segunda-feira, 28 de dezembro de 2015
A ciência do Salvador
(Leia Mc 14.12-31)
TODOS NO SERVIÇO DO MESTRE (um momento agridoce) (12-17)
Uma sensação de felicidade pairava no ar, parecia que tudo estava nos seus eixos. Havia um mestre e seus discípulos, os quais estavam alegres em servi-lo com o que é melhor: uma ceia farta, um cenáculo espaçoso, mobiliado e pronto. Se Jesus pensasse como um de nós, talvez tivesse reparado na sua atual prosperidade. Na sua infância, diferentemente, passara momentos difíceis. Quando estava para nascer, seus pais procuraram para si um lugar numa hospedaria, mas só conseguiram um vaga numa manjedoura (Lucas 2:7).
Jesus, porém, não pensa como um de nós. Ele saboreava aquele doce momento, sim. Desejou ansiosamente comer com os seus discípulos aquela páscoa (Lucas 22:15), mas estava ciente de que, neste ano, diferente dos outros, o verdadeiro cordeiro pascal é que seria imolado (1 Coríntios 5.7).
Para que nós não nos enganássemos com uma falsa sensação de segurança, ele nos deixou conhecer três verdades a respeito da nossa situação como discípulos.
Primeira verdade: Há um traidor entre nós (18-21)
Jesus dá aos discípulos uma notícia bombástica, que abala a paz. Em João 13.10, Jesus declarou: “Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos". Em João 13.21, "angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá". Esta notícia deixou todos preocupados. Não era possível. Como uma coisa destas podia acontecer? Um elemento estranho surge para contaminar o ambiente, como uma infecção, como um câncer que é revelado num exame médico. Mas Jesus não foi pego de surpresa, ele sabia desde o princípio, e já estava escrito o seu destino, conforme Salmos 22.1,7,14,15,18: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que se acham longe de minha salvação as palavras de meu bramido? (...) Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça(…). Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte. (...) Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes", e conforme Isaías 53.7,8: "Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido".
A profecia se cumpriria, conforme estava escrita, e o destino dos traidores também já estava traçado. Em João 17.12, Judas Iscariotes é citado com o título de "filho da perdição", o mesmo título do anticristo, citado em 2Tessalonicenses 2.3. Jesus advertiu também, com severidade semelhante, aqueles que fazem tropeçar outros, que estão buscando o caminho do Senhor, em Marcos 9.42: “E quem fizer tropeçar a um destes pequeninos crentes, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse lançado no mar”.
Existe ainda um traidor na igreja, no lar, e em todos os ajuntamentos humanos. A estrela da manhã, o filho da alva (Is 14.12), ainda anda em derredor, como um leão que ruge (1Pedro 5.8), procurando alguém para devorar.
Segunda verdade: Jesus pagou pelos crentes o preço de uma nova aliança (22-26)
Um antídoto, um antibiótico capaz de curar a doença do pecado, é apresentado pelo Mestre. É a Nova Aliança no sangue do Cordeiro. A paz que foi perturbada, será restaurada por ocasião da vinda do reino de Deus. Esta era a esperança dos discípulos, é ali que seus corações deviam descansar. Agora, porém, era necessário aplicar o amargo remédio, o único capaz de salvar os que nele creem. Embora a eficácia da solução de Deus tenha poder para salvar toda a humanidade, ela não terá efeito para todos, (ainda que para muitos) porque, como se diz em Hebreus 4.2, a palavra só se aproveita quando é acompanhada pela fé naqueles que a ouvem.
Ao anunciar o estabelecimento da Nova Aliança, Jesus instituiu uma cerimônia para que nunca nos esquecêssemos do meio pelo qual ela foi selada: o pão passou a representar o seu corpo, e o vinho, o seu sangue. Quando celebramos a Ceia, em obediência à sua ordem, esta simbologia nos remete ao sacrifício necessário para que fôssemos resgatados, nos enchendo de vergonha pelo mal que causamos, e ao mesmo tempo, de gratidão pelo amor eterno de nosso Salvador. Ele nos lembra, ainda, de que em breve estaremos com ele à mesa, no Reino de Deus, para nos encher de alegria nesta bendita esperança.
Terceira verdade: todos se escandalizarão (27-31)
Já estava escrito que as ovelhas ficariam dispersas, porque o Pastor seria ferido. Temos que ser realistas. Nós ainda não estamos prontos. Ao nascermos de novo, pela fé em Jesus, inciamos uma longa peregrinação espiritual, que só se findará quando o Senhor nos chamar para a glória. Não podemos nos sentir seguros enquanto não adentrarmos os portões celestiais. O Inimigo anda em derredor, e todo cuidado é pouco, para não cairmos nas suas tentações. Nossa única segurança é a promessa de Deus, que seremos salvos no final, e a perseverança é a nossa responsabilidade. O mundo parece totalmente perdido, e até mesmo nós, os crentes, estamos demasiadamente envolvidos na corrupção desta geração. Mas enquanto o Senhor nos dá fôlego, levantemos e prossigamos, como nos exorta Oséias 6.3: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra.” O mundo segue seu curso, como admite Apocalipse 22.11: “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se.”
O Senhor “conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Salmos 103.14), e nos esclarece, de antemão, que está disposto a tolerar as nossas fraquezas. Sejamos confiantes, então, sabendo que o Todo Poderoso nos sustenta, e por isto mesmo, não sejamos insensatos, e não baixemos a guarda contra o inimigo.
Conhecendo estas três verdades, de que há um traidor entre nós, que Jesus pagou o preço da Nova Aliança, e que somos vulneráveis aos escândalos, podemos avançar pela vida com a prudência e a confiança de quem entende os perigos e os obstáculos, mas se ampara no poder do bondoso Salvador.
sexta-feira, 25 de dezembro de 2015
Uma boa ocasião
(Leia Mc 14.1-11)
Nos momentos próximos à grande festa anual dos judeus, as pessoas esperavam uma boa oportunidade para por em prática seus propósitos, os quais amadureciam em seus corações. Nesta condição estavam os que eram contra e a favor de Jesus. Haviam os inimigos declarados e os velados. Os primeiros, representados pelos principais sacerdotes e escribas, os últimos, por Judas Iscariotes. Mas havia também quem o amasse de todo o seu coração, como aquela mulher que ungiu o Mestre com o seu precioso perfume. Estava chegando a hora da decisão, o momento em que cada um deveria tomar o seu partido, e declarar o que estava se passando em seu coração, a respeito do Filho de Deus. Nós estamos, aqui no Brasil, comemorando a grande festa do Natal. Da mesma forma que os corações foram provados naquela festa da Páscoa, nós também temos agora grandes oportunidades de colocarmos em prática os propósitos que estão amadurecendo em nossos corações. Neste texto nós podemos observar que as pessoas assumiram pelo menos quatro posicionamentos com relação à pessoa de Jesus Cristo.
Primeiro posicionamento: INIMIZADE DECLARADA (1,2)
“Dali a dois dias, era a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos; e os principais sacerdotes e os escribas procuravam como o prenderiam, à traição, e o matariam. Pois diziam: Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo.”
Os principais sacerdotes e escribas assumiram que Jesus era seu inimigo, e precisava morrer. Eles queriam matá-lo, porém, de uma maneira que não fizesse alarde, que não se criasse tumulto. Hoje em dia há pessoas que são abertamente contra o cristianismo. Na escola e nos concursos públicos podemos notar, nas questões de provas (excelente oportunidade para ensinar), um tempero de tendências ideológicas. Sobre a última prova do ENEM, lemos um artigo que diz o seguinte: "Uma das perguntas abordadas na prova foi a questão das reformas econômicas na China e seu efeito “negativo” sobre o processo de extinção gradual das classes sociais no país, que é uma das metas do comunismo” (Luís Fernando Novaes, Epoch Times, disponível em: https://www.epochtimes.com.br/enem-2015-esquece-65-milhoes-de-mortes-causadas-comunismo-chines/#.VnGQpqOfXcc – Acesso Em: 16/12/2015). Não é segredo que o comunismo é contrário ao cristianismo e também a outros tipos de religião. Nosso país tem uma lei chamada laica, que dá direito a todos de terem sua religião preferida, e também de não terem religião. Você, meu amigo, o que pensa? Qual o seu posicionamento com relação a Jesus? Pode ser de inimizade declarada, pois o nosso país o permite, e Deus também nos dá esta liberdade.
Segundo Posicionamento: ATITUDE CRÍTICA (3-9)
“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela. Mas Jesus disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.”
Uma mulher tomou a decisão de usar um precioso perfume, caríssimo, derramando-o sobre Jesus, para mostrar seu amor pelo Mestre. Por causa desta ação, ela foi criticada e hostilizada pelas testemunhas presentes. Jesus a defendeu e disse que sua demonstração de amor seria lembrada em todo o mundo. Esta profecia se cumpriu e inclusive nós, a quem também foi pregado o evangelho, hoje conhecemos bem a sua história. Muitos criticam os cristãos, dizendo que pregam, mas não praticam, e coisas deste tipo. Criticam, por exemplo, o fato de se reunirem e cantar louvores, e adorarem, enquanto muitos estão necessitados do lado de fora, morrendo de fome ou sendo oprimidos. Acham que deveriam participar mais da política, e praticar mais as boas obras. Talvez estejam parcialmente certos. Mas por que deveríamos deixar de praticar, semanalmente, com prazer, nossa adoração a Deus? São poucas horas que gastamos durante a semana para irmos à Igreja, adorarmos e aprendermos a Palavra. Temos todo o resto do tempo para praticarmos boas obras e evangelizar. Será que o amigo tem também este posicionamento crítico com relação a Cristo e seus adoradores?
Terceiro posicionamento: APOSTASIA (QUEBRA DE CONTRATO) (10,11)
“E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes, para lhes entregar Jesus. Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram dinheiro; nesse meio tempo, buscava ele uma boa ocasião para o entregar.”
Judas Iscariotes era um dos doze. Andava lado a lado com o Mestre, aprendia e seguia seus passos, desde o dia em que, voluntariamente, decidiu ser um discípulo. Mas agora o seu coração estava mudado. Estava somente esperando uma boa ocasião para trair Jesus. Nós também podemos nos comparar com Judas, quando de noite, numa hora e lugar em que ninguém está olhando, achamos "boas ocasiões" para trair Jesus, para “quebrar” o nosso “contrato” de obediência, firmado com Deus, espontaneamente, em algum momento de nossas vidas. Talvez alguém que esteja lendo este texto está amadurecendo em seu coração um propósito semelhante. Satanás já colocou em seu coração a decisão de pecar. O maior obstáculo para que este plano seja colocado em prática são as pessoas ao redor, por isso só espera que apareça uma boa oportunidade, uma boa desculpa, um “empurrãozinho”. Pode não ser tão claro para alguns, mas este tipo de traição acontece com muita frequência na igreja. Quantas vezes temos ouvido histórias de alguém que deixou de vir à igreja porque alguém disse alguma coisa que o ofendeu, porque sentiu um clima de falsidade no ar, porque sente que o outro irmão não lhe quer bem. Quantos estão esperando “a gota d’água” para abandonar seu cônjuge, para sair de casa, para quebrar acordos. Talvez não tenhamos chegado ainda ao ponto de querermos romper nosso contrato com Deus, mas queremos modificar algumas cláusulas. Assumimos alguns compromissos, mas agora nos arrependemos. Deus permita que não seja assim com nenhum de nós! Que sigamos até o fim o nosso compromisso de fé. No decorrer do cumprimento do nosso contrato com Deus, também passaremos por fases ruins, que podem ser curtas ou extremamente longas, do nosso ponto de vista, mas devemos estar conscientes de que Deus é fiel, poderoso e bondoso, e que Satanás quer manchar esta relação que temos com Deus, lançando dúvidas, semeando propósitos, minando nossa fé, até que ele atinja o seu alvo de nos afastar completamente do bom caminho.
Quarto Posicionamento: AMOR INCONDICIONAL (3-9)
“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela. Mas Jesus disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.”
Muito se fala entre os crentes do amor incondicional de Deus para com o pecador, que não há nada que possamos fazer para Deus nos amar mais, ou menos, pois ele nos ama de forma perfeita. Não entendamos errado, pois o que fazemos ou deixamos de fazer importa muito a Deus. Ele nos dará galardão ou castigo de acordo com nossas ações. Mas existe também o amor “incondicional” do crente que é resoluto em amar e obedecer a Deus, não importando as circunstâncias. É claro que “incondicional” é modo de dizer, pois nós só amamos a Deus porque ele nos amou primeiro (1Jo 4.19). Mas nós podemos desenvolver por Jesus um amor abnegado, como o daquela mulher de Betânia, como o de Sadraque, Mesaque e Abede-nego, que foram resolutos em honrar a Deus, independentemente das consequências (Dn 3.16-18). É assim que, na Igreja, nos esforçamos em cantar juntos e bem alto os cânticos de louvor, que damos o melhor de nossa atenção durante o culto, que procuramos dormir bem na noite anterior, para irmos bem dispostos à Escola Dominical, que anotamos os estudos, que fazemos um bom planejamento para chegarmos na hora certa, que procuramos evangelizar e fazer boas obras. Coisas que agradam Jesus.
E então? Qual será o seu posicionamento para com Jesus, especialmente nesta boa ocasião do Natal?
quinta-feira, 10 de dezembro de 2015
Vigilância e sobriedade
"Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam, e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim, também vós: quando virdes acontecer estas coisas, sabei que está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão."
"Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai. Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo. É como um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa, dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao porteiro ordena que vigie. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo. O que, porém, vos digo, digo a todos: vigiai!" (Mc 13.28-37)
Após Jesus falar sobre os acontecimentos precedentes à sua vinda, ele enfatiza que o tempo está próximo, embora ninguém saiba quando será exatamente o dia de sua volta. Por isto mesmo exorta, com insistência, para que sejamos vigilantes, para que cuidemos de nossas obrigações, para que estejamos em constante oração.
Nossa atitude deve ser a de servos que esperam o seu Senhor. Quem crê em suas palavras e obedece às suas ordens, não será pego de surpresa. Mas os que não creem e não obedecem, presumem que o Senhor tardará, ou nem voltará. Vivem sua vida procurando as coisas boas e agradáveis. Festas e diversões parecem ser o motivo de sua vida. Sua fonte de prazeres é tão abundante que a sensação é a de que nunca vai secar. Por isto não se preparam, nem querem ser incomodados com lições de moral.
O mundo se preocupa com festas, e suas festas parecem não ter limites. O crente, mesmo em suas festas, preocupa-se em como agradar a Deus. Na festa de casamento de um amigo crente, seu pai veio falar comigo em duas ocasiões. Numa delas, desculpou-se por estar servindo bebidas alcoólicas, pois eram para os amigos e familiares que já estavam acostumados a beber. Ressaltou que havia outras alternativas para os que não bebem álcool. Na outra ocasião, perguntou se eu achava errado o fato de as pessoas estarem dançando, se aquilo era pecado, ou se não faziam isto por maldade. Este homem, que nem é crente, estava vigilante. A festa do casamento de seu filho, para ele, não era só alegria sem limites.
Há muitas coisas, na vida, nas quais achamos prazer, e sabemos muito bem nos dedicar àquilo de que gostamos. O trabalho, por exemplo, que para muitos é um fardo, para outros pode ser fonte de grande prazer. Há pessoas que amam tanto o seu trabalho, que se dedicam tanto a ele, que acabam abandonando as outras coisas igualmente importantes. Abandonam os amigos, a família, abandonam a Deus. A Bíblia nos adverte para estas questões. Por isto, sejamos atentos, e nunca distraídos.
O evangelho de Lucas (21.34-36), com mais detalhes, nos alerta para nos guardarmos, para que nunca aconteça que fiquemos sobrecarregados com as “consequências da orgia, da embriaguez e das preocupações deste mundo”, e para que aquele dia não venha sobre nós repentinamente, como se fosse uma armadilha.
O livro de Apocalipse começa e termina nos advertindo a respeito da proximidade das coisas nele escritas. Apocalipse 1.3 diz: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo”; e Apocalipse 22.10 diz: “Não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo”.
Existem ainda outros motivos para que estejamos sempre vigilantes. Somos advertidos, por exemplo, em 1 Pedro 5.8: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. Jesus pede, no jardim do Getsêmani, aos seus discípulos: “A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo” (Mateus 26.38). Pouco depois, no mesmo lugar, ele aconselha: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41).
O apóstolo Paulo também falava bastante sobre a necessidade de sermos vigilantes. Em 1 Coríntios 16.13 ele diz: “Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos.” Em Colossenses 4.2 ele exorta: “Perseverai na oração, vigiando com ações de graças”. Ele associou, ainda, a importância da sobriedade e vigilância com a iminência da vinda do Senhor, em 1 Tessalonicenses 5.1-8, que diz:
“Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios. Ora, os que dormem de noite, e os que se embriagam é de noite que se embriagam. Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestindo-nos da couraça da fé e do amor e tomando como capacete a esperança da salvação”.
O Senhor Jesus não está presente agora, a não ser pelo seu Espírito, que está conosco. Mas ele disse que ia voltar. Não nos informou o dia nem a hora, ele virá de surpresa. Ele nos deixou obrigações, sendo a principal delas, ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura (Marcos 16.15), e fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28.19). Se ele voltar agora, vai nos encontrar nesta prática? Nem todos nós podemos ir aos "campos de batalha", mas podemos orar e contribuir para enviar missionários. Somos testemunhas de Jesus, tanto em “Jerusalém, como em toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1.8).
O Senhor nos dê sabedoria para colocarmos em prática o conceito de vigiar e orar, e nos certifiquemos de que estamos cumprindo nossas obrigações, até o dia da volta de nosso Senhor Jesus Cristo.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2015
Os poderes dos céus
(Leia Mc 13.24-27)
Um dos maiores problemas que a sociedade moderna enfrenta é a impunidade. Em mim causa revolta ver tantas injustiças acontecendo, e os responsáveis parecem escapar ilesos ou quase sem nenhum castigo. Às vezes eu desejava que Deus fosse mais rigoroso com as pessoas, especialmente com crentes que se afastam conscientemente dos caminhos do Senhor. O fato é que não confiamos na sabedoria de Deus, e muitas vezes, até usamos de apelações não autorizadas para assustar os desavisados. Todo o argumento, porém, que temos para advertir os infiéis, vem da palavra de Deus, a qual nos garante que já está determinado o juízo sobre este mundo, e ninguém poderá escapar, por mais tranqüilo que possa se sentir no momento.
OS PODERES CELESTIAIS SERÃO ABALADOS (24,25)
"Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados."
Os cientistas têm sido acusados de não crerem em Deus, e de promoverem o ateísmo. Não é verdade que todo cientista seja ateu. Mas os que querem andar pelo caminho do ateísmo se apóiam em descobertas científicas para justificar sua escolha. É preciso, porém, maior fé para acreditar que Deus não existe, do que o contrário. A ciência pressupõe leis imutáveis na natureza, sem as quais não seria possível explicar e controlar os fenômenos observados, de tal forma que se tornem úteis para os nossos propósitos.
Li um artigo na BBC, falando dos 10 maiores erros de cálculo da história. Entre os casos mencionados, consta que um satélite de US$125 milhões desapareceu em 1999. Feita para orbitar Marte como o primeiro satélite meteorológico interplanetário, a sonda desapareceu porque a equipe da NASA usou o sistema anglo-saxão de unidades (que utiliza medidas como polegadas, milhas e galões) enquanto uma das empresas contratadas usou o sistema decimal (baseado no metro, no quilo e no litro). O satélite se aproximou demais de Marte quando tentava manobrar em direção à órbita do planeta, e acredita-se que ele tenha sido destruído ao entrar em contato com a atmosfera.
Outro caso mencionado no artigo, foi o do navio Vesa que, em 1628, afundou em sua viagem inaugural, porque era mais espesso a bombordo. Uma multidão na Suécia presenciou horrorizada o novo navio de guerra naufragar, a menos de dois quilômetros da costa. Na ocasião, 30 tripulantes morreram. Armado com 64 canhões de bronze, o Vesa era considerado o navio mais poderoso do mundo. Os arqueólogos que o estudaram depois que ele foi içado do fundo do mar em 1961 dizem que ele era assimétrico: mais espesso a bombordo do que a estibordo. Uma razão para isso pode ser o fato de que os operários usaram sistemas de medidas diferentes. Foram encontradas quatro réguas usadas na construção: duas estavam calibradas em pés suecos, que têm 12 polegadas, enquanto as outras usavam pés de Amsterdã, com 11 polegadas. (Os dez maiores erros de cálculo da ciência e da engenharia - 31 maio 2014 – disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/05/140530_erros_ciencia_engenharia_rb - acesso em: 02/12/2015).
É impressionante como pequenos erros podem levar a grandes prejuízos e até tragédias, quando se trata de grandes obras. Por isso a responsabilidade dos engenheiros civis, químicos, alimentares, agrônomos, é muito grande. Eles não podem, de maneira alguma, errar em seus cálculos, para o bem dos recursos investidos e de vidas que podem estar em jogo.
Mas, e se os cálculos estiverem corretos, e Deus resolver mudar as leis do universo? E se os elétrons não se comportarem mais como esperamos que se comportem? E se o sol não der a sua luz e o seu calor como esperamos todos os dias? Uma sensação assim foi testemunhada pelos norte americanos segundo relatos de um evento ocorrido no dia 19 de maio de 1780. "Os céus da Nova Inglaterra e de partes do Canadá ficaram demasiadamente escuros apesar do horário. A causa principal para isso pode ter sido uma combinação de fumaça de incêndios florestais, uma espessa neblina e céu encoberto (...). Esta escuridão extraordinária veio entre as 10 e 11 horas da manhã e continuou até o meio da noite seguinte (...). Na Faculdade Harvard, a escuridão foi registrada como tendo chegado às 10h30, chegando a seu pico às 12h45, e decaindo às 13h10, embora permanecendo pelo resto do dia (...). Às 14h, em Ipswich, Massachusetts, galos cantaram, galinholas assobiaram e sapos coaxaram como se a noite tivesse chegado (...). Em Connecticut, um membro da legislatura, Abraham Davenport, deu a seguinte resposta aos seus colegas ao vê-los manifestar receio de que aquele era o Dia do Juízo Final: 'Eu sou contra adiamentos. O dia do juízo está ou se aproximando ou não está. Se não está, não há motivo para adiamento. Se está, eu escolho ser encontrado cumprindo meu dever. Eu desejo, portanto, que velas devam ser trazidas'" (Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Escuro - Acesso em: 02/12/2015).
TODOS VERÃO O FILHO DO HOMEM - OS ESCOLHIDOS SERÃO REUNIDOS (26,27)
"Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu. "
Um dia, acreditando ou não, todos verão a Cristo, o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens, com poder e grande glória.
Talvez muita gente questione: os cristãos estão esperando há quase dois mil anos estas promessas, e elas ainda não se cumpriram. Toda geração espera a volta de Cristo e a manifestação do poder de Deus, mas milhões de cristãos têm morrido sem ver esta promessa. Ora, as gerações que morreram, deixaram de esperar? Não acreditamos nós que os que morreram em Cristo estão conscientes, no céu, esperando até que se complete o corpo de Cristo, a Igreja? Jesus declarou em Lucas 20.38: "Ora, Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos; porque para ele todos vivem". Por isto acredito que todos que esperamos, veremos a volta de Cristo, seja antes ou depois da morte. Neste maravilhoso evento, todos os escolhidos serão reunidos num só lugar, diante daquele que veio com as nuvens do céu, como um relâmpago que sai do oriente e se mostra até no ocidente. Naquele dia, não importará se estivermos fugindo como os refugiados da Síria, se estivermos internados num hospital nos recuperando de um acidente, ou se formos portadores de um vírus mortal. Não importa, nem mesmo, se nosso corpo estiver na sepultura, ou se nossas cinzas estiverem espalhadas no oceano. Aquele que prometeu vai nos reunir, a todos os que cremos, para testemunharmos a grandeza do seu poder.
Portanto, não tenhamos pressa, nem percamos a esperança. Antes, façamos a nossa parte na obra que o Senhor nos deu para fazer. Assim como Deus é fiel em fazer o sol nascer todos os dias, em manter funcionando as forças do universo, seguindo as leis que ele estabeleceu, assim também Deus é fiel para cumprir sua palavra de que, um dia, esses poderes serão abalados. Será desespero para todos os que têm contado com a fidelidade de Deus sem, contudo, serem fiéis a ele. Naquele dia ninguém mais poderá dizer que reina a impunidade. Para os que crêem, porém, será motivo de grande alegria saber que nossa redenção está se aproximando.
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
Tribulação
(Leia Mc 13.14-23)
Neste parágrafo, Jesus prediz uma grande tribulação, e dá orientações para que seus discípulos possam passar por ela da melhor forma possível. Quando temos que enfrentar tribulações, uma das primeiras perguntas que nos fazemos é: “por que?”. Neste caso específico, ao ouvir a profecia, os discípulos podiam questionar por que Deus não tirava, com o seu poder, os seus escolhidos, daquela confusão toda. Mas, embora não possamos saber a resposta, dá para notar que há pelo menos três lições práticas que Deus nos ensina através da tribulação.
Primeira lição prática: desprendimento das coisas materiais (14-16)
“Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê entenda), então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes; quem estiver em cima, no eirado, não desça nem entre para tirar da sua casa alguma coisa; e o que estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa.”
Uma das referências desta profecia é a destruição do templo de Jerusalém, em 70 DC. Os que acreditaram na profecia de Jesus, ao virem os sinais, fugiram imediatamente, e salvaram suas vidas.
Faz alguns dias que uns amigos meus foram assaltados. Eles deram graças a Deus, porque não perderam a vida. Os desabrigados de Mariana-MG, no início estavam preocupados em saber se seus familiares estavam vivos. Só agora se preocupam com a recuperação dos seus bens (http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2015/11/09/interna_gerais,706049/prefeito-de-mariana-pretende-negociar-indenizacoes-com-maior-minerador.shtml). Quando nossa vida, ou a vida de outra pessoa, está em risco, todo o resto perde a importância.
As coisas materiais, em si, não são ruins. São, pelo contrário, bênçãos. As coisas materiais são para o nosso aprazimento. Deus nos deu sabedoria para construirmos automóveis, computadores, celulares, grandes edifícios, hidroelétricas, e milhares de outras coisas que estamos tão acostumados a usar, que seria quase impossível, hoje, vivermos sem elas. Isto vem de Deus, este espírito criador. O grande problema é, na verdade, a prática da idolatria para com estas coisas. É muito fácil para nós nos apegarmos tanto a estas bênçãos que nos esquecemos de quem nos deu as bênçãos e do propósito para o qual elas foram dadas. As tribulações nos ensinam a nos desprendermos das coisas materiais, pois "que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”(Marcos 8.36).
Segunda lição prática: dependência em Deus, através de oração preventiva (17-20)
“Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orai para que isso não suceda no inverno. Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou, até agora e nunca jamais haverá. Não tivesse o Senhor abreviado aqueles dias, e ninguém se salvaria; mas, por causa dos eleitos que ele escolheu, abreviou tais dias.”
Deus permite que seus escolhidos passem por tribulações, mas importa-se com o seu bem-estar, por isso nos admoesta a orarmos preventivamente, para que ele nos ajude a passar com o mínimo de sofrimento.
Jesus nos ensinou a orar diariamente: "O pão nosso de cada dia nos dá hoje" (Mt 6.11) - Podemos nos esquecer, ou desprezar este pedido, presumindo que já temos pão suficiente para o dia inteiro. Podemos presumir que tudo vai correr bem, mas isto pode não acontecer. Por isto precisamos orar. Gosto muito de um hino que cantamos: "bem de manhã, embora o céu sereno pareça um dia calmo anunciar, vigia e ora, o coração pequeno: um temporal pode abrigar".
Esta semana houve um temporal, e um trecho da avenida Bady Bassitt foi engolida e arrastada pelo córrego que passa debaixo dela. Houve, também, um terremoto, que foi sentido em várias cidades do Acre (http://g1.globo.com/ac/acre/noticia/2015/11/tremor-e-sentido-em-cidades-do-acre.html - Acesso em: 24-11-2015). A terra não é tão firme quanto parece. De repente, tudo pode mudar, e as coisas que temos construído, podem desabar.
Nós fugimos dos sofrimentos. Se temos dores, pedimos ao médico um remédio, e pedimos a Deus para que a doença possa sarar, que os médicos tenham habilidade e sabedoria para nos orientar no melhor tratamento, para que os remédios façam efeito, para que o organismo reaja favoravelmente. Se estivermos desempregados, pedimos que os irmãos intercedam, para que consigamos um emprego. Se vamos viajar, pedimos a Deus proteção. E Deus responde. Deus se preocupa com o bem-estar dos eleitos. Aprendemos com Tiago (4.5) que Deus tem ciúmes de nós. Por isto, ele quer que dependamos sempre dele, através da oração.
Terceira lição prática: confiança na Palavra de Deus, e não em falsos cristos e falsos profetas (21-23)
“Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; pois surgirão falsos cristos e falsos profetas, operando sinais e prodígios, para enganar, se possível, os próprios eleitos. Estai vós de sobreaviso; tudo vos tenho predito.”
Quando sofremos, quando estamos atribulados, nos tornamos mais vulneráveis. Assistindo a uma palestra sobre segurança, vi um “slide” onde aparecia um homem se afogando e pedindo ajuda, levantando o braço em cujo pulso usava um relógio. Outro homem que passava à margem do lago, vendo isto, vai até lá, mas em vez de ajudá-lo a se salvar, tira-lhe o relógio o deixa se afogando. Quando me roubaram um carro, alguns anos atrás, eu quase contratei uma empresa misteriosa, que prometia recuperar o carro caso eu depositasse na conta deles determinada quantia. Quase fiz a transferência. Faltava apenas o "enter", quando eu tive medo de que estivesse sendo enganado. Pensei: "será que eles seriam capazes de me enganar, mesmo diante do meu sofrimento, querendo me tirar ainda mais do que eu já perdi?". Resolvi não contratar o serviço, e nove meses depois, recebi um telefonema da polícia dando a boa notícia de que meu carro tinha sido recuperado. Quanto à empresa que me ofereceu o serviço, eu não posso afirmar que era mal intencionada, mas hoje, pensando mais friamente, e com tantas experiências negativas à minha volta, acho quase certo que queria me enganar.
Eva foi tentada por Satanás no jardim do Éden. O inimigo usou uma serpente para fazer-se de amiga e semear dúvidas na mente da mulher (Gn 3.1-5). Há muitas profecias hoje em dia, dizendo que Deus dará prosperidade, fará curas, abrirá portas. Esta esperança, porém, nem sempre é baseada na verdade, e tem levado pessoas a seguirem ilusões, descuidando-se do caminho da obediência, reverência, e fé genuína. Deus é bom, mas não nos dá tudo o que desejamos. Deus é todo-poderoso, mas reserva o uso do seu poder para o cumprimento dos seus propósitos, os quais não somos capazes de compreender plenamente.
Assim como os militares fazem exercícios constantemente, preparando-se para uma possível guerra, e assim como os bombeiros estão sempre de prontidão, e fazem simulações de situações de emergência, para que estejam preparados para qualquer eventualidade, assim também nós devemos estar de sobreaviso, praticando o desprendimento das coisas materiais, orando para que “a nossa fuga não se dê no inverno”, identificando e evitando os falsos mestres e a falsas doutrinas. Deus permite tribulações em nossas vidas para que sejamos treinados e para que se desenvolva em nós um espírito totalmente dele, não idolatrando as coisas do mundo, dependentes dele em tudo, e ouvindo unicamente seu Filho Jesus, não falsos cristos e nem falsos profetas.
quinta-feira, 26 de novembro de 2015
O princípio das dores
(Leia Mc 13.1-13)
Quando eu vou à capital de São Paulo, fico feliz e admirado ao contemplar as grandes e antigas construções seculares. Ao mesmo tempo, fico entristecido, pois sei que, assim como aconteceu com as civilizações antigas, é quase certo que, em algum momento do futuro, ali, não ficará pedra sobre pedra.
Engano e violência
Um dia, ao sair Jesus do templo, os seus discípulos comentaram a respeito das grandes pedras, e das construções no lugar do Templo, mas Jesus disse que aquilo tudo seria derrubado, e não restaria pedra sobre pedra. No monte das Oliveiras, defronte do templo, lhe perguntaram em particular sobre quando sucederiam estas coisas, e que sinal haveria quando todas elas estiverem para sem cumprir. A resposta de Jesus foi que muitos viriam em seu nome, enganando a muitos, e se ouviriam falar de guerras e rumores de guerras, e se levantaria nação contra nação, e haveria terremotos em vários lugares e também fomes. Ele chamou este tempo de “princípio das dores“.
Alertou-os para ficarem de sobreaviso, porque seriam entregues aos tribunais e às sinagogas; seriam açoitados, e os fariam comparecer à presença de governadores e reis, para servir de testemunho.
Que o evangelho seria pregado a todas as nações. Que o Espírito Santo os assistiria, mas que seriam odiados de todos por causa do nome de Cristo; aquele, porém, que perseverasse até ao fim, esse seria salvo.
Alguns irmãos em Cristo acreditam que todos estes acontecimentos, previstos por Jesus nesta profecia, já se cumpriram. Eu, porém, acho que este texto também nos diz respeito, e que muito do que foi dito está se cumprindo e se cumprirá.
Muitos vieram, na história, e continuam vindo, em nome de Cristo, enganando e causando guerras. Nações se levantaram contra nações em nome de Cristo, e até guerras civis tiveram o cristianismo nominal como motivação, lutando cristãos contra cristãos.
A violência não é própria do cristianismo. Muitos líderes que se dizem cristãos, porém, têm abusado de sua autoridade e se utilizam de muita violência.
No começo da era cristã, a igreja obedecia aos preceitos de Jesus, e se submetia aos opressores sem reação. Mas com a expansão do evangelho e principalmente com a conversão de imperadores, o quadro foi se modificando.
O historiador Alderi Souza de Matos, num artigo intitulado “Atitudes dos Cristãos em Relação à Guerra no Decorrer da História”, relata que “na época das invasões dos bárbaros, o grande bispo e teólogo Agostinho de Hipona (354-430) deu expressão à nova mentalidade formulando a teoria da guerra justa (…). Foi somente no século 11 que se extinguiu definitivamente a atitude pacífica da igreja antiga, sendo substituída pela glorificação do homem de combate (...). O cristianismo medieval testemunhou uma crescente legitimação da violência em nome de Deus. A liturgia passou a incluir a consagração das armas e dos estandartes de guerra. Surgiram as ordens religiosas militares, como os templários, os hospitalários e os cavaleiros teutônicos (…). Teólogos da época, tais como Graciano e Tomás de Aquino, criam que a guerra era uma condição necessária da sociedade e pouco se preocuparam em tratar do problema da violência (…). Thomas More e Erasmo de Roterdã (na era da igreja reformada), condenaram as novas formas de violência. Eles observaram que Cristo não promoveu o seu reino pela força, mas pelo amor, e acusaram a igreja de se tornar uma serva obediente de príncipes ambiciosos e sanguinários.” (Atitudes dos Cristãos em Relação à Guerra no Decorrer da História - Alderi Souza de Matos - disponível em: http://www.mackenzie.br/7143.html – Acesso em: 18/11/2015).
Nós somos cristãos verdadeiros e não queremos nos envolver em violência, certo? Porém, se viessem nos roubar no templo da igreja, não chamaríamos a polícia? E a polícia não usa de violência? A realidade da violência ao nosso redor nos deixa constrangidos, mas Jesus mesmo disse que "é necessário assim acontecer".
O mundo está duvidando da sinceridade dos que se dizem seguidores de Cristo, e não temos muitos argumentos para rebatê-los, por causa da história comprometedora da igreja nominal. A reação às notícias como a do terrorismo na última sexta-feira 13, divulgada pela mídia, ilustra bem a tendência da população. O jornalista Pedro Bial, no encerramento do programa Fantástico, da TV Globo, em 15/11/2015, revelou revolta contra atos de violência em nome de religiões, e a generaliza, através da frase: “Por Deus, não me venham falar em Deus, deixem que os homens resolvam isto como homens”. Um pianista desconhecido acabou ficando famoso ao fazer uma homenagem às vítimas do atentado, no dia seguinte, em frente ao Bataclan, tocando a música Imagine, de John Lennon. As pessoas pararam para ouvir e se comoveram, e a TV mundial transmitiu. É significativa a escolha da música tocada, cuja parte da letra, traduzida, diz o seguinte: “Imagine que não há paraíso; é fácil se você tentar; nenhum inferno abaixo de nós; acima de nós apenas o céu; imagine todas as pessoas vivendo para o hoje; imagine não existir países; não é difícil de fazer; nada pelo que matar ou morrer; e nenhuma religião também; imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz”. O sentimento revelado nestas duas manifestações mostra que, para muitos, e talvez para a maioria da população, a solução para a paz inclui acabarem com a religião, como se ela fosse “a raiz de todos os males”.
O que Jesus pede para nós, de não resistirmos ao perverso, de darmos a outra face, é algo muito duro. Como poderemos suportar? Quanto mais estivermos ligados às coisas terrenas, mais difícil para nós será suportar este conceito. O reino dos céus não é compatível com este mundo. Paulo já disse desde o começo que por causa das angústias do tempo presente, é melhor o homem permanecer como está, sem preocupar-se até mesmo em casar-se (1Co 7.26). Em 1 Coríntios 7.29-31 ele afirma: "Isto, porém, vos digo, irmãos: o tempo se abrevia; o que resta é que não só os casados sejam como se o não fossem; mas também os que choram, como se não chorassem; e os que se alegram, como se não se alegrassem; e os que compram, como se nada possuíssem; e os que se utilizam do mundo, como se dele não usassem; porque a aparência deste mundo passa."
Quando a violência se voltar contra nós, devemos nos lembrar das palavras de Jesus em Lc 21.12-19: "Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu nome; e isto vos acontecerá para que deis testemunho.(…) E sereis entregues até por vossos pais, irmãos, parentes e amigos; e matarão alguns dentre vós. De todos sereis odiados por causa do meu nome. Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma."
Catástrofes
Terremotos, epidemias e fomes, vindos aparentemente por intervenção divina, também afligiram e afligirão os povos. Catástrofes chamadas de naturais devem se intensificar antes da volta de Cristo, mas para muitos elas têm sido uma realidade bem presente. Coisas ruins, grandes e pequenas, atingem também o povo de Deus. Uma ventania derrubou a moto de um irmão ontem; ela caiu sobre outro carro, gerando prejuízo financeiro e aborrecimento. Outro casal foi assaltado com mão armada, e levaram-lhes dinheiro e celulares. A filha de um pastor, bem conhecido de nós, está neste momento em coma induzido, e seu jovem irmão sofreu um pré-infarto. Por que coisas assim acontecem? E por que Deus permite que outros cristãos sejam perseguidos, justamente quanto decidem se dedicar totalmente a Deus? Não sabemos. Mas estas coisas, embora nos aflijam muito, nem podem ser comparadas com a manifestação da ira de Deus através de fenômenos catastróficos da natureza, para juízo de um mundo pecador.
Esfriamento do amor
O amor natural está se esfriando cada vez mais. Não é novidade, na história, acontecer que filhos matem pais, irmãos matem irmãos, mães abandonem filhos, e outras tragédias semelhantes. Mas é visível o aumento e a banalização destas ocorrências nos últimos anos. Mateus 24.12 nos dá mais detalhes, dizendo que isto acontece por causa da multiplicação da iniquidade.
Parafraseando a parábola da figueira, “quando as mangas começam a brotar, sabemos que está próximo o verão”. Então, quando vimos acontecerem estas coisas, sabemos que o tempo está próximo. O Templo já foi destruído. Muitos vieram e continuam vindo em nome de Cristo, enganando a muitos. Houve e continua havendo muitas guerras e rumores de guerras, terremotos e fomes. Milhares de mártires testemunharam através dos séculos, e continuam testemunhando; o evangelho tem sido pregado a todas as nações. Trabalhemos, pois, enquanto é dia, e fiquemos de sobreaviso.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Pouco, mas tudo
"Assentado diante do gazofilácio, observava Jesus como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos ricos depositavam grandes quantias. Vindo, porém, uma viúva pobre, depositou duas pequenas moedas correspondentes a um quadrante. E, chamando os seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento" (Mc 12.41-44).
Se fizéssemos uma vaquinha para comprar um pote de sorvete, entre os que estavam presentes no último culto de domingo, e pedíssemos a cada um o valor de um real, talvez conseguíssemos comprar dois potes de sorvete. Alguns dariam um real, sem problemas. Alguns dariam até mais, talvez o pote inteiro. Outros, porém, teriam dificuldades, porque poderia faltar para pagar o ônibus, ou para comprar o pão. Alguns diriam: eu não vou dar, porque não gosto de sorvete. Outros não dariam porque acham um absurdo fazer uma vaquinha na igreja, e talvez alguém faria um longo discurso a respeito do mal que o sorvete pode causar à saúde. Se fizéssemos uma coleta para missões, ocorreria coisa similar. Mas, e se Deus nos pedisse a cada um, agora, tudo o que temos? Eu digo que provavelmente só os mais pobres atenderiam a este apelo.
Existem hoje, no mundo, grandes doadores, como Bill Gates, criador de uma fundação que movimenta atualmente cerca de R$ 159 bilhões em doações (fonte: http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/fundacao-bill-gates-processa-petrobras-por-perdas-diz-agencia.html - Acesso em: 15/11/2015). Será que Deus se agrada mais de Bill Gates do que de alguém que dá um copo de água para uma pessoa sedenta? Depende. Se a pessoa sedenta for um atleta famoso e a pessoa que dá o copo de água for um integrante da equipe do patrocinador que lhe dá assistência, isto não seria um grande feito. Mas, se a pessoa sedenta for o seu inimigo, e o copo de água for o único disponível no seu cantil, no meio do deserto, e você fizer isto em nome de Jesus, Deus se agradará muito de você.
A viúva pobre deu uma oferta que, para ela e para Deus, era valiosíssima. Todo o seu sustento (a sua "bios", no grego). Daquele gazofilácio, naquele dia, os oficiais do templo devem ter recolhido grandes somas. Ficaram muito felizes com as centenas, talvez milhares de denários ali depositados, mas Deus estava olhando, lá do céu, para aquelas duas moedinhas, e pensando em como iria abençoar aquela pobre viúva, que o comovera com sua significativa oferta.
Qual foi a oferta que nós demos hoje, para o Senhor? Dois reais, cem reais, quinhentos reais? Ou talvez nossa oferta não tenha sido em dinheiro. Talvez ofertamos, em nome de Jesus, um sorriso gentil àquela pessoa que nem notou, porque virou o rosto. Talvez acordamos mais cedo e oramos por alguém que, nem de longe, imagina que as bênçãos em sua vida são resposta de nossas orações diárias. Talvez tenhamos chegado na igreja em meio a angústias, dores, mal estar, só porque não queríamos perder o culto. Deus não vai se esquecer nunca da nossa oferta de amor. Ele vai nos abençoar por causa disto.
Se queremos agradar mesmo a Deus, não tem nada melhor do que darmos tudo a ele. Abraão agradou a Deus porque deu o seu único filho (da esposa legítima - Gn 22.2). Deus podia ter pedido a Abraão o sacrifício de Ismael, o filho da escrava Hagar, ou então Zinrã, Jocsã, Medã, Midiã, Isbaque ou Suá, filhos de Quetura (Gn 25.2), ou então um dos filhos de suas concubinas. Mas não. Só o sacrifício de Isaque, o filho da promessa, agradaria a Deus. Moisés ensinou em Deuteronômio 4.29 que só acharíamos o Senhor quando o buscássemos de todo o coração e de toda a alma. Em Deuteronômio 6.5, ordenou: "Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." Salomão agradou um pouco a Deus, mas não como o seu pai Davi, cujo coração "era de todo fiel para com o SENHOR, seu Deus" (1Reis 11.4). Jeroboão, o primeiro rei do norte de Israel, foi repreendido porque não foi como Davi, que guardou os mandamentos de Deus e andou após ele de todo o seu coração (1Reis 14.8). Josias foi elogiado em 2Reis 23.25, porque se converteu ao SENHOR "de todo o seu coração, e de toda a sua alma, e de todas as suas forças, segundo toda a Lei de Moisés". Todas estas pessoas foram ricas e influentes, e mereceram menção especial na Bíblia. Mas quando Deus enviou Jesus para evangelizar e salvar, mandou-o especialmente aos pobres, conforme os seguintes versículos:
"O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres ; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos" (Lucas 4.18 ).
"Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus" (Lucas 6.20).
"Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho" (Lucas 7.22).
Os ricos, como José de Arimatéia (Mt 27.57) e Zaqueu (Lc 19.2), também tiveram sua oportunidade, mas foram raros os convertidos ricos, conforme Jesus observou em Mt 19.23, que "um rico dificilmente entrará no reino dos céus". Aos ricos foi proclamado, no sermão da planura, um "ai", porque eles já tinham a sua consolação (Lucas 6.24). Hoje em dia, desfrutamos de muito mais privilégios do que os ricos da antiguidade, sem precisarmos ser tão ricos, mas somos advertidos em Apocalipse 3.17 que, embora possamos nos considerar ricos e abastados, que não precisamos de coisa alguma, ainda assim podemos ser infelizes, miseráveis, pobres, cegos e nus, se a nossa riqueza não vier de Deus.
Ficamos chocados com o atentado que ocorreu na última sexta-feira, na França, e admirados ao reconhecer que os terroristas tinham muita fé, a ponto de se explodirem no cumprimento de sua missão. Sua fé, que achamos infundada, é a de que recebem recompensas eternas por se entregarem totalmente àquela causa.
Para agradar a Deus, não precisamos ser extremistas, que matemos ou morramos, como os terroristas, mas devemos entregar a ele tudo o que somos, tudo o que temos. Se ele nos chamar para sermos missionários nos países muçulmanos, ou entre índios no Brasil, e tivermos certeza desta chamada, então devemos obedecer. Para a maioria de nós, porém, Deus tem um chamado para ficarmos onde estamos, e às vezes isto significa entregarmos o nosso desejo de aventura, e até coisas tão pequenas quanto duas moedinhas, mas que fazem muita diferença para o nosso sábio e misericordioso Senhor. Ele pedirá que demos aquele sorriso gentil, àquela pessoa, que virou o rosto. Pedirá também um gesto de amor do marido para com a esposa, que vá além de dizer eu te amo e comprar-lhe flores. Talvez um dia lavar a louça, ou passar pano no chão. Pedirá para engolirmos o nosso orgulho, os nossos desejos, os nossos sonhos, as nossas preferências, para glorificarmos a Jesus, e fazermos a sua vontade, e perseguirmos os seus propósitos, do jeito dele, e não do nosso.
E então? Vamos fazer uma vaquinha? Ou vamos doar tudo o que temos? Antes de dar a resposta, vamos ler dois versículos:
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Romanos 12.1 ).
"(...) se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me" (Lucas 9.23).
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
Postura espiritual
(Leia Mc 12.35-40)
Lendo este texto, imaginei Jesus ensinando a multidão, como se fosse numa escola dominical. Era como se ele estivesse comentando a lição, dada pelos escribas, naquele dia. Ele levanta uma questão controversa, mas não dá a resposta, para que o povo pudesse pensar um pouco. Se o Messias era filho de Davi, conforme diziam os escribas, como, pois, Davi o podia chamar de Senhor? Assim como na escola dominical que temos em nossa Igreja, o assunto levantado poderia levar a outro paralelo, a um tema percebido nas entrelinhas, que o Espírito também deixou para nosso aprendizado. Ao buscar uma coordenação entre as partes deste parágrafo, pude notar que existe uma relação entre nossa postura espiritual e o nosso futuro eterno. Esta postura pode ser ilustrada por, pelo menos, quatro tipos de assentos, os quais nós utilizamos, nesta vida e também no porvir.
I - CADEIRA DE DESCANSO (35-37)
"Jesus, ensinando no templo, perguntou: Como dizem os escribas que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi falou, pelo Espírito Santo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. O mesmo Davi chama-lhe Senhor; como, pois, é ele seu filho?"
O infatigável Messias foi convidado a assentar-se à direita do Pai, enquanto este trabalhava por ele. Assentar-se na cadeira de descanso é para quem está cumprindo os seus deveres. Há coisas que não podemos fazer, então Deus faz por nós. Podemos falar de Cristo, insistir, buscar os que estão caminhando para a perdição, mas só o Senhor pode transformar-lhes o coração. Podemos jejuar e orar para que Deus nos atenda as necessidades, trabalhar incansavelmente, mas somente Deus pode fazer frutificar o nosso esforço. Jesus conta, em Lucas 12.37, uma parábola encorajadora, em que o próprio Senhor serviria os servos à mesa, como recompensa por sua fidelidade. Em Salmos 127.2 aprendemos que Deus, “aos seus amados, ele o dá enquanto dormem”. Se cumprirmos os nossos deveres, um dia nos assentaremos satisfeitos na cadeira de descanso. Agora, porém, ainda não é tempo de nos assentarmos definitivamente, e sim de trabalharmos para o progresso do reino de Deus. Seja o nosso descanso, aqui na terra, apenas o suficiente para mantermos a nossa saúde física e emocional, e para com as coisas que não podemos fazer, deixando-as nas mãos de Deus. O resto é trabalho para o Senhor.
II - CADEIRA DE ESTUDANTE (37)
"E a grande multidão o ouvia com prazer."
É notória a história de Marta e Maria (Lc 10.38-42), quando Jesus elogiou a irmã mais nova, porque escolheu ficar assentada aos pés do Mestre, ouvindo-lhe os ensinamentos. Assentar-se para ouvir Jesus é para quem ama a sua palavra, e sabe que nela há vida. Nunca é cedo, nunca é tarde, nunca é suficiente. Aprender a Palavra de Deus deve ser um ato contínuo na vida do crente. Salmos 119.97 exclama: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!” Josué 1.8 ordena: “Não cesses de falar deste Livro da Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido.” Assentar-se para ouvir Jesus, através da leitura e da oração, é uma necessidade que não podemos negligenciar, pois se tentarmos agir por conta própria, sem consultarmos o Senhor em tudo, não haverá bons frutos. Sem Cristo, nada podemos fazer. Mas não devemos ficar somente ouvindo o ensino, sem que coloquemos em prática o aprendizado.
III - CADEIRA DE HONRA (38-40)
"E, ao ensinar, dizia ele: Guardai-vos dos escribas, que gostam de andar com vestes talares e das saudações nas praças; e das primeiras cadeiras nas sinagogas e dos primeiros lugares nos banquetes; os quais devoram as casas das viúvas e, para o justificar, fazem longas orações"
Vimos que na mesma história, narrada por Mateus (23.2), Jesus afirma que "na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus." Assentar-se nos primeiros lugares é para quem quer aproveitar o melhor da vida. Jesus contou-nos a triste história de um homem que era bem-sucedido, segundo o padrão deste mundo. Ele teve tudo o que muitos de nós desejamos ter, hoje em dia, tudo o que o dinheiro podia comprar. Mas foi só isto. Não se preocupou com sua vida espiritual, e no final da história, estava em tormentos, sem possibilidade de voltar atrás (Lc 16.19-31). A cadeira de honra é para quem quer receber o galardão adiantado, como o filho pródigo (Lc 15.11-32) e os fariseus (Mt 6.1-5). Não cobicemos lugares de honra deste mundo, porque eles são perigosos. Esperemos com paciência as recompensas celestiais, porque estas são eternas.
IV - BANCO DOS RÉUS (40)
"estes sofrerão juízo muito mais severo."
Assentar-se no banco dos réus é uma coisa terrível. Somente os que crêem em Jesus escapam da condenação. O “banco dos réus” é uma expressão que usamos quando queremos dizer que uma pessoa será julgada. Na verdade, no julgamento final, as pessoas não estarão sentadas, mas de pé, diante do trono de Deus (Ap 20.12). Naquele dia, tudo o que fizemos sem o aval do Senhor Jesus, não contará a nosso favor. Se enganamos a muitos, ou até a nós mesmos, de que isto nos valeu? Apenas prazeres temporários. Tudo o que desejaremos naquele dia é que o nosso nome esteja escrito no livro da vida. Se você quiser um emprego público, tem que se inscrever como candidato. Se quiser participar de um congresso, tem que solicitar sua inscrição. Para participar de um campeonato, tem que se apresentar e preencher a ficha, e assegurar-se de que o seu nome conste ali. Você já pediu para Deus te inscrever no Livro da Vida? Você sabe se o seu nome está inscrito nele? O dono do livro pode escrever e apagar. Ele observa quando nos assentamos e quando nos levantamos. De longe, penetra os nossos pensamentos. Busque o dono do livro, ande atrás dele, preste atenção nas suas instruções, não o perca de vista, porque ele tem nas mãos a lista dos que entrarão na vida eterna.
Qual tem sido nossa postura espiritual? Temos tido o cuidado de exercitarmos a piedade? Há momentos em que precisamos nos assentar, mas não sejamos sedentários espiritualmente. Há uma linha tênue entre o que é certo e o que é errado no ciclo de trabalhar e descansar. Não podemos antecipar o descanso celestial, mas devemos descansar enquanto o Senhor faz germinar a semente que semeamos. Não podemos saturar nossas mentes de conhecimento, nos dedicando a debates inúteis, mas devemos fazer habitar ricamente em nós a palavra de Cristo, instruindo-nos e aconselhando-nos mutuamente, com toda a sabedoria (Cl 3.16). Não podemos cobiçar honra, e vivermos só de aparências, mas devemos dar bom testemunho diante dos que são de fora, e às vezes seremos honrados, de maneira natural. E que Deus nos livre de que um dia sejamos condenados no "banco dos réus".
sábado, 7 de novembro de 2015
Inteligência
(Leia Mc 12.28-34)
Você é inteligente? Hoje em dia é difícil responder a esta pergunta. O conceito de inteligência tornou-se relativo. Uns são inteligentes para jogar vídeo-game, outros são para jogar xadrez. Uns são inteligentes para jogar bola, outros para administrar o time. Para não ficar longe do reino de Deus, precisamos ter inteligência espiritual. Neste texto encontramos três ações que demonstram nossa inteligência espiritual:
Observar o Mestre
"28 Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem"
Os escribas eram contados entre os homens mais inteligentes da sociedade. Eram especialistas nas Escrituras. Qualquer dúvida que alguém tivesse sobre a lei, as tradições, a história, eles estavam preparados para responder. O escriba de nossa história, porém, demonstrou uma inteligência superior, pelo fato de estar observando o Mestre. Deve ter ficado quieto, ouvindo atentamente, pensativo, quando Jesus devolveu a moeda dizendo: “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Da mesma forma admirou-se da sua hábil, paciente e precisa explanação a respeito da ressurreição. Para desenvolvermos inteligência espiritual, precisamos observar o Mestre. É claro que isto só pode ser feito através da leitura da Bíblia, que nos relata o que ele fez e ensinou. Uma regra básica para todos os que querem estudar a Bíblia seriamente, é observar o texto, em primeiro lugar, da forma mais natural possível, sem a influência de interpretações alheias, e só então prosseguir, incluindo outras fontes de consulta.
Fazer perguntas ao Mestre
"perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? 29 Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! 30 Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. 31 O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes."
O escriba mostrou sua inteligência fazendo uma pergunta pertinente, ao Mestre. Não era uma pergunta qualquer. A resposta consistia numa resenha do toda a Lei. Ele certamente tinha uma resposta própria, mas queria ver se aquele, que se dizia o Messias, realmente sabia o que estava falando.
Quando um professor termina uma etapa dos seus ensinamentos, e faz a clássica pergunta: "alguma dúvida?", ele espera que os alunos tenham dúvidas. Quando todos ficam em silêncio, ele pode chegar a duas possíveis conclusões: todos entenderam tudo ou ninguém entendeu nada. Neste caso, é mais provável que a segunda alternativa esteja correta. As dúvidas surgem justamente quando estamos começando a entender os conceitos e sentimos o desejo de aplicá-los em alguma situação prática.
Devemos, então, após uma minuciosa observação, fazer perguntas ao texto bíblico, esperando que achemos as respostas no próprio texto, no seu contexto ou em outras passagens onde se fala do mesmo assunto.
Abrir o coração para o Mestre
"32 Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, 33 e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios. 34 Vendo Jesus que ele havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém mais ousava interrogá-lo."
Quando Jesus responde "a contento", acrescentando ainda outros ensinamentos, o escriba se convence de que Jesus era correto no ensino das Escrituras, e não hesita em reconhecê-lo diante de todos. Isto significava muito, partindo dele, pois devemos nos lembrar que, naquele momento, Jesus era o seu adversário de debate. Para desenvolvermos a inteligência espiritual, é necessário abrirmos o coração para o Mestre, reconhecer que ele é quem afirma ser, o Filho de Deus, o Salvador de todos os que nele crêem.
Vejamos alguns textos bíblicos sobre o assunto inteligência espiritual:
Tiago 3.17 A sabedoria, porém, lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento.
Deuteronômio 4.6 Guardai-os, pois, e cumpri-os, porque isto será a vossa sabedoria e o vosso entendimento perante os olhos dos povos que, ouvindo todos estes estatutos, dirão: Certamente, este grande povo é gente sábia e inteligente.
Atos 13.7 o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, que era homem inteligente. Este, tendo chamado Barnabé e Saulo, diligenciava para ouvir a palavra de Deus.
Tiago 3.13 Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras.
Jeremias 4.22 Deveras, o meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes; são sábios para o mal e não sabem fazer o bem.
Mateus 11.25 Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
Sejamos inteligentes! Desenvolvamos a inteligência espiritual, observando, perguntando, e principalmente, abrindo o nosso coração para o Mestre.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Desvio perigoso
(Leia Mc 12.18-27)
Hoje, dia 1º de novembro, estamos entre duas datas importantes: o dia da reforma e finados. A reforma propôs corrigir os erros históricos da Igreja, baseando-se nas Escrituras. O dia de finados é um feriado católico em que muitas pessoas oram pelos mortos, o que, segundo nós, protestantes, entendemos, é um erro. Devemos orar muito pelas pessoas, mas enquanto ainda estão vivas. Há muitas pessoas morrendo espiritualmente, porque não reconhecem o caminho do Senhor, e se desviam por todos os tipos de caminho, rumando para a morte. Este texto nos fala de pessoas que estavam errando, desviando-se do caminho de Deus. O seu desvio estava relacionado com a sua atitude para com as sagradas Escrituras.
Visão tendenciosa
Os Saduceus foram até Jesus para fazer uma pergunta, mas já estavam pré-dispostos a não acreditar na ressurreição, nos milagres, nem na existência de anjos. Muitas vezes podemos nos ver assim, lendo a Bíblia sem estarmos dispostos a ceder quanto às nossas convicções pré-estabelecidas. Olhamos as Escrituras com uma visão tendenciosa, querendo achar nela subsídios para apoiar somente o que já estamos dispostos a acreditar. Quem sabe estejamos confiando demais em nosso coração, que é “desesperadamente corrupto” (Jeremias 17.9). Deus indignou-se com as pessoas do povo antigo, que “sempre erram no coração” (Hebreus 3.10) e que não conheceram os caminhos de Deus. Paulo diz que alguns israelitas, “quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles” (2Co 3.15,16). Para não nos desviarmos do caminho de Deus, devemos abandonar a visão tendenciosa, e estudar as Escrituras de mente e coração abertos.
Leitura superficial
Oséias 4.6 aponta um grande perigo que pode levar à destruição de uma comunidade: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento.” Muitas pessoas assistem filmes e outras representações de histórias bíblicas, e ficam se perguntando se aqueles acontecimentos estão mesmo na Bíblia. Acontece que estas produções de entretenimento, por mais que tentem ser fiéis aos textos bíblicos, precisam enfeitar, inserir personagens, dramatizar, de forma que se tornem atraentes para o público, pois, é claro, uma produção assim precisa ter retorno financeiro. Se quisermos, de fato, conhecer o que a Bíblia diz, a leitura de seu texto integral é absolutamente necessária. Quase seis milhões de pessoas prestaram a prova do ENEM, em todo o país,semana passada. Para conseguir uma boa nota, entrar numa faculdade ou conseguir uma bolsa de estudos, muitos candidatos estudaram exaustivamente o ano inteiro. Há pessoas dizendo que fizeram a prova sem estudar e conseguiram uma nota razoável, mas não é bem assim. Na verdade, se valeram dos estudos feitos anteriormente, em algum ponto de sua vida. Se nós quisermos passar com boa média nas provas de Deus, temos que nos esforçar nos estudos, ou alguém pensa que podemos fazer as provas de Deus sem estudar? A leitura superficial das Escrituras, sem aprofundamento, é um dos motivos pelos quais nos afastamos do caminho de Deus.
Desconhecimento do poder de Deus
Falando ainda sobre os israelitas, Paulo disse que, se “algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado" (2Co 3.15,16). O véu, que impede a visão clara da verdade, precisa ser removido por meio da conversão, um milagre que Deus opera naquele que crê no evangelho e se arrepende dos seus pecados. O evangelho “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Romanos 1.16). O próprio Cristo é chamado “o poder de Deus” em 1Co 1.24.
As pessoas se desviam do caminho de Deus, por deixarem de crer que ele ressuscita os mortos, que ele é poderoso para fazer muito mais do que pedimos ou pensamos. Ele cumprirá também o juízo, do qual nos tem alertado.
Deus pode fazer e faz muitos milagres. Ele fez o mar se abrir para passarem os filhos de Israel. Ele ressuscitou Jesus dentre os mortos. Ele vai nos ressuscitar no último dia, e vai dar a vida eterna para alguns, mas para outros, vergonha e horror eterno (Dn 12.2). Precisamos crer nisto.
Atentemos, pois, às palavras de 1Pe 2.1-4: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso. Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa”
Ler a Bíblia de mente e coração abertos, estudar diligentemente a Palavra de Deus, e crer no seu poder, estas atitudes nos ajudarão a nos conservarmos no caminho de Deus, pois o desvio é perigoso.
quarta-feira, 28 de outubro de 2015
Endividados

(Leia Mc 12.13-17)
Cada brasileiro nasce devendo cerca de 13 mil reais, pois a dívida pública do Brasil, atualmente, é de 2,7 trilhões (*). Mas não é só isto que nós devemos. Devemos muito mais. A questão do tributo ao império romano, levantada pelos opositores de Jesus, nos ensina que há pelo menos três dívidas, as quais devemos pagar cabalmente:
A dívida pública (13,14)
13 ¶ E enviaram-lhe alguns dos fariseus e dos herodianos, para que o apanhassem em alguma palavra.14 Chegando, disseram-lhe: Mestre, sabemos que és verdadeiro e não te importas com quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens; antes, segundo a verdade, ensinas o caminho de Deus; é lícito pagar tributo a César ou não? Devemos ou não devemos pagar?
Quando falo de dívida pública, não me refiro à dívida de 2,7 trilhões de reais, mas à dívida que temos para com as pessoas ao nosso redor. Devemos a elas um bom testemunho. Os fariseus, em associação com os herodianos, queriam que Jesus tropeçasse neste testemunho público, por isto fizeram uma pergunta, cuja resposta pudesse comprometê-lo diante do povo. Jesus nos chama de "a luz do mundo", e quer que brilhe a nossa luz diante dos homens, para que vejam as nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus (Mateus 5.16). Paulo considerava que nós, os cristãos, "somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos como nos que se perdem. Para com estes, cheiro de morte para morte; para com aqueles, aroma de vida para vida. Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (2Co 2.15,16 ).
Hoje em dia, é quase impossível fazermos coisas no anonimato. Existem câmeras por toda parte. Nos estabelecimentos comerciais, nas ruas, nas residências, e até do céu existem satélites e drones espionando. Isto é um motivo a mais para nos abstermos de praticar tudo o que é mal, ou mesmo que só pareça mal, pois somos testemunhas de que Deus pode transformar vidas, e de que o Espírito de Deus habita nos homens, para fazê-los andar nos caminhos retos.
A dívida fiscal (15-17)
15 Mas Jesus, percebendo-lhes a hipocrisia, respondeu: Por que me experimentais? Trazei-me um denário para que eu o veja.16 E eles lho trouxeram. Perguntou-lhes: De quem é esta efígie e inscrição? Responderam: De César.17 Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César (...).
A célebre resposta de Jesus elimina totalmente qualquer dúvida quanto à questão levantada, mostrando o seu total desprendimento quanto às coisas deste mundo. Embora pudesse usar o dinheiro para as necessidades materiais, não considerava que o dinheiro em seu poder fosse seu. Bastava ler a efígie e visualizar a imagem gravada na moeda para constatar a sua propriedade. Se César quisesse exigir todo o seu dinheiro de volta, que se desse de volta a ele.
Nós usamos o dinheiro, mas ele (as cédulas e moedas) pertence ao governo. Usamos a infraestrutura, nos beneficiamos da segurança pública, do sistema público de saúde, das agências de proteção de direitos, do seguro-desemprego, do seguro social. Contamos com o poder público para manter as coisas em ordem, para que a sociedade em que vivemos não se transforme num caos.
Nós nos utilizamos de tudo isto, mas esta estrutura toda pertence ao governo constituído. Se o governo impõe taxas e tributos, devemos dar-lhe o que lhe pertence.
A dívida celestial (17)
17 Disse-lhes, então, Jesus: Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. E muito se admiraram dele.
A nossa maior dívida é para com o Criador. No dia do vencimento, havemos de lhe prestar contas.
Relaciono abaixo alguns versículos que falam de nossos deveres como pessoas que se beneficiaram da maravilhosa graça celestial:
Lucas 17.10 Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer.
João 13.14 Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.
Romanos 13.8 A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei.
Romanos 15.1 Ora, nós que somos fortes devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.
1Coríntios 7.3 O marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a esposa, ao seu marido.
Efésios 5.28 Assim também os maridos devem amar a sua mulher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a si mesmo se ama
1João 3.16 Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos.
1João 4.11 Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros.
Não sejamos inadimplentes. Paguemos cabalmente e pontualmente nossas dívidas. Sejamos boas testemunhas diante das pessoas que nos cercam, honestos e submissos às autoridades seculares. Este “montante” faz parte de uma dívida maior, que temos para com Deus, nosso Criador e nosso Redentor.
(*) Fontes:
http://oglobo.globo.com/economia/divida-publica-federal-sobe-fecha-setembro-em-27-tri-17878596 - Acesso em: 28-10-2015; e http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/08/brasil-tem-204-milhoes-de-habitantes-segundo-o-ibge.html - Acesso em: 29-10-2015.
segunda-feira, 26 de outubro de 2015
A videira
(Leia Mc 12.1-12)
Outro dia li uma notícia que me deixou alarmado: "A Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que os ataques contra albinos, cujas partes dos corpos são altamente valorizados em rituais de bruxaria e podem alcançar altos preços, têm sido registrados desde agosto em seis países no sul e leste do continente africano. (...) Curandeiros chegam a pagar US$ 75 mil (R$ 285 mil) por um conjunto completo de órgãos de um albino, de acordo com um relatório da Cruz Vermelha, para usá-los em feitiços que acreditam trazer boa sorte, amor e riqueza. A ONU alertou em março que 2015 seria um ano perigoso para os albinos na Tanzânia, à medida que políticos recorrem a bruxos para aumentar suas chances de vencerem nas urnas." (Reuters - 15/10/2015 - Disponível em: http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2015/10/15/ataques-contra-albinos-aumentam-com-proximidade-de-eleicoes-na-africa.htm - Acesso em: 21/10/2015). Pensei: Como é possível isto acontecer ainda hoje? Vivemos num tempo e cultura em que estes costumes pagãos antigos foram praticamente erradicados. O cristianismo conquistou a maior parte do mundo, influenciando as nações a abolirem práticas pagãs e criarem leis inspiradas nos padrões bíblicos. Os frutos de justiça que glorificam ao Senhor têm se multiplicado na história através da evangelização e conseqüentes ajustes dos costumes, para se adequarem ao mandamento de nos amarmos uns aos outros. A parábola dos lavradores maus nos mostram três verdades a respeito do plano de Deus para este mundo.
Primeira Verdade: DEUS PLANTOU UMA VINHA (1)
Deus estabeleceu Israel, investiu nesta nação, dando a eles tudo o que era necessário para frutificarem. Tirou-os do Egito com grandes manifestações de poder, conduziu-os pelo deserto, e expulsou diante deles os inimigos para possuírem a terra de Canaã. Deixou-os, então, para que se desenvolvessem e glorificassem o nome do seu criador.
Assim que atravessaram o Mar Vermelho, eles cantaram um cântico que dizia: "Ó SENHOR, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?" (Êxodo 15.11). As palavras deste cântico mostram como Senhor começou a ser engrandecido perante o povo, antes acostumado a valorizar também outros deuses.
Em Nm 24.5-9 vemos, através dos olhos de Balaão, um belo quadro da glória da nova nação que estava nascendo, para glorificar o Deus dos deuses: "Que boas são as tuas tendas, ó Jacó! Que boas são as tuas moradas, ó Israel! Como vales que se estendem, como jardins à beira dos rios, como árvores de sândalo que o SENHOR plantou, como cedros junto às águas. Águas manarão de seus baldes, e as suas sementeiras terão águas abundantes; o seu rei se levantará mais do que Agague, e o seu reino será exaltado. Deus tirou do Egito a Israel, cujas forças são como as do boi selvagem; consumirá as nações, seus inimigos, e quebrará seus ossos, e, com as suas setas, os atravessará. Este abaixou-se, deitou-se como leão e como leoa; quem o despertará? Benditos os que te abençoarem, e malditos os que te amaldiçoarem."
Nos seus tempos áureos, os salmistas de Israel cantavam: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra." (Sl 46.10); mas na sua decadência, foi advertida através do profeta Isaías (5.7): "Porque a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor."
Segunda verdade: DEUS PÔS LAVRADORES PARA CUIDAR DA VINHA E LHE RENDER FRUTOS (2-9)
Os frutos que Deus esperava receber de Israel não lhe foram entregues. Os profetas, que agiram como uma espécie de cobradores de frutos espirituais, não foram bem recebidos, mas desprezados, presos, mortos. Finalmente veio Jesus, o Filho de Deus, o qual deveria ter sido honrado, na forma de arrependimento e de outorga dos frutos de justiça, mas então eles decidiram, ainda com mais firmeza, assassiná-lo; e Deus, o dono da vinha, resolveu julgar os lavradores maus, e dar a vinha a outro povo, a Igreja.
Jesus falou sobre os crimes contra os profetas, em Lc 11.49-52: "Por isso, também disse a sabedoria de Deus: Enviar-lhes-ei profetas e apóstolos, e a alguns deles matarão e a outros perseguirão, para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo; desde o sangue de Abel até ao de Zacarias, que foi assassinado entre o altar e a casa de Deus. Sim, eu vos afirmo, contas serão pedidas a esta geração. Ai de vós, intérpretes da Lei! Porque tomastes a chave da ciência; contudo, vós mesmos não entrastes e impedistes os que estavam entrando."
Mas, e a Igreja! Tem dado a Deus os frutos que Israel falhou em dar? Assim como Israel começou a “dar trabalho” logo no início de seu estabelecimento, assim também a Igreja. Lemos em At 5.3-5 a história de Ananias e Safira: "Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes." Um conflito foi registrado em Atos 6.1: "Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária." E Paulo repreende os Gálatas (1.6): "Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho"
Os cristãos que perseveraram, porém, glorificaram a Deus, e em geral foram grandemente perseguidos nos três primeiros séculos de sua era, até que um imperador romano, Constantino, se converteu, e o quadro começou a mudar. A Igreja passou a influenciar e ser influenciada pelos poderes políticos, chegando, em alguns momentos, a governar com poder superior ao dos imperadores. A grande concentração de poder deu ensejo, naturalmente, à corrupção e disputas políticas, além de opressão aos que ameaçavam os intentos das autoridades eclesiásticas, e assim a Igreja também perseguiu e matou seus "profetas", sendo um dos casos mais notáveis, John Huss, condenado em 1415 a ser queimado vivo, por suas idéias reformadoras. A Igreja oficial, agindo assim, assemelhava-se aos maus lavradores, querendo apropriar-se da vinha do Senhor.
Terceira verdade: CRISTO É A NOVA VIDEIRA DE DEUS (10-12)
O Filho de Deus, que eles mataram, ressuscitou e tornou-se a principal pedra no templo dedicado à glória do Senhor. Ele também declara em Jo 15.1-8: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos."
A relação entre Igreja e poderes políticos é quase inevitável, neste mundo, mas não é essencial, nem mesmo desejável, dentro dos altos propósitos de Deus nesta era. No Brasil, os católicos é que foram os mais influentes e beneficiados nesta relação. Basta constatar que, na maioria das cidades antigas, há uma Igreja católica no centro, uma praça, e a partir daí a cidade se desenvolveu. Alderi Souza de Matos, historiador oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil, nos conta que, “Com a vinda do primeiro governador-geral, Tomé de Souza, também chegaram os primeiros jesuítas, liderados pelo padre Manoel da Nóbrega (1549). Por 210 anos eles foram os principais missionários e educadores no Brasil. Alguns deles foram defensores dos índios, como o celebrado padre Antonio Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, os jesuítas tornaram-se os maiores proprietários de terras e senhores de escravos do Brasil colonial.” (IGREJA E ESTADO: UMA VISÃO PANORÂMICA – Disponível em: http://www.mackenzie.br/7113.html - Acesso em: 20-10-2015).
O Reino de Jesus, porém, não é deste mundo (Jo 18.36), e nós temos a missão de produzir bons frutos, ligados a Jesus, a videira verdadeira, ainda que, à margem e sob a opressão dos poderes políticos ou religiosos constituídos no meio em que vivemos. Um exemplo que me inspira é o de Robert Kally, médico escocês que se dedicou à obra missionária, primeiramente em Portugal, na Ilha de Madeira, e depois no Brasil. Lemos a seu respeito que "na época, a Madeira atravessava uma forte crise econômica. O comércio do vinho, base da economia da ilha, estava em declínio. Os desastres naturais levaram à fome, ao abandono de vinhedos e ao desemprego em massa. Para muitos, a emigração foi uma questão de sobrevivência. A situação foi agravada pela tensão religiosa entre o grupo de convertidos presbiterianos e a comunidade local, tradicionalmente católica. A nova igreja seria perseguida pelas autoridades madeirenses. A partir de 2 de agosto de 1846 intensificaram-se as injúrias e ações contra os "calvinistas". Em 9 de agosto de 1846, a casa dos Kalleys foi incendiada." Ele fugiu para os Estados Unidos, e depois veio para o Brasil. "No dia 11 de julho de 1858 organizou a Igreja Evangélica Fluminense, uma igreja evangélica brasileira sem nenhum vínculo com denominações até então existentes. Foi organizada com 14 membros, sendo batizado naquele dia o primeiro brasileiro Pedro Nolasco de Andrade. (...) Kalley foi também aquele que conseguiu plantar o Cristianismo Evangélico de forma definitiva no Brasil. Seu trabalho influenciou outros missionários a trabalharem no Brasil, contribuindo para a construção do protestantismo no país" (disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Kalley - Acesso em: 21/10/2015).
Missionários como Kalley e outros crentes fiéis, têm buscado fazer frutificar a Igreja, o corpo de Cristo, o qual é a videira verdadeira.
A videira está sob nossa responsabilidade. Que tipo de lavradores nós temos sido? Vamos nos consagrar ao trabalho nesta vinha do Senhor, para que possamos, com nosso testemunho de fé, transformar o meio em que vivemos, e chegar a alcançar os povos que ainda não reconhecem o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que precisam sair das trevas, e aproximar-se da luz.
Talvez você esteja se perguntando que coisas grandiosas precisa fazer, mas às vezes não é disto que se trata. Quando pessoas arrependidas, que atenderam ao apelo de João Batista, perguntaram o que deviam fazer (que frutos de arrependimento deveriam mostrar), ele respondeu: "Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Foram também publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos de fazer? Respondeu-lhes: Não cobreis mais do que o estipulado. Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo" (Lc 3.10-14). A simples obediência a preceitos elementares são muito bons frutos. É destes ramos produtivos que o Senhor separa alguns para obras grandiosas, como é o caso, por exemplo, de missões transculturais.
quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Autoridade
(Leia Mc 11.27-33)
Numa roda de amigos, é comum surgir de vez em quando, em tom de zombaria, o questionamento: quem é que manda em sua casa? O homem sente-se na obrigação de responder: "É claro que sou eu". Mas todos nós sabemos que não é bem assim. A questão de autoridade está sempre presente em nossas vidas. No texto deste parágrafo, podemos notar a presença de pelo menos três autoridades, concorrentes entre si.
I - Autoridade civil (27,28)
27 ¶ Então, regressaram para Jerusalém. E, andando ele pelo templo, vieram ao seu encontro os principais sacerdotes, os escribas e os anciãos 28 e lhe perguntaram: Com que autoridade fazes estas coisas? Ou quem te deu tal autoridade para as fazeres?
Os principais sacerdotes, escribas e anciãos, apesar de serem religiosos, acabavam exercendo, também, autoridade civil sobre o povo. Tinham poder de prender, julgar e condenar.
Obedecer às autoridades civis, como os governantes, os juízes, os legisladores e seus delegados, é compatível com a vontade de Deus. Em quase tudo devemos obedecer tais autoridades, a menos que seja uma questão em que se possa dizer: "Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens." (At 5.29)
Anne van der Bijl (Sint Pancras, Países Baixos, 11 de maio de 1928), também conhecido como Irmão André, fundador da missão "Portas Aberbas", teve grande conflito com as autoridades civis, desafiando-as para poder levar Bíblias e mensagens evangelísticas ao povo dentro da antiga "cortina de ferro" comunista. Ele escreve, em conjunto com seus biógrafos, no seu livro O contrabandista de Deus (*), sobre as restrições impostas pelo Estado à realização de atividades religiosas. Numa de suas experiências, em uma pequena aldeia da Macedônia, que então pertencia à Iugoslávia, "Era proibido realizar cultos em casas particulares, por isso, Ana simplesmente separara um cômodo, e pendurara uma tabueta na frente, que dizia: Molitven Dom (Casa de Oração)" (pag. 143). Durante o culto, conforme seu relato, estavam "cantando outro hino, quando, de repente, ouviu-se uma batida forte na porta. Todos pararam de cantar. Ana abriu a porta, e ali estavam dois homens uniformizados. Foram até a frente da sala. Durante muito tempo, eles simplesmente ficaram ali de pé, correndo os olhos pela congregação. Então de dirigiram a um canto da sala, para dar uma olhada naqueles rostos assustados. Finalmente, sacaram cadernetas e começaram a anotar o nome dos presentes. Quando terminaram, fizeram algumas perguntas a respeito de Nikola e de mim, e depois saíram tão abruptamente como haviam chegado. (...) Porque o governo escolhera aquela igreja isolada para atacar enquanto deixava outras à vontade, nem Nikola nem eu jamais compreendemos." (pag. 144,145)
Os governos comunistas, porém, não usavam sempre a repressão e ameaças, mas "o esforço parecia ser centralizado nas crianças. Deixem os velhos, mas desmamem os jovens da igreja, parecia ser a ordem" (pag 140). Os jovens também eram vítimas de pressão psicológica. Num evento na Hungria André notou que "Cada jovem estava usando um lenço vermelho vivo que era (...) o símbolo da boa cidadania. Uma das requisições para poder usar aquele lenço, era uma atitude apropriada em relação às superstições religiosas dos seus pais (...). Milagres, a história da criação, o pecado original, a queda do homem, coisas desse tipo" (Pag. 162).
O trabalho do missionário irmão André e de outros crentes corajosos em fazer chegar a Bíblia a estes países, com certeza contribuiu para fazer com que o cristianismo prosperasse, apesar das restrições.
II - Autoridade do céu (eclesiástica) (29,30)
29 Jesus lhes respondeu: Eu vos farei uma pergunta; respondei-me, e eu vos direi com que autoridade faço estas coisas. 30 O batismo de João era do céu ou dos homens? Respondei!
Para muitos de nós, a autoridade dos céus acaba se traduzindo em autoridade eclesiástica, uma vez que confiamos na igreja para interpretar as Escrituras e nos orientar em matéria de fé e de bons costumes.
Dia 31 de outubro comemoramos o início da reforma protestante, quando mudanças estruturais importantes começaram a ser implantadas nas igrejas oficiais, até então monopolizadas pelo catolicismo romano. Os cristãos que aderiram ao movimento reafirmavam que a autoridade dos céus, para os homens, está determinada na Bíblia, a Palavra de Deus, e é comum dizer que a reforma tem como fundamento os "cinco solas": Sola fide (somente a fé); Sola scriptura (somente a Escritura); Solus Christus (somente Cristo); Sola gratia (somente a graça); Soli Deo gloria (glória somente a Deus).
Com a liberdade de pensamento, porém, surgiram conflitos entre os próprios protestantes, pois alguns intérpretes importantes divergiram entre si a respeito de algumas doutrinas, mesmo tendo como base a mesma fonte de autoridade, as Escrituras.
Algumas doutrinas calvinistas foram contestadas por arminianos, e por isto os calvinistas as reiteraram no Sínodo de Dort, em 1619, através dos famosos 5 pontos do calvinismo, que são: T - Total Depravity; Depravação Total; U - Unconditional Election; Eleição Incondicional; L - Limited Atonement; Expiação Limitada I - Irresistible Grace; Graça Irresistível; P - Perseverance of the Saints; Perseverança dos Santos.
Uma vez um pastor me perguntou se eu sou calvinista ou arminiano. Foi difícil eu responder, principalmente porque eu não sabia quem era Armínio. Não pretendo entrar no meio deste duelo de gigantes, mas de uma coisa eu tenho certeza: Armínio, Calvino e eu (e provavelmente você) concordamos que a Bíblia é a única autoridade confiável dada a nós, homens, em matéria de fé e prática.
III - Autoridade social (31-33)
31 E eles discorriam entre si: Se dissermos: Do céu, dirá: Então, por que não acreditastes nele? 32 Se, porém, dissermos: dos homens, é de temer o povo. Porque todos consideravam a João como profeta. 33 Então, responderam a Jesus: Não sabemos. E Jesus, por sua vez, lhes disse: Nem eu tampouco vos digo com que autoridade faço estas coisas.
O povo, ou, em linguagem mais moderna, a sociedade, exerce sobre nós influência tão grande que acaba sendo uma verdadeira autoridade.
O rei Saul temia mais o povo do que a Deus. Em pelo menos três ocasiões na história de Saul, vemos que ele era muito sensível à vontade do povo, o que pode ser bom em alguns momentos, mas ruim em outros. Ele usurpou a posição de sacerdote, oferecendo sacrifícios, para impedir que o povo se dispersasse (1Sm 13.8,11,12); desistiu de executar sua precipitada sentença contra o próprio filho, Jônatas, pela intervenção do povo (1Sm 14.45); desobedeceu ordens expressas de Deus para agradar o povo, e mostrou exagerado interesse em ser honrado diante do povo, quando já havia sido reprovado por Deus (1Sm 15.9,15,21,24,30).
Uma famosa música antiga diz os seguintes versos: "Vivo condenado a fazer o que eu não quero; então bem comportado às vezes eu me desespero. Se faço alguma coisa sempre alguém vem me dizer que isso ou aquilo não se deve fazer. Restam meus botões... já não sei mais o que é certo. E como vou saber o que eu devo fazer? Que culpa tenho eu, me diga amigo meu. Será que tudo o que eu gosto é imoral, é ilegal ou engorda? (...)" (Roberto e Erasmo Carlos). É uma situação engraçada, mas mostra o quanto sofremos a influência das pessoas ao nosso redor, para o bem ou para o mal.
O médico Dráuzio Varela, falando sobre o problema do alcoolismo entre os adolescentes, diz que "Para essa reviravolta em relação ao uso de álcool entre os adolescentes, que ocorreu bruscamente de uma geração para outra, concorreram diversos fatores de risco. O primeiro é que o consumo de bebida alcoólica é aceito e até estimulado pela sociedade. Pais que entram em pânico quando descobrem que o filho ou a filha fumou maconha ou tomou um comprimido de ecstasy numa festa, acham normal que eles bebam porque, afinal, todos bebem. (...) Não é raro o problema começar em casa, com a hesitação paterna na hora de permitir ou não que o adolescente faça uso do álcool ou com o mau exemplo que alguns pais dão vangloriando-se de serem capazes de beber uma garrafa de uísque ou dez cervejas num final de semana." (http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/alcoolismo-na-adolescencia/ - Acesso em: 17/10/2015)
A Bíblia nos adverte que a pessoa realmente feliz é a que "não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores" (Sl 1.1), e nos aconselha: "Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela)" (Mt 7.13). Portanto, aceitemos a autoridade social somente naquilo em que ela está concordando com os bons princípios da Palavra de Deus.
Quantas autoridades mais podemos citar como decisivas em nossas vidas? Podem ser nossos desejos, nosso orgulho, nossos prazeres, que estão "mandando" em nós e definindo nossos passos. Como temos reagido às autoridades que estão sobre nós? Autoridades civis, eclesiásticas e sociais têm o seu papel, mas não podem sobrepor-se à autoridade das Escrituras, e muito menos do Senhor das Escrituras, em nossa busca de fazer o que agrada a Deus.
(*) O contrabandista de Deus / Irmão André, John e Elizabeth Sherrili; tradução de Adiel Almeida de Oliveira - 3ª ed. - Belo Horizonte: Betânia, 2008
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