as chaves usadas pelos apóstolos para abrirem a porta da fé aos gentios.

Chave da coragem (19-21)

Sobrevieram, porém, judeus de Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo, arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto. Rodeando-o, porém, os discípulos, levantou-se e entrou na cidade. No dia seguinte, partiu, com Barnabé, para Derbe. E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio, e Antioquia, [...]

Barnabé presenciou, impotente e atônito, seu companheiro de ministério ser apedrejado por uma multidão enfurecida, até que, dando-o por morto, o arrastaram para fora da cidade. Não sabemos se foi um erro de avaliação por parte dos executores, ou se Paulo, de fato, morreu, tendo ressuscitado quando os discípulos o rodearam. Há teorias que afirmam ser este o momento em que ele foi ao “terceiro céu” e “ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir” (2ª Coríntios 12.2,4).

Como é que Paulo e Barnabé tinham tanta coragem, a ponto de tornarem a entrar nas cidades onde sofreram tamanha violência? É verdade que, quanto mais próximos de Deus, tanto mais corajosos os homens costumam ser. Não é só uma questão de ter presenciado eventos milagrosos, porque nós somos muito rápidos em esquecê-los. Somos parecidos com os discípulos, que assistiram uns dos maiores milagres da história, como os narrados em Marcos 6. 44-52:

Os que comeram dos pães eram cinco mil homens. Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. E, tendo-os despedido, subiu ao monte para orar. Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra. E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. Eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram. Pois todos ficaram aterrados à vista dele. Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos, porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido.

Eles viram os milagres, mas não os compreenderam, e por isto lhes faltou a coragem, tantas vezes! Sabedor destas coisas, Jesus lhes falou palavras encorajadoras, na véspera de sua crucificação: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33). A coragem dos discípulos, embora não tenha se mostrado nos terríveis momentos que se seguiram, veio mais tarde, testemunhada pelas próprias autoridades que, “ao verem a intrepidez de Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (Atos 4.13).

Abrir a porta da fé, para que outros a conheçam, exige coragem. Este é um dos motivos pelos quais pouquíssimos crentes escolhem ser missionários. Não é o caso de se dizer que os missionários sejam isentos quanto aos temores que todos nós temos. A diferença entre os que decidem atender ou não ao chamado missionário é tão pequena quanto o alcance de um passo apenas. O pastor e missionário Cássio Silva[1] compartilha sua experiência de que

Nosso maior desafio no campo missionário não é aprender línguas complexas, compreender culturas exóticas, nos adaptar a ambientes para nós desconfortáveis, mudar hábitos e gostos alimentares, morar em palhoças ou casebres, embrenhar por florestas traiçoeiras, navegar por rios inóspitos ou peregrinar por desertos causticantes. Também não é encontrar espaço em sociedades pós-modernas, comunicar uma mensagem religiosa para mentes secularizadas, sermos rechaçados como retrógrados, tidos como inconvenientes e discriminados como supersticiosos. Nosso maior desafio no campo missionário é, sim, enfrentar as mazelas da nossa alma, encarar a feiura do nosso próprio coração, romper com as amarras que nos prendem, guardar o coração da vaidade frente aos elogios, do abatimento frente às críticas, do descontentamento frente às frustrações, amar o colega de equipe, amar o povo ao qual servimos, sermos mais servos e menos senhores, mais amigos e menos patrões, mais tolerantes e menos exigentes. Sem a graça, esse é um desafio inatingível e talvez por isso mesmo o Senhor nos chama para estar com Ele.

A coragem não costuma ser inflexível, mas oscilante. Até mesmo Paulo, o herói de nossa história, precisava de alguma exortação, de vez em quando, como a de Atos 23.11, em que “[...] o Senhor, pondo-se ao lado dele, disse: Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma”.

Sem a chave da coragem, não é possível abrir aos outros porta da fé.

Chave do amor (22-25)

[...] fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido. Atravessando a Pisídia, dirigiram-se a Panfília. E, tendo anunciado a palavra em Perge, desceram a Atália [...]

Além da coragem, o que levou os apóstolos a voltarem àquelas cidades, expondo-se ao risco de serem novamente tratados com violência, foi o amor pela alma dos discípulos, que precisava ser fortalecida, ainda depois de assistirem o linchamento de Paulo, por estar propagando o evangelho. Não era tempo de se lamentar, mas de pôr em prática o amor paternal, deixando tudo em ordem antes da partida para a próxima missão.

O amor aqui exemplificado foi, certamente, uma das chaves que abriu a porta da fé aos gentios. Paulo revela, numa carta emocionada aos coríntios, o quanto um amor como este amor é capaz de suportar:

Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame? (2ª Coríntios 11.24-29).

Ele mesmo explica, em 2ª Coríntios 5.14, a motivação desse amor: “[...] Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram”. E não podia ser diferente, “porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). E, no final das contas, “nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1ª João 4.19).

Deste modo, fica claro que o amor é uma das chaves que abriu a porta da fé aos gentios, e a tem mantida aberta para todo o que crê no Filho unigênito de Deus.

Chave da oração (26-28)

[...] e dali navegaram para Antioquia, onde tinham sido recomendados à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido. Ali chegados, reunida a igreja, relataram quantas coisas fizera Deus com eles e como abrira aos gentios a porta da fé. E permaneceram não pouco tempo com os discípulos.

Finalizando a primeira viagem, os apóstolos dos gentios voltaram à sua base, que era Antioquia da Síria, “onde tinham sido recomendados à graça de Deus para a obra que haviam já cumprido”, e onde, com toda a certeza, oravam insistentemente pelo seu ministério. Paulo sabia que a oração era uma das chaves que abriria a porta da fé aos gentios, e por isto pedia frequentemente que orassem, como em Efésios 6.18-22:

[...] com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos e também por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que, em Cristo, eu seja ousado para falar, como me cumpre fazê-lo. E, para que saibais também a meu respeito e o que faço, de tudo vos informará Tíquico, o irmão amado e fiel ministro do Senhor. Foi para isso que eu vo-lo enviei, para que saibais a nosso respeito, e ele console o vosso coração.

Quando um missionário volta para sua base, tem a oportunidade de renovar as suas forças, receber encorajamento e atualizar pessoalmente as informações para que os intercessores possam orar com maior entendimento.

O missionário e professor Thiago Ishy, num artigo publicado no site do Instituto Bíblico Peniel[2], situa a questão da oração da seguinte forma:

[...] Frequentemente me deparo com pessoas que gostariam de investir mais em Missões. A maioria destas associa seu investimento apenas com o suporte financeiro por meio de ofertas missionárias. É claro que este tipo de investimento também faz parte da obra de evangelização dos povos. Entretanto, quando estudamos a Palavra de Deus percebemos que além dos recursos financeiros a obra missionária depende primordialmente da oração. [...] Ore, preferencialmente, de maneira específica, ou seja, lembre-se dos missionários por seus nomes pessoais e de toda a sua família. Sei que é uma tarefa árdua lembrar-se de tantos missionários conhecidos, mas não se esqueça de que a oração exige compromisso. Alguns anos atrás eu notei na mesa de refeição de um casal uma pequena caixa com vários cartões de oração dos vários missionários que eles conheciam. Toda refeição eles retiravam um desses cartões e oravam por aquele missionário ou família. Essa pode ser uma boa ideia. [...] Orar por Missões é também orar por nossa igreja local. Orar acima de tudo por um reavivamento na Palavra. Que as Escrituras possam ensinar, exortar e educar cada membro para a glória de Deus!

Conclusão

A coragem, o amor e a oração foram as chaves que abriram a porta da fé aos gentios. Estas chaves foram utilizadas por Paulo, Barnabé e ainda têm sido utilizadas por toda a igreja, que tem se multiplicado no decorrer de milênios, no poder do Espírito Santo.

A porta da fé ainda está aberta para quem quiser entrar. A fé no Senhor Jesus Cristo nos dá a certeza da vida eterna, e de uma vida melhor ainda neste mundo, na medida em que nos dá sabedoria e fortalecimento no meio das aflições do presente, comuns a todos os homens. Quando entramos pela porta da fé, entendemos que também precisamos abrir uma porta em nosso próprio coração, para que Jesus, por intermédio do Espírito Santo, esteja conosco todos os dias, em todos os momentos.

Ele diz em Apocalipse 3.20: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo”.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, dezembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho: Dominic Walter. disponível em: https://www.idealista.pt/news/imobiliario/internacional/2018/05/23/36321-as-20-portas-mais-impressionantes-do-mundo Acesso em. 13 dez. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

 


[1] SILVA, Cácio. O chamado missionário. Grupo Povos e Línguas (originalmente publicado na Revista Alcance, da APMT). Disponível em: https://portal.povoselinguas.com.br/artigos/vida-missionaria/o-chamado-missionario/ Acesso em 08 dez. 2020.

[2] ISHY, Thiago. Como orar por missões. Site do Instituto Bíblico Peniel, 07/03/2016. Disponível em: http://institutobiblicopeniel.org.br/como-orar-por-missoes/ Acesso em 29 nov. 2017.

 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Gratidão (Atos 14.8-18)

Na próxima quinta-feira, dia 26/11, será feriado nos EUA. Podia ser aqui também, não é? A Black Friday teria mais sentido para nós. Assisti um vídeo engraçado falando que aqui é dia de ação. De graça, só nos EUA. Seria importante que houvesse o feriado, não somente para motivar o comércio, fazer circular o dinheiro, mas principalmente para termos um dia especial para dar graças a Deus por tudo que nos tem dado.

Se prestarmos atenção veremos que muitas de nossas atitudes podem revelar gratidão ou ingratidão para com Deus. Baseando-me neste parágrafo de Atos, eu proponho uma comparação da população da cidade de Listra com a nossa própria realidade, para verificar se temos sido gratos ou ingratos para com Deus. Existem pelo menos três atitudes que podem indicar que estamos indo no sentido da ingratidão.

Andar com nossas próprias pernas (8-10)

Em Listra, costumava estar assentado certo homem aleijado, paralítico desde o seu nascimento, o qual jamais pudera andar. Esse homem ouviu falar Paulo, que, fixando nele os olhos e vendo que possuía fé para ser curado, disse-lhe em alta voz: Apruma-te direito sobre os pés! Ele saltou e andava.

Notemos que o autor sagrado enfatiza o fato de que o homem era totalmente incapaz, desde o nascimento, jamais pudera andar antes. Vamos comparar esta situação com a nossa necessidade de salvação espiritual. A Bíblia diz que todos pecamos e carecemos da glória de Deus (Romanos 3.23), que “não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque” (Eclesiastes 7.20). Se alguém reconhece que esta é a sua situação espiritual, e busca o favor de Deus, assim como aquele homem aleijado se assentava no caminho, esperando alguém que o pudesse ajudar, poderá se deparar com Cristo “fixando nele os olhos” e vendo que possui fé para ser salvo, “porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus” (Efésios 2.8).

Se, por outro lado, alguém não reconhece a sua incapacidade espiritual de alcançar a sua própria salvação, é bem provável que acabará como os homens “[...] egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes”, de que fala 2ª Timóteo 3.2, pois a nossa salvação depende, em primeiro lugar, de reconhecermos que não somos capazes de “andar com nossas próprias pernas” no que se refere a uma vida que agrada a Deus, e é por isso que Jesus morreu na cruz, para pagar os nossos pecados e possibilitar o nosso acesso ao Pai.

As expressões artísticas que produzimos são bem reveladoras quanto à nossa maneira de encarar a vida. Eu me lembro, com muita saudade, de um “jingle” chamado “Quero ver você não chorar” que, segundo Dalmir Reis Júnior [1], foi

[...] criado para uma campanha de Natal do finado Banco Nacional. Lula Vieira, diretor do comercial original, de 1971, chamou o amigo Edson Borges de Abrantes, vulgo Passarinho, grande parceiro de Dolores Duran, para compor a trilha sonora da propaganda. Edson adaptou uma composição originalmente feita para seu grupo, “Os Titulares do Ritmo”.  Confira a letra e acompanhe o ritmo.

Quero ver você não chorar, não olhar pra trás nem se arrepender do que faz; Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer você resistir e sorrir; Se você pode ser assim, tão enorme assim eu vou crer; Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor; Bom Natal, um Feliz Natal, muito amor e paz pra você; Pra você…

Músicas como esta têm feito sucesso por décadas, pois tudo parece se harmonizar perfeitamente: a mensagem de esperança que transmite, a melodia, a métrica e as rimas. Para quem viveu aquele tempo, como eu, esta música dificilmente sairá da memória. Só uma coisinha sempre me incomodou na letra, é o apelo para não se arrepender do que faz. Como poderia ser assim, se o arrependimento é justamente um dos primeiros passos para se alcançar uma vida eterna de felicidade real com o nosso Senhor Jesus Cristo? E olha que estamos falando de uma música de Natal, que comemora o nascimento daquele que veio para mudar o trágico destino que nos aguardava por causa dos nossos pecados, dos quais precisamos nos arrepender, em primeiro lugar.

Em nossos momentos tristes, e também nos mais felizes, reconheçamos que, espiritualmente falando, jamais poderíamos “andar com nossas próprias pernas”, e sejamos gratos ao Senhor que nos providenciou salvação sem considerar nossos eventuais méritos (ou a falta deles).

Andar com nosso próprio entendimento (11-13)

Quando as multidões viram o que Paulo fizera, gritaram em língua licaônica, dizendo: Os deuses, em forma de homens, baixaram até nós. A Barnabé chamavam Júpiter, e a Paulo, Mercúrio, porque era este o principal portador da palavra. O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava em frente da cidade, trazendo para junto das portas touros e grinaldas, queria sacrificar juntamente com as multidões.

A mitologia tem sido estudada há milênios, por pesquisadores como Lucas Henrique[2] que, em seu artigo nos informa o seguinte:

Júpiter (do latim Iuppiter) representava o deus do dia, sendo o maior de todos os deuses. É, na verdade, o equivalente romano do deus grego Zeus. Nesta acepção, Júpiter é também referenciado como Jove (do latim Jovis). [...] Júpiter é o maior planeta do sistema solar e o quinto em ordem de afastamento do Sol [...]. O planeta tem cerca de 318 vezes a massa da Terra [...] Júpiter tem quase 12 vezes o diâmetro da Terra e, se fosse oco, caberiam em seu interior cerca de 1300 planetas do tamanho do nosso. [...] Se vivêssemos em Júpiter, nosso dia teria pouco menos de 10 horas! Em compensação, só faríamos aniversário de 12 em 12 anos, aproximadamente.

Já sobre o outro deus que foi citado no texto bíblico, a Wikipédia[3] diz que,

Na mitologia romana, Mercúrio (associado ao deus grego Hermes) é um mensageiro e deus da venda, lucro e comércio, o filho de Maia Maiestas, também conhecida como Ops, a versão romana de Reia, e Júpiter. Seu nome é relacionado à palavra latina merx ("mercadoria"; comparado a mercador, comércio). [...] Mercúrio é o deus romano encarregado de levar as mensagens de Júpiter [...] É o deus da eloquência, do comércio, dos viajantes e dos ladrões, a personificação da inteligência.

Lemos ainda no site “Sua Pesquisa”[4], sobre planeta Mercúrio, em si, que

A primeira observação deste planeta, através de telescópio, foi realizada em 1610 pelo astrônomo italiano Galileu Galilei. [...] - Mercúrio é o menor planeta do Sistema Solar (40% menor do que o planeta Terra). - O diâmetro equatorial de Mercúrio é de 4.879,4 km. [...]- O período de rotação (duração do dia) de Mercúrio é de 58 dias e 15.5 horas terrestres. - Em função de sua proximidade do Sol, este planeta apresenta temperaturas altíssimas. A temperatura média na superfície de Mercúrio é de 126°C, podendo chegar na máxima de 425°C.

Com certeza, há muitas coisas interessantes que se pode conhecer a respeito da astronomia associada à mitologia. Em nossa sociedade, existem muitas celebridades que não escondem sua simpatia e até devoção pelos deuses, tanto da antiga mitologia grega e romana quanto dos atuais países orientais.

As pessoas na multidão de Listra estavam bem informadas sobre a mitologia, pois atribuíram a identidade de Júpiter a Barnabé, e a de Mercúrio a Paulo. Mercúrio era, segundo a mitologia, o principal portador da palavra e Paulo, de fato, era o mais falador. O sacerdote de Júpiter, cujo templo estava bem em frente à cidade, providenciou touros e grinaldas para sacrificar aos “deuses” missionários, tudo conforme seu grande entendimento litúrgico.

Bem perto de atitudes assim estão os próprios crentes que, deixando de lado as instruções e os princípios bíblicos criam suas próprias crendices, e em geral vão caindo nas mãos de falsos mestres.

Ouvi recentemente de uma pessoa, membro de uma igreja muito boa, tradicional, que, impossibilitada de ir à igreja, resolveu assistir a uma pregação na televisão. Na hora da oração, o pregador disse que ia orar pelos doentes que estavam assistindo à transmissão. Então ela, com fé, fechou os olhos e orou junto. Ela deu testemunho de que, depois dessa oração, nunca mais teve um determinado problema de saúde que, naquele momento, pediu a Deus que a curasse. Até aí tudo certo. O problema foi que ela, em vez de atribuir a glória a Deus, atribuiu o prodígio ao pregador, e o chamou de “homem abençoado”. Eu já ouvi várias vezes esse pregador e desconfio que não é totalmente sincero, que tem se enriquecido indevidamente em nome da fé que proclama. É notório que sua igreja movimenta muitos milhões de reais todos os meses, e que ele sempre está pedindo mais dinheiro.

É assim que, caminhando com o seu próprio entendimento, a humanidade em geral vai seguindo, ignorando os princípios, os preceitos e o próprio Deus que se revelou na Bíblia. Se, ao contrário, quisermos mostrar gratidão, sigamos o conselho do Provérbio 3.5: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento”.

Andar com nossos próprios recursos (14-18)

Porém, ouvindo isto, os apóstolos Barnabé e Paulo, rasgando as suas vestes, saltaram para o meio da multidão, clamando:  Senhores, por que fazeis isto? Nós também somos homens como vós, sujeitos aos mesmos sentimentos, e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles; o qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos;  contudo, não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e de alegria. Dizendo isto, foi ainda com dificuldade que impediram as multidões de lhes oferecerem sacrifícios.

Barnabé e Paulo reagiram dramaticamente às intenções dos moradores de Listra, e apelaram para a sua consciência, lembrando que estavam ali para anunciar a necessidade deles se converterem destas coisas ao “Deus vivo, que que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que há neles”. Nas gerações passadas, Deus “permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos” mas, em sua graça, “não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem”,  dando do céu chuvas e estações frutíferas a todos, enchendo o coração dos homens de fartura e de alegria.

Nós aceitamos, de fato, com muita alegria as bênçãos que Deus nos dá fartamente através das coisas que foram criadas, aproveitando o máximo que podemos. Existe uma “contabilidade” feita por uma organização chamada Global Footprint Network (GFN)[5], que em 2017 apontou a seguinte situação:

A demanda da população mundial por recursos da natureza extrapolou nesta quarta-feira (2) – cinco meses antes de 2017 terminar - a capacidade do planeta de se regenerar durante o período de um ano, o que torna hoje o Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day). Calculada desde 2000, a data acontece mais cedo a cada ano (menos nas passagens entre 2007 e 2008 e entre 2008 e 2009). Esse fato indica que o aumento no consumo dos recursos naturais ocorre com maior velocidade que a capacidade de regeneração do planeta. No ano passado, o Dia da Sobrecarga da Terra caiu em 8 de agosto. Há 17 anos, na primeira medição oficial, o esgotamento dos recursos naturais foi registrado em 4 de outubro. O cálculo do Dia da Sobrecarga da Terra é feito pela Global Footprint Network (GFN), uma organização de pesquisa internacional que calcula a chamada “pegada ecológica” para medir os impactos do consumo humano sobre os recursos naturais.  O Dia da Sobrecarga indica que a humanidade entrou em uma espécie de 'cheque especial' dos recursos naturais, pois já utilizou o orçamento ambiental do planeta Terra para todo o ano. Atualmente, segundo os cálculos da GFN, a humanidade precisa de 1,6 planeta para atender seu consumo.

Apesar de os homens se alegrarem e até extrapolarem a utilização dos recursos dados por Deus, em geral não têm agradecido suficientemente, pois, como diz Romanos 1.21-23,

[...] tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis.

Com este tipo de atitude, ignorando o Criador e exaltando as criaturas, os homens agem como se acreditassem que os recursos da natureza, da vida, da capacidade de superação de doenças e de catástrofes naturais são seus próprios recursos, e não de Deus.

Conclusão

Sejamos gratos a Deus, independentemente de termos um feriado, ou uma legítima Black Friday. A gratidão depende, sim, de reconhecermos que somos incapazes de andar como nossas próprias pernas, com nosso próprio entendimento, ou com nossos próprios recursos. Precisamos crer em Jesus para sermos salvos. Não somos tão inteligentes quanto pensamos, precisamos estudar mais a Palavra de Deus para aprendermos o que é certo e o que é errado, e quais são os caminhos de Deus para nós. Precisamos reconhecer que não somos sustentáveis sem a provisão diária e graciosa de Deus, dos recursos que ele nos dá por sua bondade, e um dia ele pode decidir não dar mais. Não somos merecedores da riqueza, da posição, da honra que recebemos. Deus nos dá para que não fiquemos sem testemunho de que ele é bom, e que deseja que nós nos arrependamos dos nossos pecados para recebermos a salvação. Sejamos gratos!

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, novembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://escolaeducacao.com.br/thanksgiving-o-que-e-traducao-historia-e-origem/ Acesso em.  19 nov. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


[1] REIS JR, Dalmir.Banco Nacional (Natal) – 1987. Site Propagandas Históricas. Disponível em: http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/06/banco-nacional-natal-1985.html Acesso em 26 nov. 2017.

[2] HENRIQUE, Lucas. Revelando Júpiter: os segredos de um gigante. Caeté, MG: UFMG/Observatório astronômico Frei Rosário, 2008. Disponível em: http://www.observatorio.ufmg.br/dicas09.htm Acesso em 23 nov. 2017.

[3] Mercúrio (mitologia). Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Merc%C3%BArio_(mitologia) Acesso em 23 nov. 2017.

[4] Planeta Mercúrio. Sua Pesquisa.com. Disponível em: https://www.suapesquisa.com/astronomia/planeta_mercurio.htm Acesso em 23 nov. 2017.

[5]GITEL, Murilo. Planeta entra hoje no 'cheque especial' dos recursos naturais. Correio - Jornal online. Salvador, 02/08/2017. Disponível em: http://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/planeta-entra-hoje-no-cheque-especial-dos-recursos-naturais/  Acesso em 26 nov. 2017.

 

 

terça-feira, 10 de novembro de 2020

Evangelização bem-sucedida (Atos 14.1-7)

Em 1974, líderes evangélicos de 150 países se reuniram num congresso em Lausanne, Suíça e, no final, assinaram um pacto[1]. Entre as declarações desse famoso pacto, estavam as seguintes:

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. [...] Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim.

O povo de Deus tem evangelizado, desde antes dos apóstolos, e ainda em nossos dias, aguardando a volta de Cristo. Os primeiros evangelistas tiveram grande sucesso no seu trabalho evangelístico e, analisando este parágrafo de Atos 14.1-7, podemos apontar pelo menos três fatores que contribuíram para o seu sucesso na evangelização.

Sabedoria (1,2)

“Em Icônio, Paulo e Barnabé entraram juntos na sinagoga judaica e falaram de tal modo, que veio a crer grande multidão, tanto de judeus como de gregos. Mas os judeus incrédulos incitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos”.

O primeiro fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a sabedoria com que falavam, o que tornava a mensagem eficiente. Lemos no versículo primeiro que eles falaram “de tal modo” que veio a crer grande multidão.

Quando eu fazia o curso de evangelização pessoal do IBE (Instituto Bíblico de Evangelização), fiquei impressionado com o testemunho do professor, quando compartilhou que havia falado de Cristo para um homem no ônibus, e que no começo estava difícil, pois teve que ficar “puxando assunto” de forma variada, até encontrar um tema que o homem gostava e, por meio desse tema, introduzir o assunto da necessidade de salvação em Cristo. Noutra ocasião, na mesma viagem, estava conversando com alguém que acabara de conhecer numa padaria e, antes de tomar o café da manhã, pediu licença e fez uma pausa para orar silenciosamente, agradecendo a Deus pela refeição. Isto também foi uma porta de entrada para evangelizar, pois o interlocutor ficou curioso com a atitude do professor e perguntou se ele era crente, seguindo-se uma boa e frutífera conversa sobre assuntos bíblicos.

Aprendi, também, na Faculdade Teológica ABECAR, a importância de se valer das técnicas de oratória para apresentar os sermões nas igrejas. Desde então eu procuro usar tudo o que aprendi. Nem sempre, porém, a sabedoria acadêmica é a mais eficiente. Veja o caso do grande pregador Spurgeon, que se converteu numa igreja metodista, num culto que assistiu por acaso, apenas porque estava fugindo da nevasca do lado de fora. Li na Wikipédia[2] que, naquele dia,

[...] sem pregador para ministrar a Palavra, um simples ministro intinerante chamado Robert Eaglen, em missão pela região de Colchester entre 1850-1851 [1], nesse dia, subiu ao púlpito, mesmo sem grande habilidade de orador, e repetiu nervosa e constantemente o texto de Isaías 45.22a: Olhai para mim e sereis salvos, vós todos os termos da terra. Depois de certo tempo, apelou aos presentes que olhassem para Jesus Cristo. Spurgeon olhou para Jesus com fé e arrependimento, tendo Ele como seu Salvador e substituto, e foi salvo.

Surpreendentemente, o grande Spurgeon que, com seu imenso esforço, talento e sabedoria para pregar, veio a ser conhecido como o príncipe dos pregadores, fora salvo porque ouvira uma pregação de um homem que não tinha nenhuma habilidade, em seu simples apelo evangelístico, mas movido pela sabedoria infinita de Deus.

Firmeza (3)

“Entretanto, demoraram-se ali muito tempo, falando ousadamente no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que, por mão deles, se fizessem sinais e prodígios”.

O segundo fator que contribuiu para o sucesso na pregação evangelística foi a firmeza ou, como diz a tradução do versículo três, a ousadia com que falavam, demonstrando coragem e poder.

Quando eu trabalhava num grande banco, me sentia com muito “poder de fogo” para fazer os meus colegas e, muitas vezes, os meus chefes, se lembrarem de que não podiam deixar de cumprir certas regras. Eu tinha este poder por causa de meu preparo, com um vasto conhecimento dos normativos divulgados pela empresa. Todos tinham acesso a esses normativos, mas poucos liam, pelo que se sentiam inseguros, temendo infringir alguma regra importante nos contratos vultosos de financiamento. Mas quando me ouviam falar com firmeza sobre o que estava escrito nas regras oficiais, ficavam mais tranquilos, pois reconheciam o meu domínio sobre o assunto. Semelhantemente, aos 21 anos, pouco antes de me converter, tomei uma decisão: conhecer bastante a Bíblia para poder aconselhar melhor as pessoas que me falavam de seus diversos problemas, e assim poder dar a minha opinião com firmeza.

O texto bíblico diz que, enquanto Paulo falava sobre o Senhor, este mesmo confirmara a palavra da pregação através de sinais e prodígios. Isto porque a pregação, para ter valor, precisa ser confirmada pelo Senhor, senão, serão somente palavras vazias. Hoje não temos visto muitos milagres, mas, mesmo assim, a palavra que se prega, especialmente nos púlpitos, precisa ser de tal forma fiel à mensagem do Senhor, que ele a confirmará. Quantas vezes falamos, no calor da pregação, que determinadas práticas são pecado, e quem as está praticando serão castigadas, mas o castigo não vem. Quantas vezes insistimos que, se alguém não deixa de fazer devocional, se ora e lê a Bíblia regularmente, encontrará poder para vencer o pecado, e sua vida será abençoada, mas isso aparentemente não acontece. Não podemos dizer que o Senhor vai dar o que ele não prometeu. Não podemos ameaçar com ameaças que não vêm do Senhor.

Os apóstolos tinham o poder de prodígios e milagres. Mas nós, os pregadores da atualidade, temos recursos que nos permitem o privilégio de estudar exaustivamente as Escrituras, para que possamos falar com firmeza. O nosso “poder de fogo” consiste em estarmos munidos da Palavra de Deus.

Boa vontade (4-7)

“Mas dividiu-se o povo da cidade: uns eram pelos judeus; outros, pelos apóstolos. E, como surgisse um tumulto dos gentios e judeus, associados com as suas autoridades, para os ultrajar e apedrejar, sabendo-o eles, fugiram para Listra e Derbe, cidades da Licaônia e circunvizinhança, onde anunciaram o evangelho”.

O terceiro fator que contribuiu para o sucesso da pregação evangelística dos apóstolos foi a sua boa vontade, que os levava a falar em qualquer oportunidade. Eles tiveram que fugir de Icônio para outras cidades, evitando serem apedrejados, e ali já chegaram anunciando o evangelho.

Quando a amada missionária, carinhosamente conhecida em nossa igreja com “tia Ginny”, ficou gravemente doente, ela e o Pastor Alden, seu marido, oraram para que esta situação, embora muito triste e desesperadora para alguns, se tornasse uma oportunidade para ganhar pessoas para Cristo. Hoje, muitas pessoas ouvem o evangelho através da pregação fiel do Pastor Alden, em suas frequentes visitas ao túmulo da amada esposa, ou no caminho do cemitério que se tornou, desde então, o seu principal campo missionário, por causa de sua boa vontade em evangelizar em qualquer oportunidade que se apresente, nos funerais, entre os funcionários, entre aqueles que, como ele, vão visitar os túmulos de seus queridos que deixaram saudades.

Um dia, quando eu era um jovem carteiro, cheio de boa vontade para falar o evangelho, estava andando muito rápido, quase correndo, para entregar as correspondências. Meus olhos estavam baixos, pois enquanto andava eu lia os endereços das cartas. Havia um carro parado em frente a uma loja de ferramentas, com barras de ferro amarradas em cima, no bagageiro. Sem perceber o perigo, me aproximei a toda velocidade, batendo com a boca numa daquelas barras, fazendo um corte profundo nos lábios. Um funcionário da loja me levou para o hospital, onde deram três pontos. Enquanto aguardava o curativo, sentado na maca, havia um médico próximo, me lembrei do testemunho do professor de evangelização pessoal, e eu vi que era uma oportunidade para falar de Cristo. Comecei a conversa dizendo: “eu acho que Deus teve um propósito para que isso acontecesse comigo (...)”. Ao que o médico respondeu: “Eu também acho. Acho que o propósito dele era te ensinar a não andar correndo na rua de cabeça baixa”. Minha vontade de falar de Cristo para ele terminou ali. Mas hoje eu entendo que poderia ter entrado na brincadeira, e ainda falar-lhe de Cristo.

Conclusão

Assim como os apóstolos tiveram grande sucesso na evangelização, nós também podemos ser bem sucedidos, pedindo a Deus e nos esforçando para que estes três fatores que contribuíram para o sucesso da pregação evangelística estejam presentes também em nós. Peçamos a Deus e busquemos:

  • Sabedoria para falar de maneira eficiente;
  • Firmeza no falar, respaldados pelo conhecimento profundo das Escrituras;
  • Boa vontade para falar enquanto há oportunidades.

 

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, novembro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://enfoquebiblico.com.br/como-pregar-pela-primeira-vez/ Acesso em. 10 nov. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

 


[1] Pacto de Lausanne, Suíça, 1974. Pontos 10 e 15. Disponível em: https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/pacto-de-lausanne-pt-br/pacto-de-lausanne Acesso em 28 out. 2017.

[2] Charles Spurgeon. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Spurgeon Acesso em 28 out. 2017. O artigo cita como fontes as obras: Biografia de Carlos H. Spurgeon, por Alfredo S. Rodríguez y García, Cuba, 1930; Charles Haddon Spurgeon, A Biography, by W.Y.Fullerton. Charles Spurgeon (em inglês) no Find a Grave.

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Longevidade (Atos 13.42-52)

Todas as pessoas que eu conheço falam da vida como algo a ser preservado. Todos gostariam de ter uma vida longa desde que tenham saúde, é claro. A principal aliada nesta busca por uma vida longa e saudável é a medicina, que tem alcançado considerável progresso nesta missão, especialmente nos últimos séculos. Qual será o limite, afinal, para prolongar a vida humana através dos recursos da medicina? Uma matéria da revista Super Interessante[1], em 2005, conta que

O biogerontologista inglês Aubrey de Grey está convencido de que o envelhecimento é um processo biológico que pode perfeitamente vir a ser controlado, da mesma forma que a ciência já conseguiu combater muitas doenças que antes eram tidas como incuráveis.  [...]. [...] Para estimular as pesquisas sobre a longevidade, De Grey criou há alguns anos a Fundação Matusalém. [...] E, aplicando-se o conhecimento adquirido com essas experiências, até 2030 já será possível aumentar a expectativa de vida do homem para algo em torno de 130 anos – quase o dobro da média mundial atual. [...] Sobre o assunto, cientistas reunidos em um painel promovido há alguns anos pela revista Scientific American não deram motivos para muito otimismo: considerando todas as conquistas iminentes, como a terapia gênica e a possibilidade de substituição de quase todos os órgãos naturais, e mesmo a hibernação humana, a expectativa de vida no planeta alcançará, quando muito, 140 anos… Em 2500!

A Bíblia acrescenta, porém, que, para ter vida longa, é preciso se submeter às leis de Deus. O ser humano sempre quis a vida para aproveitar, mas constantemente tem ignorado a presença de Deus na sua vida. Com otimismo científico poderá acreditar que viverá 130 anos, mas a Bíblia nos fala de um motivo muito maior para otimismo, pois oferece aos homens não só uma vida longa, mas a verdadeira vida eterna para aqueles que forem “dignos” dela. Este parágrafo de Atos 13.42-52 nos apresenta pelo menos quatro exigências para que alguém seja digno da vida eterna.

É preciso perseverar (42,43)

“Ao saírem eles, rogaram-lhes que, no sábado seguinte, lhes falassem estas mesmas palavras. Despedida a sinagoga, muitos dos judeus e dos prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, e estes, falando-lhes, os persuadiam a perseverar na graça de Deus”.

Paulo e Barnabé persuadiram os que o tinham seguido a perseverarem na graça de Deus. Sabiam que alguns creem somente por pouco tempo, e depois se desviam, como uma semente “que caiu sobre a pedra”, que, “ouvindo a palavra, a recebem com alegria”, mas “não têm raiz, creem apenas por algum tempo e, na hora da provação, se desviam” (Lucas 8.13). Estes não serão salvos, pois Jesus disse: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mateus 10.22; 24.13). João também tinha esta consciência, pois ensinou, de modo semelhante, em 1ª João 3.6,9: “Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu [...] Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”.

Mas a perseverança, por si só, não seria suficiente para se alcançar a vida eterna, pois ainda há outras exigências, como veremos a seguir.

É preciso crer (44-46)

No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de Deus. Mas os judeus, vendo as multidões, tomaram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava. Então, Paulo e Barnabé, falando ousadamente, disseram: Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios.

Paulo pregou ousadamente a palavra de Deus, mas os judeus foram rebeldes, rejeitaram a palavra, e se julgaram “indignos da vida eterna”.

Quem não crê no evangelho já está julgado (João 3.18), e a si mesmo se dá a sentença de indigno da vida eterna. Eles ouviram a palavra da salvação, mas não creram, e por isto não foram salvos. É preciso crer para ser digno da vida eterna, conforme é dito também em Romanos 10.9,10: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”; e em Efésios 2.8,9: “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie”.

John Wesley[2], dezoito dias depois de sua conversão, em 1738, pregou um sermão diante da Universidade de Oxford. Neste sermão ele rebate algumas objeções à doutrina da salvação pela fé, e num determinado ponto ele diz:

Quando nenhuma objeção ocorre, então, simplesmente nos dizem que a salvação pela fé não deveria ser pregada como primeira doutrina, ou, pelo menos, não deve ser pregada a todo o mundo. Mas o que diz o Espírito Santo? “Ninguém poderá lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”. Portanto, o fato que “todo aquele que nele crê será salvo” é, e deve ser, o fundamento de toda nossa pregação [...].

[....] “Está bem, mas não a todos”. A quem, então, não devemos pregar essa doutrina? Aos pobres? Não, pois eles têm um peculiar direito de ter o evangelho pregado a eles. Aos iletrados? Não. Deus revelou essas coisas aos iletrados e ignorantes desde o começo. Aos jovens? De forma alguma. Deixem que estes, de qualquer modo, venham a Cristo e não os impeçam. Aos pecadores? Aos pecadores muito menos. Ele não veio chamar justos e, sim, pecadores ao arrependimento.

Então, se vamos excluir alguns, os ricos, os letrados, os de boa fama e os homens de integridade moral. É verdade que estes, frequentemente demais, excluem a si de ouvir. Ainda assim, devemos falar as palavras de nosso Senhor, porque assim é o propósito da nossa comissão: “ide e pregai o evangelho a toda a criatura”.

Wesley se esforçou muito, dedicando a sua vida ao progresso do evangelho, pois tinha convicção de que, sem fé no verdadeiro evangelho, ninguém se tornaria digno da vida eterna. Mas ainda existem outras exigências, e veremos isto a seguir.

É preciso ser escolhido por Deus desde a eternidade (47,48)

“Porque o Senhor assim no-lo determinou: Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra. Os gentios, ouvindo isto, regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor, e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna”.

Alguém pode dizer: e agora? E se eu não fui escolhido por Deus? Nada do que eu faça vai mudar o que Deus determinou desde a eternidade. “Insensatos!” diria Paulo. Por acaso Deus não é eterno? Ele não é soberano? Uma coisa nós nunca vamos entender completamente, enquanto vivermos sobre a terra: o fato de que Deus não está sujeito ao nosso modo de perceber o tempo, como passado, presente e futuro.

O tempo de Deus é diferente, como costuma dizer reiteradamente o pastor de nossa igreja, em seus sermões: o nosso tempo é “cronos”, mas o tempo de Deus é “kairós”.

Deus disse a Moisés: “Riscarei do meu livro todo aquele que pecar contra mim” (Êxodo 32.33). Disse também ao anjo da igreja de Sardes: “O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida” (Apocalipse 3.5). No dia do fim do mundo, acontecerá que “se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida”, esse será “lançado para dentro do lago de fogo” (Apocalipse 20.15).

Ora, se Deus é eterno, se somente ele pode se chamar “Eu Sou”, o tempo decorrido desde a eternidade, quando ele escreveu em seu livro quem seriam os “eleitos”, só tem sentido para nós, humanos. Considerando que Deus não está limitado ao nosso tempo, por ser eterno, é como se ele estivesse neste momento com o livro e a caneta na mão, olhando para mim e para você. O Deus eterno, o Deus soberano, aquele que inscreve a quem quer, e risca a quem quer, está olhando para mim e para você. Supliquemos, portanto: “Senhor, escreve meu nome na tua lista, considera-me como um de seus eleitos”.

Quando falamos de Cristo para alguém, e o levamos a orar “aceitando a Cristo como seu Senhor e Salvador”, achamos que, se a pessoa orou com sinceridade e fé, Deus escreveu, naquele momento, o seu nome no livro da vida. Que nada! Estava escrito desde a eternidade, como nos afirma, por exemplo, Efésios 1.4-11:

[...] assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou abundantemente sobre nós em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra; nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados segundo o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade.

Deus misericordioso permita que eu e você estejamos entre estes escolhidos, pois a sua vontade é soberana.

Existe ainda uma última exigência, mencionada neste parágrafo bíblico, para que alguém seja digno da vida eterna.

É preciso nascer de novo, pelo Espírito Santo (49-52)

E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. Mas os judeus instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território. E estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio. Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo.

Paulo e Barnabé foram vítimas da inveja e consequente perseguição por parte dos poderosos incrédulos, e os discípulos que creram na pregação e se converteram, certamente foram atingidos por algum tipo de discriminação e violência, mas, em vez de se lamentarem, ficaram transbordantes de alegria e do Espírito Santo. Isto é o que acontece com todo o que é nascido de novo.

Este estado de espírito pode, no entanto, ser imitado sem que o milagre do novo nascimento tenha de fato ocorrido. É possível falsificar evidências, aparentando uma perseverança na graça, uma fé piedosa, um comportamento digno de quem é eleito de Deus. Mas tudo isso pode não passar de coisas exteriores.

Janes e Jambres, tradicionalmente apontados como os magos de Faraó, que imitaram os milagres de Moisés, e que foram citados em 2ª Timóteo 3.8, são um exemplo de que grandes milagres podem ser simulados por poderes que não são do Deus verdadeiro.

Quando Nicodemos procurou Jesus, possivelmente estava vivendo uma ilusão a respeito de seu verdadeiro relacionamento com Deus, até que ouviu do Mestre: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus [...]. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” (João 3.3,6).

Para ser digno da vida eterna, é preciso nascer de novo, e assim evidenciar os frutos do Espírito, dentre os quais está a alegria (Efésios 5.22), a qual é independentemente das circunstâncias. Isto aconteceu com discípulos convertidos em Antioquia.

A alegria que vem do Espírito é um “termômetro” que mede a “temperatura” da nossa fé. Quando alguém nos prejudicar, quando alguém nos ofender, quando alguém nos deixar tristes, decepcionados, quando alguém nos perseguir, sendo nós pessoas nascidas do Espírito, lembremo-nos de que Jesus nos considera bem aventurados justamente por este motivo (Mateus 5.10,11). Então, transbordemos de alegria e do Espírito Santo!

Conclusão

Já que, como todos os seres humanos, buscamos a longevidade com saúde, além de nos valermos da medicina, lembremo-nos também de que, quando participamos da Ceia do Senhor, somos advertidos para não participar dela indignamente, sob a pena de ficarmos doentes ou até morrermos. Quando Paulo instruiu a igreja a respeito da Ceia do Senhor, ela era celebrada semanalmente, ou seja: em todos os cultos de domingo. Nós a celebramos, solenemente, uma vez por mês.

A ideia da Ceia é que nos lembremos que Jesus morreu por nós, dando seu corpo para ser crucificado, como se fosse um trigo moído num moinho, para nos dar o alimento, e por isto o seu corpo é simbolizado pelo pão; igualmente é para nos lembrarmos de que Jesus derramou o seu sangue, simbolizado pelo vinho, selando a Nova Aliança que Deus fez conosco, para nos dar a vida eterna.

Mas, embora a Ceia possa ser celebrada uma vez por mês, todo domingo, em tese, devemos nos lembrar do que ela representa. É como se, todo o domingo, no culto, celebrássemos a Ceia do Senhor. A aliança de salvação que ela representa, a lembrança da morte de nosso Senhor, deve estar presente todos os domingos. Então, ao irmos à igreja semanalmente, apropriemo-nos daquela famosa advertência de Paulo em 1ª Coríntios 11.27, para não participarmos do culto ao Senhor indignamente.

Para termos longevidade e nos mostrarmos dignos da vida eterna, compareçamos na presença do Senhor com perseverança, com uma fé piedosa, com um comportamento digno de quem é eleito de Deus, e genuinamente nascido do Espírito Santo.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, outubro de 2020.

[1] DEMARCHI,Célia.Quem quer viver 1 000 anos? Super Interessante, 28/02/2005. Disponível em: https://super.abril.com.br/saude/quem-quer-viver-1-000-anos/ Acesso em 24 out. 2017.

[2] WESLEY, John. A Salvação pela Fé. Sermão apresentado na Universidade de Oxford, 11 de junho de 1738. Disponível em: http://www.metodista.org.br/content/interfaces/cms/userfiles/files/documentos-oficiais/SERMAO_1_A_SALVACAO_PELA_FE.pdf Acesso em 23 out. 2017.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.casaderepousobrilhodosol.com.br/2019/01/11/os-segredos-da-longevidade/ Acesso em 26 out. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Uma palavra profética (Atos 13.27-41)

Recebi uma mensagem de um amigo, em 2017, perguntando minha opinião sobre um artigo[1], o qual dizia que o mundo ia acabar dia 23 de setembro. Como a minha formação escatológica é pré-milenista, não precisava nem ler o artigo para respondê-lo, bastou eu dar-lhe minha resposta padrão: a de que, no mínimo, o mundo iria durar até 3017 (ou 3024, se contarmos a grande tribulação), pois Jesus ainda não voltara para estabelecer o seu reino milenar literal.

As profecias chamam a atenção, empolgam multidões. Quem não gosta de presenciar acontecimentos extraordinários? Ao apresentar o evangelho aos judeus e prosélitos de Antioquia da Psídia, Paulo os faz relembrar três importantes profecias.

A Profecia da cruz (27-29)

[..] Pois os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se leem todos os sábados, quando o condenaram, cumpriram as profecias; e, embora não achassem nenhuma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. Depois de cumprirem tudo o que a respeito dele estava escrito, tirando-o do madeiro, puseram-no em um túmulo.

O renomado pastor Paul Washer, num sermão intitulado “A Cruz de Cristo”[2], enfatiza que a morte de Cristo não foi simplesmente a morte de um mártir, pois “Ele foi abandonado por Deus e moído debaixo da ira Dele em seu lugar”. Ele foi desamparado por Deus, conforme Marcos 15.34, onde o Senhor Jesus cita o Salmo 22, que diz nos versos 1 a 6:

Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite, porém não tenho sossego. Contudo, tu és santo, entronizado entre os louvores de Israel. Nossos pais confiaram em ti; confiaram, e os livraste. A ti clamaram e se livraram; confiaram em ti e não foram confundidos. Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo (Salmo 22.1-6).

O sermão do pastor continua dizendo:

Jesus clama, perguntando ao Pai por que o desamparara. Esse desamparo não é simbólico nem poético. É real! [...] Nunca houve um só momento na história em que o povo pactual de Deus houvesse visto um homem justo clamando a Deus sem ser resgatado. No entanto, o Messias sem mancha dependura-se do madeiro completamente desamparado. [...] Ele tinha se convertido em um verme, e já não era homem. Por que o Messias utilizaria tal linguagem pejorativa consigo mesmo? [...] o Senhor tinha feito que toda nossa iniquidade caísse sobre Ele, e como um verme, Ele foi desamparado e moído em nosso lugar.

O pastor lembra que, semelhantemente, em outras passagens, metáforas comparam o Santo Filho de Deus a uma serpente levantada no deserto (Números 21.8). “O homem morre do veneno de seu próprio pecado”, mas “Deus colocou a causa de nossa morte sobre Seu próprio Filho ao levantá-lo alto sobre a cruz”. Outra metáfora o compara ao “cordeiro expiatório que carregava o pecado e que era deixado a ir morrer sozinho no deserto”, o famoso bode expiatório, mencionado em Levítico 16.21.

O sermão ainda continua:

Não é assombroso que um verme, uma serpente venenosa, e um cordeiro sejam postos como tipos de Cristo? [...] Seria blasfemo se não viesse dos santos do Antigo Testamento ― inspirados pelo Espírito Santo (2ª Pedro 1.21). [...] Temos escutado essas verdades antes, porém, as consideramos o suficiente para sermos quebrantados? Na cruz, Ele que é declarado ― santo, santo, santo pelo coro dos serafins, se fez pecado. [...] Ele morreu sob a ira de Deus. [...] Imaginem duas pedras de moinho, uma girando acima da outra. Imaginem que entre as pedras existe um grão de trigo que é esmagado pelo grande peso. Primeiro, é moído até ser irreconhecível, e depois suas partes internas são espalhadas e moídas ao pó. Não há esperança de removê-lo ou reconstruí-lo. Tudo se perdeu e está irreparável. De igual maneira, ao SENHOR agradou moê-lo (Isaías 53:10). [...] não é que Deus se tenha agradado ou encontrado prazer no sofrimento de Seu amado Filho, mas por sua morte, a vontade de Deus se cumpriu. Nenhum outro meio tinha poder de remover o pecado, satisfazer a justiça, e apaziguar a ira de Deus contrária a nós.

Washer lembra da linda história do quase sacrifício de Isaque, no monte Moriá (Deus proverá). O acontecimento do Antigo Testamento prefigurava o que ia acontecer com Cristo. Mas,

Diferente de Isaque, não havia carneiro que morresse em Seu lugar. Ele era o cordeiro que morreria pelos pecados do mundo. Ele é a provisão de Deus para a redenção de Seu povo. [...] É uma injustiça ao Calvário que a verdadeira dor da cruz frequentemente é passada por alto por um tema romântico e menos poderoso. Frequentemente é pregado que o Pai olhou desde o céu e testemunhou o sofrimento que era acumulado sobre Seu Filho por mãos humanas, [...] o crente é salvo não só porque Cristo pagou pelo que fizeram os homens a Cristo na cruz, mas pelo que Deus fez a Ele. Ele o moeu sob toda a força de Sua ira contra nós.

O apóstolo Paulo, falando na sinagoga de Antioquia, os faz lembrar desta importante profecia da Cruz, a qual eles deviam conhecer. Mas, mesmo sem conhecê-la, ou talvez por isso mesmo, eles a cumpriram. Jesus fala na presença do próprio traidor, em Marcos 14.21: “Pois o Filho do Homem vai, como está escrito a seu respeito; mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do Homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!”

Um filósofo chamado Santayana disse, em 1905[3]: “Aqueles que não podem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. Se nós não considerarmos devidamente a gravidade e a solenidade desta profecia da Cruz, podemos repetir o mesmo erro dos traidores de Jesus, conforme a advertência no livro de Hebreus 6.6, dada aos que já foram iluminados pela palavra de Deus, mas caíram, de que “é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”.

Profecia da ressurreição (30-37)

Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos; e foi visto muitos dias pelos que, com ele, subiram da Galileia para Jerusalém, os quais são agora as suas testemunhas perante o povo. Nós vos anunciamos o evangelho da promessa feita a nossos pais, como Deus a cumpriu plenamente a nós, seus filhos, ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. E, que Deus o ressuscitou dentre os mortos para que jamais voltasse à corrupção, desta maneira o disse: E cumprirei a vosso favor as santas e fiéis promessas feitas a Davi. Por isso, também diz em outro Salmo: Não permitirás que o teu Santo veja corrupção. Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração, conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção. Porém aquele a quem Deus ressuscitou não viu corrupção.

Prosseguindo em seu discurso na sinagoga, Paulo os faz lembrar da profecia da ressurreição do Messias, e afirma que ela foi cumprida em Jesus, de acordo com o testemunho dos apóstolos e centenas de outros discípulos, a maioria ainda viva naquele momento.

Dizem os especialistas que a ressurreição de Cristo é o fato mais comprovado da história. Não há fato histórico que reúna mais provas de ser verdadeiro, do que a ressurreição de Cristo. Ainda assim, arqueólogos e outros cientistas continuam procurando evidências pró ou contra este fato. Uma notícia veiculada no Portal Terra[4], em fevereiro de 2012, diz que

Um grupo de arqueólogos e especialistas em assuntos religiosos apresentou em Nova York as conclusões de uma pesquisa que apresenta indícios da ressurreição de Jesus a partir de um túmulo localizado em Jerusalém há três décadas. [...] O túmulo em questão foi descoberto em 1981 durante as obras de construção de um prédio no bairro de Talpiot, situado a menos de 4 km da Cidade Antiga de Jerusalém. Um ano antes, neste mesmo lugar, foi encontrado um túmulo que muitos acreditam ser de Jesus e sua família. Ao lado do professor de Arqueologia Rami Arav, da Universidade de Nebraska, e do cineasta canadense de origem judaica Simcha Jacobovici, Tabor conseguiu uma permissão da Autoridade de Antiguidades de Israel para escavar o local entre 2009 e 2010. Em uma das ossadas encontradas, que os especialistas situam em torno do ano 60 d.C., é possível ver a imagem de um grande peixe com uma figura humana na boca, que, segundo os pesquisadores, seria uma representação que evoca a passagem bíblica do profeta Jonas. [...] O professor reconhece que suas conclusões são "controversas".

De fato, este achado arqueológico pode demonstrar que aqueles que sepultaram os corpos também criam que Jesus havia ressuscitado, assim como simbolizava o milagre de Jonas e o grande peixe, mas eu concordo com o professor, em que as conclusões são controversas e que esta evidência é muito frágil para ser tomada como prova da ressurreição de Jesus. Há provas muito mais contundentes que um bom jurista poderia usar como argumentos. Mas para mim, e creio que para todo crente em Jesus, a sua ressurreição não é uma questão de prova, mas de fé. Não é possível ser um verdadeiro crente e duvidar que Jesus ressuscitou dentre os mortos, como diz Paulo em 1ª Coríntios 15.12-19:

Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.

A profecia da ressurreição de Jesus foi cumprida, e agora aguardamos o cumprimento da ressurreição de todos os mortos. Uns, para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno, conforme Daniel 12.2.

Profecia da salvação (38-41)

Tomai, pois, irmãos, conhecimento de que se vos anuncia remissão de pecados por intermédio deste; e, por meio dele, todo o que crê é justificado de todas as coisas das quais vós não pudestes ser justificados pela lei de Moisés. Notai, pois, que não vos sobrevenha o que está dito nos profetas: Vede, ó desprezadores, maravilhai-vos e desvanecei, porque eu realizo, em vossos dias, obra tal que não crereis se alguém vo-la contar.

A terceira profecia citada por Paulo é uma promessa que nos dá a certeza da salvação, conforme as palavras de João 3.36: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”.

No portal da CNBB[5], em maio de 2017, foi divulgado em parte o resultado de uma pesquisa, dizendo que,

Atualmente, o planeta possui cerca de 7 bilhões de pessoas e aproximadamente 2,18 bilhões de pessoas que dizem professar a fé cristã. Esses dados foram revelados em um relatório do instituto de pesquisa americano Pew Research Center, e mostra uma predominância entre as duas maiores tradições cristãs do planeta: catolicismo e protestantismo. De acordo com o Pew Research, as principais tradições cristãs são a católica, com 51,4% dos fiéis; os evangélicos, 36% (sendo que a maioria segue a linha pentecostal); e os ortodoxos, que somam 12,6%.

Será que esses 2,18 bilhões de pessoas cristãs, cerca de um terço da população mundial, é o número de pessoas salvas atualmente no mundo? Só Deus sabe, porque não basta dizer que crê, mas tem que crer realmente, conforme Romanos 10.9,10: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”.

Esta profecia da Salvação se cumprirá no final de tudo, de acordo com o que lemos em Apocalipse 21.10,11,27:

[...] e me transportou, em espírito, até a uma grande e elevada montanha e me mostrou a santa cidade, Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, a qual tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. [...] Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro.

Não obstante, os que creem em Jesus já a têm como certa, como se já estivesse cumprida, seguindo o modo de falar do Mestre em João 5.24: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida”.

Conclusão:

Vimos neste texto bíblico que há pelo menos três profecias, das quais, como filhos de Deus, temos a obrigação de tomar conhecimento: Profecia da Cruz, Profecia da Ressurreição, Profecia da Salvação.

O mundo não acabou em 23 de setembro de 2017, mas existem outras profecias que estão se cumprindo ou que ainda vão se cumprir, como por exemplo:

“Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos” (2ª Timóteo 4.3);

Ou esta outra:

“Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu” (Apocalipse 3.15-17).

Oremos, pois, e nos esforcemos, para que estas profecias de afastamento de Deus, de esfriamento da fé, não se cumpram através de nós, e aguardemos firmes e atentos na esperança, porque, assim como as que se cumpriram, todas as demais profecias da Palavra de Deus se cumprirão.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, outubro de 2020.

(*) Foto do cabeçalho: Getty Images. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41359071 Acesso em 19 out. 2020.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

[1] A profecia de Nibiru, o suposto planeta que alguns grupos dizem que levará ao fim do mundo no dia 23. BBC News, 22 setembro 2017. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-41359071 Acesso em 19 out. 2020.

[2] WASHER, Paul David. A Cruz de Cristo. Disponível em: https://files.comunidades.net/topbook/acruzdecristo.pdf Acesso em 08 out. 2017

[3] SANTAYANA, George.  A Vida da Razão, volume I, ali no capítulo XII, livro publicado em 1905. Citado em: https://super.abril.com.br/blog/superblog/frase-da-semana-8220-aqueles-que-nao-conseguem-lembrar-o-passado-estao-condenados-a-repeti-lo-8221/ Acesso em 08 out. 2017. 

[4] Arqueólogos apontam novos indícios sobre ressurreição de Jesus. Portal Terra – Pesquisa, 28/02/2012. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/pesquisa/arqueologos-apontam-novos-indicios-sobre-ressurreicao-de-jesus,c04a00beca2da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html Acesso em 08 out. 2017. 

[5] Cristãos no mundo: 2,18 bilhões de pessoas dizem professar a fé cristã segundo instituto. Portal CNBB - Ecumenismo, 19/05/2017. Disponível em: http://cnbb.net.br/cristaos-no-mundo-7-bilhoes-de-pessoa-dizem-professar-a-fe-crista-segundo-instituto-de-pesquisa-pew-research/ Acesso em 08 out. 2017.