sábado, 9 de dezembro de 2017

A congregação do Senhor (Atos 5.12-16)



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Os apóstolos faziam milagres, e todos os crentes comportavam-se de forma peculiar, de forma que agradasse a população. Mas ninguém ousava ajuntar-se a eles. Podemos comparar a atitude da população do tempo apostólico com os dias de hoje, pois vemos que, da mesma forma, há grandes ajuntamentos em jogos de futebol, shows, bares e boates, e das pessoas que se ajuntam nesses ou noutros lugares para a prática de coisas que lhes dão prazer, poucos há que ousariam se ajuntar para fazer o que fazem, estando numa igreja. Apesar de ser comum ouvirmos que “o mundo está perdido”, ainda existe certo pudor que faz o povo distinguir o que é um ambiente santo e o que é um ambiente profano. Reunindo-se numa igreja, as pessoas não ousariam se comportar como se estivessem num estádio de futebol ou num bar. Não ousam ajuntar-se aos crentes. Ainda bem! Outro dia, brincamos numa aula de Escola Dominical, sugerindo que podíamos chamar um grande astro pop para fazer um show e assim encher a igreja. Porque não colocamos essa ideia em prática? Porque é inconcebível, tanto para nós quanto para os fãs do astro pop.

Apesar de a população não ousar ajuntar-se aos discípulos, as pessoas lhes tributavam grande admiração. A expressão original poderia ser traduzida como: "eles engrandeciam os crentes". Se eles engrandeciam os crentes é porque acreditavam que eram especiais, que realmente tinham uma aliança com Deus, o que lhes dava privilégios dignos de quem é amigo do Deus Poderoso. O povo acreditava nisto, mas não queria se ajuntar a eles. Pode ser que batessem palmas, que os incentivassem a viverem uma vida de fé, mas não queriam se ajuntar a eles. Encontramos entre o povo de hoje muitos que têm esse tipo de fé. Uma fé assim, no entanto, não pode salvar suas almas. Para ser salvo desta geração perversa, é preciso mais do que admirar, engrandecer a Deus e aos seus filhos. É preciso ter um tipo de fé que ousa ajuntar-se a eles, colocar-se em posição de evidência, pegar a Bíblia e caminhar até a igreja, ir para o culto enquanto os colegas e conhecidos ficam em casa, vão para os bares ou para o estádio de futebol.

O resultado visível daquele movimento histórico era que crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, e eles estavam frequentemente congregados. Podemos notar, pela narração do texto indicado, que havia pelo menos três motivos para eles se congregarem frequentemente.

Adoração (12)

“[...] E costumavam todos reunir-se, de comum acordo, no Pórtico de Salomão”.

A palavra adoração não aparece neste texto, mas a ideia de adoração encontra-se no fato de que eles se reuniam periodicamente no templo, especificamente no Pórtico de Salomão. O templo, todos sabem, é um lugar de adoração. Foi idealizado e edificado para promover a adoração.

Deus quer que nós o adoremos, porque este é um dos motivos pelos quais ele nos criou. Jesus, ao responder às tentações de Satanás, citou o antigo testamento no trecho em que diz: “[…] Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mateus 4.10; Lucas 4.8; Êxodo 23.24; Deuteronômio 5.9).

Todos os domingos, em nossa igreja, nos reunimos para celebrar o que chamamos de “culto de adoração”. Mas nós estamos, de fato, adorando? Adorar significa prostrar-se de forma humilhante. Já fui a mais de uma igreja onde, em dado momento do culto, fomos dirigidos a nos ajoelharmos no chão. Isto já aconteceu também aqui em nossa igreja, algumas vezes, mas não é um hábito. Se nós não nos prostramos literalmente, então o que estamos fazendo em substituição a isso? Temos uma forma melhor de adorar do que literalmente nos prostrarmos fisicamente até o chão?

O publicano de Lucas 18.13 tinha uma forma melhor de adorar, pois ele ficou “em pé, longe” e “não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!”.

Ana, mãe de Samuel, também tinha uma forma melhor de adorar, “porquanto Ana só no coração falava; seus lábios se moviam, porém não se lhe ouvia voz nenhuma;” (1ª Samuel 1.13). Ana e o publicano se humilharam perante o Senhor. Mesmo que não estivessem fisicamente prostrados, estavam prostrados na atitude do seu coração.

Em algumas igrejas, as mulheres ainda são orientadas a usar o véu, por causa de 1ª Coríntios 11.5-15. O ato de cobrir a cabeça simbolizava humildade por parte da mulher. No mundo existe outras situações em que cobrir a cabeça simboliza humildade. Por exemplo, há muito tempo atrás, nas escolas, os professores costumavam colocar os alunos problemáticos num canto da sala, e colocavam em suas cabeças um “chapeuzinho de burro”. Existe também uma expressão que usamos quando alguém se sente ofendido com algum comentário que fizemos, achando que era uma indireta para ele. Nós dizemos: “se a carapuça serviu...” Em nossa igreja, não temos o hábito de exigir o uso do véu, porque temos uma forma melhor de mostrar submissão. Oramos para que as mulheres de nossa igreja aprendam a se comportar como Pedro orientou em 1ª Pedro 3.3-5:

Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas a seu próprio marido.

Nós, homens e mulheres, nos congregamos para nos humilharmos diante de Deus. Isto é o cerne da adoração. Ninguém deve se congregar para se ostentar, mas para se humilhar. Somos ensinados em Filipenses 2.3 que cada um deve considerar os outros superiores a si mesmo. Se nós conseguirmos praticar isto, vão acabar quase todos os nossos problemas de relacionamento. Você já viu um escravo reclamar porque o seu senhor não notou a sua presença, porque não o cumprimentou, porque foi indelicado com ele? Jesus quer que nós nos tornemos escravos (servos) uns dos outros por amor (Gálatas 5.13). Isto sim é que é uma boa adoração.

Comprometimento (14)

“[…] E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor”

A palavra traduzida para “agregados”, de acordo com Strong (1999), é a palavra grega prostithemi, que tem o significado de juntar-se a uma companhia. Muitas vezes alguém me pergunta: “por qual time você torce?”. Às vezes eu digo que é o Internacional, às vezes digo que é o Curitiba, às vezes o Palmeiras, e ás vezes eu digo que não torço por nenhum time. Mas eu gostaria muito de dizer que jogo no time de Jesus, que “visto a camisa”, mesmo. Para que isto seja verdade, eu preciso mostrar-me comprometido com o seu reino. Era assim que a igreja primitiva se mostrava. Se houvesse uma camisa de uniforme, eles iam querer ter uma. Se tivesse um álbum de figurinhas, iam querer colecionar. Iam colar adesivos em seus violões e em suas motos e carros, porque eles queriam estar praticamente grudados com o Senhor e tudo o que se relacionava com ele. Por isso se congregavam frequentemente, para ouvir dos apóstolos tudo o que Jesus falava e fazia. Nós devíamos ser assim também na igreja, devíamos grudar nos estudos, agarrar nas promessas de Deus, decorar versículos, nos agregar à companhia de Jesus.

Minha avó paterna não tinha muitos luxos, se contentava com pouco e não me lembro de ouvir, de sua parte, uma reclamação sequer. Só uma coisa a deixava transtornada, era quando perdia o seu pequeno rádio de pilhas. Ela amava muito o seu rádio. Era pequenino, cabia na palma de sua mão, e ela se deitava sempre com ele ligado, bem pertinho do seu ouvido, para escutar, de madrugada, o seu programa favorito, o programa do “Zé Bettio”. Quando ela procurava o rádio e não o encontrava, saía pela casa perguntando: “Alguém viu o meu Zé Bettio”? Era o nome do seu rádio de pilhas. Nós devíamos ser zelosos assim para ouvir, na congregação, tudo o que se relaciona com o nosso Senhor Jesus. Devíamos ser como Maria, irmã de Marta que, segundo Lucas 10.38-42, não perdia por nada neste mundo uma oportunidade de ouvir o que Jesus tinha para dizer. Ela se desligava de tudo para ouvir o Mestre quando ele falava, assim como os homens fazem hoje para assistir a um jogo de final de campeonato.

Mostrar-nos comprometidos, agregados ao Senhor Jesus, eis um bom motivo para estarmos congregados.

Busca de curas (15,16)

“[...] e todos eram curados”.

Todos os que se congregavam pedindo curas, eram curados. Por que isto não acontece hoje? Por que muitos vêm à igreja pedindo cura, mas não são curados? Vamos analisar com mais calma esta questão. Será que, de fato, não existem mais milagres?

Eu me lembro de um acontecimento que, para mim, foi muito marcante, uma postagem de um irmão, no grupo da igreja, quando ele foi curado do câncer na garganta. Ele tirou uma foto de seus joelhos no chão, dizendo que esta era a posição que ele prontamente assumiu ao sair do consultório, depois de receber a notícia de que o tratamento havia tido um excelente resultado, e que havia sido curado de um câncer na garganta. Foi um milagre! Todos sabem que as pessoas não se curam de câncer assim, facilmente. Quem conheceu esse irmão, e sabe de quem estou falando, talvez me dissesse: “você não sabe que esse irmão morreu de câncer?” De fato ele morreu de câncer, porque havia outro câncer atingindo o seu pulmão, e desse outro ele não foi curado. Mas a alegria que ele sentiu e a glória que ele deu a Deus na cura do primeiro câncer foram legítimas e o acontecimento foi reconhecido, de fato, como um milagre.

Outra irmã, esposa de pastor, muito querida em nossa igreja, certa vez escapou da morte por um milagre. Se você soubesse de quem estou falando, certamente protestaria em seu íntimo: “você não sabe que essa irmã morreu por causa de um terrível câncer? Que oramos fervorosamente, mas não fomos atendidos quanto à sua cura?” Mas eu estou me referindo ao que aconteceu 20 anos antes de sua morte, quando ela tinha cerca de 54 anos, e escapou da morte num acidente extremamente grave, no caminho para o seminário onde lecionava. Segundo o testemunho do pastor, seu marido, ela chegou a morrer e ressuscitar várias vezes, deitada na beira da estrada, enquanto o pastor orava pedindo a Deus que ela não morresse. Ela milagrosamente sobreviveu, voltou a dirigir, e exerceu diligentemente o seu ministério até os 74 anos, quando o Senhor a tomou para si. Isto foi um dos muitos milagres que a nossa igreja já presenciou.

“Mas espere um pouco!”, diria um irmão de coração inflamado. “Não force a barra! O novo testamento narra milagres excepcionais. Paralíticos andando, cegos enxergando, mortos ressuscitando. É disto que estamos falando quando dizemos que na igreja primitiva se operavam milagres”. Aqueles milagres eram mesmo excepcionais. Lázaro, por exemplo, irmão de Marta e Maria, foi ressuscitado depois de quatro dias, quando seu corpo já estava em decomposição. Mas desviemos um pouco o nosso olhar para além desse acontecimento extraordinário. Vamos olhar mais em redor. Alguém porventura acha que, depois desse milagre, Lázaro e suas irmãs viveram felizes para sempre? Quando um pregador muito empolgado narra eloquentemente esse milagre, ele pode levar a congregação ao delírio. Mas um pregador honesto deve admitir que este não foi o final da história. Basta ler João 12. 10, 11, e ficaremos sabendo que “[...] os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro; porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus”. É isto! Lázaro não deve ter aproveitado por muito tempo sua vida ressurreta. É quase certo que os judeus logo o assassinaram.

Você vai à sua igreja em busca de um milagre? Você não está errado, nem querendo demais. Você precisa mesmo ter fé. Sem fé é impossível agradar a Deus; “[…] é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6). Tenha fé, e Deus lhe fará milagres. As irmãs de Lázaro, provavelmente, tiveram que suportar a tristeza e a angústia da perseguição e possível assassinato de seu irmão querido, mas antes tiveram a maravilhosa experiência de que o Senhor é bondoso, pois receberam seu milagre.

O irmão e a irmã de nossa igreja, dos quais falei acima, partiram precocemente, nos deixando angustiados e com saudades, mas antes também tiveram a experiência de que o Senhor é bondoso, e receberam os seus milagres.

Reflexão

Quando estivermos congregados em nossa igreja, vamos nos lembrar de que estamos reunidos para a verdadeira adoração, para nos mostrarmos comprometidos com o Senhor, querendo aprender e nos apropriar de tudo o que lhe diz respeito. E tenhamos fé, porque ele é poderoso para atender os nossos pedidos, nos dar paz em meio às tribulações. Ele ainda é, e sempre será, o Deus que faz milagres. Contemos com isso.

Gostaria de deixar também uma palavra a você, que ainda não se juntou a nós. Oro para que, um dia, você tenha a “ousadia” de fazê-lo. Que Deus, por sua graça e misericórdia, nos reúna e nos conserve sempre como a Congregação do Senhor.

Referências

As citações da Bíblia seguem a versão Almeida Revista e Atualizada, SBB.

STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica do Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999

Foto: Muro das Lamentações. Autor: Richard Nowitz.  História - Galeria de Fotos, Judéia Antiga. National Geografic, 08 ago. 2017. Disponível em: <https://origin-br.ngeo.com/photography/2017/08/galeria-de-fotos-judeia-antiga?image=24928>. Acesso em 10 dez. 2017.

 



quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Os pecados de Ananias e Safira (Atos 5.1-11)



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Um belo casal. O nome dele, de acordo com o Léxico Strong (SBB, 1999) significa: "graciosamente dado pelo SENHOR". O nome dela é uma pedra preciosa, mencionada várias vezes na Bíblia, como em Êxodo 24.9,10: “E subiram Moisés, e Arão, e Nadabe, e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. E viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia uma como pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade”.

Seus pais, ao lhes darem estes nomes, certamente almejavam que protagonizassem uma bela história, mas Ananias e Safira ficaram famosos, infelizmente, por causa do seu pecado. Venderam uma propriedade, entraram em acordo, retiveram parte do valor, depositaram o restante aos pés dos apóstolos. Foram repreendidos por tentarem mentir ao Espírito Santo. Caíram, expiraram, foram sepultados.

Vamos analisar, a seguir, os possíveis pecados de Ananias e Safira, que provocaram a ira de Deus, e que são tão comuns em nossos dias:

O pecado do desvio de donativo

Eles podem ter se aproveitando da situação favorável para vender um bem por um bom preço, convencendo o comprador a pagar um valor mais alto, alegando que era para caridade. Esse tipo de pecado pode estar ocorrendo, também, em nossos dias. Cito como exemplo uma reportagem da revista VEJA, veiculada em 2012, a qual diz o seguinte, a respeito da Cruz Vermelha:

A organização [...] firmou sólida reputação de neutralidade [...] completa 100 anos de atividade justamente em 2012. Um aniversário, infelizmente, tisnado por um triste revés [...], investigação das contas misteriosas, que vinha ocorrendo em sindicâncias internas, extrapolou o âmbito da organização em fevereiro, [...] Letícia Del Ciampo [...] entrou com duas ações no Ministério Público estadual [...] além de constatar que Petrópolis não recebeu um tostão do dinheiro que foi parar nas contas secretas do Maranhão, ela descobriu desvios em outras áreas. Ambulâncias novas que deveriam estar servindo a região nunca apareceram, e as antigas estão sem manutenção há muito tempo, o que praticamente inutilizou a frota. Há sinais de problemas também em um convênio feito com o governo do Distrito Federal com o objetivo de passar à Cruz Vermelha a gestão de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Brasília. Em 2010, a Cruz Vermelha-Petrópolis recebeu 3,7 milhões de reais adiantados, mas ela nunca prestou serviço algum e está sendo cobrada na Justiça pela devolução do dinheiro. "A Cruz Vermelha brasileira está cometendo crimes contra a humanidade. Desde que assumi o cargo, o que mais ouvi foram pessoas dizendo que catástrofes são ótima oportunidade para ganhar dinheiro", dispara Letícia.

Também o site G1, mencionando o Jornal Nacional em 2014, afirma:

Cruz Vermelha: R$ 17 milhões em doações foram desviados para ONG Dinheiro teria sido doado para ajudar em quatro campanhas humanitárias. Segundo auditoria, valores foram repassados para instituto no Maranhão.. A Cruz Vermelha brasileira anunciou nesta sexta-feira (25) que R$ 17 milhões em doações foram desviados para uma ONG no Maranhão, entre os anos de 2010 e 2012. O dinheiro teria sido doado para ajudar em quatro campanhas humanitárias: para vítimas da chuva na Região Serrana do Rio, combate à dengue no Brasil, tsunami no Japão e para a Somália, que sofreu uma crise alimentar por causa da seca.

É abominável aproveitar-se da miséria de outros para se enriquecer. Provérbios 17.5 diz: “O que escarnece do pobre insulta ao que o criou; o que se alegra da calamidade não ficará impune”.

O pecado da religiosidade como pretexto

Outro pecado que Ananias e Safira podem ter cometido, que provocou a ira de Deus, e que é tão comum em nossos dias, é o de se aproveitar da religiosidade para realizar seus propósitos obscuros.

Cito como exemplo a questão do “mercado gospel”, que é muito cobiçado por seu potencial. Lemos no site Terra, em 2015, que

[...] A fé têm sido a tábua de salvação para muitos negócios. Em certos casos, literalmente. Com 42,2 milhões de potenciais consumidores, segundo dados do Censo 2010 do IBGE, o mercado evangélico tem gerado cada vez mais oportunidades para quem busca empreender [...].

Segundo a revista “Pequenas Empresas, Grandes Negócios” (2015),

Para muitos, é preciso ser evangélico para fazer negócios nesse segmento. Outros duvidam: 'Não necessariamente', diz o empresário Elias de Carvalho, do Bompastor. 'Basta entender os códigos ou ter alguém em sua equipe com esse conhecimento', completa.

O site “O Fuxico Gospel” (2014) dá umas dicas para se ter sucesso no mercado gospel: “1 - criar uma grife de roupas; 2 – Escrever uma biografia; 3 – Uma linha de cadernos; 4 – Criar uma gravadora; 5 – Tornar-se um pastor”.

Há muitos empreendimentos que podem ser desenvolvidos sem más intenções, mas sempre existe o perigo de se esquecer o verdadeiro propósito da vida cristã. Paulo já advertia, em 1ª Timóteo 6.5,6,10:

“[...] altercações sem fim, por homens cuja mente é pervertida e privados da verdade, supondo que a piedade é fonte de lucro.  De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. [...] Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”.

Um fato curioso nesta história é que Ananias e Safira sofreram uma punição muito severa, enquanto a gente vê tantas barbaridades maiores sendo cometidas por outras pessoas, sem que Deus lhes trate da mesma maneira. Isso reforça a tese de que a intervenção divina nos caminhos da humanidade tem sido a mínima possível, como um pai que dá instruções aos filhos e fica observando de longe, para ver como se saem no desenvolvimento de suas responsabilidades. No final, sim, seremos todos chamados em juízo e daremos explicações de todos os nossos atos, recebendo a sentença.

A história fala de outros momentos em que a desaprovação de Deus se mostrou devastadora e instantânea. Vejamos abaixo alguns casos:

Nadabe e Abiú

Levíticos 10.1-3 conta que

Nadabe e Abiú, filhos de Arão, tomaram cada um o seu incensário, e puseram neles fogo, e sobre este, incenso, e trouxeram fogo estranho perante a face do SENHOR, o que lhes não ordenara. Então, saiu fogo de diante do SENHOR e os consumiu; e morreram perante o SENHOR. E falou Moisés a Arão: Isto é o que o SENHOR disse: Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo. Porém Arão se calou. 

Acã

Lemos em Josué 7.1, que “prevaricaram os filhos de Israel nas coisas condenadas; porque Acã, filho de Carmi, filho de Zabdi, filho de Zera, da tribo de Judá, tomou das coisas condenadas. A ira do SENHOR se acendeu contra os filhos de Israel”. Então Acã, pego em seu pecado, confessou, em Josué 7.21: “Quando vi entre os despojos uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata, e uma barra de ouro do peso de cinqüenta siclos, cobicei-os e tomei-os; e eis que estão escondidos na terra, no meio da minha tenda, e a prata, por baixo”. Finalmente, nos versículos 24 a 26, lemos horrorizados a severa punição que Acã sofreu:

Então, Josué e todo o Israel com ele tomaram Acã, filho de Zera, e a prata, e a capa, e a barra de ouro, e seus filhos, e suas filhas, e seus bois, e seus jumentos, e suas ovelhas, e sua tenda, e tudo quanto tinha e levaram-nos ao vale de Acor. Disse Josué: Por que nos conturbaste? O SENHOR, hoje, te conturbará. E todo o Israel o apedrejou; e, depois de apedrejá-los, queimou-os. E levantaram sobre ele um montão de pedras [...].

Punição esperada

Poderíamos ainda citar os casos de Uzá (2º Samuel 6.6,7), e de Geazi (2º Reis 5.20-27), mas o que é mais importante, agora, é olharmos para o futuro. Lemos em Atos 17.30,31, que

Não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; porquanto estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos.

Jesus advertiu em Mateus 12.36: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no Dia do Juízo”.

Deus puniu exemplarmente Ananias e Safira, assim como outros personagens ao longo da história bíblica, e devemos ter isto como um aviso. Não caiamos nos mesmos pecados, tentando a Deus. Não sejamos meio-cristãos, não amemos o mundo, nem as coisas que há no mundo, pois Ananias e Safira receberam severa punição, mas, e quanto a nós? Será que não temos cometido piores pecados? Que a graça e a misericórdia de Deus, em Cristo Jesus, possa nos redimir.

Referências

Cruz Vermelha: R$ 17 milhões em doações foram desviados para ONG. Jornal Nacional (Online). São Paulo, 25 jul. 2014. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/07/cruz-vermelha-r-17-milhoes-em-doacoes-foram-desviados-para-ong.html. Acesso em: 1º jul. 2016.

Dicas para ganhar muito dinheiro. Site O Fuxico Gospel, 2014. Disponível em: http://www.ofuxicogospel.com/2014/03/5-dicas-para-ganhar-muito-dinheiro-no.html. Acesso em 03 jul. 2016

Figura da Safira disponível em: https://ninabruni.wordpress.com/2013/01/28/safira-a-pedra-mais-procurada-para-joias/. Acesso em 04 dez. 2017.

LEITÃO, Leslie. MP detecta desvio milionário de doações à Cruz Vermelha. Revista Veja (On Line). São Paulo, 06 ago. 2012.  Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/mp-aponta-desvio-milionario-de-doacoes-a-cruz-vermelha. . Acesso em 1º  jul. 2016.

Mercado evangélico cresce ao apostar em consumidor fiel. Site Terra, 07 dez. 2015. Disponível em:  https://www.terra.com.br/economia/vida-de-empresario/mercado-evangelico-cresce-ao-apostar-em-consumidor-fiel,ccccff10d0f6156d00846f3f517978c3mgqxuxdu.html;. Acesso em: 04 dez. 2017.

SOUZA, Lázaro Evair de. A fé alavanca as vendas. Pequenas Empresas, Grandes Negócios (Online), 2015. Disponível em: http://revistapegn.globo.com/Empresasenegocios/0,19125,ERA455486-2482,00.html. Acesso em 03 jul. 2016.

STRONG, James. Dicionário Bíblico Strong. Sociedade Bíblica do Brasil (Bíblia Online). São Paulo, 1999.



sexta-feira, 3 de novembro de 2017

José, um homem de procedência (Atos 4.36,37)

“José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos”.


*Figura disponível em: http://cantinhodashistoriasbiblicas.blogspot.com.br/2016/03/ananias-e-safira-mentira-tem-as-suas.html

Introdução

Existe uma estratégia de mercado muito utilizada em todo o mundo, que é a marcação do produto com um selo de procedência. Um dos produtos que se beneficiam dessa estratégia, no Brasil, é a carne bovina. O Sebrae Nacional publicou no seu site um artigo dizendo que

O Pampa Gaúcho é conhecido como a “terra do churrasco”. Os produtores da região querem ser identificados não somente pelo sabor da carne preparada, mas também pela boa procedência do que vai para a churrasqueira. Desde 2006, mais de 70 deles usam o registro de Indicação Geográfica fornecido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O selo certifica a qualidade da carne local. Juntos, os criadores da região reúnem um rebanho bovino de mais de cem mil cabeças. O selo garante valorização de até 40% no preço da carne, segundo o secretário-executivo da Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional (ProPampa), Rogério Jaworski. Só os cortes mais nobres recebem a etiqueta.

Selo de procedência valoriza carne em até 40%. Sebrae Nacional, 2014. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/selo-de-procedencia-valoriza-carne-em-ate-40,45089e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD – acesso em: 12/06/2016)

Embora nem toda carne procedente dos Pampas tenha o selo de qualidade, é inegável que a região adquiriu boa fama pela tradicional qualidade de seus produtos.
Podemos falar de um conceito semelhante quando o assunto é o caráter de alguém. Muitas vezes, ao comentarmos o comportamento de certas pessoas, repetimos ditados como: “tal pai, tal filho”, “filho de peixe, peixinho é”. Temos esse costume por reconhecermos que, muitas vezes, o caráter de um homem está ligado à sua procedência. É o caso de um homem chamado José, apresentado no texto bíblico, o qual foi “selado”, pelos seus conhecidos, com pelo menos três identidades de procedência.

Filho da exortação

A primeira identidade de procedência, com a qual José foi selado, é a de “filho da exortação”, cuja pronúncia na língua aramaica, Barnabas (português Barnabé), tornou-se o nome pelo qual ele ficou mais conhecido. A palavra grega que foi traduzida por “exortação”, é a palavra “paraklesis”, também traduzida por “consolação” em Lucas 2.25, numa referência ao Messias que acabara de nascer. Em Romanos 15.5, Paulo se refere ao Pai como o Deus da paciência e da consolação [paraklesis]”. Já o evangelista João registra que Jesus apontava o Espírito Santo como o portador da consolação, após a sua partida. Usando a palavra grega “parakletos”, traduzida em nossa versão como “consolador”, ele se refere várias vezes ao Espírito, conforme os versículos abaixo:

E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco (João 14.16); Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (João 14.26); Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim (João 15.26); Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá, porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei (João 16.7).

Jesus também ensina o mestre Nicodemos, dizendo: “O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito [...]. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito” (João 3.6,8).

É certo que José havia passado por essa experiência descrita por Jesus, a do novo nascimento, o nascimento do Espírito; então era apropriado que passasse a ser reconhecido como Barnabé, o “filho da exortação”, ou melhor, o “filho da consolação” (paraklesis). Certamente não foi o seu novo nascimento somente, que o levou ao apelido, mas o que dele se podia perceber, a sua bondade, humildade, a sua prontidão em ajudar. Quem quiser receber também a mesma identidade de procedência, precisa nascer de novo, nascer do Espírito Santo, e portar-se como um verdadeiro filho de Deus, tal qual José Barnabé.

Filho de levi (levita)

A segunda identidade de procedência, com a qual Barnabé foi selado, é a de “filho de Levi”. Barnabé era um levita, portanto, um filho de Levi. Havia outro levita famoso, mencionado por Jesus na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10.32). Será que Barnabé, um dia, foi um levita como aquele, que passou de largo para evitar um homem ferido na beira da estrada? Pelo sim ou pelo não, o fato é que neste caso ele aproveitou a oportunidade de mostrar compaixão pelos necessitados, doando voluntariamente o dinheiro da venda de uma propriedade. Todos os que se consideram religiosos, cedo ou tarde terão oportunidades de mostrar compaixão condizente com a fé que propagam. Se você é daqueles que carregam o nome de crente em qualquer lugar onde estejam, as pessoas vão esperar que você aja como crente, que tenha atitudes compatíveis. Não podemos fugir à responsabilidade de nos comportarmos conforme o exemplo de Jesus. Tiago (1.26) faz um alerta para o fato de que,

Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã. A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.

José soube exercer bem a sua religiosidade, honrando e fazendo ser honrado o título de “filho de Levi”.

Filho de Chipre (natural de Chipre)

A terceira identidade de procedência, com a qual José Barnabé foi selado, é a de filho de Chipre (natural de Chipre). Essa ilha do Mediterrâneo, localizada entre a Cilícia e a Síria, era fértil e encantadora. Existem outras duas passagens, na Bíblia, onde se menciona que alguém é procedente de Chipre. Em uma dessas passagens, fala de discípulos inovadores, que não se contentaram em pregar somente aos judeus, mas pregaram também aos gregos (Atos 11.20). Em outra, fala de um velho discípulo chamado Mnasom, que hospedou Paulo e sua equipe na fatídica jornada até Jerusalém (Atos 21.16).

Será que essas três passagens revelam que os habitantes da ilha tinham a fama de serem boas pessoas? Levar a fama de fazer parte de uma determinada comunidade pode ser uma grande responsabilidade. Como será que as pessoas reagem, ao dizermos o nome da igreja que freqüentamos? Qual será a nossa fama?

Há uma música de Erasmo Carlos, onde ele brinca com a preocupação em manter sua fama. Diz assim um trecho da letra:

Meu bem, chora, chora, e diz que vai embora. Exige que eu lhe peça desculpas, sem demora. E digo não, por favor, não insista e faça pista; não quero torturar meu coração. Perdão à namorada é uma coisa normal, mas é que eu tenho que manter a minha fama de mau!

CARLOS, Erasmo, CARLOS, Roberto. Minha fama de mau. Gravadora Elenco. Rio de Janeiro, 1983.

Será que nós estamos preocupados em manter a nossa fama, seja ela qual for? Paulo, certa vez, apelou para uma espécie de “chantagem emocional”, desafiando os coríntios a serem generosos na contribuição aos seus irmãos da Judéia, de modo que comprovassem sua boa fama (2Coríntios 9.1-4):

Ora, quanto à assistência a favor dos santos, é desnecessário escrever-vos, porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio junto aos macedônios, dizendo que a Acaia está preparada desde o ano passado; e o vosso zelo tem estimulado a muitíssimos. Contudo, enviei os irmãos, para que o nosso louvor a vosso respeito, neste particular, não se desminta, a fim de que, como venho dizendo, estivésseis preparados, para que, caso alguns macedônios forem comigo e vos encontrem desapercebidos, não fiquemos nós envergonhados (para não dizer, vós) quanto a esta confiança.

Enquanto Chipre e até mesmo a Acaia, podiam se orgulhar de sua boa fama, o mesmo não se pode dizer a respeito de outra ilha, Creta, porque a sua fama não era muito boa, conforme Tito 1.12: “Foi mesmo, dentre eles, um seu profeta, que disse: Cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos”.

Conclusão

Quanto será que valem as nossas “identidades de procedência”? Os gaúchos dos Pampas e de outras regiões certificadas com o “Registro de Indicação Geográfica”, podem se gabar da boa qualidade dos seus produtos. Barnabé, por sua vez, era um exemplo a ser seguido, por seu amor prático, representando bem os “filhos da exortação” (nascidos do Espírito Santo), os “filhos de Levi” (religiosos), e os “filhos de Chipre” (comunidade de onde veio). Todos esses podiam se orgulhar do seu bom representante, e afirmar confiantemente que José era um homem de procedência.



quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Uma igreja rica (Atos 4.32-35)

A igreja nominal de Cristo alcançou muita riqueza nos seus quase dois mil anos de existência. Como exemplo, podemos citar uma notícia no portal G1, em junho de 2017, a qual diz que

O Instituto para as Obras de Religião (IOR), mais conhecido como o banco do Vaticano, ganhou € 36 milhões em 2016, frente aos € 16,1 milhões de 2015, segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira (12).
"Este resultado foi obtido graças a uma atividade de negociação eficaz, em um contexto de grande volatilidade dos mercados, de instabilidade política (...) e de baixas taxas de juros", disse o IOR.
O banco explica ter continuado em 2016 "a servir com prudência e a oferecer serviços financeiros especializados à igreja católica em todo o mundo".
Em 2016 o IOR tinha cerca de 15.000 clientes, principalmente religiosos, congregações e trabalhadores do Vaticano. No dia 31 de dezembro administrava € 5,7 bilhões em fundos.


Banco do Vaticano tem faturamento de € 36 milhões em 2016. Portal G1, 12/06/2017. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/negocios/noticia/banco-do-vaticano-tem-faturamento-de-36-milhoes-em-2016.ghtml Acesso em: 01/10/2017.
* 36 milhões de euros = R$ 123 milhões em 01/01/2017; 16 milhões = R$ 59.856 milhões; 5,7 bilhões = R$ 21.323,7 milhões;


A Revista Forbes, em janeiro de 2013, fez uma lista dos cinco pastores mais ricos do Brasil. Segundo o jornal Correio News,


A revista americana de economia e negócios Forbes avaliou o patrimônio dos principais pastores evangélicos do Brasil e elaborou uma lista dos cinco mais ricos. Em primeiro lugar, disparado, ficou Edir Macedo (foto), chefe da Igreja Universal do Reino de Deus. A revista estima que seu patrimônio líquido seja de pelo menos US$ 950 milhões (R$ 1,9 bilhão). [...] Valdemiro Santiago, da Mundial, em segundo lugar. Forbes estimou que a patrimônio líquido do pastor que aparece na TV chorando pedindo dinheiro seja de US$ 220 milhões (R$ 440 milhões). [...] Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. A revista avaliou o seu patrimônio líquido em US$ 150 milhões (R$ 300 milhões). [...] R.R. Soares, o quarto colocado na lista dos mais ricos. O fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus teve seu patrimônio líquido estimado em US$ 125 milhões (R$ 250 milhões). Estevam Hernandes Filho e sua mulher Sônia, da Igreja Renascer, ficaram em quinto lugar, com patrimônio líquido estimado em US$ 65 milhões (R$ 130 milhões).


Os Pastores mais ricos do Brasil, segundo a Forbes. O Correio News, maio 2016. Disponível em: http://ocorreionews.com.br/portal/2016/05/29/fortuna-de-pastores-brasileiros-chama-a-atencao-da-forbes/ Acesso em: 01/10/2017. Citando como fontes a revista Exame, 29 de maio de 2016, e o artigo de ANTUNES, Anderson. The Richest Pastors In Brazil. Site da Forbes, 17/01/2013, disponível em: https://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/01/17/the-richest-pastors-in-brazil/#1105384d5b1e Acesso em: 01/10/2017.

A Bíblia, porém, fala da riqueza que a Igreja tinha no início de sua formação. Em Atos 4.32-35 podemos notar que haviam pelo menos três recursos abundantes que faziam da igreja primitiva uma igreja rica.


Primeiro recurso abundante na igreja: Comunhão (32)

Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.


Gostamos de brincar, quando alguma cozinheira erra na medida do arroz, e ele fica grudado, dizendo que é um arroz “unidos venceremos”; é senso comum a ideia de que a “união faz a força”; pensando nisso, as empresas modernas e bem sucedidas sempre se empenham para manter, da melhor forma possível, o seu “clima organizacional”. Na igreja, há milênios, ecoa o apelo a “Evódias” e a “Síntiques” para que “pensem concordemente, no Senhor” (Filipenses 4.2).
Apesar de não faltarem apelos, houve divisão na igreja desde os primórdios, conforme veremos em Atos 6, com os helenistas murmurando contra os hebreus. Até mesmo líderes exemplares como
Barnabé e Saulo tiveram desavenças que os levaram a se separar no ministério (Atos 15.36-40). A história da igreja é uma história de divisões. É inevitável a divergência de opiniões.
Por isso mesmo, a comunhão dos cristãos é um milagre operado pelo Espírito Santo, que os mantém unidos no que é fundamental em termos de fé, e do “amor uns aos outros”, que é o autenticador dos que são reconhecidamente discípulos de Cristo. A comunhão se materializa no compartilhamento de bens, quando o crente considera que suas posses não são exclusivamente suas, mas estão à disposição do Senhor, para socorrer a quem precisa. Este hábito de comunhão, de compartilhar seus bens, ainda prevalece na igreja, entre os que sinceramente servem ao Senhor Jesus. Entre os bens que se compartilha em nome da comunhão, o que mais chama a atenção é o dinheiro. A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada entre 2002 e 2003, divulgada pelo IBGE em março de 2012, mostra que

As famílias que têm como principal membro um praticante da religião espírita têm rendimento médio mensal de R$ 3,796 mil – valor 2,9 vezes maior que o rendimento médio dos evangélicos pentecostais, de R$ 1.271, que têm o menor rendimento. Ainda assim, a proporção entre o ganho e o volume gasto com doações, pagamento de pensões, mesadas e dízimos, na classificação de outras despesas correntes, é muito maior entre os evangélicos: de 21,4% entre os pentecostais (R$ 22,79), chegando a 34% em outras correntes evangélicas (R$ 59,16). Entre os espíritas, esta participação é de 8,2% (42,58).

RANGEL, Juliana. Espíritas são os mais ricos e evangélicos doam mais. O Globo Online, 29/08/2007, atualizado 03/03/2012. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/espiritas-sao-os-mais-ricos-evangelicos-doam-mais-4158120#ixzz4sJZ6Klotstest Acesso em: 10/09/2017.

Embora os números acima possam nos dar uma noção da maneira como os crentes administram seus bens, é importante lembrar que a comunhão não se resume, nem tem como principal exemplo as contribuições monetárias. A prática da comunhão, do ajuntamento proativo e constante dos crentes, pressupõe a consideração de que cada indivíduo é um mero administrador de seus bens. Tudo o que ele possui, o seu tempo, e até mesmo sua própria alma, pertencem ao Senhor. Deus permita que o abundante recurso da comunhão esteja ainda presente em cada comunidade verdadeiramente cristã.


Segundo recurso abundante na Igreja: Poder (33a)

Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, (...)

Os apóstolos eram um canal de grande poder, vindo de Deus, manifestando-se na igreja, alcançando os pobres e necessitados. O poder de fazer milagres dava respaldo à mensagem do evangelho. Jesus disse aos apóstolos, em Atos 1.8: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. Paulo também, embora não estivesse com Jesus no Monte das Oliveiras, recebeu o mesmo Espírito, conforme diz em 1Coríntios 2.4: “a minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder”. Os santos todos, da igreja, receberam poderosos e diversos dons, de acordo com 1Coríntios 12.10: “[...] a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos; a um, variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las”. O apóstolo orou pelos efésios (3.16) “para que, segundo a riqueza da sua glória”, Deus concedesse que eles fossem “fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior”. O evangelho que chegou aos tessalonicenses não foi somente em palavra, “mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção”, assim como eles sabiam ter sido o procedimento de Paulo e seus ajudantes entre eles e por amor deles (1Tessalonicences 1.5). O jovem pastor Timóteo foi alertado por seu mentor de que não lhe fora dado por Deus “espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação”, de forma que ele não devia se envergonhar do “testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado”, Paulo, pelo contrário, deveria participar com ele “dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus” (2Timóteo 1.7,8).
Assim, quem quiser dar um testemunho poderoso, não pode deixar que seja enfraquecido pelo poder do pecado. Uma palavra com credibilidade depende muito do caráter de quem a profere, mas, sobretudo, depende desse abundante recurso que é o poder do Espírito Santo, poder esse que compõe o “patrimônio espiritual” desta rica igreja de Cristo.

Terceiro recurso abundante na igreja: Graça (33b-35)

(...) e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.


Lemos, na Wikipédia, que “Caridade (lat caritate: Amor de Deus e do próximo. Benevolência, bom coração, compaixão. Beneficência, esmola.) é um termo derivante do latim caritas (afeto, amor), que tem origem no vocábulo grego chàris (graça)” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Caridade Acesso em: 04-06-2016).
Em certo momento do ministério público de Jesus, ele enviou os doze numa missão, dizendo: “curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai” (Mateus 10.8). Essa prática de ser gracioso se estendeu à igreja, tornando-se obrigação de todos os crentes.
Quando falamos de comunhão, pensamos mais na comunidade dos crentes, mas quando falamos de Graça, o público-alvo é mais amplo. Assim como nosso Pai celeste “faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos” (Mateus 5.45), assim também deve ser graciosa a igreja. Quanto mais rica for de bens terrenos, mais responsabilidade terá para com os pobres. Isto vale também para os indivíduos. Parece que essa consciência de responsabilidade está bem expressa numa notícia veiculada no portal de notícias da Uol, em maio de 2016:

Conhecida como Baronesa Thyssen, Carmen Cervera, a sétima mulher mais rica da Espanha, incendiou as redes sociais ao declarar que "ser rica é difícil" e "é muita responsabilidade". Em uma entrevista publicada no jornal especializado em economia "Cinco Dias", a aristocrata declarou: "Ser rico sempre é difícil, é pior do que ser pobre. Vem uma grande responsabilidade para si mesma e para as pessoas que dependem de você."



(http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2016/05/24/milionaria-causa-polemica-ao-dizer-que-ser-rica-e-dificil.htm Acesso em: 04-06-2016)

O sábio Salomão, em seus estudos sobre a vida na terra, disse em uma de suas conclusões que
"Onde os bens se multiplicam, também se multiplicam os que deles comem; que mais proveito, pois, têm os seus donos do que os verem com seus olhos? Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir" (Eclesiastes 5:11,12).
Embora o rico, se não quiser lutar contra a própria natureza, seja praticamente obrigado a ser gracioso, a graça que vem de Deus não depende de ser rico ou não. Os pobres costumam ser mais graciosos do que os ricos, ao compartilhar o pouco que têm. Frequentemente, Deus abençoa os seus filhos para que sejam canais de bênção para outros. A graça de Deus para conosco tem o objetivo de nos estimular às boas obras, conforme 2Coríntios 9.8: “Deus pode fazer-vos abundar em toda graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência, superabundeis em toda boa obra”.
O crente que cumpre bem o seu papel de ser gracioso, é ainda mais abençoado, porque aqueles que são por ele ajudados, oram a seu favor “com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus” que neles há (2Coríntios 9.14).
Pedro no faz uma exortação: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus (1 Pedro 4.10).
Clive Staples Lewis, famoso escritor britânico, escreveu sobre a caridade, dizendo:

Não acredito que alguém possa estabelecer o quanto cada um deve dar. Creio que a única regra segura é dar mais do que nos sobra. Em outras palavras, se nossos gastos com conforto, bem supérfluos, diversão etc. se igualam ao do padrão dos que ganham o mesmo que nós, provavelmente não estamos dando o suficiente. Se a caridade que fazemos não pesa pelo menos um pouco em nosso bolso, ela está pequena demais. É preciso que haja coisas que gostaríamos de fazer e não podemos por causa de nossos gastos com caridade. Estou falando de "caridade" no sentido comum da palavra. Os casos particulares que afetam parentes, amigos, vizinhos ou empregados, de que Deus, por assim dizer, nos força a tomar conhecimento, exigem muito mais que isso: podem inclusive nos obrigar a pôr em risco nossa própria situação. [...] A regra comum a todos nós é perfeitamente simples. Não perca tempo perguntando-se se você "ama" o próximo ou não; aja como se amasse. Assim que colocamos isso em prática, descobrimos um dos maiores segredos. Quando você se comporta como se tivesse amor por alguém, logo começa a gostar dessa pessoa.

LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples. Martins Fontes. São Paulo, 2005. Pag. 34, 48. Disponível em: http://portalconservador.com/livros/C.S.Lewis-Cristianismo-Puro-e-Simples.pdf - Acesso em: 04-06-2016)

De acordo com Emerson Detoni, Santo Agostinho ensinava que

[...] Credere in Deum implica um caminhar até Deus, um movimento de amor. Movimento que compreendemos perfeitamente quando lemos o Enchiridion e percebemos que a fé na existência de Deus não pode estar desprovida da Caridade, como era a fé dos demônios, que acreditavam unicamente para evitar Jesus e não para viver Nele (Ench. 2.8). A verdadeira fé “reclama” a graça, através da qual pode cumprir as boas obras que conduzem a Deus. Ou seja, a fé impetra a graça e ao receber o Espírito de amor, torna-se ativa (Ench. 31.117). Na visão de Agostinho, a única fé que se justifica é a fé que se faz ativa por meio do amor.


DETONI, Emerson. Santo Agostinho: Fé, Esperança e Caridade. Disponível em: http://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_05.pdf Acesso em: 04-06-2016)

Conclusão

A riqueza que o Espírito Santo trouxe à Igreja a tornou abundante em comunhão, poder e graça. Resultados diferentes são produzidos pelo espírito do mundo. Paulo falou à igreja em 1Coríntios 2.12: “Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente”. Mas tinha uma preocupação, a de que a igreja acabasse influenciada pelo espírito que está no mundo, e por isso fez declarações como a que lemos em 2Coríntios 12.20: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos”. Qual espírito está agindo em nós hoje? Quando Jesus voltar, nos encontrará agindo segundo o Espírito que nos deu, ou segundo o espírito do mundo? Sejamos sóbrios, vigilantes, e utilizemos bem os abundantes recursos que o Espírito Santo nos dá, para que a riqueza que se destaque na igreja seja de comunhão, poder e graça.

sábado, 17 de junho de 2017

Deus é soberano (Atos 4.23-31)





Pedro e João saíram do Sinédrio apreensivos por causa das ameaças das autoridades. Num momento eles estavam se regozijando com o poder de Deus em curar o homem coxo, em conceder-lhes intrepidez para profetizar aos homens no templo, ao levar uma multidão ao arrependimento e fé em Jesus. No outro momento, tiveram que enfrentar uma noite na prisão, e a pressão psicológica dos escribas e anciãos, que os interrogaram e proibiram de falar no nome de Jesus. O que deveriam fazer? Ignorar as ameaças, ou procurar um lugar longe das autoridades para evangelizar? Precisavam de uma luz, colocar os pensamentos em ordem, e decidir que rumo seguir daquela hora em diante. Para sair dessa crise, eles recorreram aos outros irmãos para compartilhar suas ansiedades; apoiaram-se nas escrituras (especificamente Salmos 2.1,2) para reafirmarem a soberania de Deus, orando àquele que fazia intervenções soberanas na história da humanidade.


A criação de todas as coisas


A Primeira intervenção soberana de Deus, reafirmada pelos discípulos, foi a criação de todas as coisas, conforme vimos nos versículos 23 e 24, porque, uma vez soltos, se reuniram com os irmãos para relatar o que haviam passado, bem como as ameaças das autoridades. Os irmãos, unânimes, levantaram a voz a Deus em oração, dirigindo-se a ele como o Soberano Senhor, o que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há. De fato, em Gênesis (1.1-3, 26, 27) somos informados a respeito da criação, que:


No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. Disse Deus: Haja luz; e houve luz. [...] Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

Há quem acredite que o mundo nasceu por acaso, em uma negação da soberania do Deus criador; mas nós que cremos, tributamos gratidão àquele a quem todas as criaturas têm que prestar contas.


Conforme a enciclopédia livre, (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Origem_das_Esp%C3%A9cies acesso em: 21/05/2016), o livro revolucionário conhecido como “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, apresenta a Teoria da Evolução. Sua primeira edição foi em 1859, apresentando o que acreditava serem “evidências abundantes” da evolução das espécies, de que a “diversidade biológica é o resultado de um processo de descendência” e de que os “organismos vivos se adaptam gradualmente através da seleção natural”, e ainda que “as espécies se ramificam sucessivamente a partir de formas ancestrais”.

É significante que essa ramificação tenha sido ilustrada com o nome de “árvore da vida”, termo que, biblicamente, tem muito significado, desde o início, em Gênesis (2.9), até o final, em Apocalipse 22.2, onde se pode ler respectivamente que “do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim [...]”; e “no meio da sua praça, de uma e outra margem do rio, está a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos”.


Na mesma enciclopédia (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Big_Bang acesso em: 21/05/2016), lemos que no ano de 1927, “o padre e cosmólogo belga Georges Lemaître (1894-1966)” propôs que a expansão do universo seria o resultado da "explosão" de um "átomo primordial", teoria também conhecida como o Big Bang. Segundo essa teoria, aprimorada na década de 1940, o universo surgiu há pelo menos 13,7 bilhões de anos, “após uma grande explosão resultante da compressão de energia.”


De acordo com o site Brasil Escola (disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/geografia/big-bang.htm acesso em: 21/05/2016), ainda hoje essa é a explicação mais aceita pelos cientistas sobre a origem do universo, reforçada pela observação de que “o universo não é estático e se encontra em constante expansão, ou seja, as galáxias estão se afastando umas das outras”, levando-os à conclusão de que, “no passado elas deveriam estar mais próximas que hoje, e, até mesmo, formando um único ponto”.


Mas a Revista Galileu (disponível em: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2015/03/teoria-do-big-bang-pode-ser-extinta.html acesso em: 21/05/2016) nos informa que a teoria do Big Bang começa a ser questionada, porque recentemente descobriram que o tempo de 13.7 bilhões de anos “é insuficiente para explicar a formação atual do Universo”. Pesquisadores descobriram “um buraco negro com uma massa de 12 bilhões de sóis” que, pela lógica conhecida pelos cientistas, deveria ter começado a se formar antes do tempo estimado do Big Bang. Assim, o Universo seria “80 milhões de anos mais velho do que se acreditava”. Ao anunciar essa descoberta, “George Estfhathiou, diretor do Instituto Kavli de Cosmologia da Universidade Cambridge” (disponível em: http://www.scb.org.br/scb/index.php/noticias/2060-universo-e-mais-velho-do-que-se-previa-dizem-cientistas acesso em: 21/05/2016), confessou que "há um pouquinho menos do que não compreendemos." Cientistas que crêem na criação, tal como é descrita na Bíblia, reescreveriam essa confissão de ignorância dos evolucionistas da seguinte forma: “Há um pouquinho menos do muitíssimo que não compreendemos”, ou melhor, ainda: “Há um infinitésimo que passamos a compreender dentro da infinitude de nosso desconhecimento”

O comportamento daqueles que tentam desacreditar o que Deus revelou nas Escrituras é descrito em Salmos 10.4: “O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações”. Vivendo os tempos como os atuais, e observando como os homens incrédulos tratam as questões bíblicas, nós poderíamos orar como o autor do Salmo 10, nos versículos 1 a 5:


Por que, SENHOR, te conservas longe? E te escondes nas horas de tribulação? Com arrogância, os ímpios perseguem o pobre; sejam presas das tramas que urdiram. Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele. O perverso, na sua soberba, não investiga; que não há Deus são todas as suas cogitações. São prósperos os seus caminhos em todo tempo; muito acima e longe dele estão os teus juízos; quanto aos seus adversários, ele a todos ridiculiza.

O plano de salvação


A segunda intervenção soberana de Deus, reafirmada pelos discípulos, foi a revelação e execução do Plano de Salvação, conforme versículos 25 a 28, onde continuam sua oração se dirigindo a Deus como aquele que disse, “por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi [...]: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs?” referindo-se os reis da terra e as autoridades que se uniram “contra o Senhor e contra o seu Ungido”. Reconhecerem que, de fato, “Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel” se ajuntaram em Jerusalém, contra o santo Servo Jesus, ungido por Deus, e fizeram tudo o que a mão e o propósito do Pai haviam predeterminado. Os discípulos apoiaram-se na Palavra de Deus (especificamente Salmos 2.1,2), para fazerem essas observações em sua oração.


Se alguém nega a legitimidade das profecias, tanto das que se cumpriram quanto das que hão de se cumprir, nega também a soberania de um Deus que planejou toda a história e conhece todos os detalhes do futuro, dando-nos por escrito um vasto relato do que já fez e do que ainda pretende fazer. A morte de Jesus não foi um acaso, mas já havia sido determinada pelo Deus soberano, que assim providenciou o resgate da humanidade da condenação do seu pecado.


Curas, sinais e prodígios


A terceira intervenção soberana de Deus, reafirmada pelos discípulos, foi a realização de curas, sinais e prodígios, para autenticar a sua palavra, conforme os versículos 29 a 31, onde eles continuam a oração pedindo ao Senhor que olhasse para as ameaças que receberam das autoridades, e concedesse àqueles servos que anunciassem com toda a intrepidez a sua palavra, estendendo a mão “para fazer curas, sinais e prodígios” em nome de Jesus, o santo Servo. No final da oração, o lugar onde estavam reunidos tremeu, e todos ficaram cheios do Espírito Santo, de forma que anunciavam com intrepidez a palavra de Deus. Esses milagres e todos os demais, narrados ou não nas escrituras, revelam a soberania de um Deus que pode interferir no curso natural das coisas para fazer prevalecer a sua vontade.


Deus é soberano


Os discípulos, ao orarem, se colocaram na condição de servos (doulos), escravos, diante de um Deus soberano, suplicando-lhe que os ajudasse a cumprir a ordem que por ele mesmo lhes fora dada. Naquele momento crítico, os discípulos reafirmaram sua confiança na soberania de Deus, que pode inclusive ser reconhecida nas suas intervenções soberanas na história da humanidade, quais sejam a criação de todas as coisas, a revelação e execução do plano de salvação, e a realização de curas, sinais e prodígios, para autenticar a sua palavra.


Vamos nos colocar aos pés desse Deus soberano, crendo na salvação que veio por meio de seu filho Jesus, nos esforçando para andar nos caminhos por ele traçados, purificando nossas vidas de coisas que o desagradam, esforçando-nos para cumprirmos os propósitos pelos quais, em sua soberania, ele nos tem colocado onde estamos.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A vontade irresistível de Deus (Atos 4.15-22)





Tal como acontece numa disputa política, dessas que estamos acostumados a presenciar nos parlamentos, neste parágrafo de Atos vemos que há um embate em que Deus estava agindo para fazer prevalecer a sua vontade, e as autoridades eclesiásticas e políticas vigentes não podiam fazer nada para conter o progresso do evangelho. Vejamos a seguir as fragilidades que tornavam impotentes os inimigos do evangelho.


Não podiam negar a manifestação do poder de Deus (15-17)


Eles mandaram os apóstolos, por um instante, saírem do sinédrio, para que pudessem consultar uns aos outros, dizendo: “Que faremos com estes homens? Pois, na verdade, é manifesto a todos os habitantes de Jerusalém que um sinal notório foi feito por eles, e não o podemos negar”. A única providência que podiam tomar para tentar impedir que houvesse maior divulgação entre o povo, era ameaçá-los para não falarem mais no nome de Jesus. Mas até mesmo ameaças não os impediriam, pois eles tinham diante de si “uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar” (Apocalipse 3.8).

Muitos sinais e prodígios foram feitos pelos apóstolos, autenticando sua pregação, mas era o “sinal do profeta Jonas”, a ressurreição de Jesus, o maior e mais evidente sinal que ecoaria pelos séculos vindouros nos “quatro cantos” do mundo.


Não podiam impedir testemunhas fiéis de falarem (18-20)


Chamando-os de volta ao sinédrio, ordenaram aos apóstolos que não falassem mais no nome de Jesus. Mas Pedro e João responderam: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus”. Não era possível que eles deixassem de falar as coisas que viram e ouviram da parte de Jesus, o qual recebeu do Pai toda a autoridade, no céu e na terra, e lhes ordenou em Mateus 28.18-20 que fizessem discípulos de todas as nações. Conforme as palavras de Jesus em Lucas 19.40, se os discípulos se calassem, as próprias pedras clamariam. Mas não foi preciso incomodar as pedras, porque logo uma multidão inumerável de discípulos em todos os tempos seguiria o exemplo dos apóstolos, levando o evangelho aos povos distantes e em qualquer lugar onde houvesse oportunidade, inclusive nos exílios e nas prisões.


Não podiam castigar aqueles a quem Deus protegia (21-22)


Ameaçando-os novamente, os soltaram, pois não tinham como os castigar, uma vez que o povo glorificava a Deus pelo milagre que tinham feito naquele homem que fora coxo desde o nascimento, há mais de quarenta anos. Os apóstolos podiam dizer naquele dia que estavam descansando “à sombra do Onipotente”, nenhum mal lhes sucederia (Salmos 91.1, 10), e como Josué podiam ser fortes e corajosos, na medida em que obedeciam à ordem de Deus, que disse: “o SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares” (Josué 1.9).


Com os inimigos fragilizados, a vontade de Deus prevaleceu


O Cristo Ressurreto foi divulgado e crido em todo o mundo. Uma igreja local, em algum momento, por algum motivo, pode não crescer, mas a Igreja de Deus tem crescido, e crescerá até quando Deus enviar Jesus para “colher os seus frutos”.

Segundo a interpretação dispensacionalista da escatologia, estamos na época da igreja morna, e Jesus está a ponto de vomitar-nos de sua boca. Nós que conhecemos a Palavra de Deus estamos sendo alertados para que não nos tornemos como a maioria. Não precisamos ser a igreja morna. Só depende de nós, pois a vontade de Deus, ele ainda vai fazer prevalecer com sinais, para que os inimigos não possam negar; com servos ousados no falar, para que os inimigos não possam impedir; com proteção, de forma que os inimigos não possam castigar. Eventualmente Deus vai permitir sim, que as evidências sejam negadas, que os cristãos sejam impedidos de falar, que sejam castigados, mas a regra geral é que Deus nos livrará do poder maligno se nós obedecermos à sua comissão e espalharmos o evangelho onde quer que andemos, pois essa é a vontade irresistível de Deus.


Jesus e sua autoridade (Atos 4.5-14)


Como se justifica a autoridade de Jesus? (5-7)


Pedro e João passaram a noite na prisão e, ao amanhecer, foram apresentados às autoridades, que os arguiram, perguntando com que autoridade haviam curado um coxo de nascença e pregavam no templo o arrependimento e a fé em Jesus Cristo ressuscitado.

A elite religiosa de Jerusalém estava preocupada. Sua hegemonia estava sendo desafiada por uma dupla de pregadores que realizava curas e pregava sem sua autorização. Pedro e João, por outro lado, não viam a necessidade de pedir licença aos anciãos, pois tinham recebido a ordem diretamente de Jesus, que da parte do Pai lhes enviara o Espírito Santo, que lhes dava poder e liberdade para proclamar o reino de Deus. Iniciou-se então um conflito de autoridades, e Pedro teve que defender, diante do sinédrio, o direito de autoridade do Senhor Jesus. Para convencê-los, ele apresenta pelo menos três justificativas:


Primeira justificativa: Deus o ressuscitou dentre os mortos (8-10)


Pedro, cheio do Espírito Santo, disse às autoridades do povo e aos anciãos que os estavam interrogando a propósito da cura de um enfermo, estendendo esse comunicado a todo o povo de Israel: “em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está curado perante vós”.

Jesus é apto para exercer sua autoridade porque Deus o ressuscitou dentre os mortos. Quando as autoridades do povo e os anciãos crucificaram Jesus, imaginavam que haviam encerrado o assunto, mas não, porque ele ressuscitou. Anulou o efeito da violência sofrida, não podia mais ser morto, vivia para sempre. O livro de Hebreus (7.23,24) faz o contraste entre a autoridade de mortais e a autoridade de Jesus, o qual vive para sempre: “Ora, aqueles são feitos sacerdotes em maior número, porque são impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável”.

Jesus estava vivo, e está vivo até hoje, e eternamente viverá. Portanto, tem o direito de ser o Senhor, pode falar com autoridade aos seus servos para que executem a sua vontade neste mundo.


Segunda justificativa: Deus o colocou como Pedra Angular (11)


Pedro continuou, se referindo a uma profecia do Antigo Testamento: “Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se tornou a pedra angular”.

Como Pedro, nós também podemos dizer que a autoridade de Jesus é justificada pelo fato de que ele é o fundamento do cristianismo, que conquistou o mundo com grande poder. A Igreja de hoje é a grande prova viva de que Jesus é a pedra angular assentada por Deus na construção do seu reino. Em Mateus 16.18 Jesus declarou: “[...] sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Desde então a igreja tem adentrado pelas portas do “inferno” no qual muitas vezes se configura este mundo, de forma que os princípios cristãos têm sido a base das sociedades que conseguiram se manter de pé, mesmo que ainda estejam grandemente contaminadas pela corrupção.
Sabemos que a Igreja não é o que devia ser, que também será julgada pelos critérios de Apocalipse capítulos 2 e 3, mas ainda é o corpo sob a autoridade de Cristo, que tem direito de reinar sobre ela e, consequentemente, sobre o mundo que foi por ela dominado.


Terceira justificativa: Deus o designou como único Salvador (12)


Pedro conclui: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”.

Jesus tem autoridade porque é o único Salvador. Deus o nomeou, e os homens estarão todos, um dia, diante de do Juiz que declarou: “E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, [...] Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.22,24). Ele é o juiz que tem poder para condenar e para salvar, e consola o arrependido que nele crê, garantindo-lhe a vida eterna.


Contra as evidências não há argumentos (13,14)


As autoridades viram, na intrepidez de Pedro e João, um sinal de que haviam estado com Jesus, pois sabiam que eram homens iletrados e incultos. Nada podiam fazer contra eles, uma vez que o homem que fora curado estava ali para provar que haviam feito o bem.

E quanto a nós? Diante da certeza de que Jesus ressuscitou dentre os mortos, de que ele é a pedra fundamental da Igreja, e diante da declaração bíblica de que Jesus é o único Salvador, devemos nos curvar diante de sua autoridade, nos rendendo aos seus pés, declarando que ele é o nosso Senhor, e assim vivermos para fazer a sua vontade, não a nossa.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Anunciando a ressurreição (Atos 4.1-4)

Quando os deputados votavam o impeachment na Câmara em 2016, eu assisti uma boa parte dos discursos. Ouvindo os argumentos notei muitas coisas razoáveis, e muitas coisas não tão razoáveis. Havia deputados que em minha opinião foram muito sensatos, respeitando o lado oposto, embora tivessem que tomar partido e decidir de que lado estavam. Um deles fez um discurso interessante, sintetizando bem uma diferença de características entre a oposição e os governistas, dizendo que a oposição não tinha ídolos, mas eles sim, tinham (Lula e Dilma). Não sei se devo considerar bom ou ruim o fato de as pessoas na política aderirem a um líder carismático e tomarem o seu partido.

Mas por outro lado, quando o assunto é religião, é claro que nós cristãos temos um líder que é digno de adoração, Jesus Cristo, aquele que ressuscitou dentre os mortos para ser o Rei dos reis e Senhor dos senhores (Apocalipse 17.14). Como servos dele, temos a obrigação de tomar seu partido, e anunciar a mensagem da ressurreição. Quando um cristão toma partido e anuncia corajosamente a mensagem da ressurreição, sua prática pode gerar pelo menos três resultados.


Primeiro resultado: perturbação do ambiente (1,2)


Enquanto Pedro e João ainda falavam ao povo, “sobrevieram os sacerdotes, o capitão do templo e os saduceus, ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem, em Jesus, a ressurreição dentre os mortos”.

Existe muita gente que pode ficar ressentida quando se fala a verdade, mas ela precisa ser dita. Em 2Timóteo 4.2, por exemplo, Paulo exorta um jovem pastor a pregar a palavra, insistir, “quer seja oportuno, quer não”. Seguindo esse princípio os apóstolos anunciaram ali, naquele ambiente do templo, equivalente à igreja de hoje, uma mensagem que era conflitante com o que defendiam as autoridades mais influentes. Além de ter potencial para perturbar o ambiente da própria igreja, uma mensagem sincera e baseada na palavra de Deus pode gerar perturbação também em outros ambientes, como nos exemplos a seguir:

a) Quando visitamos uma pessoa doente, em seu leito, queremos falhar-lhe sobre a importância de aceitar Jesus como Senhor e Salvador, mas os familiares às vezes não querem que os “perturbemos” com essa mensagem, que no seu ver podem abalar a sua tranquilidade;

b) No restaurante, quando vamos tomar refeições em família ou entre irmãos, costumamos fazer uma oração conjunta, em voz alta, para agradecer. Isto pode perturbar um pouco o ambiente, pois a prática não é usual;

c) Quando vamos distribuir versículos ou evangelizar de casa em casa, perturbamos o sossego das pessoas nos seus lares;

Há perturbações, porém, que não são recomendáveis, por não serem éticas ou produtivas. Há um princípio importante revelado em 1Coríntios 14.23, que diz: “Se, pois, toda a igreja se reunir no mesmo lugar, e todos se puserem a falar em outras línguas, no caso de entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão, porventura, que estais loucos?” Esse princípio mostra que devemos nos preocupar com as pessoas de fora, para que não interpretem mal nossas motivações e costumes. Não podemos usar, por exemplo, o ambiente de trabalho ou o tempo em que deveríamos estar trabalhando para evangelizar.


Segundo resultado: represálias (3)


As autoridades prenderam os apóstolos, recolhendo-os ao cárcere até ao dia seguinte, sendo já tarde.

Vivemos num país que nos garante o direito de culto e de expressão, e nos consideramos felizes por isso, mas a lei não nos garante isenção de represálias, mesmo que veladas ou de baixa intensidade, por parte de pessoas que não concordam com nossa maneira de adoração e de expressão. Podemos citar alguns exemplos de represálias a que estamos sujeitos:

a) Pessoas às vezes passam na rua aqui em frente da igreja e, na hora do culto, gritam provocações;

b) Pessoas estacionam seus carros na frente da Igreja, bloqueando a entrada do estacionamento, sem respeitar os horários de culto (essa atitude pode ser apenas falta de educação, mas também pode ser entendida como uma espécie de retaliação);

c) Os rumos da sociedade moderna tendem ao liberalismo, e com liberais assumindo cada vez mais o poder, os cristãos zelosos serão cada vez mais criticados e limitados em sua liberdade de ensinar, já que ensinam a ortodoxia e o conservadorismo das Escrituras;

d) Uma irmã que, anos atrás, abandonou um bom emprego para torna-se seminarista, sofreu duras críticas, e o pastor foi acusado de subverter o futuro da moça. Essa crítica vinha até mesmo de crentes considerados fiéis;

e) Um casal de missionários que conhecemos bem foi expulso, pelo órgão do governo, da tribo Zoé a qual evangelizavam; outro casal ainda, sustentado parcialmente por nossa igreja, no começo do seu ministério, foi expulso da tribo Deni, por líderes comunitários dos próprios indígenas.

f) Numa nota da Folha de São Paulo de 10/04/2015 nós lemos que um “evangélico é acusado pelo MPF de proselitismo, por pregar a índios em Santarém (PA) [...] acusado de perturbar o ‘direito a manutenção de culturas próprias’. O Coordenador da FUNAI [...] diz que o órgão condena o proselitismo religioso porque pode haver impacto negativo para as tribos”.


(http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1614712-evangelico-e-acusado-de-proselitismo-por-pregar-para-indios.shtml)

Terceiro resultado: colheita de frutos (4)


Apesar do discurso de Pedro ter sido interrompido pela sua prisão, “muitos dos que ouviram a palavra a aceitaram, subindo o número de homens a quase cinco mil”.

O resultado que todos queremos é que o nosso trabalho dê muitos frutos. Foi esse um dos resultados da pregação de Pedro e João. Às vezes, porém, nosso trabalho parece não frutificar. Quando isso acontece, podemos atribuir pelo menos três razões para o fruto não vingar, com respectivos versículos que as ilustram:


a) Não semear a Palavra;

"Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?" (Romanos 10.14)


b) Não regar a planta (não persistir, não demonstrar amor, não dar exemplo de vida);

“Pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento” (1Pedro 1.15);


“Mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação” (1Pedro 2.12);


“Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa” (1Pedro 3.1);


“Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as suas ameaças, nem fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo, porque, se for da vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que praticando o mal” (1Pe 3.14-17);


c) Não encontrar receptividade;

“Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e vieram as aves e a comeram. Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se. Outra parte caiu entre os espinhos; e os espinhos cresceram e a sufocaram, e não deu fruto” (Mateus 4.3-7).


Conclusão


Deus nos conceda a graça de que cumpramos a nossa obrigação e anunciemos coerentemente, corajosamente, a mensagem da ressurreição. Fazendo isso, podemos ser tidos como meros perturbadores da ordem e até receber represálias, mas se formos fiéis e corajosos, é grande a possibilidade de colhermos bons frutos. E assim, irmãos, possamos honrar nosso “grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2.13). Tomemos partido, anunciemos a ressurreição!

domingo, 9 de abril de 2017

Voltar atrás (Atos 3.17-26)


Introdução

Esta parte da mensagem de Pedro me faz lembrar a história de José, quando seus irmãos foram lhe pedir perdão por sua traição. Ele disse que não deviam se afligir. Na verdade eles haviam agido mal, mas Deus, através disso, salvou-os, bem como toda a sua família (Gênesis 50.17,20). Na situação semelhante encontrada neste texto de Atos vemos que, diante da disposição de Deus em perdoar, o povo que estava em Jerusalém precisava se arrepender e se converter, pois era grande o seu pecado. Caso atendessem o apelo de Pedro, se arrependendo e se convertendo, levariam pelo menos quatro vantagens: o cancelamento dos seus pecados; o refrigério de presenciar a vinda de Cristo e a restauração de todas as coisas; a certeza de que não seriam banidos, mas estariam entre o povo escolhido de Deus; e a bênção prometida através da descendência de Abraão.

Primeira vantagem: o cancelamento dos seus pecados (17-19)

O que o povo fez, fez por ignorância, assim como o fizeram as autoridades então constituídas. Foi dessa forma que Deus cumpriu o que havia anunciado por meio dos profetas, dizendo que o seu Cristo havia de padecer. Por isso foi dada ao povo uma chance: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados”.

Podem existir abusos quando o assunto é perdão de pecados. Foi assim no caso de Johann Tetzel, nascido em 1465 em Pirna, Alemanha, frade dominicano e pregador, o qual se tornou o grande comissário do Papa para indulgências (cartas que davam direito a perdão de pecados) na época de Lutero. Numa ilustração que chama a atenção para o absurdo que foi a prática de venda de indulgências, conta-se que,

“de acordo com Lutero, depois que Tetzel tinha recebido uma quantidade substancial de dinheiro em Leipzig, um nobre perguntou-lhe se era possível receber uma carta de indulgência para um pecado futuro. Tetzel rapidamente respondeu que sim, insistindo, no entanto, que o pagamento tinha de ser feito de uma só vez. Esse nobre o fez, recebendo logo a seguir a carta selada de Tetzel. Quando Tetzel deixou Leipzig, o nobre lhe atacou ao longo do caminho, deu-lhe uma grande surra, e o mandou de volta de mãos vazias para Leipzig, com o comentário de que esse era o pecado futuro que ele tinha em mente. O Duque George no início ficou bastante furioso por este incidente, mas quando ouviu toda a história, deixou-o ir sem castigar o nobre”.

(Fonte: LuthersSchriften, herausg. von Walch. XV, 446. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Tetzel Acesso em: 08/04/2016)

Pedro, no entanto, apresentou ao povo uma possibilidade real de cancelamento de pecados. Uma oferta irrecusável, gratuita, oferecida através do apóstolo pelo único a quem foi dado o poder de fazê-lo: O Senhor Jesus Cristo. Não era uma oferta vazia, enganosa, fraudulenta, como foi no caso de Johann Tetzel.

Segunda vantagem: ver a Cristo e os tempos de refrigério (no tempo de restauração de todas as coisas) (20,21)

Caso se arrependessem e se convertessem, viriam da presença do Senhor tempos de refrigério, Deus lhes enviaria o Cristo, o qual já estava designado, Jesus, ao qual era necessário que o céu recebesse até aos tempos da restauração de todas as coisas, conforme Deus falou por meio dos seus santos profetas desde a antiguidade.

Os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas são um desejo universal. Quem não gostaria de viver num mundo ideal, sem guerra, sem doença, sem sofrimento, sem catástrofes? Esse era o anelo do povo de Israel, e tem sido o anelo de todos os povos em toda a história. Falando sobre a expectativa popular da volta de Cristo e da consequente restauração de todas as coisas, Craig C. Hill (2004) afirma que

“(...) A Agonia do Grande Planeta Terra, best-seller de Hal Lindsey escrito na década de 1970 [...] argumentava que o mundo estava pronto para um cataclismo, literalmente ‘de proporções bíblicas’, depois do qual Cristo voltaria para reinar por mil anos. Ele calculou que essas coisas deveriam acontecer dentro de quarenta anos — uma ‘geração bíblica’ —, a partir da fundação do moderno Estado de Israel, em 1948. Isso significa que o fim do mundo deveria ter ocorrido em 1988. ‘Muitos eruditos que têm dedicado toda a vida ao estudo das profecias da Bíblia creem assim’.”


(Hill, Craig C. O Tempo de Deus. Tradução de Carlos Caldas e Jarbas Aragão. Julho 2004. Viçosa MG. Editora Ultimato. Pag. 17 Disponível em: http://www.ultimato.com.br/file/capitulos/Tempo-de-Deus-leia.pdf Acesso em: 09/04/2016)

Thomas Ice, escrevendo para a revista Chamada da Meia Noite, em fevereiro de 2014, também fala do mesmo assunto, e declara:

“Primeiro, creio que o Espírito Santo estava extremamente ativo, movendo-se sobre minha geração rebelde como Ele jamais havia feito. O Senhor usou livros como O Grande Planeta Terra, de Hal Lindsey, o qual certamente fez milhões virem a Cristo por meio de sua influência. Filmes como A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite], de Russell Doughten,[1] ensinavam sobre o Arrebatamento antes da Tribulação e também foram um catalisador que levou muitas pessoas a Cristo. Doughten apresenta o Arrebatamento como Cristo vindo feito um ladrão na noite”.

(Thomas Ice - Disponível em: http://www.chamada.com.br/mensagens/ladrao_na_noite.html Acesso em: 09/04/2016. Filme citado no artigo: Russell S. Doughten, Jr., A Thief in the Night [Um Ladrão na Noite] (1972).)

Os anos que antecederam o de 2000 foram os anos em que nossa igreja mais cresceu, pois muitos aceitaram a Cristo ou se reaproximaram da Igreja com medo de que o mundo acabasse na virada do milênio. Cristo ainda não voltou, e os que o esperam podem até ficar impacientes e perderem a fé, mas podemos dizer pela expectativa de vida nos dias atuais que a espera raramente será mais do que 100 anos (eu creio que, quando a morte vem, essa espera torna-se mais agradável para os filhos de Deus, pois já estarão na presença do Senhor, como numa “sala vip”).

Para o povo que ouvia a pregação de Pedro era vantajoso o arrependimento e a conversão, ao qual seria dado o privilégio de presenciar esse tão almejado tempo de refrigério.

Terceira vantagem: habitar no meio do povo de Deus (não ser banido desse povo) (22-24)

Moisés já dizia com verdade: “O Senhor Deus vos suscitará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. Acontecerá que toda alma que não ouvir a esse profeta será exterminada do meio do povo”. Todos os profetas, desde Samuel, também anunciaram esses dias.

Podemos entender melhor a figura de alguém que é banido do povo quando pensamos na situação de um presidiário nos dias de hoje. No artigo intitulado “O sistema prisional brasileiro”, disponível no portal da faculdade Estácio, lemos o seguinte relato:

“[...] nada disso impede que uma infinidade de criminosos tenham seus direitos básicos jogados por terra, como no massacre do Carandiru quando a Polícia Militar em busca de retomar o Complexo durante uma rebelião, invadiu-a e executou sumariamente 103 detentos que somados a outros que aparentemente foram mortos em conflitos entre os próprios detentos somaram 111 mortos. Também conquistou repercussão nacional o caso do 42 Distrito Policial que confinou 51 detentos que planejavam uma tentativa de fuga em apenas uma cela de 1,5 x 4m sem ventilação que levou a morte de 18 destes por asfixia.”

(O sistema prisional brasileiro. Faculdade Estácio. Rio de Janeiro. 2009. Disponível em: http://portal.estacio.br/media/1597224/artigo%20sistema%20prisional%20brasileiro%20pseudonimo%20mtjr%20penal.pdf Acesso em: 09/04/2016)

Se neste mundo os que estão “banidos” da sociedade enfrentam situações desesperadoras, imaginamos o que significará ser banido para sempre do povo que Deus tem selecionado para a vida eterna. Mas os que se arrependessem e se convertessem teriam a certeza de não estar entre os banidos quando chegar o momento de Deus separar para si o seu povo.

Quarta vantagem: ser abençoado (ser livre da maldição) (25,26)

Os ouvintes de Pedro eram “filhos dos profetas e da aliança que Deus estabeleceu” com seus pais, quando disse a Abraão: “Na tua descendência, serão abençoadas todas as nações da terra”. Deus ressuscitara o seu Servo e o enviara primeiramente a eles para abençoá-los, no sentido de que cada um se apartasse das suas perversidades.

Uma pessoa amaldiçoada não tem paz na vida e pode ficar enlouquecida como Lady Macbeth, personagem de William Shakespeare que, atormentada pela culpa, não conseguia livrar-se da impressão de que possuía sangue em suas mãos. Deus amaldiçoou o homem por causa do seu pecado, logo no início da criação, conforme Gênesis 3.17-19:

“E a Adão disse: Visto que atendeste a voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. Ela produzirá também cardos e abrolhos, e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.

O pai de Noé tinha esperança de que Deus amenizaria essa maldição, por isso lhe deu esse nome, “dizendo: Este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o SENHOR amaldiçoou” (Gênesis 5.29). O mesmo Noé, mais tarde, porém, amaldiçoou seu neto, Canaã, “e disse: Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos” (Gênesis 9.25). Em Deuteronômio 27 e 28 Moisés determinou que o povo, do alto do monte Ebal, pronunciasse maldições para os que fossem desobedientes à Palavra de Deus. O último versículo do Antigo Testamento, em português, termina com a palavra maldição (Malaquias 4.6). Mas Deus oferecia ao povo, por meio da pregação de Pedro, a vantagem, caso se arrependessem e se convertessem, de assumirem sua participação na linhagem dos que são abençoados.

Conclusão:

Assim como o povo de Jerusalém, nós também precisamos reconhecer os nossos pecados, nos arrependermos e nos convertermos. Se reconhecermos os nossos pecados e voltarmos atrás, Deus é fiel e justo, e nos consolará com as mesmas vantagens, cancelando nossos pecados, fazendo-nos presenciar os tempos de refrigério e a restauração de todas as coisas, de forma que não estaremos entre os que serão banidos do seu povo, mas entre os que têm fé naquele que é a bênção das nações.