terça-feira, 13 de julho de 2021

Virtudes como legado (Atos 16.35-40)

 

Se você soubesse que ia morrer repentinamente, o que deixaria de herança para as pessoas que ama? Muitos pais de família se preocupam em fazer um seguro de vida, em deixar um sólido patrimônio para seus dependentes. Se ele tiver muitos bens, convém que, antes de partir, deixe um legado, que é a declaração de sua última vontade no testamento. Alguns, porém, entendem que o maior legado que um pai pode deixar para os filhos é o seu exemplo de caráter ilibado.

Embora não estivesse para morrer, mas para deixar a cidade de Filipos, para prosseguir sua viagem missionária, Paulo se preocupou em deixar para eles um legado. Tendo cumprido bem sua missão em Filipos, já estava para partir. Antes, porém, precisava certificar-se de que deixara bem entendida a mensagem do evangelho, especialmente no que diz respeito ao caráter que o cristão deve manifestar perante a sociedade. Ele passou por várias tribulações em Filipos, mas sabia que a tribulação é uma grande oportunidade de dar testemunho do que Cristo opera em nós.

Por isso, em Filipos, Paulo teve a oportunidade de demonstrar algumas virtudes que testemunhavam a respeito do que Cristo opera naquele que crê no evangelho e se torna um servo do Senhor. As virtudes que Paulo demonstrou foram um verdadeiro legado para os filipenses, e também são exemplos para nós, nos dias atuais.

Dignidade (35-37)

Quando amanheceu, os pretores enviaram oficiais de justiça, com a seguinte ordem: Põe aqueles homens em liberdade. Então, o carcereiro comunicou a Paulo estas palavras: Os pretores ordenaram que fôsseis postos em liberdade. Agora, pois, saí e ide em paz. Paulo, porém, lhes replicou: Sem ter havido processo formal contra nós, nos açoitaram publicamente e nos recolheram ao cárcere, sendo nós cidadãos romanos; querem agora, às ocultas, lançar-nos fora? Não será assim; pelo contrário, venham eles e, pessoalmente, nos ponham em liberdade.

Paulo podia simplesmente ir embora, pois já recebera autorização. O carcereiro, que acabara de conhecer Paulo, talvez tivesse pensado no seu íntimo: “Esse apóstolo Paulo é mesmo um sujeito enjoado (encardido)! Ô homenzinho difícil!”. Fosse embora! Fosse em paz! Qualquer um, na situação dele, teria saído correndo.

Mas ele estava, na verdade, sendo guiado pelo Espírito Santo, e viu na situação uma oportunidade de fazer a diferença, de mostrar dignidade. Quem sabe se lembrou das palavras de Jesus:

Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus. (Mateus 5.13-16).

Num estudo sobre o tema Sal da Terra, o pastor Neto Curvina[1] faz o seguinte comentário:

[...] O sal altera (modifica) e melhora o gosto das coisas. O que é uma comida insossa? É aquela sem gosto. Experimente um feijão sem sal. Por mais bonito que ele seja. Que gosto terá? O de feijão. Mas é bom? Não, não é bom. É como o mundo. Ele é o que é, parece bom, até pode cheirar bem. Mas, colocado na boca, imediatamente denuncia que há algo errado. O resultado final é desagradável. Como sal a igreja faz da terra um lugar melhor. Eu tenho que fazer do mundo que me cerca um lugar melhor. [...] O sal, ao contrário do açúcar, não tem atrativo algum em si mesmo. Ele só funciona quando utilizado em função dos outros. Assim é o cristão. Jesus nunca diz que devemos ser doces. Doce atrai moscas, formigas, baratas… E o sal, o que atrai? O que é doce pode ser ingerido cru, sem problema, mas sal… Esse é o problema. Não queremos ser o sal da terra. Queremos ser o doce. Ser procurados, bem recebidos, elogiados.

Precisamos entender que a nossa vida com Cristo só faz sentido se pudermos cumprir pelo menos dois mandamentos: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. E isso é feito quando falamos a verdade de Deus ao próximo. Quando não nos conformamos com esse mundo. Quando não nos rendemos aos ventos de doutrina.

Além de ser o sal da terra, o cristão precisa ser a luz do mundo, pois o mundo anda em trevas, em corrupção. Numa de suas entrevistas, a Ministra Carmen Lúcia[2], então presidente do Supremo Tribunal Federal, disse o seguinte:

“Ética é uma prática diária. É mais ou menos como você ter seus hábitos de higiene. É a higiene moral de uma nação. Nós somos um povo e, como povo, nós temos que nos conduzir segundo a ética [...]. Corrupção passiva e ativa devem ser combatidas, “inclusive os deslizes que são considerados pequenos”, como “furar fila, atravessar onde não pode, atravessar um jardim no meio e matar aquela grama”. “Toda forma de corrupção é maléfica, porque no mínimo ela é um mau exemplo para o filho, ela é um mau exemplo para o cidadão que vê que, em vez de ele contornar a praça e deixar o jardim bonito, ele está matando aquele canteiro”, concluiu.

Se todos os cristãos no Brasil andassem de modo digno do evangelho, acredito que o país seria uma nação feliz. Na carta que Paulo escreveu, depois, aos próprios filipenses (1.27-30), ele aborda o assunto da dignidade do crente:

Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a vós outros, que estais firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé evangélica;

Mas ele sabia que viver de modo digno não é fácil, por isso ele deu o exemplo, e na continuação deste trecho da carta aos filipenses ele ainda diz:

e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus. Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não somente de crerdes nele, pois tendes o mesmo combate que vistes em mim e, ainda agora, ouvis que é o meu.

Quando exigiu que os pretores fossem pedir desculpas e libertá-lo pessoalmente, Paulo demonstrou a todos que era um homem digno, preso injustamente, e esta lembrança de sua dignidade faria parte do seu legado deixado aos irmãos filipenses.

Moderação (38,39)

Os oficiais de justiça comunicaram isso aos pretores; e estes ficaram possuídos de temor, quando souberam que se tratava de cidadãos romanos. Então, foram ter com eles e lhes pediram desculpas; e, relaxando-lhes a prisão, rogaram que se retirassem da cidade.

Eis aí uma oportunidade de vingança! Paulo podia não ter deixado quieto, podia denunciar os pretores aos seus superiores, abrir um processo contra eles. Mas, assim como Paulo sabia que devia ser sal da terra, tinha a consciência de que o sal, para fazer bem, precisa ser moderado. Ele precisa dar sabor, temperar, mas não pode salgar em excesso. Foi suficiente os pretores terem ido lá e se humilhado, pedindo com rogos que Paulo e Silas se retirassem da cidade. O objetivo da disciplina já havia sido atingido. Agora era hora de mostrar misericórdia, perdão, moderação. Ele mesmo escreveu a Timóteo, mais tarde, alertando-o para o fato de que “Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” (2ª Timóteo 1.7). E aos próprios filipenses ele escreve também: “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens. Perto está o Senhor (Filipenses 4.5)”.

O economista Samy Dana[3], em seu blog, fala de uma pesquisa feita pelo seu colega austríaco Ernst Fehr que abordou o problema do desejo de vingança. Diz assim o artigo:

[...] O estudo de Fehr mostrou que a maioria das pessoas que tinha a oportunidade de se vingar do seu parceiro egoísta tirava proveito dela. E enquanto tomavam estas decisões, os participantes estavam em um aparelho de tomografia, que revelou que na hora de decidir pela vingança, quem era acionado era o striatum, a parte do cérebro associada com recompensas. Ou seja: ao punir os outros, temos uma forte sensação de prazer [...]. Ainda que, racionalmente, faça mais sentido simplesmente ignorar o outro e bola para frente [...], muitas vezes, estamos dispostos a até gastar dinheiro, energia e tempo para criar uma vingança perfeita [...].

Para quem ama a Cristo, porém, há maior prazer em não se vingar, conforme Paulo, contando sua própria experiência em 2ª Coríntios 12.10: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”.

Ao ter aceitado como suficiente o pedido pessoal de desculpas por parte dos pretores, Paulo demonstrou moderação, deixando a lembrança desta virtude como legado para os recém-convertidos filipenses.

Benevolência (40)

“Tendo-se retirado do cárcere, dirigiram-se para a casa de Lídia e, vendo os irmãos, os confortaram. Então, partiram”.

Parece contraditório o que diz o texto. Paulo e Silas foram açoitados e presos sem terem nenhuma culpa, suas costas ainda estavam feridas, certamente muito doloridas, e tinham sofrido tudo isso somente por fazerem o que Deus mandou: pregar o evangelho. Tinham todos os motivos para estarem abatidos, desanimados, temerosos das demais ameaças que os rondavam nesse ministério. Eles é que precisavam receber palavras de incentivo, de ânimo, de conforto. Mas em vez disso, o que lemos no versículo 40 é que eles se dirigiram para a casa de Lídia e confortaram os irmãos. O Espírito Santo colocou em seus corações amor suficiente para esquecerem suas próprias dores, e pensarem no bem-estar dos recém-convertidos, novatos na fé, que deviam estar alarmados e grandemente preocupados com o que acontecera aos apóstolos, com a perseguição que sofreram.

Uma pesquisa da ONU, divulgada em 2010, revela que o brasileiro, de um modo geral, tem a tendência de ser benevolente. Uma notícia no site do Bom dia Brasil[4], em 2010, diz o seguinte:

A ONU perguntou para os brasileiros: "O que precisa mudar no país para sua vida melhorar?". Meio milhão respondeu que são os valores. A partir desse retorno da população - que surpreendeu os pesquisadores - o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com o Ibope e com o programa de voluntários das Nações Unidas, foi a campo descobrir quais são esses valores [...]. O brasileiro deu maior nota e provou que preza mais o valor da benevolência e da solidariedade [...]. Pode-se dizer que os brasileiros se percebem valorizando em primeiro lugar o bem-estar das pessoas que são próximas, com quem convivem, e mantêm algum laço afetivo, acreditando que é importante ajudá-las.

Que bom que o brasileiro pensa assim! Porém a prática pode ser diferente da percepção, pois existe grande distância entre pensar de um modo e agir desse mesmo modo.

Um artigo no Infomoney[5] revela que:

O Brasil e a Venezuela disputam o título de país mais egoísta da América do Sul. Ambas as nações estão na 91ª posição do ranking World Giving Index de 2013, divulgado pelo instituto CAF (Charities Aid Foundation), que mede a generosidade dos países. De acordo com o levantamento, durante o ano de 2013, somente 42% dos brasileiros ajudaram um desconhecido, 23% doaram dinheiro para caridade e 13% fizeram algum tipo de trabalho voluntário. Dentre as 155 mil pessoas de 135 países que foram entrevistadas, os norte-americanos foram os mais generosos, seguidos pelos canadenses. Já a Grécia decepcionou por ser o país mais egoísta.

É bem provável que estas pesquisas não representem fielmente a realidade de cada um de nós, mas de uma coisa podemos ter certeza: para praticar, de fato, a benevolência, esquecer suas próprias dores e agir para o bem-estar do próximo, é preciso a capacitação do Espírito Santo, naqueles em quem manifesta o seu fruto, que é “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5.22).

Ao esquecer-se de suas próprias dores e preocupar-se em confortar os outros, Paulo demonstrou a virtude da benevolência, e esta lembrança certamente fez parte do seu legado.

Conclusão

Assim aprendemos que Paulo, antes de partir, deixou um legado para os filipenses, do qual fazem parte as virtudes:

a)   A dignidade, porque fez questão de obrigar os pretores a retirá-los pessoalmente da prisão, mostrando que eram dignos de respeito, que eram cidadãos romanos, cientes e cumpridores dos seus deveres, e não podiam ter sido tratados daquela maneira pelas autoridades.

b)  A moderação, porque, apesar de terem submetido os pretores à humilhação de terem que ir lá e lhes pedir desculpas, não levaram o caso adiante por vingança, mas saíram em paz e deixaram de lado essa questão, pois o propósito de terem exigido respeito das autoridades já havia se cumprido.

c)   A benevolência, porque em vez de ficarem se condoendo e se lamentando por causa das coisas sofridas, esqueceram sua própria dor e pensaram no bem-estar dos novos discípulos, e foram confortá-los para que não temessem as ameaças de quem quer que seja, para se dedicarem com coragem à sua nova vida com Cristo.

Que legado você pretende deixar para as pessoas com quem convive? Como você quer ser lembrado, quando tiver que partir? Podemos seguir o exemplo de Paulo, assim como ele seguia o exemplo de Cristo. Que possamos demonstrar, em nossas relações pessoais, as virtudes da Dignidade, da Moderação e da Benevolência.

 

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, julho de 2021.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/motivacao-pessoal/qual-legado-voce-pretende-deixar-para-seus-filhos/ Acesso em 13 jul. 2021.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

[1] CURVINA NETO, Milton. O Sal da Terra. Site Gospel Mais/Estudos Bíblicos, 11 nov. 2015. Disponível em: https://estudos.gospelmais.com.br/o-sal-da-terra.html Acesso em 23 mar. 2018.

[2] “Corrupção é erva daninha”, diz Cármen Lúcia. Jovem Pan Online/Programas/Jornal da Manhã, 23/03/2018. Disponível em: http://jovempan.uol.com.br/programas/jornal-da-manha/corrupcao-e-erva-daninha-diz-carmen-lucia.html Acesso em 23 mar. 2018.

[3] DANA, Samy; SANDLER, Carolina Ruhman.  Economistas explicam o desejo de vingança. G1/Economia, 06/02/2016. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/blog/samy-dana/post/economistas-explicam-o-desejo-de-vinganca.html Acesso em 25 mar. 2018.

[4] Brasileiros se preocupam com bem-estar dos próximos. Bom dia Brasil online, 25/05/2010. Disponível em: http://g1.globo.com/bom-dia-brasil/noticia/2010/05/brasileiros-se-preocupam-com-bem-estar-dos-proximos.html Acesso em 25 mar. 2018.

[5] Brasil é o país mais egoísta da América do Sul. Infomoney, 05/12/2013. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/infomoney/2013/12/05/brasil-e-o-pais-mais-egoista-da-america-do-sul.htm Acesso em 13 jul. 2021.


sábado, 3 de julho de 2021

Que devo fazer para que seja salvo? (Atos 16.25-34)

Atualmente, sobre quase tudo o que queremos aprender, podemos encontrar muitas e boas informações na rede mundial de computadores. Desde como fazer um bolo até como consertar os mais complicados aparelhos eletrônicos, os vídeos, imagens e textos postados por cidadãos comuns, que se propõe a ensinar o que aprenderam, estão de portas abertas para nos ensinar.

No tempo de Paulo não tinha estes recursos, e um competente carcereiro estava carregando em seu coração, é bem provável que há muito tempo, uma grande dúvida que, embora a buscasse avidamente, ainda não encontrara resposta consistente: “Que devo fazer para que seja salvo?” Ele parecia, em vez de carcereiro, um prisioneiro em suas próprias emoções, prestes mesmo a atentar contra sua própria vida, num momento de grande crise. Mas quando a graça de Deus o alcançou, ele viu, finalmente, as portas se abrindo. Vejamos, neste texto bíblico, quais foram estas portas que se abriram para o carcereiro, para o libertar da angústia de sua alma.

As portas do cárcere (25-28)

Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam. De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos. O carcereiro despertou do sono e, vendo abertas as portas do cárcere, puxando da espada, ia suicidar-se, supondo que os presos tivessem fugido. Mas Paulo bradou em alta voz: Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos!

Estas portas sendo abertas, à primeira vista, não parecia ser motivo de bênção, mas de maldição, para o carcereiro. Quando o milagroso terremoto sacudiu os alicerces e abriu as portas da prisão de que era responsável, ele achou que seu mundo tinha caído e, portanto, só lhe restava a morte.

Talvez outros presos tivessem reclamado com Paulo, por não ter ficado quieto e deixado o carcereiro se matar, para então poderem fugir. Mas Paulo e Silas, que há poucos instantes estavam orando e cantando louvores, em meio à dor dos açoites e à humilhação da prisão, logo souberam que este acontecimento vinha da parte de Deus, que estava fazendo um milagre para a salvação de muitas almas, e isto não era ocasião de buscarem vantagens pessoais.

Assim como hoje há muitas corporações que têm seus representantes cristãos, como Atletas de Cristo, PMs de Cristo, Motociclistas de Cristo, Paulo se colocou naquele momento como um verdadeiro “Prisioneiro de Cristo”. Ele se declarou assim, na carta aos efésios: “[...] por esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Cristo Jesus, por amor de vós, gentios” (Efésios 3.1).

Para Paulo, até as prisões que sofreu eram encaradas como oportunidades para testemunhar, e assim declarou, em carta a Timóteo, seu amor a Cristo e ao evangelho, pelo qual sofria até algemas, como malfeitor, que, “[...] contudo, a palavra de Deus não está algemada” (2ª Timóteo 2.9), e era possível gerar filhos espirituais entre algemas, a exemplo de Onésimo (Filemon 1.10).

Muitas pessoas acham que são livres para praticar todo tipo de abominações, mas são, na verdade, prisioneiros do pecado. Para estes, as portas do cárcere somente se abrirão no momento de comparecerem perante o Juiz e receberem a condenação eterna, junto com os “anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio” que Deus “tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia” (Judas 1.6).

Quando as portas da prisão se abriram, frustrando o seu competente trabalho de guardar os prisioneiros, o carcereiro pensou que era o seu fim, mas não. Era apenas o começo de sua libertação.

As portas da salvação (29-31)

Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo? Responderam-lhe: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.

Eles bem que podiam fugir, mas estavam tão sintonizados com o Espírito Santo que perceberam que as portas estavam abertas, não para que eles saíssem, mas sim para que o carcereiro entrasse. Naquele momento, para ele, elas eram as portas da salvação.

Era uma hora apropriada para Paulo e Silas utilizarem as chaves mencionadas em Mateus 16.19, quando Jesus disse a Pedro: “dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus”. Era a hora de apresentarem Jesus, que afirmou em João 10.7: “Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas”; e em João 10.9: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, e sairá, e achará pastagem”.

As portas da casa do carcereiro (32-34)

E lhe pregaram a palavra de Deus e a todos os de sua casa. Naquela mesma hora da noite, cuidando deles, lavou-lhes os vergões dos açoites. A seguir, foi ele batizado, e todos os seus. Então, levando-os para a sua própria casa, lhes pôs a mesa; e, com todos os seus, manifestava grande alegria, por terem crido em Deus.

O milagre daquela noite foi tão excepcional que, agora, até as portas da casa do carcereiro se abriram para os apóstolos e, em consequência, para Cristo, pois ele disse que,

Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou. Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo. E quem der a beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão (Mateus 10.40,42).

Desde o começo, os lares cristãos têm sido locais de reuniões, de hospitalidade e de promoção do evangelho. Durante o ministério terreno de Jesus, muitos lares o acolheram, como o de Pedro, (cuja sogra foi curada), de Marta e Maria, de Zaqueu, de Levi. Temos notícias de igrejas que se reuniam nas casas de Áquila e Priscila (1ª Coríntios 16.19), Ninfa (Colossenses 4.15), Filemon (1.2), João Marcos (Atos 12.12), e sabemos que era comum eles se reunirem de casa em casa para partir o pão.

Os templos são confortáveis, abrigam maior número, mas não têm o aconchego, a intimidade e o alcance que só os lares podem prover. Por isto é tão importante abrirmos nossas portas para receber os irmãos. Mais importante, porém, é manter nosso lar sempre apto a receber o próprio Senhor Jesus, na pessoa do Espírito Santo. Nada que seja incompatível com a santidade de Deus deve permanecer em nossos lares cristãos.

Conclusão

O que devo fazer para que seja salvo? Esta é uma pergunta que muitos se fazem, ainda hoje, e procuram uma porta aberta para que possam entrar na bem-aventurança.

As portas do cárcere abertas, a princípio, representavam ao carcereiro motivo de frustração e desespero, a ponto de tentar o suicídio. Mas no final ele viu que foi uma bênção, pois as portas da salvação lhe foram abertas através disso, quando lançou a pergunta e recebeu a resposta: “Crê no Senhor Jesus [...]”. E, crendo ele, abriu as portas de sua própria casa para o evangelho entrar.

 

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, julho de 2021.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://www.pcamaral.com.br/2012/06/confessei-te-o-meu-pecado-e-minha.html Acesso em 03 jul. 2021.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Ameaçados (Atos 16.16-24)

 


A apresentação do abismo ligado é um método de evangelização que consiste em conscientizar a pessoa de que está separada do amor de Deus e da salvação, e que precisa fazer uma decisão de crer em Jesus, ato simbolizado pela travessia de uma ponte formada pela cruz de Cristo. O ponto mais tenso da apresentação é o momento da decisão. Até ali as pessoas podem ouvir com muita atenção e prazer, mas quando se sentem pressionadas pelo desafio de “atravessar a ponte”, muitas recuam, porque se sentem, de certa forma, ameaçadas.

É com um sentimento semelhante, envolvendo medo e ressentimento, que Paulo e os demais missionários foram tratados na cidade de Filipos, conforme Atos 16.16-24. As pessoas rejeitaram o evangelho porque o acharam ameaçador. Comparando este parágrafo bíblico com a nossa realidade, podemos notar que, ao serem evangelizadas, há pelo menos três ameaças sentidas pelas pessoas, que as fazem rejeitar o evangelho.

Ameaça ao lucro (16-19)

Aconteceu que, indo nós para o lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então, Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu. Vendo os seus senhores que se lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em Paulo e Silas, os arrastaram para a praça, à presença das autoridades;

A jovem escrava filipense tinha um dom que é o sonho de consumo dos grandes operadores do mercado financeiro em nossos dias, já que era portadora de informações superprivilegiadas. Ao incomodar o apóstolo Paulo, contudo, este acabou revelando que o dom da moça era de natureza maligna, expulsando o espírito que a possuía, levando as autoridades, até então tolerantes, a identificarem os missionários como uma grande ameaça à economia local, já que, num só golpe, desfizeram a esperança do lucro dos que exploravam a pobre adivinhadora endemoninhada.

O propósito de obter lucro, em si, não é uma coisa má. O dinheiro não é a raiz de todos os males, mas sim o amor ao dinheiro, a falta de escrúpulos, a ganância. É possível e desejável que o enriquecimento aconteça por meios honestos, sem a necessidade de opressão aos mais fracos.

Um artigo do site Globo Ação[1] divulga que

Muitos empreendedores descobriram que os ganhos de uma empresa podem ser redirecionados também para a conquista do bem-estar social de uma determinada comunidade. A mistura de geração de renda com sustentabilidade é o chamado negócio social, termo cunhado pelo economista e professor Muhammad Yunus, prêmio Nobel da Paz de 2006”.

Peter Ferdinand Drucker[2], considerado como o pai da administração moderna, disse que

Uma empresa que visa o lucro é, não apenas falsa, mas também irrelevante. O lucro não é a causa da empresa, mas sua validação. Se quisermos saber o que é uma empresa, devemos partir de sua finalidade, que será encontrada fora da própria empresa. E essa finalidade é criar um cliente.

O lucro financeiro não pode ser encarado como uma razão de viver, como bem lembra Augusto Cury[3], ao afirmar que

Fazer coisas fora da agenda é fazer coisas inesperadas, romper a rotina, quebrar a mesmice. É nutrir sua história com aventura. É ser um caminhante nas trajetórias do próprio ser. É gastar tempo com aquilo que lhe dá lucro emocional e não financeiro. É ter um caso de amor com a vida.

Mas o cristão, que deveria ser um exemplo de desapego às coisas do mundo, às vezes tem uma atitude contrária aos princípios do evangelho, conforme 1ª Timóteo 6.3-12:

Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende, mas tem mania por questões e contendas de palavras, de que nascem inveja, provocação, difamações, suspeitas malignas, altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro. De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão. Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.

Estas são sérias advertências, pois a busca do lucro a qualquer custo pode afastar a pessoa da piedade e do verdadeiro evangelho, encarando-o simplesmente como uma ameaça ao seu lucro.

Ameaça à tradição (20-21)

“[...] e, levando-os aos pretores, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade, propagando costumes que não podemos receber, nem praticar, porque somos romanos”.

As autoridades de Filipos apresentaram como argumento, para deter os evangelistas, que eles propagavam costumes contrários à sua tradição. O medo e o ressentimento por sentir que o evangelho ameaça a sua tradição pode afastar as pessoas da decisão de seguirem a Cristo. Este pode ser o caso que acontece em lugares como o Nepal, segundo o site Guia-me[4], o qual informou, em 2017, que

O presidente do Nepal assinou um projeto de lei que efetivamente proíbe a evangelização, a conversão religiosa e o ato de "ferir o sentimento religioso" - norma que inclui a proibição ao trabalho de missionários cristãos no país. [...] Quem for condenado de acordo com a nova lei - incluindo visitantes estrangeiros - pode ser condenada a até cinco anos de prisão por "tentar converter uma pessoa" ou "prejudicar a religião, fé ou crença de que qualquer casta, grupo étnico ou comunidade".

Aqui no Brasil, também, o evangelho pode ser afetado por este fenômeno, quando as pessoas o rejeitam por se sentirem ameaçadas em suas tradições. Temos aqui muitas comunidades indígenas, judaicas, muçulmanas, além de ideologias, as mais diversas.

Quando alguém se converte, crendo no evangelho de Jesus Cristo, é natural que comece a questionar algumas tradições que antes seguia. Afinal, ele se torna uma “nova criatura”, para a qual as “coisas antigas já passaram”, e “se fizeram novas” (2ª Coríntios 5.17). Mas não é necessário que o novo convertido rejeite completamente as suas tradições e, em muitos casos, ele acaba fazendo somente alguns ajustes.

As festividades do solstício do inverno (ou do verão, no hemisfério sul), por exemplo, poderiam continuar acontecendo, mas agora com uma motivação diferente, celebrando o nascimento de Jesus Cristo (ainda que saibamos que esta provavelmente não é a sua verdadeira data natalícia).

Já as festividades do solstício do verão (ou do inverno, no hemisfério sul), ideais para comemorar o nascimento de João Batista que, segundo o relato bíblico, nasceu seis meses antes do Salvador, são aproveitadas principalmente pelos cristãos católicos. Entre os evangélicos, porém, há resistência em participar das festas juninas, pelo que algumas igrejas decidiram inovar, criando a festa de “Sem João”, de acordo com um artigo no site da UOL[5]:

Santo Antônio, São João e São Pedro. As festas juninas estão entre as celebrações mais populares do país, mas contêm o elemento religioso, do catolicismo, que costumava afastar evangélicos das comemorações. Há ainda elementos de festa pagã --os cultos solares, que já aconteciam na Antiguidade nos dias de solstício de verão no hemisfério Norte-- e sincretismos religiosos --é o início do ano agrícola para os indígenas brasileiros, que cultivavam o milho, um dos principais integrantes da mesa junina-- abominados pelas igrejas evangélicas. O fim dessa resistência, no entanto, foi ensaiado e já é praticado em comunidades evangélicas do Nordeste ao Sul, sem no entanto elementos que remetam ao que os adeptos desaprovam. As fogueiras, por exemplo, nem sempre são acesas. Os santos não existem (a Festa de São João virou a de “Sem João, com Cristo”) e as bebidas não incluem álcool. O quentão (cachaça fervida com gengibre) virou o “crentão” (algum suco fervido com gengibre). Há até o vinho crente, feito com suco de uva.

A Bíblia nos ensina, em: 1ª Tessalonicenses 5.21: “julgai todas as coisas, retende o que é bom”. Portanto, não há motivo para os cristãos não reterem o que é bom nas tradições que herdaram de seus antepassados.

Ameaça ao status. (22-24)

Levantou-se a multidão, unida contra eles, e os pretores, rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los com varas. E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco.

Os donos da escrava adivinhadora usaram uma estratégia de acusação que comoveu o povo e fez os pretores mandarem açoitar os missionários, provavelmente por medo de perderem seu status perante a multidão, e, consequentemente, perante o imperador. Sua situação lembra a de Pilatos, quando teve que julgar Jesus e, mesmo considerando-justo, o condenou por medo da acusação da multidão em João 19.12 “[...] se soltas a este, não és amigo de César! Todo aquele que se faz rei é contra César!”.

O carcereiro de Filipos também achava que seu status e sua segurança dependiam do seu zelo, por isso prendeu Paulo e Silas no mais interior do cárcere, e ainda os acorrentou os pés ao tronco. Mas essa impressão de segurança foi perdida ao ver que Deus abrira todas as portas e soltara todas as correntes. Foi então que conheceu a verdadeira segurança quando, finalmente, creu em Jesus.

O evangelista indiano Sundar Singh nasceu em 03 set. de 1889, era filho do governador e sardar (chefe) Sher Singh, no Estado Sik de Patiala, no distrito de Rampur. Ele se converteu em 18 dezembro 1904. De acordo com a Wikipedia[6],

[...] Ele viajou por toda a Índia vestindo um roupão amarelo sem comida e sem qualquer residência permanente. Ele viveu somente da caridade de outras pessoas. [...] Em 1906, ele foi ao Tibet, pela primeira vez em sua vida. Esse país o atraiu, principalmente por causa da grande resistência contra o evangelismo. Sundar visitava o Tibet a cada verão. Em 1929, ele visitou o país novamente e nunca mais foi visto desde então. Sundar manifesta em sua vida o versículo escrito em Marcos 8:35 que diz: "Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem perder a vida para mim e para o Evangelho vai salvá-la.".

No livro “O Apóstolo dos pés sangrentos”, Boanerges Ribeiro[7] conta que, após sua conversão,

O ambiente familiar tornava-se cada dia mais carregado. Afinal, Sher Singh resolveu enfrentar a situação e procurou o filho. Expôs-lhe seus aborrecimentos. Se Sundar continuasse obstinado no seu cristianismo, ele acabaria perdendo o respeito do Distrito. Afinal, era sardar, e se em sua própria casa se manifestava a apostasia, com que autoridade imporia ao povo acatamento aos princípios e costumes siks? Não somente ele, mas toda a família já sofria a teima de Sundar. Pois então ele não podia dirigir seu fervor religioso para outro lado, se lhe era mesmo impossível abandonar esse fanatismo que manifestava desde a infância? Não viviam tão bem com a religião de seus antepassados? Para que, agora, esse estranho capricho? O cristianismo era a religião de estrangeiros – dos estrangeiros que oprimiam a Índia. Falava com calma e gravidade, como se o filho menor fosse um adulto que lhe merecesse todo o respeito e consideração. E quando o moço respondeu, com firmeza, que não se tratava de mania nova, mas de uma realidade que o dominava e à qual consagraria a vida, fez a derradeira tentativa: bem, pois que se fizesse cristão, se isto lhe agradava. Mas o pai lhe pedia ao menos um obséquio: não lhe enxovalhasse o nome pregando a torto e a direito que tinha nova religião. Seguisse a Cristo em silêncio, em casa. Que necessidade havia de lançar publicamente lama sobre o nome honrado da família? (p.13).

Podemos ver na fala do pai de Sundar a sua preocupação com seu status, sua segurança, sua estabilidade. Por outro lado, Sundar encontrou tudo isto em Cristo, que é “[...] poderoso para guardar o meu depósito até aquele Dia” (2ª Timóteo 1.12).

Conclusão

Imagine-se à beira do abismo, prestes a dar o primeiro passo e atravessar aquela ponte que vai levá-lo, com segurança, ao lado onde vai se encontrar com Deus, abandonando tudo o que este mundo oferece de maneira ilusória. A sua travessia representa a sua salvação, já que este mundo “jaz no maligno” (1ª João 5.19). Mas esta travessia lhe parece uma ameaça, seja em termos de lucro, de tradição ou de status. Atravessar ou não a ponte sobre o abismo que o separa de Deus é uma questão de fé em Jesus Cristo, o Salvador morto na cruz, por nossos pecados, sepultado, e ressuscitado no terceiro dia, segundo as Escrituras.

Mas, se argumentos racionais ajudarem, considere que o dinheiro não traz a felicidade. A verdadeira felicidade está em Jesus. Isaías 55.2-6 diz:

Por que gastais o dinheiro naquilo que não é pão, e o vosso suor, naquilo que não satisfaz? Ouvi-me atentamente, comei o que é bom e vos deleitareis com finos manjares.  Inclinai os ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi. Eis que eu o dei por testemunho aos povos, como príncipe e governador dos povos. Eis que chamarás a uma nação que não conheces, e uma nação que nunca te conheceu correrá para junto de ti, por amor do SENHOR, teu Deus, e do Santo de Israel, porque este te glorificou. Buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.

A tradição só é importante na medida em que serve a um bom propósito. Ela não pode se sobrepor aos mandamentos de Deus. Jesus advertiu os fariseus por essa causa, em Mateus 15.3 “[...] Por que transgredis vós também o mandamento de Deus, por causa da vossa tradição?”

O melhor status, a verdadeira segurança, está em Jesus. Provérbios 1.32,33 diz que “Os néscios são mortos por seu desvio, e aos loucos a sua impressão de bem-estar os leva à perdição. Mas o que me der ouvidos habitará seguro, tranquilo e sem temor do mal”.

O evangelho do Senhor Jesus Cristo não é uma ameaça, mas sim uma bênção eterna.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, abril de 2021.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: อยากทราบว่ากรรมอะไรที่ทำให้ต้องฆ่าตัวตาย | พลังจิต (palungjit.org) Acesso em. 26 abr. 2021.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.

[1] Empresas não buscam apenas lucro, mas também o bem-estar social. Site da Globo Ação, 17/11/2012. Disponível em: http://redeglobo.globo.com/acao/noticia/2012/11/empresas-nao-buscam-apenas-o-lucro-mas-tambem-o-bem-estar-social.html Acesso em 18 fev. 2018.

[2] Disponível em: https://kdfrases.com/frase/164307 Acesso em 18 fev. 2018.

[3] CURY, Augusto Jorge. Dez leis para ser feliz: Ferramentas para se apaixonar pela vida. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p. 18.

[4] Cristãos são proibidos de evangelizar, após aprovação de nova lei no Nepal. Fonte: Guiame, com informações do God Reports, nov. 2017. Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/missoes-acao-social/cristaos-sao-proibidos-de-evangelizar-apos-aprovacao-de-nova-lei-no-nepal.html Acesso em 18 fev. 2018.

[5] SILVA, Marcos Sergio. Festa "sem João" evangélica adapta a junina com música gospel e "crentão" sem álcool. UOL/Cotidiano, 23/06/2027. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/06/23/festa-sem-joao-evangelica-adapta-a-junina-com-musica-gospel-e-crentao-sem-alcool.htm Acesso em 25 abr. 2021.

[6] Sadhu Sundar Singh. Wikipedia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sadhu_Sundar_Singh Acesso em 18 fev. 2018.

[7] RIBEIRO, Boanerges. O Apóstolo dos pés sangrentos. São Paulo: CPAD, 1988.

sábado, 27 de março de 2021

Comunicação e cooperação (Atos 16.6-15)

No artigo “Brasileira doutora nos EUA  diz como vacinas da covid surgiram tão  rápido”,  disponível no site da UOL[1], a Doutora Denise Golgher responde a uma das perguntas dizendo que: “[...] Durante um ano de tanto sofrimento, temos um experimento gigante, que demonstrou que trabalhando juntos,  o público e o privado, a ciência e os negócios, as agências reguladoras e organizações sem fins lucrativos, conseguem gerar resultados incríveis para o bem da humanidade”.   

    Isto se aplica também, com toda certeza, à maior obra do mundo, que é a evangelização. Ninguém pode fazer a obra de Deus sem ajuda, pois a obra é do Senhor, e nós somos seus cooperadores. Paulo costumava dizer aos Coríntios: “[...] Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós” (1ª Coríntios 3.9).

    Os crentes em Cristo, na qualidade de cooperadores, além de precisarem estar em permanente contato uns com os outros, precisam manter comunicação constante com Deus, para fazerem adequadamente a sua obra. Algumas razões podem ser apontadas, pelas quais os crentes devem manter com Deus uma comunicação constante.

Permissão do Espírito (6,7)

    “E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia, defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de Jesus não o permitiu”.

    Para fazermos bem a obra precisamos, em primeiro lugar, da permissão do Espírito Santo. O novo nascimento, claro, é um requisito fundamental para que sejamos habilitados, e assim como a equipe de Paulo foi impedida de pregar a palavra na Ásia, por mais que o seu coração desejasse, assim também nós não devemos avançar sem a permissão do Espírito. Muitos obstáculos que, equivocadamente, atribuímos ao inimigo, podem ter sido colocados pelo próprio Espírito Santo, que tem uma visão privilegiada e estratégica, enquanto nós temos uma visão limitada.

    Existe um hino em que cantamos: “Mais de Cristo eu quero ter, mais do seu amor obter [...]”. Um crente sincero deseja e busca cada dia mais ser cheio do Espírito de Cristo. Porém, de acordo com uma pregação que ouvi de um amado pastor, “o que importa é o quanto o Espírito tem de você, e não o quanto você tem do Espírito”. Ele é que enche as velas espirituais para guiar e impulsionar o barco de nossas vidas, quando estamos em constante comunicação. Como um veleiro, então, seguimos no caminho que nos permitem os seus bons ventos.

Orientação do Espírito Santo (8-13)

E, tendo contornado Mísia, desceram a Trôade. À noite, sobreveio a Paulo uma visão na qual um varão macedônio estava em pé e lhe rogava, dizendo: Passa à Macedônia e ajuda-nos. Assim que teve a visão, imediatamente, procuramos partir para aquele destino, concluindo que Deus nos havia chamado para lhes anunciar o evangelho. Tendo, pois, navegado de Trôade, seguimos em direitura a Samotrácia, no dia seguinte, a Neápolis e dali, a Filipos, cidade da Macedônia, primeira do distrito e colônia. Nesta cidade, permanecemos alguns dias. No sábado, saímos da cidade para junto do rio, onde nos pareceu haver um lugar de oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que para ali tinham concorrido.

    A maneira como Lucas narra o processo que os levou à decisão de evangelizar a Macedônia aponta para o fato de que o Espírito Santo não lhes falou explicitamente, mas sugeriu que essa era a melhor decisão.

    A visão de Paulo pode ter sido um sonho. Podemos também ter uma “visão”, como costumam dizer os grandes empreendedores; ou uma “iluminação” da Palavra de Deus. Mas isso é apenas a percepção humana. Somos muito suscetíveis ao erro. Deus, no entanto, sempre faz a sua vontade prevalecer.

    Tomemos como exemplo o contraste das percepções de Barnabé e Paulo. Eles se separaram, e parece que Paulo tomou o caminho mais acertado. Se Barnabé tivesse se submetido à liderança de Paulo, não teria sido substituído por Silas nessa segunda viagem missionária. Mas apesar de Barnabé ter desaparecido da narrativa de Atos, depois da divergência com Paulo, ele e Marcos, pivô de seu desentendimento, são mencionados de maneira honrosa nas cartas aos colossenses e a Timóteo, demonstrando que Deus tinha um plano também para eles:

    “Saúda-vos Aristarco, prisioneiro comigo, e Marcos, primo de Barnabé (sobre quem recebestes instruções; se ele for ter convosco, acolhei-o)” (Colossenses 4.10).

    “Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério” (2ª Timóteo 4.11).

    Nossa principal fonte de orientação é a Bíblia, que é inspirada por Deus, mas foi escrita por homens, cujas personalidades e estilos literários, às vezes tão diferentes como eram Paulo e Tiago, deixam suas marcas em cada obra. 2ª Timóteo 3.16 diz que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça [...]”; 2ª Pedro 1.19-21 completa as informações sobre a inspiração das escrituras dizendo:

Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo, primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.

    Um estudo preparado por Hélio de Menezes Silva[2] informa que a Bíblia tem 39 + 27 = 66 livros, e

Embora escrita por cerca de 40 (!) homens, de cerca de 19 (!) ocupações e backgrounds diferentes, em 11 (!) países, durante pelo menos 1500 (!) anos, em aproximadamente 10 gêneros literários, com muitos dos seus escritores não conhecendo nenhum outro ou somente conhecendo alguns poucos dos seus demais escritores, a Bíblia é clara e espantosamente um só (e completo) livro! Que contraste com os outros livros “sagrados”, que essencialmente são coleções de material heterogêneo, sem começo nem meio nem fim, inúmeras vezes frontalmente discordantes!

    Não obstante o reconhecimento de que as Escrituras são inspiradas, tendo como autor o próprio Deus, vemos em 2ª Pedro 3.15,16, de relance, um pouco da percepção de Pedro a respeito dos fortes traços da personalidade de Paulo contidos em seus escritos sagrados:

[...] e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.

    Deus usa cada um segundo suas características, seus dons, sua personalidade, para a realização de sua obra. Sendo nós cooperadores na obra de Deus, nada de bom podemos fazer sem a ajuda do Espírito Santo, e por isto precisamos estar em constante comunicação com ele, que nos proporciona orientação, ainda que a luz não nos seja dada de maneira tão intensa quanto gostaríamos que fosse, mas, ainda assim, providencial como “uma candeia que brilha em lugar tenebroso”.

Convencimento do Espírito Santo (14,15)

Certa mulher, chamada Lídia, da cidade de Tiatira, vendedora de púrpura, temente a Deus, nos escutava; o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia. Depois de ser batizada, ela e toda a sua casa, nos rogou, dizendo: Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai. E nos constrangeu a isso.

    Autorizados e orientados pelo Espírito Santo, Paulo e sua equipe encontraram um lugar de oração, onde falou para as mulheres presentes. Entre elas estava Lídia, vendedora da púrpura, de quem o Senhor abriu o coração para atender à pregação, sendo batizada junto com toda a sua casa. Isto ilustra o que profetizou Jesus em João 16.8 sobre o Espírito Santo, dizendo: “[...] quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. Ele também disse em João 6.37: “todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora”. Sua reação à reveladora resposta de Pedro em Mateus 16.15-17, quando confessou que Jesus é o Cristo, foi: “[...] bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelaram, mas meu Pai, que está nos céus”.

    Jeremias 29.10-14 fala a Israel, nação que estava indo para o cativeiro porque não havia buscado a Deus de todo o coração, que depois de um juízo de 70 anos, a sua atitude iria mudar:

Assim diz o SENHOR: Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vós outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais. Então, me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. Serei achado de vós, diz o SENHOR, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nações e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o SENHOR, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exílio.

    Por mais que seja bem aceita e desejada por Deus a nossa intervenção na evangelização do mundo, devemos compreender que somos não mais do que um instrumento, uma voz, um incentivo, no convencimento do pecador, quando ele se arrepende e se entrega a Cristo. Por isto é tão importante que estejamos em constante comunicação com aquele que opera em nós tanto o querer quanto o realizar.

Conclusão

    Existe uma igreja que não gosta de chamar seus líderes de pastores, para que eles não se ensoberbeçam. Chamam-nos de cooperadores. Na maioria das igrejas, porém, são pastores. Ora, o pastor de ovelhas, que inspirou a nomenclatura, não era uma profissão muito nobre em Israel (como não era considerada nobre no Brasil a profissão de peão de boiadeiro, hoje exaltada nas modas de viola e nos rodeios). Alguns pastores se chamam de ministros, mas muitas pessoas ignoram que ministro, no sentido original, tem a ideia de escravo (diácono), como é bem destacado em Marcos 10.43: “[...] Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva”.

    Lídia disse aos missionários: “Se julgais que eu sou fiel ao Senhor, entrai em minha casa e aí ficai”. Ela queria ter o privilégio de poder fazer a sua parte na obra de Deus, e reconhecia que somente seria digna disso se fosse considerada fiel. Para sermos considerados fiéis, mantenhamos constante comunicação com o Senhor através da oração e da leitura da Bíblia. Precisamos ser zelosos em providenciar um tempo diário, a sós, onde possamos falar de nossas ansiedades e ouvir a voz do Pai, tanto no silêncio da oração secreta, quanto na proclamada palavra de Deus escrita.

    A vacina contra o coronavírus, que hoje temos, é um abençoado exemplo de cooperação e de constante comunicação entre os cientistas e demais autoridades envolvidas, o que nos proporciona uma proteção contra o vírus mortal. O evangelho, por sua vez, é um abençoado exemplo de cooperação entre os crentes fiéis e o Senhor dos senhores, que proporciona a vida eterna a todo o que nele crê.

    Então, na qualidade de cooperadores nesta grande e vital obra de evangelização, mantenhamos comunicação constante, tanto entre nós mesmos quanto com o Espírito Santo, do qual dependemos da Permissão, da Orientação, e do Convencimento, para que a obra seja bem-sucedida.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, março de 2021.

(*) Foto do cabeçalho: Crédito de Giuliano Gomes/PR Press, disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2020/12/11/vacina-contra-a-covid-tira-duvidas-explica-as-principais-questoes-sobre-imunizacao-contra-o-coronavirus.ghtml Acesso em. 27 mar. 2021.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.


[1] LAFETÁ, Duda. Brasileira doutora nos EUA diz como vacinas da covid surgiram tão rápido. site da UOL/tilt, 19/12/2020. Disponível em: https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/12/19/como-as-vacinas-da-covid-19-mudaram-a-forma-de-fazer-ciencia-no-mundo.htm Acesso em 27 mar. 2021.

[2] SILVA. Hélio de Menezes. Bibliologia: A Doutrina da Bíblia. Site Sola Scriptura – tt, mar.2008. Disponível em: http://solascriptura-tt.org/Bibliologia-InspiracApologetCriacionis/Bibliologia-BibliaGenuinaConfiavelCanonicaInspirada-Livro-Helio.htm Acesso em 31 jan. 2018.

domingo, 7 de março de 2021

Bom Testemunho (Atos 16.1-5)

Quando a igreja dá sinais de que está crescendo, todos nós nos alegramos. O crescimento pode vir de várias maneiras. Nós oramos, traçamos estratégias e perseguimos esse objetivo. Utilizamos muitas técnicas, algumas até se assemelham ao marketing utilizado pelas empresas. Mas o que queremos, na verdade, é um crescimento sadio, porque, por mais que nos esforcemos fazendo a semeadura e o cultivo, o crescimento continua sendo um milagre operado por Deus,

Nesta passagem de Atos em que Paulo e Silas estavam iniciando a segunda viagem missionária, eles encontraram o jovem Timóteo, que tinha bom testemunho dos irmãos, e o recrutaram para acompanhá-los no ministério. A maneira cuidadosa de Paulo e sua equipe conduzirem seu ministério contribuiu certamente para o grande crescimento da Igreja.

Baseados neste exemplo podemos destacar pelo menos três cuidados que a igreja precisa ter para crescer de forma sadia.

O testemunho entre os irmãos (1,2)

“Chegou também a Derbe e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego; dele davam bom testemunho os irmãos em Listra e Icônio”.

Um dos cuidados que a igreja precisa ter para crescer de forma sadia, é o bom testemunho entre os irmãos. O jovem Timóteo tinha conquistado isto em sua comunidade, e isto contribuiu para que Paulo o escolhesse para o acompanhar na missão. Como é que nós podemos conquistar um bom testemunho entre os irmãos? O nosso comportamento durante os cultos, por exemplo, contribui bastante. O site de uma instituição pertencente a uma grande igreja tem uma lista de dez coisas que você deve observar durante os cultos:

[1][...] 1. Chegue no horário [...]; 2. Evite conversas [...]; 3. Leve a Bíblia [...]; 4. Vista-se com decoro [...]; 5. Comporte-se: Vá ao banheiro antes de começar a reunião, evitando circular durante a pregação [...]; 6. Evite orar alto [...]; 7. Não saia antes do término da reunião [...]; 8. Não se apresse em prometer nada [...]; 9. Ofereça o seu melhor em tudo [...]; 10. Siga as normas do local [...]. As pessoas que estão lá para recebê-lo seguem toda uma orientação de maneira que a sua permanência seja agradável. Não as ignore.

Há mais algumas coisas que podemos observar em nossa convivência como família na fé? Certamente. É necessário também, é claro, que todos sejam zelosos quanto à vida de santidade, como nos manda o Senhor, e a igreja tem a obrigação de julgar, caso aconteçam desvios, como os que chegaram a acontecer na Igreja de Corinto:

Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor (1ª Coríntios 5.9-13).

O testemunho na comunidade em geral (3)

“Quis Paulo que ele fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa dos judeus daqueles lugares; pois todos sabiam que seu pai era grego”.

Timóteo não era obrigado a ser circuncidado, pois seu pai era grego, embora sua mãe fosse judia. Mas, para evitar problemas e manter o bom testemunho, Paulo convenceu o jovem a se submeter à circuncisão. Não queriam que a exigência de seus direitos atrapalhasse o seu testemunho diante dos judeus, a quem queriam ganhar para Cristo.

Para crescer de forma sadia, é necessário que a igreja tenha um bom testemunho diante da comunidade onde vive. O missionário Hudson Taylor levou isto com muita seriedade. Segundo a Wikpédia, ele:

[2]foi um missionário Cristão Protestante Inglês na China, e fundador do China Inland Mission (CIM) (agora OMF International). Taylor viveu na China por 51 anos. A sociedade que ele iniciou foi responsável pelo envio de mais de 800 missionários ao país que começaram 125 escolas e diretamente resultou na conversão Cristã de 18,000 pessoas, também como no estabelecimento de mais de 300 estações de trabalho com mais de 500 colaboradores locais em todas as dezoito províncias.

No livro O Segredo Espiritual de Hudson Taylor está registrada uma importante experiência desse jovem missionário, que decidiu adotar alguns costumes do povo a quem pretendia evangelizar:

[3]O que ele desejava era aproximar-se do povo. Uma recente viagem de vinte e cinco dias, sozinho, quando penetrou trezentos quilômetros pelo rio Yangtsé, provou-lhe que era possível fazer mais do que se imaginava por meio do evangelismo itinerante. Das cinqüenta e oito vilas e cidades visitadas, cinqüenta e uma nunca antes tinham recebido mensageiros do Evangelho. Mas o cansaço e a tensão da viagem foram, em grande parte, devido ao fato dele usar roupa européia, os trajes mais grotescos possível aos olhos daqueles que nunca o tinham visto! [...] depois de orar muito e procurar orientação na Palavra de Deus. [...] Naquela noite ele deu o passo que teria tão grande influência sobre a evangelização do interior da China. Quando o barbeiro acabou seu trabalho, o jovem missionário tingiu de preto o cabelo que restava para combinar com a trança comprida que, a princípio, precisava usar no lugar da dele. E então, no outro dia cedo, ele vestiu como pode as roupas folgadas a que não estava acostumado, e apareceu pela primeira vez nas vestes e sapatos de cetim próprios de um “Mestre“, ou de homem da classe dos estudiosos.

Talvez nenhum de nós venha a evangelizar na China, no Nepal, ou mesmo numa das tribos indígenas do Brasil, mas há muito que podemos fazer para nos identificarmos com a comunidade na qual estamos morando, para o bem do progresso do evangelho. A Bíblia nos exorta, em 1ª Tessalonicenses 4.9-12:

No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros; e, na verdade, estais praticando isso mesmo para com todos os irmãos em toda a Macedônia. Contudo, vos exortamos, irmãos, a progredirdes cada vez mais e a diligenciardes por viver tranquilamente, cuidar do que é vosso e trabalhar com as próprias mãos, como vos ordenamos; de modo que vos porteis com dignidade para com os de fora e de nada venhais a precisar.

O testemunho perante as autoridades (4)

“Ao passar pelas cidades, entregavam aos irmãos, para que as observassem, as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém. Assim, as igrejas eram fortalecidas na fé e, dia a dia, aumentavam em número”.

Paulo fazia questão de entregar aos irmãos, para que observassem, as decisões tomadas pelos líderes de Jerusalém. Isso fazia bem para a igreja e a protegia contra as heresias, neste caso, dos judaizantes.

Nós cremos que a Bíblia é a única autoridade em matéria de fé e prática, e por isso nos sentimos livres para ler e interpretar os seus preceitos. Mas existem limites para nossa liberdade, porque também cremos que existem interpretações distorcidas das escrituras e não queremos compactuar com elas. Por isso escolhemos nos submeter a certas autoridades eclesiásticas, incluindo, por exemplo, em nossos estatutos, proteções contra heresias, especialmente em um dos artigos que diz o seguinte: “No caso de se verificar uma divisão na Igreja, o patrimônio ficará pertencendo à facção que permanece fiel às doutrinas contidas na confissão de fé a que se refere ao Art. 4º dos presentes Estatutos, ainda que essa facção seja minoritária”.

Para julgar a fidelidade às doutrinas a que se refere o artigo citado, seria convocada a diretoria de um instituto bíblico designado, obrigando as facções a ficarem sujeitas à decisão final daquela diretoria.

Além disto, nos cadastramos no “Ministério Fiel” e, depois de analisar nossa doutrina, eles aceitaram nos incluir no mapa das igrejas que concordam com sua declaração de fé. Isso é um privilégio para poucas igrejas, mas também é uma grande responsabilidade, pois temos que vigiar para que não haja em nossa igreja quem pregue heresias, destoando assim da proposta de doutrina que professamos.

Há também autoridades não eclesiásticas, que devemos respeitar, para mantermos o bom testemunho. Nós devemos cumprir as exigências da Prefeitura de Rio Preto para que mantenhamos ativo o nosso alvará de funcionamento; as faixas de segurança e o sinalizador na entrada do estacionamento; os extintores e os demais equipamentos de segurança, conforme os laudos de vistoria periódicos dos bombeiros; e nesta fase de Pandemia em que vivemos, devemos respeitar e aplicar as orientações da Vigilância Sanitária. Paulo ensina a igreja a ser submissa às autoridades, conforme Romanos 13.3,4:

Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.

Às vezes as autoridades seculares são injustas, mas, mesmo assim, na medida do possível, devemos nos submeter a elas, seguindo o exemplo de Jesus em Mateus 17.24-27:

Tendo eles chegado a Cafarnaum, dirigiram-se a Pedro os que cobravam o imposto das duas dracmas e perguntaram: Não paga o vosso Mestre as duas dracmas? Sim, respondeu ele. Ao entrar Pedro em casa, Jesus se lhe antecipou, dizendo: Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos? Respondendo Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.

Conclusão

Para que a igreja cresça em número não se pode descuidar da qualidade. Vimos que o texto indicado nos permitiu reconhecer pelo menos três cuidados que a igreja precisa ter para crescer de forma sadia: o testemunho entre irmãos, testemunho na comunidade em geral e o testemunho perante as autoridades. Para que tenhamos um bom testemunho, vamos amar uns aos outros, e andar com retidão e sabedoria para com as pessoas de fora, respeitando também as autoridades.

Artigo elaborado por: Arildo Louzano da Silveira. São José do Rio Preto, março de 2021.

(*) Foto do cabeçalho disponível em: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDo5TwQx3rptEabzRiKUozny0n-Yvae-FAkLdNZBifx2gqrmERkiD7otNYqSv0_blVG-l4NYGcXG4-ZPw9UwNMZUAKseDQVfbFo8BPhYdledGFExI3WNQC7Mid8FUV_-ZFOyzQTnFuzWs/s1600/image001a.jpg Acesso em 06 mar. 2021.

(**) Citações da Bíblia extraídas de: A Bíblia Sagrada. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada 2ªed. 1988, 1993. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012. 1280p.



[1] 10 coisas que você não pode fazer na igreja. Site da UCKG Centro de Ajuda. Disponível em: https://www.uckg.org/pt/10-coisas-que-voce-nao-pode-fazer-na-igreja/ Acesso em 28 jan. 2018

[2] Hudson Taylor. Wikipédia. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hudson_Taylor Acesso em 28 jan. 2018.

[3] TAYLOR, Howard. O Segredo Espiritual de Hudson Taylor. Editora Mundo Cristão. São Paulo, 1976 p.30.